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China

Quanto vai se recuperar economia chinesa?

junho 22, 2020

A economia chinesa sofreu no primeiro semestre de 2020 uma queda de proporções históricas como resultado das medidas adotadas pelo governo para combater o coronavírus. Tanto as autoridades chinesas como os organismos internacionais apontam para uma rápida recuperação. Será assim?

Por: Alejandro Iturbe
Em um artigo recente sobre a situação econômica mundial, informamos que, nesse trimestre: “Na China, o PIB retrocedeu 6,8%, a primeira redução desde 1992 e a pior desde 1976 durante a chamada Revolução Cultural, na época em que o país ainda era um Estado operário”.[1]
Uma contração que, pelo volume da economia chinesa, teve um forte impacto sobre a economia mundial: em 2018, representava quase 24% do PIB (Produto Interno Bruto) Mundial[2]. Isto significa que esta diminuição ocasiona uma queda de 1,63% no PIB global.
Embora esta queda fosse resultado direto das medidas restritivas adotadas pelo governo chinês, este impacto se dava sobre o marco de uma dinâmica prévia de freio e em direção a uma crise mais profunda, agravada pelos efeitos da guerra comercial-tecnológica com os Estados Unidos.
A partir de maio na medida em que foram suspensas as restrições mais severas, a economia chinesa começou a se recuperar e terminaria 2020 com números globais positivos. Em um estudo realizado em abril de 2020, estimava esse saldo anual em +1,2%[3]. Outro estudo, do banco BBVA espanhol, é ainda mais otimista: um crescimento no quarto trimestre de 7% e um saldo anual de +2,2[4]. Acompanhando esta visão otimista, a Bolsa de Shangai começou junho com uma alta de 2,21% e a de Hong Kong com uma de 3,36%[5]. Nesse contexto, diferente do que faz habitualmente, o governo chinês decidiu não fazer prognósticos de crescimento para 2020[6].
Não há dúvidas de que a economia chinesa começa a se recuperar sobre a abrupta queda que vimos. Essencialmente porque o principal fator conjuntural que incidiu sobre a magnitude desta retração foram as restrições pelo coronavírus, e estas agora estão suspensas.
A isso devemos somar a política do governo chinês para promover esta reativação através de investimentos diretos e créditos. Segundo o estudo já citado do BBVA “o governo central ampliará significativamente a margem de déficit fiscal de 2020 acima de 4% do PIB, em comparação aos 2,8% do ano passado”[7].  A política do governo chinês é promover esta recuperação através do mercado interno, no marco de uma estratégia mais geral de ampliação deste mercado, para que sua economia seja menos dependente das exportações.
Em outras palavras, teríamos um ciclo em forma de V. A pergunta chave é: quais serão as cifras desta recuperação, se vai compensar toda queda prévia ou se, inclusive, vai superar. No informe já citado do FMI se dá uma perspectiva muito otimista, estimando um crescimento do PIB de 9,2% em 2021. Isto é, a volta às “taxas chinesas” de anos atrás. Este prognóstico nos parece extremamente exagerado, algo habitual no FMI, que sempre deve corrigi-los posteriormente para números menores.
O crescimento que realmente se dará na economia chinesa será o resultado da combinação de vários fatores contraditórios. Por um lado, jogam a favor a suspensão das restrições e a normalização do funcionamento da economia, e o impulso que significam os incentivos monetários do governo. Por outro, jogam contra o impulso negativo que toda recessão transmite no período inicial da fase ascendente posterior, o contexto econômico mundial desfavorável, e os efeitos da guerra comercial- tecnológica com os Estados Unidos.
Por exemplo, as sanções aplicadas pelo governo de Trump contra Huawei, a grande empresa chinesa de celulares que disputava com Samsung e Apple a maior participação no mercado mundial. Estas medidas foram reafirmadas em maio passado e segundo os diretores da Huawei “afetam suas operações em 170 países”. A medida também afeta outras empresas como TSMC, com matriz em Taiwan mas com plantas na China continental, que fabrica os microprocessadores que os celulares da Huawei e da Samsung usam, e que começa a disputar a supremacia da tradicional Intel.
A economia chinesa vinha com crescimentos anuais que oscilavam por volta de 6%, algo que segundo seus parâmetros especiais já representa um primeiro sintoma de crise, e com alguns problemas estruturais profundos, como a superprodução de aço e carvão, a tendência ao encarecimento dos salários, o alto nível de endividamento dos setores privados, o crescimento do volume de créditos não pagos, os projetos imobiliários que não encontravam compradores, etc.
A respeito do tema do endividamento global (soma das dívidas do Estado, as empresas e as pessoas) em 2017, já superava 300%  do PIB. 40% das dívidas correspondem ao Estado e 60% aos setores privados [8]. O não pagamento dos créditos por parte de empresas privadas e dos municípios envolvidos em falidos projetos imobiliários foi a detonante do primeiro esboço de crise em 2015[9].
De nossa parte, nos inclinamos a acreditar que, a partir do terceiro e do quarto trimestre de 2020 e em 2021, a economia tenderá a retomar os níveis prévios às medidas restritivas, isto é, oscilando um pouco para cima de 6% de crescimento. Uma cifra na qual devemos considerar os fortes questionamentos que as estatísticas econômicas deste país sempre tem.
No curso dos próximos meses, a realidade nos dará a resposta precisa à pergunta que colocamos. Em qualquer das alternativas, tal como temos visto, essa realidade terá um forte impacto na economia mundial.
Notas:
[1] https://litci.org/pt/especiais/coronavirus/a-recessao-ja-chegou-e-depois/
[2] https://www.finanzas.com/macroeconomia/el-peso-de-la-economia-china-en-el-pib-global-subira-hasta-2034-luego-bajara_13874466_102.html#:~:text=China%20supon%C3%ADa%20en%202005%20el,27%2C1%20%25%20en%202034.
[3]  Perspectivas de la economía mundial, abril de 2020 en: https://www.imf.org/es/Publications/WEO/Issues/2020/04/14/weo-april-2020
[4] https://www.bbvaresearch.com/publicaciones/situacion-china-segundo-trimestre-2020/
[5] https://www.dinero.com/empresas/confidencias-on-line/articulo/bolsas-asiaticas-finalizaron-el-primero-de-junio-al-alza/287353
[6] https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/05/21/china-nao-definira-meta-numerica-de-crescimento-do-pib-em-2020.ghtml
[7] Ver nota [4].
[8] https://www.datosmacro.com/deuda/china
[9] https://litci.org/pt/mundo/asia-mundo/china/certezas-e-duvidas-diante-da-crise-economica-na-china/
Tradução: Lilian Enck

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