sex maio 17, 2024
sexta-feira, maio 17, 2024

Bukele e Estados Unidos: bofetadas falsas

«Tive uma excelente reunião com Nayib Bukele. Conversamos sobre promover o investimento estrangeiro em El Salvador»: secretário de Estado adjunto Brian Nichols

Agora te dou, mas não vai te machucar. Agora é a sua vez …como ato de faz de conta, que fingem brigar, assim é como poderíamos resumir a relação de Bukele com o império norte-americano. Testemunhamos, nas últimas semanas, o que alguns chamaram de uma “flexibilização do governo estadunidense” ao governo de Bukele em El Salvador. Vale a pena, para não nos deixarmos enganar, levar em conta alguns elementos importantes.

Por:  Plataforma da Classe Trabalhadora – PCT

Bukele desde o início demonstrou lealdade aos ianques

Parece que Bukele tem mais afinidade com os republicanos do que com os democratas nos EUA. Ou melhor, tem mais afinidade com aqueles que representam a direita mais extrema daquele país. Basta lembrar que logo depois de sua eleição foi à Heritage Foundation, sede de uma das organizações mais conservadoras dos Estados Unidos, onde pronunciou um discurso no qual omitiu questionar a política anti-imigrante de Donald Trump (presidente dos Estados Unidos naquela época) porque a solução “não é entrar em briga com seu maior aliado”. Quando os democratas assumiram o poder, Bukele quis distanciar-se do governo estadunidense e inclusive fez ataques que pareciam desafiar o império estadunidense, enquanto representantes do governo estadunidense faziam primeiro críticas dissimuladas e depois abertas e de confronto às diferentes decisões de Bukele em El Salvador. Tudo em seu jogo de bofetadas de palhaço, porque nem antes nem hoje, o país norte-americano deixou de “respaldar” Bukele e os seus, com diferentes tipos de “ajuda”. Por exemplo, em 27 de maio de 2020 foi divulgado um informe do Departamento de Estado norte-americano que reconhecia o governo de El Salvador como avalista dos direitos humanos. Segundo a análise da administração Trump naquela época, El Salvador havia cumprido nove critérios que o Congresso definiu como requisitos para que, junto com a Guatemala e Honduras, pudessem receber $540 milhões em assistência.

A política pró-ianque continua

Mais recentemente, ocorreram 4 fenômenos que confirmam o que estamos afirmando:

  1. Foi revogada uma lei que permitia prender jornalistas ou qualquer um que “transmitisse mensagens de gangues”. A mencionada lei foi aprovada na época como uma lei da mordaça que procurava impedir o livre exercício do jornalismo que fosse incômodo ao regime salvadorenho.
  2. No dia da apresentação de sua solicitação de inscrição como candidato à reeleição, Bukele disse que os Estados Unidos e El Salvador são amigos e sócios, suavizando seu discurso incendiário contra o governo Biden.
  3. Brian Nichols, subsecretário de Estado dos Estados Unidos para o hemisfério ocidental, visitou El Salvador e se reuniu com Bukele. Em sua visita, disse que “a questão da reeleição é algo que exige debate”, mas é o povo salvadorenho quem deve debater e decidir se permite a reeleição ou não. Isto contrasta com as duras críticas que o governo norte-americano fazia abertamente às intenções de Bukele de perpetuar-se no poder.
  4. A visita da subsecretária de comércio internacional do governo Biden, Mariza Lago, visitou El Salvador e anunciou a intenção de converter El Salvador em um polo tecnológico que implicaria “investimento” estadunidense no país, transformando-o em um “centro tecnológico regional” com um “entorno regulatório digital sólido”.

O imperialismo ao resgate de seu enclave na América Central

Tudo isto tem por trás as intenções tanto de Bukele como da administração Biden.

Bukele fracassou com seu experimento Bitcoin, de onde pretendia obter financiamento que o tornasse menos dependente dos Estados Unidos. A relação com a China também não trouxe os créditos econômicos esperados. O endividamento salvadorenho não faz mais do que crescer e crescer e as opções de financiamento para o governo salvadorenho são muito limitadas e novamente se fala em considerar o acordo com o FMI até $ 1,3 bilhões, com os respectivos “ajustes” que o Fundo exige ao governo que só viriam precarizar mais as condições da classe trabalhadora.

Por sua vez, o governo estadunidense vê em Bukele a válvula de escape à pressão social que poderia gerar desequilíbrio na América Central. Mas Washington também olha para El Salvador de Bukele como uma peça de sua agenda regional por duas razões: imigração e na construção de um muro digital contra a influência da China e da Rússia. Por isso, não é de se estranhar que, recentemente, tenha começado a cobrar um imposto aeroportuário como tarifa por melhorias aeroportuárias a pessoas procedentes de 56 países da África que somam $1113.00 só para transitar no aeroporto. Isto como um esforço para frear a migração. Todos sabemos que a última parada destes imigrantes não é El Salvador, mas os Estados Unidos e o governo Bukele serve como polícia contra os migrantes africanos.

Portanto, como visto, as administrações Bukele-Biden não são inimigas, independentemente de seu maior ou menor agrado, ambas buscarão alianças que permitam ao capitalismo continuar explorando os trabalhadores, seja em El Salvador ou nos Estados Unidos.

A classe trabalhadora deve continuar fazendo a experiência e descobrindo que Bukele não é seu aliado e que os Estados Unidos não virão para eliminar Bukele. Tem que confiar na capacidade de organização e mobilização da classe, pois só sua força poderá libertá-la do jugo dos seus opressores e para isto precisa apostar não nas eleições, mas na construção do instrumento político da classe trabalhadora e dos bairros pobres de Cuzcatan, cuja meta não seja ganhar eleições, mas organizar a classe e o povo, e liderar suas lutas até a derrubada do capitalismo infame.

Pela construção do instrumento político da classe trabalhadora salvadorenha e dos povos!!!

San Salvador, 24 de novembro de 2023

Tradução: Lílian Enck

Confira nossos outros conteúdos

Artigos mais populares