“Centro de detenção”. Soa inócuo, certo? Como se fosse um centro de entretenimento infantil, ou um centro de atendimento ao público. Mas não é. Um centro de detenção nos Estados Unidos é uma instituição macabra que é peça fundamental do controle e repressão de imigrantes na fronteira e no interior do país. É por isso que não são incomuns ações e até greves de imigrantes detidos nelas. A mais recente onda de ações foi desencadeada nos centros de detenção de Mesa Verde em Bakersfield e no Golden State Annex (GSA) em McFarland, ambos na Califórnia. Nesses centros, os detidos fizeram heroicas greves trabalhistas contra as condições de sua detenção e sua extrema exploração como trabalhadores quase forçados. A Voz dos Trabalhadores/ Workers’ Voice tem apoiado os grevistas.
Por: Voz dos Trabalhadores – Estados Unidos
Ao contrário da recente greve de fome realizada por detentos no Northwest Detention Center em Tacoma, Estado de Washington, as ações de Mesa Verde e GSA são medidas trabalhistas. Se encaixam perfeitamente e estão na vanguarda porque são trabalhadores sem representação sindical ou quaisquer direitos, dentro da onda de greves industriais e de sindicalização que abala o país há dois anos e que recentemente nos deu vitória na Amazon em Staten Island, Nova York. O empregador neste caso é A GEO Group, nada menos que a maior empresa de monitoramento prisional e eletrônico do mundo, que administra 52 instalações de fiscalização de imigração com capacidade para 66.456 detentos somente nos Estados Unidos. Graças a seus lucrativos contratos governamentais para administrar vários centros repressivos, a empresa obteve US$ 551 milhões em lucros apenas no primeiro trimestre de 2022. Tudo às custas da vida de nossa gente.
O que levou os imigrantes dos centros de detenção de Mesa Verde e GSA a dar esse passo e enfrentar a dura postura do GEO Group? Em seus centros, essa empresa multiplica seus lucros “oferecendo” aos detentos um programa de trabalho “voluntário” pelo qual eles ganham US$ 1 por dia para limpar as instalações imundas. Essa exceção às leis do salário mínimo que transforma o trabalho prisional em algo próximo a escravidão é perfeitamente legal, apesar da ilegalidade da própria escravidão – está inscrita nas constituições federal e estadual sob o nome de “servidão involuntária”. Na Califórnia, o governador Gavin Newsom, uma estrela do liberalismo democrata e adorado pelos grandes nomes do Vale do Silício, rejeitou os esforços para reformar o sistema e forçar prisões e centros de detenção a pagar o salário mínimo legal de US$ 15 por hora.
Não é apenas a mísera remuneração que obrigou os detidos a recorrer à força, mas também as condições da sua detenção, ilustradas pela lista das suas exigências. Os 40 detidos que declararam greve entre os dois centros exigem um tratamento digno para todos os detidos; aumento dos salários dos trabalhadores imigrantes detidos para US$ 15 por hora; trocas de roupa de cama, toalhas, roupas e calçados adequados ao clima e atividade e em bom estado; artigos de higiene pessoal de boa qualidade; alimentação de qualidade, em porções adequadas e com frutas frescas e limpas, água quente em todas as refeições; água potável em todo o centro; direitos de visita presencial e visitas virtuais gratuitas; contratação de um médico residencial dedicado ao centro, serviço de encaminhamento a especialistas e protetor solar no verão.
Em resposta à tenacidade dos grevistas, os administradores do GEO Group se reuniram com os imigrantes detidos para negociar. Mas essas reuniões e as escassas concessões feitas têm como objetivo desarmar a greve. Em resposta, suas demandas insatisfeitas, os grevistas continuam a usar a força. Enquanto isso, a empresa deixou que as condições de vida de todos os imigrantes se deteriorassem em imundície, para desmoralizar os lutadores. Dois dos líderes foram permanentemente segregados da população de detentos e colocados em confinamento solitário. Apesar disso, a luta continua.
E os grevistas não estão sozinhos. Por um lado, existem organizações sem fins lucrativos, como a California Collaborative for Immigrant Justice, que seguem uma estratégia orientada à conciliação e intervenção junto a organizações como a Cal/OSHA, agência estadual da Califórnia responsável pela saúde ocupacional. Bem-intencionada, até agora esta estratégia não foi muito bem sucedida. Por outro lado, estão as organizações combativas, cuja estratégia é a mobilização independente do poder da classe trabalhadora e dos oprimidos para impor nossas reivindicações. Destaca-se entre esses defensores está a organização Papéis Para Todos. Esta é uma coalizão de ativistas e grupos que lutam pelos direitos dos iimigrantes na Califórnia que rejeita a filiação aos partidos Democrata e Republicano e se apoia na estratégia de mobilização nas ruas e na greve geral para alcançar seus objetivos, entre eles o direito incondicional à cidadania para todos os indocumentados e imigrantes e a abertura das fronteiras. A Voz dos Trabalhadores faz parte do Papéis Para Todos e contribuiu para a liderança da campanha de solidariedade com a greve dos imigrantes em Mesa Verde e GSA. Graças a esta campanha, foram angariados fundos para apoiar os grevistas e se obteve o apoio de vários sindicatos e organizações sociais como Labor and Community for an Independent Party (LCIP), Labor Fightback Network, y SEIU, Local 87 de San Francisco. Uma ação direta está prevista para a semana de 25 de julho, cujos detalhes serão confirmados no momento da publicação deste artigo (envie-nos um e-mail para se atualizar e participar).
É imperativo que a campanha de solidariedade com os grevistas de Mesa Verde e Golden State Annex continue. Por esses grevistas, por suas demandas enquanto estejam detidos e para além, por sua libertação. Devemos pressionar nossos sindicatos e organizações sociais ou políticas a falar a favor dos grevistas, comprometer-se financeiramente com eles e ajudar a organizar ações de protesto nas ruas contra esses centros de detenção. Nossas organizações devem se coordenar para realizar esses protestos, e para que eles construam e continuem o impulso da grande greve imigrante de 2006. Não é através de negociações ou das ONGs, mas através da luta conjunta fora e contra os partidos que alcançaremos plenos direitos nos Estados unidos e um fim aos ataques racistas às nossas comunidades.
Por favor, envie sua contribuição monetária para os grevistas para https://gofund.me/fb8d96f0 (observação: tome cuidado de marcar 0% de “tip” para o aplicativo GoFundMe se você não quiser “dar gorjeta” a esta empresa). Para participar da organização de ações de apoio, entre em contato com La Voz de los Trabajadores em litcilavoz@gmail.com.
Cumprimento das exigências dos grevistas já!
Libertação imediata e irrestrita de imigrantes detidos!
Direitos de cidadania plenos para todos os indocumentados e imigrantes!
Por um mundo sem fronteiras!