Uruguai: os trabalhadores enfrentam enormes desafios
A crise profunda na Argentina está no centro da situação numa América Latina que vive um profundo processo de decomposição social e política. Isto é marcado pelo recente assassinato do pré-candidato Villavicencio no Equador e pela repressão assassina dos Boluarte no Peru.
Por: IST – Uruguai
Nesta realidade latino-americana parece que a Argentina expressa hoje muitas das contradições da crise capitalista mundial. Quase metade da população está abaixo da linha da pobreza. Os salários não dão para comer. A economia está destruída como resultado de uma política ao serviço do saque imperialista do FMI e do pagamento da dívida externa. A crise do peronismo e do radicalismo, correntes históricas da burguesia argentina, deu lugar à extrema-direita de Milei, cujo voto abriu mais incógnitas do que certezas.
Há miséria e fome. Há uma profunda agitação social cujo precedente mais recente é a revolta de Jujuy. Cenas de saques agora começam a virar notícia. Um sintoma de que a paciência das camadas mais empobrecidas começa a esgotar-se.
Estes acontecimentos marcam uma situação social explosiva, num país que tem bem fresco na memória o argentinazo de 2001. Uma crise importante para a região e para o nosso país, porque, como diz o velho ditado popular, “quando a Argentina espirra, o Uruguai pega um resfriado”.
Uruguai cozinha sua própria crise
Em nosso país não atingimos o nível da crise argentina, mas os problemas também estão piorando. Alguns sintomas já se fazem sentir a nível económico com impacto no turismo, comércio e indústria. O que se combina com a queda acentuada das exportações.
A recente crise hídrica marcou um ponto de viragem no declínio do capitalismo agroexportador uruguaio, por mais que queiram que acreditemos que “isto já passou”.
Milhares de denúncias e chamadas sobre violência doméstica ficam sem resposta. É assim que chegamos a feminicídios como o de Valentina, que causou um choque especial pela sua idade: 17 anos. As instituições e o Estado nada fazem para impedir.
Enquanto o governo corrupto de Lacalle Pou dá passaporte ao narcotraficante Marset sem que nada aconteça, os trabalhadores e jovens dos bairros populares sofrem o flagelo da droga e da criminalidade ligada à penetração do narcotráfico. Os mesmos jovens para quem não há emprego.
Aparecem corpos mutilados típicos de confrontos entre gangues. Os professores da UTU de la Cruz de Carrasco tiveram que ocupar o centro para exigir respostas depois que duas pessoas entraram armadas para roubar. Uma situação crítica precedida de assaltos na área. Uma realidade que muitos bairros populares vivenciam.
Em contrapartida, as classes média-alta e alta passam a viver em bairros privados exclusivos.
Grandes empresários exportam toneladas de cocaína em contêineres. Na Torre Executiva havia um escritório onde Astesiano era o elo para falsificar passaportes, espionar sindicatos e legisladores e muitos outros esquemas.
O número de pessoas em situação de rua está aumentando, enquanto o Uruguai tem o trágico duplo recorde de ser o país com a maior taxa de presos e suicídios no continente.
E os governantes?
A coligação de direita de Lacalle Pou aprofundou este declínio com a sua política antioperária.
Agora eles estão envolvidos no teatro da apresentação de contas. Cada partido e setor “luta” procurando sua porção, tentando receber alguma migalha para ganhar um renome nas eleições.
No entanto, a maior parte do dinheiro vai para o pagamento da dívida externa, que leva 20 ou 30 vezes mais do que é destinado às diferentes áreas.
A direção da Frente Ampla (FA), longe das necessidades populares, presta-se a este teatro. Por isso negociaram com os membros de extrema direita do Cabildo Abierto para tentar votar pelo aumento dos salários dos militares. Eles estão mais preocupados com seus cargos e com as eleições.
Não podemos esperar nada do Parlamento ou de todos esses partidos, manchados pela corrupção e rastejantes perante os poderosos.
São todos aqueles que durante décadas conduziram o país a uma miséria cada vez maior e evidente. A crise na Argentina é o espelho que nos mostra para onde nos levam as políticas capitalistas tanto da direita como da esquerda reformista.
Aos trabalhadores só resta uma alternativa se quisermos reverter este rumo
É o da mobilização e da organização desde baixo. Devemos discutir e tomar em nossas mãos os graves problemas que nos afligem nos bairros, nos locais de trabalho, nos centros de estudos, porque sem organização e luta não haverá avanço.
A partir daí, vamos nos propor a tarefa de construir uma direção sindical e política que queira lutar com seriedade. Porque o capitalismo já não dá mais, a luta pelo socialismo é mais urgente do que nunca, no Uruguai e no mundo. Convidamo-lo a juntar-se ao IST para travar esta luta junto conosco.
Publicado em 01/09/2023 em https://www.ist.uy/