sáb jul 27, 2024
sábado, julho 27, 2024

Primeiro de Maio El Salvador: radiografia da luta popular

O recente primeiro de maio, apesar das dificuldades impostas pelo regime de emergência, deu sinais do despertar do movimento social, uma vez que as duas principais forças sociais do país, a Alianza Nacional El Salvador en Paz, que reúne principalmente os veteranos de guerra do exército, como ex-combatentes da ex-guerrilha, o movimento de trabalhadores da polícia civil nacional, sindicatos e organizações sociais; com a influência de partidos como PAIS, Nuestro Tiempo e Vamos e o Bloque Popular de Resistencia y Rebeldía Popular que reúne sindicatos, movimentos populares: ambientalistas, feministas, ONGs, o movimento indígena com forte influência da FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional), entre outros, marcharam juntos e tiveram um ato central conjunto.

Por: PCT – El Salvador

Unidade para lutar ainda é o caminho

A mobilização juntou-se circunstancialmente a outro esforço independente do governo e de suas comissões de aplausos, a Confederação Nacional dos Trabalhadores Salvadorenhos-CNTS, na Alameda Juan Pablo Segundo. Foi neste percurso que convergiram todas as mobilizações e foi a expressão máxima de todos os setores independentes, os cálculos mais conservadores contam entre 40.000 e 50.000 pessoas na rua, um nítido sinal de uma importante força social que começa lentamente a despertar.

As principais palavras de ordem foram: Contra a reeleição presidencial, pelo fim do regime de emergência instalado desde março de 2022, contra as demissões no estado, pelo aumento do salário mínimo, palavras de ordem pela água e meio ambiente, a favor da diversidade e os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. Todas palavras de ordem importantes, porém, não foram visualizadas palavras de ordem de poder, nem um programa que dê saída ao governo autoritário, e à crise capitalista, além disso, esta unidade está ausente nos problemas da luta de classes concreta, que pode trazer vitórias importantes para a classe.

Exemplos dessa falta de unidade concreta são a solidão com que os companheiros do SITRASOYA enfrentaram sua luta por salários em dezembro passado, também vimos os companheiros da ADES Santa Marta sozinhos em sua luta contra a criminalização dos lutadores. Vimos como sindicalistas continuam presos sem que seja desencadeada uma campanha nacional e internacional para sua libertação, a unidade tem se limitado a datas comemorativas e não a lutas concretas. Muito menos a um programa que organize e mobilize os setores em resistência, muito resta a ser feito em termos de unidade e luta popular.

Importante assinalar como começam a aparecer as políticas eleitorais dos sectores oportunistas, o esforço do partido FMLN em relançar ou cooptar esforços legítimos de luta, como o combate aos megaprojetos, ou esforços como o BPRP, com um objetivo puramente eleitoral, é evidente, apesar de serem responsáveis ​​diretos pela dispersão e enfraquecimento da organização popular. Conclamamos as organizações a não permitirem a utilização eleitoral de suas lutas, basta desses partidos que só querem se aproveitar da luta por votos, e começar a considerar a necessidade de construir um partido próprio para a luta contra o capitalismo e por uma nova sociedade, sem que o centro sejam as eleições.

A outra marcha

Mas essa mobilização não foi a única, o governo, através dos sindicatos amarelos, organizou uma passeata de apoio, a autodenominada Unidade Sindical Salvadorenha, que segundo suas declarações reúne cerca de 250 sindicatos, saiu da rotatória da Constitución e se deslocou ao longo Sisímiles até chegarem à rotatória México, onde os esperaria o ministro do Trabalho, Rolando Castro, que já foi um dirigente municipal. Nesta marcha, o apoio à gestão do presidente Nayib Bukele, a reeleição, o regime de emergência, e algumas demandas foram solicitadas com muita cordialidade, como o aumento do salário mínimo, entre outras reivindicações cosméticas.

Sem dúvida, o governo de Nayib Bukele ainda goza de amplos níveis de aceitação, a principal carta de apresentação é o combate “frontal” contra os maras ou gangues, apesar de sabermos claramente que ele continuou com as negociações nebulosas com os líderes de gangues. No entanto, sua política repressiva levou à percepção de tranquilidade e paz nos bairros marginais.

A diminuição da extorsão em pequenas iniciativas económicas e, em última instância, o controle “autoritário” do território, apesar dos chamados “danos colaterais”, têm impacto no quotidiano das pessoas. Aparentemente a população está disposta a aturar a bota militar e policial, a perda de direitos, a prisão de inocentes, desde que possam respirar mesmo que por tempo limitado, pois há muito não tinham, tranquilidade e paz para poder circular em seus territórios.

Esta situação tem levado os aparatos repressivos a se popularizarem e as violações dos direitos humanos fundamentais são aceitas, porém é uma armadilha, pois do nosso ponto de vista não é uma solução definitiva e é apenas uma panela de pressão que a qualquer momento vai explodir com duras consequências para a população que voltará a sofrer, mas desenvolveremos este ponto com maior profundidade em outro material.

Essa Mão extra dura, superextradura conseguiu que amplos setores dos trabalhadores ainda confiem cegamente no governo e que os setores em luta mantenham um nível de resposta baixo.

Duras condições para a classe trabalhadora e para o povo

Apesar disso, a situação econômica é muito complicada para a classe trabalhadora, segundo estudos de opinião recentes, cerca de 70% reduziram a comida que colocam na mesa, além disso, cerca de 40% da população deixou de comer pelo menos uma refeição no dia. Por outro lado, os níveis de desemprego, apesar de o governo tentar disfarçar esses dados, são altos. 40% dos jovens entre 16 e 24 anos estão desempregados, e muitos adultos estão em subempregos e o trabalho por conta própria aumenta diariamente.

Além disso, cerca de 3.000 vendedores informais foram “limpados” das grandes cidades, principalmente de San Salvador, incorporando apenas 5% deles aos mercados, tornando sua condição ainda mais precária. Com a recente reforma da Previdência, a classe trabalhadora voltou a ser roubada em suas economias, e a previdência está ameaçada de falência nos próximos 5 anos. Há cada vez mais mães e familiares de presos injustamente pelo regime de exceção indignados e mobilizados. Já há cerca de 25 mil demissões no Estado, entre outras situações que demonstram a verdadeira natureza do regime de Nayib Bukele.

É necessária uma unidade real e um programa para a resistência: Construir o Encontro da Resistência.

Da Plataforma da Classe Trabalhadora, seção da Liga Internacional dos Trabalhadores Quarta Internacional, celebramos os esforços de união dos setores em luta, mas acreditamos que ainda há muito a ser feito, é preciso passar da unidade comemorativa à unidade de ação, em torno de um programa de luta, pensado e desenhado a partir das bases da democracia operária. Esse programa deveria levar em conta alguns eixos importantes como a ruptura com o imperialismo, a nacionalização das empresas estratégicas que foram privatizadas, a retomada da política monetária, o rompimento com a dívida externa imoral e ilegal, entre outras medidas que vão à raiz dos problemas de El Salvador.

Esse programa deve ser definido em um Encontro de resistência ao regime que discuta a construção de uma força que se coloque através de um Plano de Luta organizando a derrota de o regime autoritário nas ruas e a construção de uma sociedade socialista. Para que esse encontro seja possível, é preciso romper o sectarismo das organizações sindicais e das organizações populares, além de superar o oportunismo eleitoral dos partidos de esquerda e direita da oposição, que mais uma vez tentam desviar o rumo da luta para as urnas, é importante deixar nítido que vamos derrotar esse regime antidemocrático nas ruas e não nas urnas.

Pelo Encontro da Resistência!

Pela unidade dos lutadores!

Por um Plano de Luta Unificado para derrotar o regime autoritário!

São Salvador, 18 de maio de 2023

Primeiro de Maio El Salvador: radiografia da luta popular

O recente primeiro de maio, apesar das dificuldades impostas pelo regime de emergência, deu sinais do despertar do movimento social, uma vez que as duas principais forças sociais do país, a Alianza Nacional El Salvador en Paz, que reúne principalmente os veteranos de guerra do exército, como ex-combatentes da ex-guerrilha, o movimento de trabalhadores da polícia civil nacional, sindicatos e organizações sociais; com a influência de partidos como PAIS, Nuestro Tiempo e Vamos e o Bloque Popular de Resistencia y Rebeldía Popular que reúne sindicatos, movimentos populares: ambientalistas, feministas, ONGs, o movimento indígena com forte influência da FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional), entre outros, marcharam juntos e tiveram um ato central conjunto.

Por: PCT – El Salvador

Unidade para lutar ainda é o caminho

A mobilização juntou-se circunstancialmente a outro esforço independente do governo e de suas comissões de aplausos, a Confederação Nacional dos Trabalhadores Salvadorenhos-CNTS, na Alameda Juan Pablo Segundo. Foi neste percurso que convergiram todas as mobilizações e foi a expressão máxima de todos os setores independentes, os cálculos mais conservadores contam entre 40.000 e 50.000 pessoas na rua, um nítido sinal de uma importante força social que começa lentamente a despertar.

As principais palavras de ordem foram: Contra a reeleição presidencial, pelo fim do regime de emergência instalado desde março de 2022, contra as demissões no estado, pelo aumento do salário mínimo, palavras de ordem pela água e meio ambiente, a favor da diversidade e os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. Todas palavras de ordem importantes, porém, não foram visualizadas palavras de ordem de poder, nem um programa que dê saída ao governo autoritário, e à crise capitalista, além disso, esta unidade está ausente nos problemas da luta de classes concreta, que pode trazer vitórias importantes para a classe.

Exemplos dessa falta de unidade concreta são a solidão com que os companheiros do SITRASOYA enfrentaram sua luta por salários em dezembro passado, também vimos os companheiros da ADES Santa Marta sozinhos em sua luta contra a criminalização dos lutadores. Vimos como sindicalistas continuam presos sem que seja desencadeada uma campanha nacional e internacional para sua libertação, a unidade tem se limitado a datas comemorativas e não a lutas concretas. Muito menos a um programa que organize e mobilize os setores em resistência, muito resta a ser feito em termos de unidade e luta popular.

Importante assinalar como começam a aparecer as políticas eleitorais dos sectores oportunistas, o esforço do partido FMLN em relançar ou cooptar esforços legítimos de luta, como o combate aos megaprojetos, ou esforços como o BPRP, com um objetivo puramente eleitoral, é evidente, apesar de serem responsáveis ​​diretos pela dispersão e enfraquecimento da organização popular. Conclamamos as organizações a não permitirem a utilização eleitoral de suas lutas, basta desses partidos que só querem se aproveitar da luta por votos, e começar a considerar a necessidade de construir um partido próprio para a luta contra o capitalismo e por uma nova sociedade, sem que o centro sejam as eleições.

A outra marcha

Mas essa mobilização não foi a única, o governo, através dos sindicatos amarelos, organizou uma passeata de apoio, a autodenominada Unidade Sindical Salvadorenha, que segundo suas declarações reúne cerca de 250 sindicatos, saiu da rotatória da Constitución e se deslocou ao longo Sisímiles até chegarem à rotatória México, onde os esperaria o ministro do Trabalho, Rolando Castro, que já foi um dirigente municipal. Nesta marcha, o apoio à gestão do presidente Nayib Bukele, a reeleição, o regime de emergência, e algumas demandas foram solicitadas com muita cordialidade, como o aumento do salário mínimo, entre outras reivindicações cosméticas.

Sem dúvida, o governo de Nayib Bukele ainda goza de amplos níveis de aceitação, a principal carta de apresentação é o combate “frontal” contra os maras ou gangues, apesar de sabermos claramente que ele continuou com as negociações nebulosas com os líderes de gangues. No entanto, sua política repressiva levou à percepção de tranquilidade e paz nos bairros marginais.

A diminuição da extorsão em pequenas iniciativas económicas e, em última instância, o controle “autoritário” do território, apesar dos chamados “danos colaterais”, têm impacto no quotidiano das pessoas. Aparentemente a população está disposta a aturar a bota militar e policial, a perda de direitos, a prisão de inocentes, desde que possam respirar mesmo que por tempo limitado, pois há muito não tinham, tranquilidade e paz para poder circular em seus territórios.

Esta situação tem levado os aparatos repressivos a se popularizarem e as violações dos direitos humanos fundamentais são aceitas, porém é uma armadilha, pois do nosso ponto de vista não é uma solução definitiva e é apenas uma panela de pressão que a qualquer momento vai explodir com duras consequências para a população que voltará a sofrer, mas desenvolveremos este ponto com maior profundidade em outro material.

Essa Mão extra dura, superextradura conseguiu que amplos setores dos trabalhadores ainda confiem cegamente no governo e que os setores em luta mantenham um nível de resposta baixo.

Duras condições para a classe trabalhadora e para o povo

Apesar disso, a situação econômica é muito complicada para a classe trabalhadora, segundo estudos de opinião recentes, cerca de 70% reduziram a comida que colocam na mesa, além disso, cerca de 40% da população deixou de comer pelo menos uma refeição no dia. Por outro lado, os níveis de desemprego, apesar de o governo tentar disfarçar esses dados, são altos. 40% dos jovens entre 16 e 24 anos estão desempregados, e muitos adultos estão em subempregos e o trabalho por conta própria aumenta diariamente.

Além disso, cerca de 3.000 vendedores informais foram “limpados” das grandes cidades, principalmente de San Salvador, incorporando apenas 5% deles aos mercados, tornando sua condição ainda mais precária. Com a recente reforma da Previdência, a classe trabalhadora voltou a ser roubada em suas economias, e a previdência está ameaçada de falência nos próximos 5 anos. Há cada vez mais mães e familiares de presos injustamente pelo regime de exceção indignados e mobilizados. Já há cerca de 25 mil demissões no Estado, entre outras situações que demonstram a verdadeira natureza do regime de Nayib Bukele.

É necessária uma unidade real e um programa para a resistência: Construir o Encontro da Resistência.

Da Plataforma da Classe Trabalhadora, seção da Liga Internacional dos Trabalhadores Quarta Internacional, celebramos os esforços de união dos setores em luta, mas acreditamos que ainda há muito a ser feito, é preciso passar da unidade comemorativa à unidade de ação, em torno de um programa de luta, pensado e desenhado a partir das bases da democracia operária. Esse programa deveria levar em conta alguns eixos importantes como a ruptura com o imperialismo, a nacionalização das empresas estratégicas que foram privatizadas, a retomada da política monetária, o rompimento com a dívida externa imoral e ilegal, entre outras medidas que vão à raiz dos problemas de El Salvador.

Esse programa deve ser definido em um Encontro de resistência ao regime que discuta a construção de uma força que se coloque através de um Plano de Luta organizando a derrota de o regime autoritário nas ruas e a construção de uma sociedade socialista. Para que esse encontro seja possível, é preciso romper o sectarismo das organizações sindicais e das organizações populares, além de superar o oportunismo eleitoral dos partidos de esquerda e direita da oposição, que mais uma vez tentam desviar o rumo da luta para as urnas, é importante deixar nítido que vamos derrotar esse regime antidemocrático nas ruas e não nas urnas.

Pelo Encontro da Resistência!

Pela unidade dos lutadores!

Por um Plano de Luta Unificado para derrotar o regime autoritário!

São Salvador, 18 de maio de 2023

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