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quarta-feira, março 27, 2024

Uma estratégia para combater o Acordo do Século

Em 28 de janeiro de 2020, o presidente dos EUA, Donald Trump, e o primeiro-ministro israelense Netaniahu anunciaram o chamado “Acordo do Século”, que significa mais apartheid e limpeza étnica contra os palestinos. O presidente da Autoridade Nacional Palestina Mahmoud Abbas e a Liga Árabe rejeitaram o acordo. O que a classe trabalhadora palestina deve fazer?

Por: Hassan al-Barazili

Primeiro, precisamos identificar quem são os inimigos e os verdadeiros aliados da causa palestina.

Os palestinos
O povo palestino não está dividido apenas geograficamente – a Palestina de 1948 (que a ONU denomina de Estado de Israel), Cisjordânia, Gaza, Al-Quds/Jerusalém, Jordânia, Líbano e outros países. Eles estão divididos em classes sociais opostas, dentro e fora da Palestina, que têm diferentes perspectivas frente ao acordo do século.
A burguesia palestina sempre busca negociar com o imperialismo e os sionistas. Eles trocam o apartheid e a limpeza étnica por lucros. É o que acontece na Cisjordânia. Mahmoud Abbas e a burguesia palestina aceitam ser os gerentes da ocupação, na medida em que possam fazer negócios e enriquecer. Eles não têm objetivos estratégicos além de capitalismo, exploração e opressão. É por isso que eles sempre cedem e não lutam para libertar a Palestina.
No entanto, as classes trabalhadoras, os camponeses, os beduínos e os jovens precisam acabar com o apartheid e a limpeza étnica para sobreviver. É por isso que eles precisam lutar contra o acordo do século, o Estado sionista de Israel e o regime imperialista. Não há acordo possível. Eles precisam lutar para libertar toda a Palestina, do rio ao mar, para voltar para suas terras, viver em paz, ter terra, emprego, salário, educação e saúde.
Qualquer unidade em ação com a burguesia palestina é temporária, provisória e as classes trabalhadoras e os oprimidos devem manter suas organizações independentes, sem a classe burguesa. Obviamente, se um burguês individualmente quiser se juntar à luta, ele / ela deve ser aceito(a). No entanto, como classe, a burguesia nunca fará isso.
Os árabes
O povo árabe também está dividido em classes sociais.
Por um lado, há a burguesia árabe e seus regimes que estão sempre prontos para negociar com o imperialismo estadunidense. Entre os membros da Liga Árabe, apenas três dos 22 não têm nenhuma relação com o Estado sionista (Kuwait, Argélia e Tunísia). Todos os outros estão normalizando seu relacionamento com os israelenses, incluindo o regime sudanês, que acaba de anunciar a normalização. Os regimes árabes não são verdadeiros aliados na luta pela libertação da Palestina.
Por outro lado, as classes trabalhadoras árabes e os jovens estão combatendo esses regimes árabes autoritários e querem o imperialismo dos EUA fora do mundo árabe. Instintivamente, eles se solidarizam com os palestinos. Trabalhadores e trabalhadoras árabes e os jovens são os verdadeiros aliados dos palestinos.
Em sua luta pela libertação da Palestina, os trabalhadores e a juventude podem realizar ações temporárias em união com os regimes árabes, mas devem estar preparados para serem traídos.
No mundo árabe, o único verdadeiro aliado das classes trabalhadoras palestinas são suas irmãs e irmãos das classes trabalhadoras em todos os países árabes.
Talvez os trabalhadores palestinos e a juventude possam derrotar os sionistas e libertar a Palestina sozinhos, embora seja mais difícil. Para aumentar as chances, é melhor construir uma aliança com os trabalhadores árabes e pedir solidariedade internacional dos trabalhadores e da juventude em todo o mundo.
Três ações fundamentais para a libertação da Palestina
1)         Construir organizações democráticas para unir todos os trabalhadores palestinos e a juventude, dentro e fora da Palestina, que devem ser totalmente independentes da burguesia. Sindicatos, conselhos de bairro, comitê de campanhas são muito importantes e a classe burguesa não deve ser admitida;
2)         Construir alianças com os trabalhadores árabes. É necessário ser solidário com seus levantes e revoluções na Síria, Iraque, Líbano e apoiar os trabalhadores iranianos contra o regime iraniano. Não é possível pedir solidariedade aos trabalhadores árabes ou iranianos e, ao mesmo tempo, silenciar sobre os regimes autoritários que os oprimem;
3)         Trabalhar sob uma perspectiva democrática, socialista e internacionalista. Democrática porque não queremos que a Palestina seja governada da mesma forma que outros regimes autoritários árabes. Socialista porque precisamos de igualdade entre todos os palestinos. Internacionalista porque a Palestina e todos os outros povos estão sob uma ordem imperialista internacional. A luta por uma Palestina livre é necessariamente combinada com a luta por justiça social em todos os países. Nossos inimigos – o imperialismo, a burguesia e os sionistas, operam em escala mundial. É necessário construir a solidariedade internacional entre os povos trabalhadores para derrotá-los.
A questão do partido
Ao longo de mais de um século de resistência, os palestinos lutaram de maneiras distintas e construíram diversas organizações, sendo a OLP a mais forte de todas.
É discutível se é melhor reconstruir a OLP ou lançar outra organização para unir os palestinos dentro e fora da Palestina ocupada, incluindo todos os partidos e facções políticas.
A questão é, no entanto, ter um partido político revolucionário que defenda uma verdadeira libertação da Palestina, do rio ao mar, onde todos os palestinos terão o direito de viver junto com todas as pessoas que aceitarem viver em paz com os palestinos. Um partido revolucionário que lute contra os inimigos da libertação palestina (burguesia palestina, regimes árabes, os sionistas e o imperialismo) e trabalhe junto com os aliados naturais – trabalhadores palestinos e a juventude dentro e fora da Palestina ocupada; os trabalhadores árabes, os judeus antissionistas e a classe trabalhadora e a juventude em escala mundial.
Hoje, nenhum dos partidos políticos palestinos desempenha esse papel. Todos eles são partidos burgueses ou trabalham com a burguesia palestina. Todos eles apoiam um ou outro regime árabe ou iraniano, silenciando sobre os crimes desses regimes contra os povos árabes. Qual partido político palestino apoia as revoluções populares no Líbano, Iraque, Síria e Irã? Nenhum é a resposta.
Trabalho coletivo em escala internacional
Atualmente, existem muitos verdadeiros ativistas que concordam com essas ideias, mas não concordam em construir um partido político revolucionário. Esses ativistas são muito importantes para a luta pela libertação da Palestina. Precisamos trabalhar com eles, em comitês, manifestações, greves e Intifadas.
Além disso, precisamos conversar com eles, ter uma discussão aberta sobre a estratégia de libertação da Palestina e a questão do partido.
Afinal, não é útil ter um grupo de verdadeiros ativistas que expliquem ao povo palestino que a burguesia palestina concilia com o Estado sionista e os regimes árabes às custas dos trabalhadores palestinos?
Não é importante ter um grupo de verdadeiros ativistas que chamem a resistência palestina a se solidarizar com a revolução síria contra o regime de Assad?
A mesma pergunta pode ser feita para as lutas em outros países.
Para a revolução egípcia, não era fundamental ter um grupo de verdadeiros ativistas para dizer em voz alta que os militares e o povo não são aliados?
Para a revolução libanesa, não é importante ter um grupo de verdadeiros ativistas que denuncie qualquer governo “tecnocrático” e defenda o poder dos trabalhadores.
No Oriente Médio, não é importante ter um grupo de verdadeiros ativistas que denunciem as ações criminosas dos EUA e lute para expulsar todas as tropas e bases dos EUA do Oriente Médio mas, ao mesmo tempo, não chamem o general iraniano Qassem Suleimani de mártir de Al-Quds já que Suleimani é o açougueiro do povo sírio junto com Putin e Assad?
A este grupo de verdadeiros ativistas, chamamos de partido revolucionário.
Pode-se argumentar que tudo isso pode ser feito enquanto indivíduo. É verdade, mas é mais eficiente fazê-lo como um grupo de ativistas que operam não apenas em nível local mas internacional.
Como funciona um partido revolucionário
Não existe uma fórmula fixa sobre como um partido revolucionário deve funcionar. Devemos levar em conta a situação política no país – se há alguma liberdade ou só repressão aberta; se há uma onda de lutas ou não – e o tamanho do grupo: alguns indivíduos ou centenas de integrantes.
De qualquer forma, o partido revolucionário deve estar onde está a classe trabalhadora: locais de trabalho, sindicatos, bairros operários e campos de refugiados. Além de participar de suas lutas, é claro!
É muito importante que ter meios de comunicação públicos sejam impressos (boletim informativo ou panfletos) ou virtuais (site, página do facebook, tweeter, instagram) para divulgar as ideias do partido.
É fundamental ter vínculos internacionais com um partido internacional revolucionário.
Por fim, é necessário estar preparado para a repressão. As ideias do partido devem ser públicas, mas as informações sobre membros, líderes e reuniões devem ser mantidas em segredo. O contato com advogados que podem ajudar os membros em caso de prisão e os meios para se esconder devem ser planejados.
Estas são algumas ideias. A Liga Internacional dos Trabalhadores (Quarta Internacional) está aberta para fazer essa discussão com qualquer verdadeiro ativista.
Por fim, publicamos um poema sobre o Partido, escrito pelo revolucionário artista alemão Bertold Brecht em 1930.
Elogio ao Partido
O indivíduo tem dois olhos
O Partido tem mil olhos
O Partido vê sete Estados
O indivíduo vê uma cidade
O indivíduo tem sua hora
Mas o Partido tem muitas horas.
O indivíduo pode ser liquidado
Mas o Partido não pode ser liquidado
Pois ele é a vanguarda das massas
E conduz a sua luta
Com o método dos Clássicos, forjados a partir
Do conhecimento da realidade.

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