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segunda-feira, junho 17, 2024

O mundo cada vez mais próximo da catástrofe. A alternativa revolucionária é a única salvação possível

Nos últimos anos as contradições desse sistema econômico, fundado sobre a busca desenfreada por lucro, está tornando evidente toda a sua força destrutiva.

Por: Alberto Madoglio

Um triênio de pesadelo

A mudança climática já é uma realidade que ninguém pode colocar em dúvida e os desastres causados por esta situação se tornam cada vez mais frequentes, com custos econômicos e enormes perdas de vidas humanas. Aumento das temperaturas, secas, chuvas repentinas e violentas, incêndios e inundações não são mais eventos “naturais” excepcionais, mas infelizmente, são a normalidade.

Segundo um estudo da Agência das Nações Unidas para os refugiados, em 2020 foram mais de trinta milhões de pessoas deslocadas, obrigadas a abandonar as suas casas por causa de eventos atmosféricos causados pela mudança climática. Cifra que seguramente deverá ser atualizada para mais, se pensamos no que aconteceu no ano que acabou de terminar, 2022. Nos referimos, em particular, às chuvas que atingiram o Paquistão em agosto passado, e que afetou quase todo o território, cerca de um terço da população, oitenta milhões de habitantes.

Em março de 2020 a pandemia da Covid19, que no início foi minimizada como uma gripe normal, causou, e ainda está causando, uma catástrofe que fez muitos se lembrarem das pestes de séculos passados. As centenas de milhares de infectados em nível global, os milhões de mortos, os que se recuperaram e levarão as sequelas da doença por toda a vida, não foram vitimas de um agente patógeno particularmente insidioso que era impossível prevenir. A destruição do ecossistema natural permitiu que o vírus tivesse contato com os humanos e se difundisse rapidamente pelos quatro cantos do globo. Ao mesmo tempo o progressivo desmantelamento dos sistemas sanitários públicos em todos os países, sejam os imperialistas ou os dependentes e explorados, causado por anos de austeridade antioperária, imposta por todos os governos para salvar os lucros das empresas, levaram a saúde à beira do colapso. A carência nos hospitais de leitos para terapia intensiva, a ausência nas primeiras semanas dos dispositivos de proteção individuais, tiveram efeitos nefastos no começo da pandemia. O resto foi consequência da demora com a qual cada governo impôs limites aos contatos sociais (e, quando enfim decidiu-se, o fez de modo completamente insuficiente) para permitir às empresas continuar produzindo, inclusive na fase mais aguda da crise sanitária, momento no qual além das carências citadas não havia ainda uma vacina eficaz disponível.

E como se tudo isso não bastasse, em 24 de fevereiro de 2022 a guerra voltou a tocar as fronteiras da Europa de modo feroz. A brutal agressão da Rússia nos ataques à Ucrânia é um outro fruto de um sistema em putrefação. Quem no início dos anos noventa, depois da queda do Muro de Berlim e da dissolução da URSS, teria previsto que o nascimento de uma época fundada sobre a paz e a prosperidade, seria desmentido pelos fatos. A guerra iniciada por Putin é a tentativa de Moscou de reafirmar e reforçar o seu papel de potência global que nas últimas décadas havia sido enormemente redimensionado. E de sair de uma profunda crise econômica que castiga o imenso país há bastante tempo. A primeira reação das chamadas potências democráticas ocidentais foi a de aceitar o fato consumado, convencidos, como Putin, de que Kiev cairia num prazo de poucos dias, senão horas. O deslocamento das embaixadas a Leopoli, cidade próxima da fronteira ocidental, e a oferta de organizar a fuga e o exílio de Zelensky são as provas disso. Apenas a heroica resistência do povo ucraniano as constrangeu a mudarem de posição, ainda que suas reais intenções, nem ao menos ocultas, sejam a de chegar a um compromisso com o déspota do Kremlin, reconhecendo a seu favor algumas conquistas territoriais e o papel de garantia dos interesses do imperialismo, papel que havia majestosamente desenvolvido na repressão das revoltas na Bielorrússia e no Cazaquistão.

O círculo vicioso da recessão e da austeridade anti-operária

Estas situações não são fruto, reiteramos, de eventos naturais ou da loucura repentina de um ditador que sofre de um delírio de onipotência. São o produto inevitável de um sistema econômico que, especialmente a partir da crise econômica de 2007/2008, não foi capaz de encontrar um modo “pacífico” e “ordenado” para superar aquela que muitos já chamam de Longa Depressão.

Estamos, de fato, na presença de um verdadeiro círculo vicioso do qual não se consegue ver o fim. A crise econômica produz catástrofes do tipo que procuramos rapidamente delinear. Estes, por sua vez, contribuem para aprofundar a crise e a criar as condições para novos desastres.

Uma confirmação de tudo isso se encontra na leitura das previsões sobre a conjuntura econômica internacional para 2023. De acordo com o Fundo Monetário Internacional, no ano que acabou de começar, um terço das economias do planeta, a metade da União Europeia, enfrentarão uma nova, enésima, recessão.

As duas maiores economias, EUA e China, talvez consigam evitar um cenário similar, mas no melhor dos casos, se beneficiarão de um crescimento econômico limitado, não em um grau para permitir que durmam um sono tranquilo.

Tudo isso já está provocando uma piora das condições de vida de centenas de milhares de famílias proletárias em nível mundial.

O crescimento exponencial da taxa de inflação, que está alcançando níveis que não se via há quase quarenta anos, está rapidamente erodindo o poder de compra dos salários e rendimentos. As respostas colocadas em prática pelas autoridades financeiras internacionais, longe de resolver o problema, arriscam de torná-lo ainda mais explosivo.

O aumento das taxas de juros determinadas pelos maiores bancos centrais, FED, BCE, Bank of England, levará à bancarrota um número enorme de empresas nos países imperialistas. Para as economias dos países dependentes, o aumento das taxas significa a impossibilidade de pagar a dívida externa, causando a insolvência das finanças públicas. Isso provocará demissões, corte dos serviços públicos estatais (ou do pouco que sobrou), imposição de novas políticas de austeridade anti-operária. Patrões e governos se preparam novamente para fazer os trabalhadores pagarem o custo da crise causada por eles.


As lutas que inflamam o globo indicam qual é a saída

Neste quadro as tensões entre os Estados ao invés de diminuírem se tornarão ainda mais graves. Já se fala de um novo conflito que poderá ter como protagonistas a Sérvia e o Kosovo, que colocaria ainda mais em risco os equilíbrios no Velho Continente.

Taiwan poderá se tornar, mais do que se possa imaginar, o terreno sobre o qual os EUA e a China poderão medir-se diretamente, os primeiros para reafirmar o seu domínio global, o segundo para confrontá-los e tirá-los do trono de Super Potência. Se isso se confirmar, os massacres na Ucrânia vão parecer escaramuças entre crianças.

No entanto, existe a possibilidade de um outro cenário. Milhões de trabalhadores em todo o mundo, jovens, mulheres, desempregados, não serem espectadores silenciosos, pior, vítimas da situação criada por um sistema baseado na exploração da maioria da população em benefício de algumas dezenas de super bilionários.

Na Grã Bretanha, depois de décadas de cortes no Welfare State imposto pelo governo, independentemente de quem estivesse na direção, Tories (Conservadores) ou Labours (Trabalhistas), os trabalhadores começaram a se mobilizar no verão passado com uma força, uma capilaridade e uma intensidade que não se via há décadas. O proletariado realmente está impondo um bloqueio geral do país e as ameaças do governo conservador de Sunak não está conseguindo parar.

No verão passado em uma pequena ilha do Oceano Indiano, o Sri Lanka, assistimos a uma verdadeira insurreição contra a corrupção da classe política local que se enriquece de maneira despudorada enquanto a maior parte da população vive em condições de miséria.

No Irã há mais de três meses a população vai cotidianamente às ruas para exigir o fim do regime reacionário dos Aiatolás. Os protestos, iniciados depois do brutal homicídio perpetrado pela polícia da moral contra uma jovem, Masha Amini, culpada apenas de não ter coberto de maneira adequada os cabelos, se transformaram em uma mobilização revolucionária atrás apenas daquela que derrotou o regime pró-imperialista do Xá no final dos anos setenta. Como lembrado em diversos artigos publicados no site da LIT-Quarta Internacional (www.litci.org), o proletariado iraniano tem uma longa tradição de lutas que periodicamente recuperam o vigor e que a repressão governamental, seja aquela do Xá ou do clero xiita, tem dificuldade de conter.

A China, onde reside a maior classe operária do mundo, o regime ditatorial do Partido Comunista, que para além do nome levou o país novamente ao sistema capitalista há décadas e que permite às multinacionais e à burguesia nativa explorar os trabalhadores do modo mais brutal, teve que enfrentar protestos de massa como não ocorriam desde os eventos da Praça Tiananmen em junho de 1989. As concessões que o regime foi obrigado a dar aos manifestantes mostrou-lhes as suas profundas debilidades e não é de se excluir que, ao invés de levar à calma, possam dar um impulso a novos protestos. E, atualmente, com as mobilizações no Peru, voltam as barricadas também na América Latina.

Na Ucrânia os trabalhadores, além de terem que se defender da agressão e das violências do exército russo, devem proteger-se também das manobras do governo Zelensky, o qual, enquanto faz apelos à população para defender a pátria, aprova leis antioperárias à favor dos oligarcas e dos futuros investimentos do capital internacional para permitir-lhes, uma vez terminado o conflito, saquear o país.
Se no momento, estas lutas não levaram a uma vitória revolucionária, se em nenhum destes casos a burguesia foi expropriada, é pela ausência de uma direção coerentemente revolucionária.

Enquanto estão lutando, os trabalhadores, os jovens, as mulheres, não devem proteger-se apenas do adversário de classe, dos inimigos óbvios. Devem proteger suas costas dos falsos aliados, daquele que trabalha para a sua derrota. Entre estes se destacam todas as direções burocráticas políticas e sindicais das organizações tradicionais do movimento operário.

O caso mais gritante é o do Reino Unido, que hoje representa uma das pontas mais avançadas da luta de classes em nível internacional, onde os dirigentes sindicais tramam para evitar que a luta de milhões de trabalhadores possa se estender e radicalizar-se posteriormente. Ao mesmo tempo os dirigentes do Partido Trabalhista impõem aos seus membros participarem e apoiarem as greves.

Um comportamento que nós na Itália conhecemos desde tempos imemoriais, com a ação dos burocratas da CGIL, que desde a FCA de Pomigliano à GKN e à ex-Alitalia, tiveram um papel central, de primeira linha, na derrota dos trabalhadores.

O PdAC e a LIT-Quarta Internacional, ao contrário, intervém nas lutas e nas mobilizações avançando num programa revolucionário e classista. Procurando explicar que cada reivindicação imediata como, por exemplo, a escala móvel de salários para combater a inflação, a redução do horário de trabalho para combater o desemprego, um congelamento dos preços da energia e sobre os bens de primeira necessidade, não podem encontrar satisfação que não seja na destruição do Estado Capitalista e dos seus organismos políticos.

Uma economia planificada, uma democracia fundada nos conselhos (os “sovietes”), é a única, concreta, solução, aos desastres causados pelo capitalismo.

Tradução : Nívia Leão

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