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terça-feira, março 19, 2024

É possível derrotar a reforma da Previdência, mas as cúpulas das centrais e partidos da oposição não podem roer a corda

O governo Bolsonaro completou 100 dias. Parece pouco, mas já deu bem para mostrar a que veio. Foram 100 dias de ataques à população pobre e trabalhadora, de incitação e ataques aos setores mais oprimidos e explorados, como as mulheres, os negros e os indígenas.

Por: PSTU Brasil

Para coroar essa data, Bolsonaro mandou projeto para o Congresso Nacional que acaba com o aumento do salário mínimo. Ao mesmo tempo, anuncia que vai anistiar as dívidas dos ruralistas num total de R$ 30 bilhões. Eles dizem que não tem dinheiro, mas não tem dinheiro para a saúde, a educação ou os salários dos mais pobres. Para ruralista e banqueiro sempre tem.

Bolsonaro, assim, reafirma aquilo que tem sido sua principal característica: fala grosso com os pobres, e fino com os poderosos, os grandes fazendeiros e Trump. Por isso deu “ok” para a venda da Embraer à Boeing, liberou a base de Alcântara para os americanos (brasileiro nem vai poder entrar lá) e disse que vai vender os Correios, com a Petrobrás na mira para ser a próxima.

O fuzilamento de uma família no Rio que resultou na morte de Evaldo dos Santos e do catador Luciano Macedo mostrou, mais uma vez, a face cínica e autoritária de Bolsonaro. Depois de seis dias em silêncio, o presidente abriu a boca para declarar que o “Exército não matou ninguém”. Para ele, Evaldo e Luciano, assim como tantos negros e pobres vítimas da fúria assassina e impune da polícia, das milícias e do Exército são “ninguém”.

O desprezo e autoritarismo de Bolsonaro também se voltam contra os indígenas. Na semana em que indígenas organizam o acampamento Terra Livre em Brasília, o governo mandou a Força Nacional de Segurança ocupar a Esplanada. Para Bolsonaro, a questão indígena é caso de polícia. Para os oprimidos, Bolsonaro oferece bala, para os poderosos como o pastor Edir Macedo, é passaporte diplomático.

Reforma da Previdência é a prioridade deles

O maior dos ataques deste governo, porém, é a reforma da Previdência exigida pelos banqueiros. E essa reforma é exatamente isso: tira e ataca a aposentadoria dos mais pobres para encher ainda mais os bolsos do 1% de privilegiados que comandam a economia desse país. Estudo realizado pela Unafisco (Associação Nacional dos Fiscais da Receita Federal) mostra que a capitalização vai garantir quase R$ 400 bilhões aos bancos, fora o que eles ganham com o roubo da dívida pública.

A campanha de Bolsonaro, de sua rede de zap e da grande imprensa, além de setores como o NOVO e o MBL, mentem ao dizerem que a reforma ataca privilégio ou que ela vai gerar empregos. É justamente o contrário, o alvo da reforma são os milhões de trabalhadores que, hoje, não conseguiriam se aposentar caso ela tivesse em vigor.

É possível derrotar a reforma

O governo e o Congresso Nacional esperam aprovar a reforma até o meio do ano. Mas não vai ser um caminho de rosas. Nas fábricas, nos bairros, na periferia, as pessoas vão entendendo o que significa de fato essa reforma. E vão mostrando cada vez mais disposição de luta, como foi em 2017 contra a reforma de Temer, quando os trabalhadores mostraram que é possível sim fazer uma Greve Geral.

O PSTU vem realizando um intenso trabalho na base, com o abaixo-assinado das centrais, um boletim do partido explicando a reforma e o próprio Opinião Socialista, no qual estamos destrinchando todos os aspectos da reforma da Previdência. A reação geral é de interesse, as pessoas estão se preocupando com seu futuro e buscam saídas. É hora de ir para cima.

Cúpulas das centrais devem deixar de corpo mole

Se a disposição de luta dos trabalhadores já foi demonstrada em vários momentos deste ano, do Carnaval ao dia nacional de luta em 22 de março, o mesmo não se pode dizer das direções das principais centrais sindicais. Apesar de falarem em Greve Geral, exceto a CSP-Conlutas, as demais não estão jogando peso para organizá-la. Na verdade, há uma negociação rolando por debaixo dos panos para, mais uma vez, rifar os nossos direitos.

Faz parte disso, por exemplo, o projeto do deputado Paulinho da Força (SD) que, sob o discurso do “mal menor”, propõe a mesma reforma de Temer lá atrás e que derrotamos. Paulinho, como ele mesmo declarou, está de olho na capitalização defendida por Guedes, nicho que ele quer entrar via direção das centrais e sindicatos associando-se a banqueiros.

A oposição parlamentar, como PT, PSOL, PCdoB ou PDT (e suas frentes eleitorais, travestidas ou não de “movimentos”, como a Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo), também não apostam numa luta consequente contra a reforma e tentam mais canalizar o descontentamento com a reforma e com o governo para as eleições, do que derrotá-la com Greve Geral.

No caso do PT, os governadores negociam na cara dura a sua aprovação. Na verdade, refletem a defesa de um projeto capitalista, que inclui uma reforma da Previdência que retira direitos dos trabalhadores. Apesar de ser diferente da proposta de Paulo Guedes, parte igualmente dos pressupostos da burguesia, de jogar a crise nas nossas costas para “fazer crescer” os investimentos dos ricos.

É possível e necessário derrotar a reforma da Previdência. Mas para isso é preciso rechaçar qualquer proposta que venha aparecer como “menos pior”. Aposentadoria não se negocia. E organizar a luta nas fábricas, nos locais de trabalho, nas escolas e universidades, nos bairros e periferias.

Organizar por baixo, mobilizar, cobrar e vigiar para impedir que as cúpulas das centrais vacilem e desmontem a luta, como fizeram na reforma trabalhista. Mobilizados por baixo, vamos exigir que as cúpulas das centrais e dos partidos de oposição se coloquem integralmente a serviço da unidade para lutar, na construção da Greve Geral para derrubar essa reforma.

 

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