Vizcarra renovou pacto com a Confiep
Por: PST Peru
No dia da dissolução do Congresso poucos se pronunciaram questionando a legalidade do governo, um deles foi a Confederação Nacional das Instituições empresariais Privadas (Confiep). Entretanto, passaram-se quatro dias e a posição do sindicato patronal mudou diametralmente. Princípios democráticos? Não.
Segundo o sindicato patronal o governo deu as garantias de que continuará o plano econômico que protege seus negócios e a implementação da agenda da Confiep, que corta os direitos dos trabalhadores e facilita as demissões coletivas através do Plano Nacional de Competitividade e Produtividade.
Com a dissolução do Congresso, o governo conseguiu acomodar-se dentro do sentimento nacional de rechaço à corrupção aproveitando que, apesar de que nela estão envolvidos todos os governos – incluindo o atual – o fujiaprismo deu motivos mais que suficientes para converter-se no símbolo quase absoluto dessa corrupção e legitimar politicamente a dissolução e junto também o governo.
Nem todos se foram
Desse modo, o governo também conseguiu mudar a demanda “fora todos” por “fora os fujiapristas”. Vizcarra fica até 2021, e tem vários meses para governar sem Congresso, com decretos, enquanto os novos congressistas se elegem em janeiro do próximo ano.
Este resultado, no entanto, não tem nada a ver com o verdadeiro objetivo da luta contra a corrupção.
Vizcarra não é nenhuma garantia na luta contra a corrupção, ele é parte do governo PPK, e participou pessoalmente na negociação do aeroporto de Chinchero. Sua gestão anterior como governador regional, é matéria de investigação pela promotoria. Por outro lado, seu primeiro chefe de gabinete recebeu dinheiro da Odebrecht e um de seus ministros teve que renunciar pelos seus vínculos com a máfia da madeira. Não há razão para pensar que o governo não utilizará sua influencia para controlar o sistema judicial a serviço de sua impunidade e de seus aliados.
O plano econômico dos governos corruptos
Por outro lado, na mesma linha dos governos anteriores mergulhados na corrupção, o principal interesse de Vizcarra é manter a continuidade do plano econômico e dos interesses empresariais, acima e contra as demandas populares, que estão na base de um descontentamento mais profundo que explica a radicalidade de diversas lutas populares, cuja projeção se reflete no espelho da atual insurreição das massas chilenas, pois têm quase exatamente as mesmas causas.
Esse plano é responsável pela persistente política de austeridade fiscal que explica os arruinados serviços de saúde e educação, a crescente insegurança do cidadão e a degradação das remunerações de médicos, professores e outros servidores públicos, assim como os níveis degradantes das aposentadorias. Enquanto por outro lado, essas políticas criaram e ampliaram a precariedade do trabalho e a superexploração na mineração, na indústria têxtil e no agronegócio, como o regime trabalhista do agronegócio, ampliado pela dissolução do Congresso a pedido do governo por mais dez anos. E também a imposição de projetos de mineração passando por cima dos direitos das populações afetadas.
Essa política também promoveu projetos de mineração em condições entreguistas que geraram gigantescos lucros para algumas transnacionais, e um sistema privado de aposentadorias que já se revela como uma vil fraude que enriquece os banqueiros.
Vizcarra é autoritário com os trabalhadores e o povo
Por isso não é de se estranhar que suas primeiras medidas como governo com poderes concentrados, tenham sido contra as massas populares e a favor das empresas. Vizcarra decretou estado de emergência no corredor de mineração Apurímac-Cusco-Arequipa, com participação de tropas militares para intimidar e reprimir as populações que protestam legitimamente contra os danos ambientais de Las Bambas. “Ficam suspensos os direitos constitucionais relativos à inviolabilidade de domicílio e à liberdade de reunião…” diz o decreto.
Seu propósito, já sabemos, é convencer os empresários de que ele defenderá seus negócios e implementará a agenda da Confiep, sob pretexto de combater a desaceleração econômica. Assim permanecem as ameaças do plano de competitividade e produtividade que busca suprimir direitos trabalhistas e baratear as demissões coletivas, e também criar novos meios de exploração das populações jovens, o trabalho em tempo parcial e os trabalhos online.
Continuar a luta contra a corrupção e o plano econômico
Pelo anterior, a luta contra a corrupção, para que na verdade se derrube todos os corruptos, e contra os ataques à economia popular, continua mais vigente que nunca. Para isso é indispensável romper com a política de subordinação e apoio ao governo que é incentivada pela direção da central e dos partidos da esquerda do Congresso dissolvido, e a política nitidamente eleitoral que esses mesmos setores promovem, para impulsionar a centralização das lutas contra o governo, pela reposição dos demitidos e outras demandas operárias, junto com a defesa do direito dos povos de defender seu meio ambiente e das lutas dos jovens contra a privatização da educação e das novas versões da lei pulpín que vem sendo preparadas.
Tradução: Lilian Enck