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Obama: novas formas de dominação

junho 17, 2009

Há poucos meses a vitória eleitoral de Barack Obama, para presidente dos Estados Unidos, foi comemorada em quase todo o planeta. As pessoas queriam esquecer Bush que em seu governo, pela via militar, tentou derrotar qualquer país que não se submetesse a ele. O imperialismo quer ter o controle dos recursos energéticos fundamentais para dominar o planeta, por isso Bush invadiu o Afeganistão e o Iraque e ameaçava com uma guerra também o Irã e a Síria.

 

Na sua política interna Bush também não conseguiu melhorar a vida dos norte-americanos senão que, junto com a redução de direitos sociais e medidas cada vez mais autoritárias, se mostrou incapaz de impedir a explosão da crise econômica que agora afeta todo o planeta.

 

Mas a chegada de Obama ao poder produziu o fato histórico representado pela eleição de um presidente negro e filho de um emigrante muçulmano africano, ainda que não professasse a religião. Seus discursos propunham uma nova relação com o resto do mundo, uma aproximação com o mundo árabe… mas também continuava defendendo o Estado de Israel e, apesar de garantir que retiraria as tropas norte-americanas do Iraque, redobraria sua ofensiva ao Afeganistão, esperava a amizade de todos, mas combateria os inimigos.

 

Obama foi eleito presidente dos EUA com o apoio de importantes setores da burguesia norte-americana e, também teve o apoio de setores que se dizem de esquerda, alguns inclusive que se proclamam “socialistas” e “revolucionários”. Os governantes da “esquerda” como Lula no Brasil ou Zapatero na Espanha lhe rendem homenagens e se oferecem para trabalhar com ele. Estes governantes se utilizam de seu prestígio, um por ter sido operário metalúrgico e o outro por ter retirado as tropas espanholas do Iraque, para conter as mobilizações dos trabalhadores e assim garantir os benefícios dos empresários.

 

Recordemos que o governo brasileiro tem o maior contingente de tropas na ocupação do Haiti e o espanhol tem tropas no sul do Líbano, que com a cobertura da ONU está a serviço dos EUA, ou seja, os dois governos fazem o trabalho que as tropas norte-americanas não podem fazer diretamente. Fidel Castro, por sua vez, saudou a eleição de Obama e desejou-lhe “sorte”, Chávez, o presidente venezuelano, que tantos discursos fizera contra Bush, espera “ser seu amigo”.

 

Barack Obama: o chefe do imperialismo

 

Agora que Obama já governou por alguns meses, podemos começar a ver o que realmente se pode esperar do novo presidente. Em primeiro lugar há que se ter em conta, ainda que pareça óbvio, que Obama é o presidente dos EUA, ou seja, é o chefe do imperialismo, governa para que os poderosos dos EUA e suas multinacionais possam continuar explorando os trabalhadores e saqueando todo o planeta. Ele não chegou ao poder para mudar o sistema, senão que veio para manter, de outra maneira, o domínio do imperialismo, do capitalismo.

 

Isto fica claro na resposta que está dando à crise econômica. Apoiou o milionário plano de ajuda financeira que Bush preparou para salvar o sistema financeiro e garantir assim, os benefícios dos bancos. Exigiu dos fabricantes de automóveis planos de reestruturação que incluía o fechamento de fábricas e de concessionárias, demissão de milhares de trabalhadores e redução dos direitos trabalhistas dos que foram mantidos nos postos de trabalho.

 

Na Ilha de Cuba, a base militar norte-americana de Guantánamo foi convertida em prisão extrajudicial. O anunciado fechamento desta prisão ilegal – onde 240 presos estão mantidos, sem julgamento, desde a invasão do Afeganistão – foi deixado para o próximo ano, embora ele declare que irá instaurar tribunais militares para julgar alguns dos detentos, enquanto outros continuarão na mesma situação.

 

Obama ao ver derrotado o plano de George Bush tenta, através de concessões democráticas, modificar a situação de ódio que se acumulou contra os EUA e o imperialismo e, sobretudo convencer às direções dos países e das organizações com quem tem conflito, de que aceitem seus planos através das negociações.

 

Conflitos no Oriente Médio

 

Com a derrota que as tropas dos EUA estão sofrendo no Iraque, Barack Obama apostou em anunciar que retiraria as tropas desse país e que esperava uma “nova relação com os países árabes”. No entanto, a retirada não vai ser completa e se baseia em que as tropas do governo títere imposto pelos EUA no Iraque sejam capaz de controlar a ordem. Para isso, as tropas norte americanas vão continuar armando e treinando o que podemos considerar “tropas coloniais”, como o foi o exército cipaio [1] na Índia colonizada pelo Império Britânico.

 

Além disto, as tropas que retiradas do Iraque vão para o Afeganistão, onde a resistência está se fortalecendo e infligindo grandes baixas ao exército ocupante. O controle do Afeganistão está lhe escapando das mãos e com isto se debilita seu aliado na região, o governo do Paquistão.

 

Diante destes problemas, a política do imperialismo para o Irã mudou, ainda que não descarte a “opção militar”, tenta negociar com o regime iraniano. Sabe que com as derrotas que sofreu na região o regime iraniano se fortaleceu e por isso necessita neutralizar sua ascensão para frear os conflitos que tem na região. Esta é a razão pela qual se ofereceu para negociar o programa nuclear iraniano, ou seja, que o Irã possa ter energia nuclear para uso civil, controlada pelo EUA, a troco de que ajude a derrotar a resistência no Iraque. Por esse caminho busca domesticar o Hesbolah que pode vir a governar o Líbano no próximo período.

 

Se isso se concretiza, Israel continuará tendo a exclusividade das armas nucleares na região, o que é uma ameaça permanente para os povos árabes. O governo de Obama já anunciou qual será o próximo passo se não conseguir impor seus planos ao Irã: sanções econômicas. Recordemos como este tipo de medidas vitimou a milhares de pessoas no Iraque de Sadam Hussein.

 

Diferenças com Netanyahu [2], mas com o mesmo objetivo

 

O massacre de Gaza perpetrada, entre dezembro e janeiro, pelas tropas sionistas pretendia acabar com Hamas e colocar em seu lugar, um governo controlado por Israel. A polícia da Autoridade Nacional Palestina (ANP) dirigida pela Al-Fatah esperava na fronteira egípcia, sua entrada na faixa de Gaza junto com o exército israelense. Este plano fracassou devido à resistência palestina, mas deixou como resultado que as massas de todo mundo vejam a Israel como o carniceiro que realmente é. Esta derrota de Israel soma-se à que sofreu contra o Líbano, onde a resistência dirigida pelo Hezbolah ainda está comemorando.

 

O governo de Bush tinha apoiado a invasão à Faixa de Gaza com a idéia de que Israel, seus olheiros no mundo árabe, recuperasse o que foi perdido no Líbano. Este novo desastre está levando a uma mudança na política da nova administração norte americana.

 

Os sionistas não aceitam mais que uma derrota completa dos palestinos, por isso elegeram a direita da ultra direita para governar, que é o que Netanyahu e seu governo representa. Este governo não quer fazer nenhuma concessão aos palestinos, nem aos dois Estados, nem deixar de construir assentamentos nos territórios ocupados e por isso hoje, tem atritos com a proposta de Obama.

 

Mas atritos não os levam a deixar de ter o mesmo objetivo que é a manutenção do estado de Israel, que significa legalizar o roubo que o sionismo, com o apoio da ONU, impôs ao povo palestino. E isto é algo que o novo presidente dos EUA tem defendido, tanto em sua campanha, como com as nomeações (Rahm Emanuel o chefe da bancada democrata é um sionista declarado filho de um terrorista do Irgún) e como na reunião no mês de maio com Netanyahu onde, apesar das diferenças, declarou que sempre será seu aliado. Na realidade, sequer propôs deixar de apoiar economicamente os novos assentamentos sionistas.

 

A “aproximação do mundo árabe”

 

Em seu discurso no Cairo, apoiado e elogiado pela maioria dos governos árabes, justificou a ocupação do Afeganistão, a existência de Israel (recordou o Holocausto judeu e esqueceu-se das matanças dos palestinos), etc. Enquanto falava de seu desejo de se aproximar do povo muçulmano pediu sua colaboração contra os violentos extremistas. Para Obama não existe resistência contra a ocupação, todos são terroristas que assassinam inocentes. Para o presidente dos EUA o Iraque está melhor agora (um país destruído e ocupado militarmente pelos EUA) que com Saddam Hussein. E nisto não se diferencia de seu predecessor na Casa Branca.

 

Obama representa os setores do imperialismo que sabem que a política militarista de Bush e de Israel pode levá-los a derrotas cada vez mais importantes. Isto explica sua política de “aproximação com o mundo árabe”. Obama quer aplicar a política de Bill Clinton, conseguir que Israel possa cumprir seu papel de gendarme do imperialismo fazendo com que os palestinos e os países árabes reconheçam o Estado de Israel em troca de que os palestinos possam ter um falso Estado, dependente de Israel. O que seu discurso busca é que as massas árabes deixem de ver os EUA como seu inimigo, que os governos árabes se envolvam cada vez mais com sua estratégia e que façam o que as tropas norte americanas não podem fazer.

 

Em resumo, o povo árabe e o resto do planeta têm com Obama um inimigo mais pérfido, mais difícil de combater. Os governos dos países árabes estão prontos para escutar seus cantos de sereia. Os trabalhadores e os povos têm que estar atentos para que as direções que até agora tinham combatido Israel e o imperialismo não cedam o que se ganhou nos últimos anos de luta.

 

Notas:

[1] Os cipaios eram soldados nativos treinados pelos ingleses nos moldes militares europeus;

[2] Benjamin “Bibi” Netanyahu – atual chefe do partido conservador Likud e primeiro-ministro de Israel.

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