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200 anos de Engels

Friedrich Engels: O general da revolução

agosto 3, 2015

Quando Friedrich Engels morre em 5 de agosto de 1895, Die Neue Zeit, a revista teórica da social-democracia alemã (1) escreve que com sua morte “também Marx terminava de morrer”. Não era um exagero da revista: de fato é muito difícil separar Marx de Engels, distinguir as respectivas obras ou as partes que qualquer um dos dois escreveu das obras assinada por ambos; há textos que tem somente a assinatura de Marx, mas que foram completados por Engels; outros assinados por Marx (exemplo: vários artigos escritos para incrementar sua escassa renda), mas de fato escritos diretamente por Engels. O que vale para suas obras pode ser dito também sobre a longa militância comum. Suas próprias vidas se desenvolviam em uma simbiose permanente, em uma troca contínua. Marx-Engels: é como se fosse um nome composto para uma única pessoa.

Por:  Francesco Ricci (publicado em 2015)
Não existe na história semelhante cumplicidade. Certamente também Lênin e Trotsky foram considerados por vezes uma única pessoa pelos habitantes de algumas das remotas aldeias da imensa Rússia revolucionária. Mas a colaboração entre esses dois outros grandíssimos revolucionários durou somente seis anos, enquanto Marx e Engels militaram juntos por quarenta anos.
 
Quarenta anos de elaboração, quarenta anos de disputa entre frações
 
Nos quarenta anos de amizade, colaboração e convivência fraterna, Marx e Engels não se limitaram, se assim podemos dizer, a fundar uma “teoria”, aquilo que hoje chamamos de “marxismo”, isto é, o maior desenvolvimento na ciência do homem que a história já conheceu. Não, nestes mesmos quarenta anos combateram e venceram infinitas batalhas de demarcação programática, com o objetivo de destruir politicamente todas as correntes reformistas, pequeno-burguesas, centristas que encontravam pelo caminho, para assim facilitar a construção do partido revolucionário e internacionalista o qual se dedicavam a construir.
 
A batalha política se iniciou na metade dos anos quarenta [do século XIX], contra as posições utópicas de Weitling que inspiravam a Liga dos Justos, primeira organização de trabalhadores revolucionários com a qual Marx e Engels se encontraram diretamente. Os dois amigos não entraram na Liga dos Justos devido a distância política que guardavam das posições que a dominavam: por isso fundaram (em fevereiro de 1846), em Bruxelas, o Comitê de Correspondência Comunista, o primeiro “partido” marxista da história: uma organização de cerca de vinte membros que foi utilizada para a luta fracional e seu êxito foi o nascimento da primeira organização internacional (a Liga dos Comunistas), produto da destruição política da reformista Liga dos Justos por obra de Marx e Engels. O programa do novo partido (escrito somente por Marx em janeiro de 1848 mas utilizando-se de materiais preparados por Engels) é o texto político mais importante da história, o mais difundido, aquele que tem produzido mudanças envolvendo a vida de milhares de mulheres e homens: O Manifesto do partido comunista.
 
Nesta passagem crucial, o trabalho político mais importante quem desenvolve foi Engels: foi ele que fez a luta política na seção parisiense da Liga contra o setor reformista ligado as posições de Weitling; foi ele a organizar a “fração marxista” no congresso de junho de 1847 de confluência entre a parte mais avançada da Liga dos Justos e o Comitê de Correspondência; e foi também Engels a preparar os detalhes organizativos do sucessivo II congresso que aconteceu no início de dezembro de 1847, em Londres, e que ira sancionar a hegemonia da fração liderada por Marx, a quem, portanto, será confiada a tarefa de escrever o programa do partido.
 
Os objetivos deste novo partido internacional são resumidos no primeiro artigo do Estatuto, elaborado por Engels: “A destruição da burguesia, o domínio do proletariado, a abolição da velha sociedade burguesa, que repousa no antagonismo entre as classes, e a fundação de uma nova sociedade sem classes e sem propriedade privada.”
Em seguida, tiveram outras batalhas na Liga dos Comunistas (uma organização que nunca ultrapassou 250 membros), até sua dissolução completa poucos anos depois. Não temos aqui nenhuma possibilidade de resumir a historia toda, por isso, com um salto a frente, chegamos a um momento crucial na historia do marxismo, quando em 1864, da luta unitária entre operários ingleses e franceses, nasce a Associação Internacional Operaria (também conhecida como Primeira Internacional).
 
Ao contrário do que vários textos divulgaram, desta organização não foram eles os fundadores: foi promovida pelos trabalhadores ingleses (o sapateiro George Odger, o carpinteiro William Cremer) e franceses (o modelador de metal Luiz Tolain e o gravador em metal Ernest Fribourg), mas Marx e Engels rapidamente ganharam sua direção. A maior parte do trabalho político nos primeiros anos recai sobre Marx; mas quando Engels pode transferir-se para Londres (em 1870) se torna de fato o secretário organizativo da Primeira Internacional (e responsável por Espanha, Itália e Dinamarca). Para consolidar a hegemonia do programa socialista na Associação Internacional, foram outros anos de luta: contra os mazzinianos, os lassalianos, os proudhonianos, os blanquistas, os tradeunionistas, os bakunianistas.
 
Em fim foram somente graças às lições (positivas e, especialmente negativas) que vieram com a experiência prática da Comuna de Paris que, em 1871, Marx e Engels venceram a guerra contra o reformismo e o centrismo anárquico e blanquista, para por fim a Primeira Internacional (que era, como Engels escreveu anos depois, “um acordo ingênuo de todas as frações”) e assim abrir o caminho para uma nova internacional que, na sua opinião, deveria ser “puramente comunista” e fundada “diretamente sobre nossos princípios”(2).
 
Foi Engels (claramente em acordo com Marx) a avançar no Congresso de Haia (1872) a mover o “centro” para os Estados Unidos: na verdade iniciando a liquidação da Internacional (que tinha naquela época não mais do que 5.000 militantes individuais efetivos, mesmo dirigido estruturas sindicais com dezenas de milhares de afiliados).
 
Dividir o movimento dos trabalhadores de acordo com as diretrizes programáticas, fraciona-lo, derrotar políticamente o reformismo e o centrismo (que levam no movimento operário ideologia burguesa), para depois poder unir os trabalhadores contra a burguesia na base do programa revolucionário, construindo um partido revolucionário de vanguarda, operário, capaz de hegemonizar vastas massas proletárias e conduzi-las para a conquista do poder pela ruptura revolucionária da máquina do Estado burguês e substitui-la com a ditadura do proletariado, ou seja, com o governo dos trabalhadores. Nenhuma ilusão sobre uma “unidade da esquerda”, nenhuma idéia de unir reformistas e revolucionários em programas “intermediários”, que na verdade são inevitavelmente programas reformistas, nenhuma frente permanente com reformistas: frente apenas como uma tática episódica (e reservada para momento da ação e exclusivamente para as principais organizações da classe), para ao mesmo tempo unir as lutas de classes e desmascarar os líderes oportunistas. Este foi durante quarenta anos o método geral de Marx e Engels: a escola cujos ensinamentos foram desenvolvidos décadas após com o bolchevismo.
 
História de uma amizade única
 
Pierre Broué, em sua biografia monumental de Trotsky (3), escreve: “Entre o final de 1932 e o início de 1933 [Trotsky] tinha vários projetos: um trabalho sobre a situação econômica mundial, um trabalho que ele gostaria de chamar de romance de amizade, sobre as relações entre Marx e Engels (…)“.
 
Infelizmente Trotsky não teve tempo para escrever sobre essa amizade. Mas sabemos que há anos ele era fascinado por essa idéia, quando jovem havia sido conquistado pelos ideais de vida que eram transmitidas através das magníficas correspondências entre Marx e Engels. Na sua autobiografia (4) escreve que a coleção de cartas dos dois fundadores do socialismo científico era para ele “o livro mais indispensável, o que eu sentia mais perto de mim, na medida em que se verificava aproximação maior e mais segura não só com minhas idéias, mas também de toda minha concepção do mundo (…) foi uma revelação psicológica. Nas devidas proporções, em cada página eu me convencia de que havia uma afinidade espiritual direta. Sua maneira de considerar os homens e suas idéias, era-me muito familiar.”
 
Sabe-se que Engels sacrificou todos os anos de sua juventude trabalhando em um escritório em Manchester que ele odiava, na industria da família, só para ganhar dinheiro suficiente para manter o partido que estavam construindo e manter Marx como funcionário permanente. Na sua velhice, depois da morte de Marx (1883), Engels deixou de escrever algumas de suas obras para completar o segundo e terceiro livros de O Capital: o segundo foi impresso em 1885 e o terceiro levou quase dez anos de trabalho de Engels e Kautsky  e só foi publicado em 1894 (5). Não foi só para cuidar de sua edição: em muitos casos, Engels teve de retomar o trabalho onde seu amigo o havia interrompido, fazer novas pesquisas, modificar, editar, cortar e decifrar rascunhos escritos com a caligrafia incompreensível de Marx: em particular os materiais para o terceiro livro em várias partes eram pouco mais do que notas. Ao longo deste trabalho enorme, tinha de cuidar, em seguida, da tradução deste e de dezenas de outras obras, assinados por ambos, ou apenas por Marx, pouco importava, forçando a vista até a noite para verificar as provas, não omitindo nem mesmo um detalhe, escrevendo páginas de cartas para pedir aos tradutores para corrigir pequenas imperfeições, mesmo apenas um sinal de pontuação.
 
No entanto, este trabalho não lhe trazia dificuldades. Sabemos que Engels conhecia e usava uma dúzia de idiomas. Ele podia escrever corretamente, além da sua língua nativa (alemão), também em inglês, francês, espanhol, português, italiano, sueco, russo e várias outras línguas. Ele dominava línguas com grande facilidade de aprendizagem: mergulhava no estudo por um mês, armado com gramáticas e dicionários, até que ele saia vencedor. Não era, evidentemente, um passatempo: aprender línguas era essencial para dirigir a internacional e dar conselhos para as seções de metade do mundo. Para o que falamos até aqui é muito difícil aceitar sua autoimagem de “segundo violino” da orquestra conduzida por Marx (6).
 
Devemos acrescentar de fato que, além de ser o autor com Marx também de muitos textos que não levam o seu nome; além de garantir materialmente Marx para trabalhar “para a humanidade”, em vez de empregado em uma estação de trem (uma vez tentou conseguir um emprego, mas não passou no teste, aparentemente por causa de sua escrita ilegível); além de tudo, Engels foi quem convenceu o jovem Marx sobre a importância do estudo da economia política, foi o primeiro entre os dois a mergulhar nos estudos a partir de uma idade precoce. Foi em grande parte Engels, que também era um par de anos mais jovens (Marx 1818, Engels em 1820), a orientar ao estudo aquele vai se tornar o autor de O Capital.
 
Uma simbiose intelectual
 
Quando Engels foi finalmente capaz de parar o trabalho na indústria da família, ele se mudou para Londres, para trabalhar cotidiana e diretamente com Marx. Esta mudança, infelizmente, causou a interrupção da correspondência entre os dois, mas certamente favoreceu a fase de produção maior de ambos. Engels vivia em Regents Park Road, enquanto Marx e sua família estavam em Maitland Park. Em aproximadamente quinze minutos Engels chegava a Marx e iniciavam os estranhos trabalhos combinado entre estes dois cérebros excepcionais. Assim conta Eleanor (uma das filhas de Marx):
 
“Durante os últimos dez anos Engels vinha todos os dia para encontrar meu pai; frequentemente faziam breves caminhadas juntos, outras tantas vezes ficavam em casa, na sala caminhavam para frente e para trás. Cada um tinha seu espaço e traçava seu caminho, e nos cantos, com um estranho movimento giravam nos calcanhares. Ali discutiam muito, filosofavam sobre coisas que a maioria dos homens nem imaginam, mas não raro, também caminhavam por muito tempo em silêncio, lado a lado. Ou algum deles falava daquilo que inquietava seu coração naquele momento até que um se encontra em frente ao outro e, percebendo que a última meia hora tinham falado por sua própria conta, então riam copiosamente. (…) “(7).
 
“Um vergonhoso equívoco”: a última batalha contra os reformistas
 
Em 1891, provocando a ira da direção do SPD [Partido Socialdemocrata Alemão], Engels pública no Die Neue Zeit um texto de Marx inédito até então, que hoje conhecemos com o título de Crítica ao Programa de Gotha. Se trata da crítica ao programa sobre o qual, em maio 1875, se unificaram as duas fracções do movimento operário alemão: o grupo de Eisenach (proximo a Marx, dirigido por Bebel e Wilhelm Liebknecht (pai de Karl, o fundador com Rosa Luxemburg do KPD [Partido Comunista alemão] em 1918), nascido em 1869 em Eisenach, e os discípulos de Lassalle (8). O texto permaneceu inédito porque, devido às leis especiais de Bismarck contra a social-democracia, Marx temia prejudicar o partido e preferiu simplesmente enviá-lo apenas aos dirigentes da fração que se referenciavam em suas posições.
 
É um texto de particular importância porque enquanto critica impiedosamente o programa de unificação por ser imbuído das idéias reformistas de Lassalle, o texto defende os elementos essenciais de um programa marxista, inconciliável com qualquer programa reformista ou centrista. Não por acaso Engels decide publicar este texto para iniciar uma batalha contra as oscilações programáticas da direção do SPD, exatamente quando se inicia a discussão em torno a um novo programa, em seguida, que será aprovado no Congresso de Erfurt, incorporando a maioria das sugestões que Engels enviara para a liderança do partido e os dois principais autores do texto (Kautsky para a parte teórica, Bernstein pela parte relativa as reivindicações) (9).
 
Portanto Engels nunca parou a luta para demarcar o marxismo e diferencia-lo do reformismo e o centrismo, para combater todas as teorias não marxistas que se apresentavam também no novo partido da recém constituída Segunda Internacional. (cuja fundação real foi em 1889, no centenário da Grande Revolução francesa). Apesar da sua absoluta inflexibilidade programática, pouco antes de sua morte, foi envolvido da direção do partido alemão no que vai definir de “um equivoco vergonhoso”.
 
O crescimento eleitoral do partido (em 1890 tinha meio milhão de votos, o que representava 20% do eleitorado, com 35 assentos no Reichstag), o crescimento do aparato e de funcionários começou a alimentar as primeiras teorias reformista no SPD (e Bernstein dará voz a essas teorias pouco depois da morte de Engels).
 
É neste contexto que, em 1895, Engels é envolvido em um fato de mau gosto. Primeiramente o partido alemão (através de uma carta de Richard Fischer, diretor de publicação do partido) pede a Engels para atenuar o tom “muito revolucionário” (e referências técnicas para a “arte da insurreição”) da Introdução que preparou para uma coleção de textos de Marx de 1850 que publicaria com o título de A luta de classes na França de 1848 a 1850; Engels (ao expressar a irritação com a atitude do partido, que julga demasiado “legalista” e subordinado ao parlamentarismo burguês) aceita, sob a condição de que se trata apenas da versão impressa (enquanto a liderança do partido e quadros devem dar a versão completa), para não criar problemas, uma vez que estão em discussão no Reichstag novas leis repressivas contra os socialistas. No entanto, sem que ele soubesse, antes de ser publicado o folheto, o Vorwärts, o órgão central do partido, por decisão de W. Liebknecht publicou um artigo intitulado “Como fazer hoje revoluções” onde são publicadas manipulações de partes individuais de seu texto já mutilado, produzindo assim uma falsificação.
 
Engels com toda sua fúria escreve a Kautsky (carta de 01 de abril de 1895) e Lafargue (carta de 3 de abril) que o texto foi reduzido “para que eu apareça como um defensor pacífico da legalidade a todo o custo” ou seja, um oportunista que vê nas eleições burguesas um momento decisivo da luta política e até mesmo a maneira de chegar ao poder.
 
Nós não temos espaço aqui para explicar em detalhes essa história importante e complexa, mas vai estar de volta em um artigo futuro, porque este episódio demonstra uma falsificação de Engels que continuou por décadas: Bernstein começou (em seus Os pressupostos do socialismo, 1899 ), transformando este texto falsificado no “testamento de Engels” e ainda hoje encontramos pseudo-historiadores e supostos especialistas, todos defensores do reformismo, que ignorando a versão original do texto que foi mais tarde encontrado e publicado em 1924 por Rjazanov, continuam a sustentar que Engels defendia a possibilidade de chegar ao socialismo através da via pacífica e parlamentar, ou seja, sem uma revolução. Uma falsificação completa.
 
Mas a questão é também interessante porque mostra que, ao contrário do que muitos repetem, o primeiro revolucionário a começar uma batalha contra o desvio crescente da social-democracia alemã (que, é claro, pode ser visto em seu tempo, apenas os primeiros sinais) não foi Rosa Luxemburgo no final do século, quando explodiu o “Bernstein-debate”, mas Engels.
 
O general a cavalo
 
Nos últimos anos, já velho, Engels “ainda está ansioso para juntar-se a cavalaria”, como diz um de seus biógrafos mais recentes (10). Na verdade, ele tinha passado a vida inteira no front, sempre preferiu quando podia agir. Entre os amigos ele ganhou o apelido de “general”, porque, apesar das tentativas desajeitadas dos líderes social-democratas e o “equívoco vergonhoso”, era um especialista em táticas militares, luta de rua, com tudo o que é necessário para, em algum momento, completar com a insurreição qualquer revolução. A mesma Introdução de 1895, antes das mutilações e falsificações, foi em grande parte dedicada à “arte da insurreição” a como em toda revolução se necessita dividir o exército burguês para ganhar uma parte para a causa da revolução. Seus artigos sobre a guerra Franco-Prussiana (que precede a Comuna), publicado no Pall Mall Gazette, foram cuidadosamente estudados por Trotsky quando lhe foi dada a tarefa de construir o Exército Vermelho.
 
Mas nos últimos anos, o apelido de “general” tinha tomado um significado mais amplo: não designando somente o especialista em assuntos militares, mas o principal dirigente do movimento operário mundial. Papel que Engels cumpria escrevendo todos os dias dezenas de cartas em várias línguas a todos os principais líderes das diferentes secções da recém nascida Internacional, corrigindo posições erradas, dando conselhos, desenvolver táticas e estratégias.
 
Mas o enorme conhecimento de Engels em vários campos do conhecimento humano, a sua intensa militância política, não significam que Engels vivia a vida de um monge trapista. Pelo contrário. Como disse Trotsky divertido (11), “não se parecia em nada com um asceta.” Ele amava a vida em todas as suas formas, a companhia de pessoas inteligentes, sexo, arte, “os bons jantares, bom vinho, bom tabaco”. E Trotsky continua: “Não é raro encontrar em suas correspondências referências que indicam que várias garrafas de bom vinho eram abertas para celebrar o Ano Novo, ou o resultado das eleições alemãs, seu aniversário, ou outros eventos de menor importância.”
 
Na luta contra o reformismo
 
Engels foi morto por um câncer de esôfago, diagnosticado no início de 1895, enquanto ele estava prestes a começar a trabalhar no quarto livro de O Capital (Teorias da Mais-Valia), que seria publicado por Kautsky. Ele não queria estátuas em sua memória: ele pediu que suas cinzas fossem espalhadas no mar. Foi o stalinismo, assim como traiu o programa comunista, a erguer estátuas de Marx, Engels e Lênin, para culto dos mortos com o único propósito de transformar estes grandes líderes revolucionários em imagens vazias para um culto inofensivo.
 
Com outro objetivo é que nos dias de hoje recordamos o 120º aniversário da morte de Engels. Fazemos isso por recomendar aos militantes revolucionários, a todos os trabalhadores que lutam cotidianamente, aos jovens que querem derrubar o capitalismo, o estudo das obras deste gigante. Fazemos isso porque nestes meses em que vemos reformistas como Tsipras,  Varoufakis ou Tsakalotos (12) e muitos adeptos mais ou menos críticos do governo da Syriza terem a coragem de chamar-se “marxistas” e de se apresentar como uma “novidade” a pretensão de conciliar os interesses irreconciliáveis da burguesia e do proletariado. Embora já a mais de um século atrás, falando sobre o primeiro “governo da frente popular” da história (a da França, em fevereiro ’48) Engels explicou que esses governos, com a participação de forças de esquerda, tem como objetivo tornar mais fácil a aprovação das políticas burguesas “enquanto a classe trabalhadora ficava paralisada pela presença no governo dos cavalheiros que pretendiam representa-la.”
 
Então, voltemos a estudar Engels porque estamos convencidos de que este general da revolução conduzira ainda a nossa classe para novas vitórias revolucionárias contra a burguesia e contra o reformismo, este cavalo de Troia da burguesia no movimento operário.
 
Notas
(1) Estabelecida por Kautsky em 1883, com o apoio de Bebel e Liebknecht.
(2) Assim, Engels se expressou em uma carta a Sorge de 12 de setembro de 1874.
(3) Pierre Broué, La Revolution perdida. Vida de Trotsky 1879-1940 (p. 734 edição italiana, Boringhieri, 1991).
(4) Leon Trotsky, Minha Vida (1929; Mondadori, 1976, p 215).
(5) No entanto, Engels publicou em poucos anos alguns de seus textos importantes: em 1884, A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado; Em 1886, Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã (no apêndice ao qual publica as Teses sobre Feuerbach, inédito fundamental escrito por Marx em 1845); ele trabalhou na Dialética da natureza e, finalmente, escreveu muitos prefácios às edições em diferentes idiomas de textos seu e de Marx.
(6) Engels se autodenomina de “segundo violino” em uma carta a Becker de 15 outubro de 1884.
(7) Em Conversas com Marx e Engels, por HM Enzensberger (1973 edição italiana Einaudi, 1977, p. 284).
(8) Ferdinand Lassalle (1825-1864) foi o pai do reformismo alemão. Em 1863 fundou a Associação Geral dos Trabalhadores Alemães. No centro do seu programa tinha a luta pelo sufrágio universal e à formação de associações operárias de produção subsidiados pelo Estado. Lassalle morreu em um duelo (por um assunto do coração) algumas semanas antes que se fundasse a Primeira Internacional. Sua Associação (subordinada fortemente al regime de Bismarck) vem dirigida após sua morte por Schweitzer e finalmente se fundiu com a União das Associações de Trabalhadores, liderado por Liebknecht e Bebel que Marx ganhou para as suas posições.
(9) As observações críticas de Engels nos primeiros rascunhos do texto são conhecidas como Crítica do Programa de Erfurt, enviado a Kautsky el 29 de junho de 1891, e, em seguida, para toda a equipe de direção. O texto foi publicado no Die Neue Zeit até 1901.
(10) Ver Tristram Hunt, A vida revolucionária de F. Engels. Esta é a biografia escrita por um professor universitário  que Engels teria chamado de “um verdadeiro filisteu”: cheio de equívocos do marxismo, mas, no entanto, leitura agradável com muitas anedotas sobre o protagonista.
(11) Leon Trotsky, “Cartas de Engels a Kautsky,” outubro 1935 (artigo publicado no The New International, janeiro de 1936).
(12) Um marxista irregular é o título de um livro de Varoufakis, sem nenhuma originalidade particular, o ex-ministro de Tsipras quer combinar o marxismo com o keynesianismo. Enquanto seu substituto no Ministério das Finanças, Euclides Tsakalotos, foi descrito pela imprensa como “um marxista tranquilo”.
(13) Ver carta de Engels a Turati, 26 de janeiro de 1894.
 
(tradução de Eraldo Strumiello)

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