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quinta-feira, abril 18, 2024

México| Os trabalhadores não têm em quem votar

Faltam poucos dias para as eleições nos 32 estados do México. Milhares de cargos executivos e legislativos serão renovados nos níveis estadual e municipal, além dos mandatos na Câmara dos Deputados federais. Embora a “campanha” tenha sido aberta oficialmente em abril deste ano, há mais de um ano os partidos da patronal, oficialistas e opositores centram todos os seus discursos e dinheiro na disputa eleitoral por cargos nos órgãos do poder. Tanto o presidente quanto a oposição estão em permanente disputa eleitoral, judicial e de mídia. E assim se estenderão até março de 2022, quando está agendada a consulta sobre a revogação do seu mandato, proposta pelo próprio Andrés Manuel López Obrador (AMLO). Uma maioria se pergunta: que benefício vai ter para os milhões de trabalhadores e explorados do México, que confiaram suas esperanças de mudança nas eleições de 2018?

Por: Corrente Socialista dos Trabalhadores – CST

As 220 mil mortes por Covid-19, que sofremos, o desmantelamento total do sistema público de saúde, os desaparecimentos e feminicídios, a miséria crônica e precariedade do emprego, o abandono e os desastres como o do Metrô, com o colapso geral do transporte público, a escassez de água potável em grande parte do território, a crescente escassez da cesta básica … Enfim, todas as necessidades, desgraças e angústias dos trabalhadores não preocupam minimamente os políticos patronais. Para eles, “vale tudo” para ganhar votos ou roubá-los do oponente.

E agora que as campanhas estão no auge, está claro que para eles, os capitalistas e seus agentes políticos, as eleições são um grande investimento para seus suculentos negócios. Eles se denunciam uns aos outros como imorais por comprar votos. Mas é isso que todos fazem! Camisetas, sacolas de supermercado, mochilas, panfletos, santinhos. E agora, também máscaras, com nomes de partidos e candidatos. E todos, oficialistas e opositores, enchem as ruas com suas fotos em faixas, cartazes, colagens … Quanto dinheiro gastam no circo eleitoral! Essa campanha superou tudo o que se viu antes em termos de degradação e incompetência daqueles que se candidatam, que na falta de um programa político, fazem palhaçadas, cantam ou dançam para parecer “originais”.

Em essência, o regime não mudou, mudou o chefe de governo e algumas figuras

Inúmeras vezes – no programa da manhã e quando tem oportunidade – o presidente repetiu que “já não é mais o antigo regime”. No entanto, ele mesmo sabe que isso é falso. Não achamos necessário mostrar aqui que o Estado mexicano continua servindo aos grandes capitalistas locais e estrangeiros. Basta ver como as fortunas de oligarcas como Carlos Slim crescem com a Quarta Transformação (4T), que recebe contratos em grandes obras públicas, concessões de mineração e … é até fornecedor de vacinas! Ou Ricardo Salinas Pliego e seu Banco Azteca, que é a agência de pagamento de todos as ajudas sociais. Também não é necessário detalhar que o estado mexicano continua sendo colonizado econômica, política e militarmente pelo império dos Estados Unidos. Fica evidente a falsidade das afirmações de AMLO de que “somos um país soberano e independente”.

Quais instituições mudaram? O judiciário permanece intacto. E o melhor exemplo é a nefasta Suprema Corte. A Procuradoria-Geral, chefiada por Gertz Manero, ex-secretário de Segurança de Vicente Fox, está cheia de seus anteriores cúmplices. Para comprovar a confiabilidade do atual FGR (Procuradoria-Geral), basta lembrar como conseguiram em processo rápido investigar e resolver a inocência do “Padrinho” General Cienfuegos.

O poder legislativo, o Senado e a Câmara dos Deputados continuam operando com as mesmas práticas corruptas dos partidos do antigo regime. E isso, agora, até mesmo as mesmas velhas figuras desses partidos denunciam, como Porfirio Muñoz Ledo, atual deputado do Morena (Movimento de Regeneração Nacional). Se analisarmos todos os 32 estados, quase não há mudanças. Pois em 23 deles governam há décadas o Partido de ação Nacional (PAN), Partido Revolucionário Institucional (PRI) e Partido da Revolução Democrática (PRD), que continuaram saqueando, explorando e reprimindo, da mesma forma que nos 6 estados que Morena governa até agora.

Vejamos alguns exemplos: a repressão brutal dos estudantes normalistas rurais de Mactumatzá em Chiapas, governada por Rutilio Escandón do Morena, não difere daquela sofrida pelos estudantes de Oaxaca, governada por Alejandro Murat do PRI ou em Michoacan, governado por Silvano Aureoles do PRD. E as ameaças e perseguições aos trabalhadores das maquiladoras de Tamaulipas são as mesmas do sinistro governador do PAN, o criminoso García Cabeza de Vaca, e do antioperário Presidente municipal de Morena em Matamoros, sócio das empresas e amigo dos sindicalistas pelegos, Mario López “La borrega”. E o mais grave é que aqueles que se dizem defensores dos trabalhadores, venderam a independência do Movimento Operário Matamorense 20/32 para o Morena para ganhar uma candidatura. Assim, se tornaram cúmplices dos ataques das empresas e das traições contra o povo.

O ponto culminante que revela o caráter deste governo da 4T é a atitude hostil em relação aos trabalhadores da agência estatal Notimex e seu sindicato democrático, o SutNotimex, que são os protagonistas da mais longa greve de resistência da história – 15 meses consecutivos – enfrentando heroicamente as demissões injustificadas, a violação a seu CCT (Contrato Coletivo de Trabalho, ndt), a calúnia e a perseguição de seus novos dirigentes, eleitos democraticamente.

Mais um fato questiona o mito de AMLO sobre a “mudança de regime”: todo o Morena e o presidente no comando, se enfurecem e denunciam o Instituto Nacional Eleitoral (INE) e Lorenzo Córdova, seu conselheiro presidente. Eles o acusam de responder incondicionalmente ao PRIAN e de não ser um árbitro imparcial e ameaçam destituí-lo. É claro que os trabalhadores conscienciosos nunca confiam na imparcialidade do INE ou de qualquer uma das instituições da “democracia dos ricos”. Mas AMLO e os acusadores do Morena entram em uma contradição flagrante, porque “De Chiapas em 2018: López Obrador parabenizou o presidente do Instituto Nacional Eleitoral, Lorenzo Córdovaque comprometeu que as eleições serão livres e justas”.

A única coisa que mudou foi o chefe de uma instituição: o presidente. O que eles chamam de Poder Executivo. Mas nele há até secretários de governo vindos de governos e partidos anteriores, parentes de oligarcas ou de organismos imperialistas. O povo está farto de todos eles e é por isso que em 2018 disseram Basta! E votou para expulsar a “máfia do poder” … Que permanece impune e agora compartilha o poder dentro da 4T. E diante dessa realidade: simulação de mudar algo para que tudo continue igual ou pior, vemos que a decepção invade os ânimos de milhões de explorados e oprimidos.

As Forças Armadas: a mudança de regime preferida por AMLO

Por muitos anos, organizações populares e defensoras dos direitos humanos denunciaram os abusos e violações das forças armadas sob diversos governos e do PRI e o PAN. Em particular, o papel criminoso durante sua nefasta “guerra contra as drogas”. Todos exigiram “que o Exército e a Marinha deixassem as ruas e voltassem para seus quartéis”. Em 2018, o Supremo Tribunal foi forçado a declarar inconstitucional a Lei de Segurança Interna, que confiava aos militares funções de segurança pública.

No entanto, quando AMLO e a 4T chegaram ao governo, mudaram a Constituição para que continuassem a cumprir essas funções. E essas mudanças foram aprovadas por unanimidade por todas as frações que hoje supostamente “lutam” entre si. E assim foi criada a Guarda Nacional, uma força militar especial de certa forma, sob o comando de um General, que atua em todo o território. E o que Guarda Nacional faz? Reprime e persegue os migrantes centro-americanos que chegam ao México. E agora os militares e marinheiros não só estão nas ruas, mas nos portos, na alfândega, estão construindo aeroportos e megaprojetos como o Trem Maia ou refinarias como Dos Bocas. Ou seja, a hierarquia das instituições militares no regime atingiu um patamar nunca visto desde a época presidencial (1940-46) do general Manuel Ávila Camacho.

Todo o aparato de mídia do governo e da oposição quer nos forçar a entrar no aspirador eleitoral

Todos os meios de comunicação e redes, estejam a serviço do governo ou da oposição, estão aumentando a temperatura para nos colocar na falsa polarização eleitoral. O jornal Milenio inclusive nos dá cursos “Como votar corretamente no México, evite que seu voto seja anulado”*. É claro que eles não querem que ninguém escape do aspirador eleitoral. E nessa tarefa de imensa “sucção” atuam desde a extrema direita, que o presidente chama de “conservadora” ou “Fifi”, até os supostos “esquerdistas” ou mesmo alguns que se autodenominam “comunistas”, a quem os reacionários chamam de “chairos”. Estes últimos, se desfazem em argumentos e “motivos” oportunistas, para explicar e nos convencer o porquê é uma obrigação “apoiar Morena, para que ele não perca a maioria dos deputados diante da revanche da direita”. E isso é uma mentira por dois motivos: o primeiro é que AMLO já avisou que se perder a maioria dos deputados usará seu poder de veto para bloquear a oposição, o segundo é que nesses três anos Morena teve a maioria e não a utilizou para revogar a contrarreforma energética de Peña Nieto, ou anular os contratos de saque de petróleo e mineração, nem as tremendas ofensas à nossa soberania perpetradas por Salinas de Gortari, Fox ou Calderón. Simularam mudar a reforma educacional e trabalhista de Peña Nieto. Nem erradicaram a precarização no trabalho. Apenas fizeram acordo com as empresas de uma reforma cosmética da terceirização.

O profundo desapontamento com promessas quebradas e novas queixas pode provocar uma reação lógica, mas muito equivocada de um setor da classe trabalhadora: recuar e apoiar aos que antes dissemos Basta! É claro que nenhum trabalhador consciente de suas necessidades deve cometer o erro de dar seu apoio político aos partidos que durante longas décadas de governo nos exploraram e saquearam o país. Mas os trabalhadores também não defenderemos nossos interesses sociais como povo pobre, dando nosso voto aos atuais simuladores da 4T, que já mostraram que seu lema oficial “para o bem de todos, os pobres primeiro” é apenas uma frase vazia, para continuar servindo ao poder do grande dinheiro, local e estrangeiro.

Hoje nós, trabalhadores, não temos em quem votar. Vamos votar contra todos os partidos do regime!

Hoje não há candidatos ou partidos confiáveis. Votar em oficialistas ou oposição deste regime podre é votar contra nós mesmos. Não vamos deixar que aqueles que roubam nossos salários, terras e o futuro de nossos filhos roubem nosso voto. Por quê? Porque é assim que vamos dizer Basta a este regime! Rejeitaremos nas urnas aqueles que nos exploram, aqueles que violam nossos direitos e nos reprimem quando nos defendemos. Porque deixá-los roubar o voto vai contra os interesses presentes e futuros de nossa classe trabalhadora.

Só poderemos sair dessa situação de adversidade política construindo uma alternativa de trabalho independente em cada local de trabalho e em cada luta. Como fizeram no Chile, onde os candidatos da classe trabalhadora de baixo criticaram a falsa “democracia” dos ricos. Lá eles elegeram verdadeiros lutadores sociais para a Assembleia Constituinte, causando um verdadeiro terremoto político. E assim estão realmente lutando, não só contra o capitalismo neoliberal, mas também contra os “progressistas” que o sustentam!

Os jornais como Milenio e este regime querem evitar o “voto anulado” porque hoje é o único verdadeiro voto consciente. Por isso nós propomos votar contra todos eles. Contra todos aqueles que nos injustiçam e nos enganam. E esses “votos anulados” ressoarão em suas recontagens na noite de 6 de junho como votos verdadeiros, votos de repúdio à corrupção de todos eles. Votos de repúdio à exploração, expropriação territorial, repressão e pilhagem de nossos recursos naturais.

Nota:

* Como se anula o voto?

https://www.milenio.com/politica/elecciones-2021/como-votar-en-las-elecciones-2021-en-mexico

O voto é anulado quando toda a cédula é riscada ou mesmo quando fica em branco.

Tradução: Tae Amaru

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