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Costa Rica

Necessidade de um partido revolucionário como alternativa para a juventude na Costa Rica e no mundo

Demonstrators stand behind a barricade during a protest against Nicaragua’s President Daniel Ortega’s government in Managua, Nicaragua May 30, 2018. REUTERS/Oswaldo Rivas
agosto 12, 2020

Em comemoração aos 15 anos do Partido dos Trabalhadores, queremos aprofundar a respeito da necessidade de construir um partido revolucionário para a classe trabalhadora e a juventude, que reivindique as principais lições da revolução russa, onde a classe operária (muitos deles jovens) tomaram o poder. As principais lições do partido bolchevique de 1917, são retomadas por um grupo de jovens que fundaram o Movimento ao Socialismo (hoje o PT), e que com os anos construíram em conjunto com trabalhadores e trabalhadoras uma organização a serviço das lutas e pela revolução socialista mundial.

Por: PT Costa Rica
A Juventude não tem futuro no capitalismo
O mundo vive momentos muito conturbados, em meio a uma pandemia, a crise econômica se recrudesce em muitos países, trazendo junto crises políticas e sociais. O sistema capitalista continua demonstrando cada vez mais que fracassou, levando milhões de pessoas à miséria e até à morte. Não é segredo para ninguém que esta situação leva a juventude do mundo a um futuro de exploração, fome, desemprego, endividamento, precarização, miséria, pandemias mais frequentes que se ligam às mudanças climáticas e com isso também a viver na própria carne a catástrofe ambiental; e em suma, o difícil acesso à educação, à saúde ou aposentadoria digna.
Dizemos que o capitalismo é o principal inimigo da juventude de nosso país e do mundo, porque com suas injustiças atenta contra a própria vida, desmantelando as possibilidades de uma educação de qualidade, do acesso à saúde ou à uma aposentadoria digna na vida adulta. De maneira mais agressiva vemos como governos de direita e outros que se autoproclamam de esquerda e anticapitalistas, garantem os planos neoliberais contra instituições do estado, aplicando cortes que afetam as grandes maiorias.
Além da exploração que a juventude vive, sua vida se endurece quando aumenta a opressão. As mulheres jovens, indígenas, migrantes, negros ou comunidade LGBT levam a pior parte da barbárie capitalista, onde além de serem explorados em seus locais de trabalho, são vítimas de discriminação pela sua cor de pele, sua origem, sua orientação sexual ou gênero.
Por todas estas razões dizemos que é mais do que urgente, dar uma saída revolucionária à situação em que vivem milhões de jovens no mundo inteiro, porque sob o capitalismo não há solução, pelo contrario, como juventude o único futuro que temos garantido é a exploração, precarização do trabalho, endividamento, fome, miséria, desemprego, pandemias, e destruição ambiental.
A Juventude se coloca à frente das lutas
Nos últimos anos, países da América Latina, Europa e Ásia, tem tido ascenso de lutas contra toda a barbárie que o capitalismo gerou. A defesa dos direitos mais básicos da população, a defesa da educação ou a saúde tem estado no centro de massivas mobilizações, onde o componente juvenil  é central.
Casos como a mais recente revolução chilena, que deu início pela rebelião dos jovens secundaristas e universitários contra o aumento da passagem do transporte público, e que depois desencadeou em massivas mobilizações contra um governo que  saqueou o país por anos. Neste caso o componente juvenil tem sido muito importante, como é o caso também da “primeira linha” composta por universitários, secundaristas ou classe operária jovem precarizada, em sua maioria.
Outros exemplos mais recentes são as grandes mobilizações que sacodem os Estados Unidos, com a consigna “Vidas negras importam”, um importante componente de jovens saiu para combater a violência policial e o racismo que sacodem este país como resultado das políticas de ultra direita de Donald Trump.
Se voltarmos alguns anos para trás, países como a Nicarágua viveram uma rebelião que começou nas universidades de várias cidades contra a ditadura de Daniel Ortega e contra as políticas de corte às aposentadorias de idosos. O movimento em sua maioria de universitários, foi ganhando a população para sair às ruas durante cinco meses contra a repressão e a ditadura do Orteguismo, resultando em mais de 500 mortos e muitos exilados em nosso país, em sua maioria juventude nicaraguense. Para essa ocasião como partido nos colocamos do lado do povo nica, e defendemos o combate à sanguinária ditadura vivida no país vizinho.
E assim, muitos outros casos ao longo da América Latina e do mundo, onde a juventude é o motor das lutas nas ruas, combatendo a repressão mais dura. As políticas de direita no Brasil, Argentina, Equador, Colômbia, Costa Rica, Estado Espanhol motivam cada vez mais a juventude a sair para tratar de se garantirem um futuro melhor.
A esquerda reformista dá passagem à ultradireita e trai a juventude
Em meio de todo esse ascenso das massas, os partidos políticos tradicionais tiveram papéis diferentes. A ultra direita em alguns países teve um ascenso importante, tal é o caso dos Estados Unidos e Brasil. Em outros países, a direita tradicional começou a sustentar crises importantes, dando passagem para que os partidos mais à esquerda avançassem, os chamados neorreformistas.
Com este setor sustentamos um debate central. Acreditamos que os partidos reformistas, nos quais uma grande quantidade da população depositou sua confiança, a única coisa que garantiram foi enchê-los de falsas ilusões propondo-lhes que dentro do capitalismo é possível melhorar as condições de vida. Diante disso, dizemos que isso é impossível, colocar uma cara humana no sistema capitalista não é resolver o fundo do problema. E pior ainda, é que em momentos onde há revoltas revolucionárias, estes partidos neorreformistas demonstram que estão do lado da defesa de ordem burguesa, e não precisamente das massas que se levantam contra ele.
Analisemos um caso europeu. Na Grécia, um partido neorreformista como o Syriza em 2015, arrasou na votação para governar. O amplo apoio com que ele contou, apresentava uma radicalização no governo grego que prometia reverter a péssima situação em que estava o país a direita tradicional e a aplicação do roteiro neoliberal. Em 2014, o PIB da Grécia tinha caído 25%, o desemprego rondava 26%, e 23% da população estava na pobreza. O investimento em saúde caiu 9%. As aposentadorias foram reduzidas entre 35 e 50%. A dívida “pública”, que em 2008 representava 113% do PIB, saltou para 175%.
Neste péssimo panorama, as ilusões de uma grande quantidade da população, entre eles uma grande quantidade de jovens, apresentava muitas esperanças de que o governo de Tsipras não renegociasse os termos de resgate e dívida com a UE, e sim que priorizasse salvar o povo grego. Entretanto, depois de colocar em referendo a decisão de continuar obtendo créditos de dívida para “salvar” a Grécia, e com um rotundo não do povo, traiu da pior maneira a população e fez tudo ao contrario do que prometeu em campanha eleitoral, passando a ser mais um dos partidos burgueses traidores e submissos à Troika, garantindo cortes salariais, aumento de impostos, e uma descarada entrega de riquezas ao imperialismo tanto pela via do pagamento da “dívida” como por meio de privatizações de empresas estatais a preços de leilão.
No Estado Espanhol, Pablo Iglesias, reconhecido dirigente de PODEMOS, outro partido de corte neorreformista, não pôde justificar atos como o de Tsipras, alegando que “era o que se podia fazer”, ou na América Latina. O PSOL no Brasil, defendeu a vitória de Tsipras em 2015, rotulando-o como uma grande vitória das massas lutadoras da Europa, mas não foi capaz de assumir que a traição vivida pelo povo era digna de um partido de direita tradicional.
Casos como o do Syriza foram vividos em outros países e abriram o caminho à ultra direita, tal é o caso da Frente Ampla co-governando com o PAC na Costa Rica com figuras como Patricia Mora a cargo de um ministério. O PT de Lula no Brasil com fortes acusações de corrupção em seu governo, o partido Podemos no Estado Espanhol já faz parte do governo do PSOE, o Kirchnerismo na Argentina que voltou ao poder para aplicar as mesmas medidas que Macri, por meio de Alberto Fernández e Cristina Fernández. Podemos afirmar que, em nenhum desses casos, estas opções saldaram as necessidades básicas do povo, em especial das e dos jovens, e muito menos um programa que combata o capitalismo. Poderíamos nos atrever a garantir que estes partidos já nem sequer chegam a ser reformistas, isto é que seu objetivo nem sequer é acabar com o capitalismo através de reformas, já estão adaptados ao regime burguês, e nem por reformas lutam.
A experiência que a juventude fez com eles foi de se encherem de falsas ilusões para melhorar as condições de vida, em nenhum caso os resultados foram positivos. Pelo contrário, a confiança  depositada em muitos desses partidos por parte de uma juventude lutadora, ficou atolada nos congressos nacionais, onde esses deputados mal chamados “anticapitalistas”, se vendem em troca de permanecer nas cadeiras, ou de ser uma oposição tépida. Assim foi o papel traidor de muitos destes partidos.
Autonomismo: uma resposta equivocada à traição reformista
Em resposta à traição dos partidos reformistas, vimos uma ruptura muito importante de muitos setores da juventude, principalmente com as estruturas ou aparatos tradicionais, entre eles sindicatos, federações estudantis ou partidos políticos reformistas, isto a principio nos parece muito progressivo. Entretanto, essa ruptura foi traduzida em um chamado de luta permanente “individual ou autônoma” , com a qual acreditamos que devemos debater ideológica e programaticamente nossas principais diferenças.
Neste marco queremos nos aprofundar na ideologia individualista que lhes caracteriza. Acreditamos que a corrente autônoma ao não entender que o problema central da sociedade é sua divisão em classes sociais, e que o estado é o aparato de dominação de uma classe (a burguesia, isto é, os ricos), a única saída é que a outra classe (proletariado) conduza o povo à destruição desse estado e construa um novo, então acaba reivindicando, como faz a burguesia, o individualismo como um valor superior, de fato, dela surge, na revolução industrial.
Na aparência suas lutas são contrárias ao estado burguês, porque se organizam e criam espaços alternativos aos comuns (economia solidária, autogestão, troca, etc), mas, no fundo coloca o indivíduo como centro, suas próprias liberdades, unicamente seu desenvolvimento pessoal.  Isto é, concretamente, um dos pilares da concepção burguesa, em contraposição à concepção socialista que tem como base a produção social da riqueza, e a unidade do coletivo, ou da classe explorada acima da vontade de cada indivíduo, e sobretudo a subordinação dessa individualidade à coletividade, e como condição necessária para um verdadeiro desenvolvimento do indivíduo.
Estamos dizendo que esta ideologia os leva a atitudes individuais, que não apresentam a destruição do sistema capitalista ou do estado burguês, e sim que se desenvolvem por dentro. Às vezes, são atitudes exemplares, como a auto-organização, a autogestão, o bem estar comunitário, mas nada disso questiona ou ameaça com a destruição do capitalismo, e é precisamente isso o que serve aos ricos para continuar sustentando um sistema explorador e opressor. Pode ser muito gratificante para estes companheiros e companheiras ser parte de uma forma alternativa de vida, consumindo produtos orgânicos, com redes de intercâmbio, etc. Porém, lamentavelmente, ainda que isto seja possível para eles em particular, não é possível para a classe trabalhadora em conjunto como classe, e estas práticas não significam nenhuma ameaça à ordem capitalista.
A mesma sorte tem as ações exemplares. Muitos dos companheiros e companheiras que se reivindicam autônomos são muito combativos e lutadores. Entretanto, estão convencidos que basta sua força individual e sua determinação para lutar, não estão preocupados pelo que faça avançar a consciência das massas e sua luta. Por isto rechaçam as assembleias democráticas, onde são votadas as ações e a minoria se subordina à maioria, porque para eles, subordinar sua vontade à vontade da maioria é uma violação a sua individualidade. É por isto que afirmamos que seu programa é bastante difuso, o que faz com que suas ações recaiam em atitudes burocráticas, antidemocráticas, espontâneas, voluntaristas e contra organismos de base e de tomada de decisão das massas, levando muitas vezes à desmoralização, porque a experiência nos tem ensinado, que muitas vezes desrespeitam as decisões tomadas por uma ampla maioria, em assembleias, ocupações de edifícios, bloqueios de estradas, entre outros espaços.
Outra diferença é que não concebem o capitalismo e o estado burguês como os problemas de fundo de todos nossos males, de modo que sua organização espontânea ou radical, responde a um programa de pequenas reformas ao sistema ou de radicalização da democracia burguesa, que praticamente termina se parecendo ao do próprio reformismo. Nessa linha, às vezes apoiam as iniciativas de deputados ou partidos deste tipo, sem fazer uma denuncia clara de que assim não se ganha a batalha maior contra o estado burguês. Outra diferença central recai no tipo de organização que construímos. Estes grupos autônomos apregoam que se deve priorizar a liberdade individual acima da coletividade na luta de classes, como já dissemos, coletividade que defendemos ao organizar-nos como um partido revolucionário para a classe operária. Estes grupos defendem que seu tipo de luta individual é suficiente para conseguir as mudanças que necessitamos.
Sua luta contra a organização partidária reside na fundamentação de que os partidos oprimem ou restringem o indivíduo, quando é exatamente o contrario, decidir ser militante revolucionário é umas das decisões mais livres que existem, que além disso é acompanhada da compreensão racional de que tentando derrotar este inimigo, poderemos pensar em nossa plena emancipação como classe.
Esta discussão é muito curta para os setores autônomos, então nos perguntamos, por que sua radicalidade já não derrubou o estado explorador e opressor? Bem, basicamente porque o estado tem todo um regime para se sustentar de maneira centralizada (polícias, exército, poderes executivo, legislativo e judicial, entre outros) e acreditamos que somente com a construção de um partido da classe operária, com uma ampla democracia interna, mas uma firme centralização para fora, podemos fazer frente a esse aparato centralizado da burguesia.
O debate com este setor é central na construção do partido para a juventude, porque, ainda que seus métodos sejam diferentes de alguma maneira com o neorreformismo, sua estratégia final é a mesma.
A única saída para a juventude é a revolução socialista
A atual luta de classes nos apresenta um panorama que ultrapassou o neorreformismo e o autonomismo. Como juventude revolucionária sustentamos que a única alternativa real para combater nossos problemas é organizar-nos  e construir um partido revolucionário de caráter socialista, classista e internacionalista, que reivindique o centralismo democrático como método organizativo, com o qual fazemos todas as discussões necessárias internas do partido de maneira democrática e saímos para golpear nosso inimigo como um só punho.
Como temos discutido em outros artigos, acreditamos que somente mediante o socialismo, a juventude do mundo poderá mudar nossa situação. A realidade demonstra que o capitalismo é insustentável e que cada vez mais nos leva como humanidade ao abismo. Acreditar no socialismo e em um sistema econômico onde não existam privilégios para alguns poucos (empresários) e miséria para a grande maioria (classe trabalhadora) não é uma simples ilusão, é uma necessidade, e é mais vigente do que nunca. Acreditamos que, tendo o poder em mãos da juventude trabalhadora, da classe operária explorada, é possível planificar a economia e a socialização da riqueza, isto é, a nacionalização dos meios de produção para que a apropriação da riqueza seja social.
Isto só pode ser levado a cabo se construirmos um partido como já dissemos, revolucionário, socialista e internacional, composto pelos setores explorados de nossa sociedade, homens e mulheres, onde, além disso, o componente jovem  dê  muito dinamismo ao processo.
Precisamos de uma juventude que se coloque à frente na árdua tarefa de organizar a classe operária para a luta, e para a tomada do poder. Devemos apostar em toda essa juventude que hoje está precarizada e superexplorada, nas e nos operários jovens que não tem seu futuro garantido, em toda essa juventude secundarista e universitária que perde as possibilidades de ter educação pública de qualidade.
Chamamos toda a juventude para engrossar as fileiras do Partido dos Trabalhadores e da Liga Internacional dos Trabalhadores, por meio dos partidos que construímos em mais de 24 países ao redor do mundo e mais uma vez, dizemos que todas as lutas que ocorrem a nível mundial, precisam de uma direção revolucionária, de uma organização onde participem todos esses jovens em conjunto com a classe operária. Nosso partido e a internacional estão a serviço dessa tarefa.
“A vida é bela. Que as futuras gerações a livrem de todo mal, opressão e violência e a desfrutem plenamente”.
León Trotsky, 1940
 

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