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domingo, maio 19, 2024

Amarrando o Partido Trabalhista inglês aos bancos

Jeremy Corbyn está agindo como o malabarista na corda bamba, equilibrando-se entre as forças rivais da direita e da esquerda do Partido Trabalhista. O avanço dos Trabalhistas depois de dois anos da eleição de Corbyn para líder do partido está diminuindo.

Por: ISL – Liga Socialista Internacional

Ninguém fala mais sobre aumento do número de filiados e o Partido Trabalhista continua em crise sobre o Brexit, e as divisões sobre a austeridade. Isso explica por que os esforços dos membros do Partido combinados com os da burocracia sindical não conseguiram aumentar os votos nas recentes eleições locais.

O grande dilema para os trabalhadores é que votar nas eleições locais contra a política de austeridade do governo Conservador significa votar nos Conselhos Municipais[1] Trabalhistas que implementam essa mesma austeridade nas cidades que governam, pois os Vereadores “de esquerda” do Partido Trabalhista também estão votando por cortes. Corbyn instruiu os vereadores do Partido Trabalhista a fazer cortes nos orçamentos, ao mesmo tempo em que fala sobre o quão ruim é a austeridade!

Os Conselhos Trabalhistas opõem-se a orçamentos que garantam as necessidades da classe trabalhadora e apoiam a privatização. Assim, ao mesmo tempo em que Corbyn elogia o Conselho de uma cidade por devolver alguns serviços à propriedade pública, ele não exige que todos os Conselhos Trabalhistas façam o mesmo.

A liderança do Partido Trabalhista é antiausteridade apenas em palavras. Acabar com a austeridade significa lutar pela derrubada do capitalismo para construir o socialismo. Isso significa lutar por um programa e um partido cujo objetivo seja um Estado operário sob controle operário, nacionalização e socialização, uma economia planejada e com controle sobre o comércio exterior. Isso terá que envolver ações combativas das massas trabalhadoras, que o Partido Trabalhista nunca conduzirá.

Bancos e o Partido Trabalhista

McDonnell[2] afirmou várias vezes que vai trabalhar com os bancos e agora diz que os quer no governo. McDonnell disse na nova sede europeia da Bloomberg[3], em 19 de abril, “… quando vamos para o governo, queremos que vocês venham conosco, junto com representantes de nossas indústrias, sindicatos e da sociedade civil mais ampla. Haverá um lugar na mesa de criação e desenvolvimento de políticas para vocês. O que estamos oferecendo é um novo começo na relação entre o Partido Trabalhista e o setor financeiro.”

“O direito de nossas empresas de serviços financeiros ganharem negócios em toda a Europa e o direito recíproco das empresas europeias de ganharem negócios aqui continuam a ser essenciais.”

O que isto significa? Isso significa que a liderança trabalhista, por mais de esquerda que possa parecer, incorporará os interesses do capital financeiro em um governo trabalhista, e já começam a se preparar para isso.

Como afirmado no jornal financeiro da classe dominante, o Financial Times:

“Jonathan Reynolds, o ministro sombra das Cidades, está preparando o terreno há algum tempo, envolvendo-se com bancos, seguradoras e gestores de ativos e recebendo elogios por sua abordagem de mente aberta… Depois de encontrar-se a StanChart e a LSE, McDonnell está pronto para sentar-se com o Goldman Sachs, o símbolo de tudo o que ele despreza, e seu chefe internacional Richard Gnodde.”

Para evitar dúvidas, John McDonnell repetiu em programa de rádio: “Deixe-me ser claro, não vamos nacionalizar os bancos”, explicou recentemente ao banco HSBC.

Aqui McDonnell revela a essência do programa trabalhista – proteger o capital financeiro, qualquer que seja o custo. A lavagem de dinheiro, a liderança no câmbio, a fixação da LIBOR, os bancos offshore e os paraísos fiscais internacionais são geridos pelos e para os super-ricos e continuarão a sê-lo sob o abrigo de um governo trabalhista.

O Partido Socialista[4] (SP) e o Trabalhismo

O SP realmente acha que o Partido Trabalhista vai superar os planos de austeridade do governo dos banqueiros e das grandes empresas? E como pequenas reformas, algumas das quais podem ser implementadas pelo Trabalhismo se eleito, podem ser chamadas de programas antiausteridade? É por isso que eles chamam o Manifesto do Partido Trabalhista, aprovado em sua última conferência anual (2017) de “mensagem” de Corbyn e não de programa. O Partido Trabalhista, se eleito em uma eleição geral, não transformará os Conselhos em bastiões do socialismo.

Trabalhistas não vão chamar greves de massa

Corbyn não chama a mobilização da classe trabalhadora ou greves contra os cortes do orçamento feitos pelos Conselho, ele nada fala sobre este assunto. Mas o Partido Socialista, na edição milésima de seu jornal, pede a Corbyn que convoque greves nacionais para lutar pelo NHS. Eles dizem:

“Ao invés de gastar seu tempo tranquilizando os líderes empresariais ricos, Corbyn e McDonnell deveriam preparar a classe trabalhadora para lutar para defender sua posição antiausteridade e ir além. Em última análise, atender as demandas e aspirações da classe trabalhadora significa estar preparado para realizar a transformação socialista da sociedade.”

Mas eles não advertem que Corbyn nunca realizará uma transformação socialista, embora este seja o ABC para os revolucionários.

A política do SP é lutar pela vitória de Corbyn em 2020. Eles estão até falando de eleições antecipadas, que poderiam levar Corbyn ao poder se os Conservadores a chamarem. Mas o “socialismo parlamentar” é um fracasso em todos os países onde foi apresentado como uma saída para a classe trabalhadora. Também será um fracasso aqui.

A citação acima também mostra que o SP pensa que a “posição antiausteridade” do Partido Trabalhista é adequada como base para desenvolver uma luta pelo socialismo. Nada poderia estar mais longe da verdade. O programa antiausteridade de Corbyn é apenas reformismo.

Eles “pedem que Corbyn adote uma abordagem socialista internacionalista nas negociações” com a UE (União Europeia) sobre o Brexit em um possível governo trabalhista. Como seria tal negociação sobre socialismo com o imperialismo europeu? No entanto, no artigo, eles não chamam uma luta comum dos trabalhadores europeus para destruir a UE dos capitalistas, como parte da luta pelo socialismo operário no Reino Unido e na Europa. Esta é a única maneira de abordar a UE do ponto de vista socialista, em vez de semear ilusões no reformismo.

Em vez de se basear nos princípios, a fim de ganhar os melhores elementos para preparar uma liderança combativa para a classe trabalhadora, o SP faz seguidismo à liderança do Partido Trabalhista, que está se equilibrando na corda bamba, e assume uma posição de retaguarda entre setores da classe trabalhadora.

[1] Os Conselhos Municipais funcionam como uma Câmara de Vereadores, mas assumem tarefas executivas nas cidades que não elegem prefeitos.

[2] John McDonnell é o principal assessor de Jeremy Corbyn e faz parte da ala esquerda do partido.

[3] A Bloomberg é uma empresa de tecnologia e dados para o mercado financeiro e agência de notícias operacional em todo o mundo com sede em Nova York.

[4] O Partido Socialista (SP) é a sessão inglesa do CIO

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