Reunião Lacalle Mujica: uma mão ao governo

O presidente Luis Lacalle Pou e o ex presidente da Frente Ampla José Mujica se reuniram de forma reservada na residência de Suarez y Reyes. Segundo o semanário Búsqueda entre ambos houve “boa sintonia” e falaram de questões de conjuntura. Ninguém pode ignorar que esta foi uma reunião em plena crise do governo multicolor e a convocação de Mujica expressa a debilidade do governo.
Por: IST-Uruguai
À saída, nem o presidente nem José Mujica fizeram declarações sobre a reunião, pois o conteúdo da conversação foi mantida em segredo. Não nos assombra em nada essa ocultação da direita de não prestar declarações. Mas os honestos lutadores frenteamplistas deveriam se preocupar que um de seus líderes com maior aprovação, não informe sobre o que foi discutido com o representante do governo corrupto e da fome de direita.
Este encontro foi concretizado no momento em que a direita governante passa por uma enorme crise que cruza todas as instituições: o Poder Executivo, em cuja Torre no quarto andar agia uma “associação criminosa”, na cúpula policial e na inteligência, cada vez mais comprometida à medida que são divulgadas mais mensagens de celular de Astesiano. A crise também cruza a Justiça, totalmente dependente do poder vigente, o Ministério de Relações Exteriores, o Ministério do Interior, entre outras.
Apesar da debilidade na qual a coalizão governante ficou, esta direita rançosa avança com suas medidas contra os trabalhadores e os setores humildes, querendo aprovar o roubo das aposentadorias (Reforma da Previdência Social) e continua impondo a “transformação educativa” contra os docentes e estudantes. Nossos salários continuam em queda e os direitos operários são arrebatados pelas patronais e pelo governo, como por exemplo, a perda da conquista das licenças médicas no setor público.
O Uruguai dos pactos secretos
Como é possível que o governo esteja débil, em crise e continue nos impondo seus sinistros planos antioperários? As bases honestas e lutadoras da Frente Ampla sabem nitidamente que seus altos dirigentes não querem que seja exigida a renúncia de Lacalle Pou. Dizem a eles que a democracia estaria em risco, que a institucionalidade deve ser cuidada e por isso no máximo pediriam a queda de um ministro e/ou o chanceler.
Porém enquanto se escuta o presidente da FA, Fernando Pereira, criticar o governo, os legisladores frenteamplistas votam vários artigos no Parlamento para a coalizão de direita, validando assim o roubo das aposentadorias e perpetuando a fraude privatizadora das AFAPs.
A última pérola foi a viagem em conjunto que José Mujica aceitou realizar para a posse de Lula, juntamente com Lacalle Pou e Sanguinetti, e para “estender uma mão ao presidente” como um “pequeno gesto diplomático”.
Assim como ocorreu à saída da ditadura, onde a alta direção da FA participou do Pacto do Club Naval, ponto de apoio para a impunidade de golpistas, torturadores e assassinos que se mantém até hoje, tudo indica que as reuniões secretas de Mujica, onde o silêncio é outra vez o protagonista, não pode ter outra lógica senão a de sustentar o governo antioperário até às próximas eleições. A “mão” de Mujica a Lacalle, depois da reunião reservada em Suarez y Reyes, não deixa qualquer dúvida.
Outra amostra lamentável foi a briga pelos cargos que foi expressa no Congresso de Intendentes, entre Yamandú Orsi e Carolina Cosse, que acabou atribuindo a nomeação de presidente a um intendente branco da coalizão corrupta e antioperária, quando esse cargo correspondia à FA.
Estes fatos mostram o grau de decomposição, a enorme disputa interna pelos assentos e suculentos salários. A esquerda dos pactos, a que sustenta governos antioperários e lhes dá uma mão, não dá mais. Com estes dirigentes domesticados nem sequer é possível defender as liberdades democráticas.
Formar uma organização operária socialista e revolucionária
As bases honestas e lutadoras da FA, o setor que se reivindica classista e que tem como eixo a luta para enfrentar os ataques do governo, deve tomar esta enorme tarefa em suas mãos. É necessário colocar as bases de um novo partido revolucionário, que rompa com esta velha transação de pactos e defesa do sistema capitalista.
O capitalismo não dá mais, o governo está esgotado, mas nem o capitalismo nem o governo vão cair sozinhos. E se uma explosão espontânea o derrubasse, a burguesia, mais cedo ou mais tarde colocará uma substituição patronal. Para evitar isso, propomos estabelecer um partido de trabalhadoras e trabalhadores, que sirva de guia, que se coloque a serviço e à frente dessas lutas cotidianas, para unificá-las, politizá-las e que apontem para o governo corrupto, para derrubá-lo e aprofundar a luta para instalar um governo operário e popular.
Esta construção que propomos é contrária à formação de uma esquerda policlassista, onde se tenha que “engolir sapos”.
Chamamos os lutadores que estiveram à frente e nas ruas na luta contra a LUC, os docentes, professores e estudantes que lutam contra a transformação educativa, os operários e operárias que em seus conflitos reivindicam salários dignos, os aposentados e trabalhadores que já não podem viver com aposentadorias miseráveis, as mulheres que lutam contra os feminicídios e aqueles que continuam firmes enfrentando a impunidade, lutando incansavelmente pelos direitos humanos. Com vocês queremos construir a esquerda revolucionária, socialista e internacionalista. A partir da IST nos colocamos à disposição para essa tarefa.
Publicado em 26 de dezembro de 2022 em https://www.ist.uy/
Tradução: Lilian Enck