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domingo, setembro 8, 2024

Argentina| A perspectiva do protocolo antipiquetes

Em 20 de dezembro, o governo nacional de Javier Milei, apresentou um DNU- Decreto Nacional de Urgência- onde se elimina direitos, conquistas trabalhistas, liberdades democráticas, que tanto custou à classe trabalhadora e aos setores populares alcançar.

Com eles, a Ministra da Segurança, Patricia Bullrich, anunciou um protocolo antipiquetes para tirar das ruas aqueles que se atreverem a protestar contra suas medidas reacionárias e antioperárias. Bullrich quer cumprir hoje uma tarefa que há muito preocupa o conjunto da patronal e os diferentes governos.

Por: PSTU-Argentina

Recordar o passado

Não podemos esquecer que, em seu momento, Cristina Kirchner exigiu que o país deveria ser normalizado e que não se podia bloquear uma rua com três pessoas. Sob seu mandato, tentou reprimir a luta dos trabalhadores de Cerro Dragon em Chubut, os petroleiros de Las Heras foram condenados à prisão perpétua e o Projeto X e a lei antiterrorista foram implementados.

O que o ministério da segurança quer?

O protocolo antipiquetes proíbe os bloqueios de rua pisoteando no legítimo direito ao protesto. Dá liberdade às forças de segurança de fazer buscas e despejos sem necessitar ordem de um juiz. Nos criminaliza por cobrirmos os rostos e usarmos os paus, que são um legítimo método para que nós, manifestantes, possamos nos defender e resguardar nossa identidade e evitarmos represálias ou caças às bruxas depois de cada mobilização. Não é invenção, mas uma conclusão de tantas repressões e perseguições em governos democráticos ou militares.

Uma luta pelo controle das ruas e das rotas

Isto abriu um momento de tensão e reflexão entre nós que estamos dispostos a enfrentar o ajuste, pois o Governo sabe muito bem que nas ruas se definirá se suas medidas serão ou não derrotadas, isso foi dito durante a campanha eleitoral. Patrica Bullrich sabe disso já que a classe operária derrotou a ela e seu governo nas lutas de 18 de dezembro de 2017, fazendo-os retroceder na Reforma Trabalhista. Por isso se protegem colocando alguns limites.

Avançar para derrotar o protocolo  

Até agora, o protocolo ficou muito aquém das bravatas da ministra e de Milei. No próprio 20 de dezembro não puderam evitar que as ruas fossem bloqueadas, embora não tenha se mobilizado a partir do Congresso. E à noite, com o anúncio do decreto, houve bloqueios de ruas em diferentes pontos da CABA-Cidade Autônoma de Buenos Aires- e no Congresso, mas houve presos que serão criminalizados. Na mobilização convocada pela CGT ao palácio da Justiça e na paralisação de 24J a massa pôde conter o dispositivo.

Começou uma nova luta, as forças da classe operária e da burguesia medem-se como dois boxeadores que se estudam em um primeiro round, os dois setores puseram um limite ao outro, mas, ainda não se chocaram de forma contundente. Esta situação não durará para sempre, não se trata de uma lei no Congresso para proibir o protocolo ou dar menos pretextos à repressão. Agora com a repressão as últimas mobilizações no Congresso, o protocolo marca um round a favor.

É uma necessidade do Governo nos tirar das ruas, como é uma necessidade nossa de ganhá-las para derrotar o DNU. Se o Governo sustentar este avanço repressivo sem resposta, é provável que o protocolo se fortaleça e será muito mais difícil ganhar as ruas.

Uma verdadeira organização contra o protocolo  

Por isso, devemos estar preparados para o que está por vir, organizar os comitês de autodefesa nas assembleias de bairro, estabelecimentos e locais de trabalho que sejam votados em assembleias, que sejam incorporadas em cada estatuto para sua aplicação, só assim com treinamento permanente de nossas organizações poderemos não só nos defender da repressão como passar à ofensiva para que as forças de segurança acabem com o rabo entre as pernas.

Para isso, devemos sair com nossas ferramentas de trabalho, não esqueçamos que sabemos manejar caminhões, máquinas, autoelevadores e camionetas 4×4.

Assim, com a verdadeira força operária poderemos tirar as forças repressivas das ruas, temos memória, assim como em 2001 derrotamos o Estado de Sítio de auto elevadores la Rúa, única forma de derrubar o protocolo de forma contundente. A mobilização da greve de 24J demonstrou que há forças para fazê-lo, devemos nos organizar e querer.

Não subestimar o poder do Estado

Não podemos confiar nas instituições como a Justiça, que são usadas como instrumentos para a perseguição e prisão, devemos melhorar nosso respaldo a cada preso por lutar, mas também aos feridos. Os hospitais também são usados para fichar e depois deter companheiros ou companheiras feridos pela repressão ou pelas patotas sindicais (grupos armados da burocracia sindical, ndt.), por isso parte da autodefesa deve centralizar-se em ter salas médicas paralelas para o atendimento de nossos feridos, os médicos, enfermeiros e estudantes de medicina que abraçam a causa operária poderão cumprir um enorme papel ajudando nessa tarefa. Nós do PSTU sabemos que para derrotar o protocolo e a violência repressiva do Estado, é necessária muita convicção e organização, não deixar nada ao descuido, confiarmos na única classe que faz tudo coletivamente, a classe trabalhadora, por isso cedo ou tarde os derrotaremos e ajustaremos as contas de uma vez por todas.

Tradução: Lílian Enck

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