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Ativistas no Japão se manifestam contra feira militar de Israel voltada para as Olimpíadas perto de Tóquio

setembro 6, 2018

Manifestantes antiolimpíadas e outros ativistas se reuniram no dia 29 de agosto nas vizinhanças de Tóquio para protestar contra a abertura de uma exposição de armas e equipamentos militares de Israel.

A ISDEF é a maior exibição internacional de defensa e segurança nacional de israel. Aconteceu no Japão na Arena Todoroki em Kawasaki, uma cidade entre Tóquio e Yokohama, nos dias 29 e 30 de agosto. De acordo com sua publicidade, a ISDEF “une membros do governo e das Forças Armadas, executivos da indústria, usuários e tomadores de decisões de Israel e todo o mundo”. O evento principal em Israel acontece desde 2007 e para sua versão 2019 são esperados 15.000 visitantes e 300 companhias expositoras. Essa exposição de 2018 no Japão teve expositores de seis países, incluindo o Japão e Israel. Apenas representantes do governo e da indústria podem participar; o evento não é aberto ao público.

A Rede Contra o Comércio de Armas Japonesas (NAJAT) [sic] é um grupo pacifista dedicado a enfrentar o mercado mundial de armas no Japão. Em parceria com o Action Kanagawa, um grupo anti-Abe e anti-guerra baseado na cidade, ela formou uma frente, o Grupo em Oposição à Feira Militar Israelense em Kawasaki, para uma campanha contra a exposição da ISDEF.

Em 20 de agosto o grupo organizou um piquete e um evento de “morte” na entrada da arena com cerca de 200 participantes, de acordo com as informações divulgadas. Eles desfraldaram bandeiras de luta em inglês e japonês, e após isso deitaram-se como cadáveres no chão do lado de fora do local do evento. Oradores na manifestação incluíam pesquisadores do Oriente Médio e manifestantes antiolimpíadas. Houve enfrentamentos verbais com participantes e organizadores da exposição.

Foi um protesto pequeno, mas que conseguiu ser notado. Policiais antiprotestos estavam presentes no local, indicando que havia tensionamento por causa do ato, assim como membros da imprensa. Os organizadores da ISDEF Japão também foram seguidos de perto após o movimento de protesto durante o verão, ao que parece, e bloquearam ativistas (e eu, que em tese sou um observador) nas redes sociais.

O Japão proibiu exportações de armas e munições por empresas domésticas entre 1967 e 2014. Os grandes fabricantes, que antes burlavam as regras ao vender apenas partes do equipamento, agora querem se beneficiar com a abertura desse novo mercado. Porém, vários ativistas consideram o fim da proibição um passo a mais no caminho da remilitarização. Embora um representante da exposição enfatizasse o foco na segurança e no combate ao terrorismo, o acontecimento da ISDEF no Japão é um sinal a mais para militantes sobre o caminho perigoso que o Japão está tomando, dirigido por um lobby que quer modificar a Constituição pacifista.

Embora essa seja a primeira ISDEF no Japão, duas feiras de comércio de armas estrangeiras semelhantes aconteceram, respectivamente, em 2015 e 2016. A de 2015 foi a primeira demonstração da indústria militar no Japão – e a primeira no mundo a ter indústrias japonesas. Esses dois eventos pioneiros – a Exposição Aeroespacial Internacional do Japão, por um lado, e a Sistemas e Tecnologias Aéreo/Marítimas Ásia, por outro – estão agendadas para acontecer novamente em 2018 e 2019.

Ironicamente, as feiras terão dificuldade de encontrar um local em Tóquio em 2020, já que o Centro Internacional de Exibições de Tóquio (conhecido como “Big Sight”) e outros lugares semelhantes estarão tomados por uma série de meses para abrigar eventos sobre e preparações para as Olimpíadas. A NAJAT também tem ligações com um dos principais grupos anti-Olimpíadas que lutam contra os jogos de 2020 no Japão e esteve presente no ato que houve recentemente em Harajuku.

Da mesma forma, ativistas do Hangorin no Kai, um dos grupos mais importantes anti-2020, estiveram na manifestação contra a ISDEF. O protesto contra a ISDEF é relacionado, pelos ativistas, com suas preocupações de que as Olimpíadas serão utilizadas como uma desculpa para aumentar a vigilância estatal e policial, a opressão e a militarização. Slogans antiolimpíadas eram parte explícita dos protestos – e da mesma forma, organizadores da ISDEF Japão faziam referências diretas aos jogos de 2020 e a necessidade de melhorar a segurança.

Na última semana, o Hangorin no Kai soltou uma “carta de protesto” tanto em japonês quanto em inglês [tradução completa no final]:

Soubemos da existência da ISDEF Japão 2018 no dia 15 de maio, exatamente o dia conhecido como Dia da Nakba; soubemos enquanto as Forças de Defesa de Israel impiedosamente massacraram o povo palestino que marchava para sua terra natal, desarmado. Muitas vidas se perderam por causa da ação militar de Israel.

Preocupa-nos que o posicionamento aberto do logo das Olimpíadas no pôster promocional da ISDEF, no qual pode se ler: “Com as Olimpíadas de Tóquio 2010 no horizonte, e a expectativa de que 40 milhões de turistas venham visitar, a segurança é a principal preocupação dos organizadores e das autoridades.”

É evidente para nós que a ISDEF Japão está aproveitando a oportunidade das Olimpíadas para vender tecnologias de segurança que são responsáveis pelo assassinato de muitos homens e mulheres palestinos. Nós não queremos ver um evento manchado de sangue, e estamos determinados a lutar contra Olimpíadas que precisem de tecnologia violenta contra o povo.

Os manifestantes também organizaram um ato antes da feira. Em 27 de agosto, um pequeno grupo segurou placas e cartazes do lado de fora do quartel-general da gigante de telecomunicações SoftBank, que patrocina a ISDEF Japão com um papel de controle do mercado de segurança cibernética. O Hangorin no Kai inclusive apareceu no local da exposição dois dias antes da abertura da ISDEF Japão para mostrar uma bandeira antiolimpíadas (“Não precisamos da ISDEF Japão nem das Olimpíadas”) na área de carga e descarga enquanto os materiais para a feira eram retirados de um caminhão e transportados para dentro da arena.

Uma petição online também foi lançada no início do verão na Change.org, atraindo mais de 4.000 assinaturas. Ela foi então entregue no gabinete do prefeito de Kawasaki em 16 de agosto, exigindo que ele retirasse a permissão do evento.

Uma manifestação também aconteceu no dia 30 de agosto, último dia exposição. Essas mobilizações, especialmente a do dia de abertura, atraíram a atenção não apenas da mídia alternativa como a Labor Net, mas também de veículos de massas como a NHK, o jornal Sankei, a TV Kanagawa, o Yahoo News e a Tōyō Keizai. Isso é significativo, já que o movimento anti-2020, especialmente seu aspecto que luta contra as remoções de sem-teto, tem sido quase que completamente ignorado.

É um tanto evidente que essa campanha de protesto contra o evento da ISDEF em Kawasaki tem raízes no movimento anti-Israel e pró-Palestina no Japão. Muitas das bandeiras e imagens publicitárias dos atos se apoiavam tanto na indignação com a violência do Estado de Israel contra os palestinos quanto em questões específicas do Japão como a remilitarização, as Olimpíadas e a Constituição.

Longe de ser uma novidade, isso tem precedentes estabelecidos na Nova Esquerda Japonesa, especialmente no começo dos anos 70 com o surgimento do Exército Vermelho Japonês no Líbano, mas que continua até hoje. A decisão de Trump de mudar a sede da embaixada estadunidense para Jerusalém, por exemplo, foi atacada por ativistas veteranos em Tóquio no dia 14 de maio. Para além dos ativistas da extrema-esquerda japonesa e (aos olhos de muitos) terroristas que pegaram em armas para lutar contra Israel, muitos jornalistas e fotógrafos japoneses dedicaram suas carreiras a destacar a causa do povo palestino, incluindo Toshikuni Doi e Ryūichi Hirokawa.

Vários setores desses movimentos são antissionistas e se opõem à existência do Estado de Israel. É um debate aberto se essa crença é antissemita ou não, com acadêmicos como o falecido David G. Goodman condenado a Nova Esquerda Japonesa por seu “socialismo de tolos”, mas uma leitura de perto do discurso do Exército Vermelho Japonês e outros no decorrer dos anos mostra que suas posições não devem ser simplesmente ignoradas como racismo.

WILLIAM ANDREWS

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Carta de Repúdio: Nós não precisamos da ISDEF Japão ou das Olimpíadas! Fora todas elas!

Soubemos da existência da ISDEF Japão 2018 no dia 15 de maio, exatamente o dia conhecido como Dia da Nakba; soubemos enquanto as Forças de Defesa de Israel impiedosamente massacraram o povo palestino que marchava para sua terra natal, desarmado. Muitas vidas se perderam por causa da ação militar de Israel.

Nos preocupa que o posicionamento aberto do logo das Olimpíadas no pôster promocional da ISDEF, no qual pode se ler: “Com as Olimpíadas de Tóquio 2010 no horizonte, e a expectativa de que 40 milhões de turistas venham visitar, a segurança é a principal preocupação dos organizadores e das autoridades.”

É evidente para nós que a ISDEF Japão está aproveitando a oportunidade das Olimpíadas para vender tecnologias de segurança que são responsáveis pelo assassinato de muitos homens e mulheres palestinos. Nós não queremos ver um evento manchado de sangue, e estamos determinados a lutar contra Olimpíadas que precisem de tecnologia violenta contra o povo.

A Cidade de Kawasaki, que cedeu o espaço de propriedade municipal para a ISDEF Japão, declara não ver problema nenhum com ser anfitriã dessa Exposição. Aceitaram a proposta do evento sob a condição de ser um evento com o propósito de segurança em eventos de larga escala (ou seja, as Olimpíadas) e não envolver nenhuma arma ou substância perigosa.

Houveram tantas situações de violações de direitos humanos em nome das Olimpíadas – é absurdo que tantas lares e inclusive vidas tenham sido tiradas por causa das Olimpíadas. Um exemplo recente foi o das pessoas forçosamente despejadas de seus lares nos conjuntos habitacionais públicos de Tóquio, que foram então demolidos para abrir espaço para o novo Estádio Olímpico Nacional. Também nos chocou o suicídio de um trabalhador no canteiro de obras do Estádio, após um colapso mental por excesso de trabalho. Outro trabalhador perdeu sua vida durante o trabalho na construção da Vila Olímpica. Outra realidade assustadora é que as Olimpíadas gastam uma quantidade enorme de verba que deveria ser utilizada para recuperar vários lugares atingidos por desastres no Japão, começando com o Grande Desastre no Japão Oriental de 2011 e vários lugares atingidos por tempestades mais recentemente. Enquanto isso, os organizadores das Olimpíadas estão exigindo que estudantes dediquem seu tempo de aula para serem voluntários nas Olimpíadas, e planejando introduzir medidas de economia de energia durante o dia para lidar o calor intenso previsto durante os Jogos de Tóquio. Estamos de saco cheio com essas Olimpíadas que só parecem trazer problemas e mais problemas para nós. A ISDEF é o mais recente deles.

Quantos mais de nós seremos vítimas das Olimpíadas?

Além de tudo isso, em janeiro de 2017, o primeiro-ministro Abe simbolicamente falou sobre a infame nova lei anti-conspiração (também conhecida como lei de prevenção ao terrorismo) que entrou em vigor no último ano, dizendo que, sem essa nova lei, “não seríamos capazes de sediar as Olimpíadas de Tóquio”. A introdução de novas medidas de segurança para as Olimpíadas irá violar ainda mais nossa privacidade através de tecnologias excessivas como câmeras de vigilância e reconhecimento facial, transformando pessoas indignadas em criminosos, e tornando o Japão uma nação extremamente vigiada. Nos assusta que, com as Olimpíadas, tentem justificar essa exposição trazida por mercadores da morte.

Não queremos a ISDEF nem as Olimpíadas! Fora todas elas!

24 de agosto de 2018
Hanorinnokai / Não a Tóquio 2020

Tradução: Gabriel Tolstoy

[link para o original: https://throwoutyourbooks.wordpress.com/…/…/comment-page-1/…]

 

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