qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Argentina | Um novo Encontro de mulheres, muitos debates de fundo

Um Novo Encontro Nacional de Mulheres aconteceu em La Plata no final de semana passado. Multitudinário, alegre, com milhares de mulheres dedicadas durante dois dias e meio a debater, propor e discutir. Apesar da chuva torrencial que nos acompanhou na viagem e durante todo o sábado, apesar do frio que penetrava em nossos ossos no domingo, milhares de nós mulheres fomos dispostas a garantir e participar de cada oficina e atividade. Uma marcha enorme passou pelas ruas de La Plata no domingo, colorida, aguerrida, mas, sobretudo verde em defesa da legalização do Aborto seguro e gratuito.

Por: PSTU-Argentina

Como estava sendo planejado nas reuniões do pré-encontro, nos debates em cada local, foram muitas as discussões centrais que passaram pelas mesas de debate. Mas, fundamentalmente a reivindicação de que este Encontro se apoderasse da bandeira do Aborto Legal, Seguro e Gratuito e que os debates prévios a respeito do caráter do Encontro refletissem nas suas conclusões. As reivindicações de diversos setores que lutam pela sua visibilização e reconhecimento, tais como as mulheres de distintas nacionalidades indígenas oprimidas e setores diversos como trans, travestis e setores LGBTI estiveram muito presentes.

A direção histórica não passou na prova

Tal como previsto, a direção histórica do Encontro fez o impossível para que os debates sobre estas questões ficassem em segundo plano, inclusive chegando ao ponto de não garantir as mesas sobre estes temas. Mas a força que vinha das bases conseguiu autogestionar e realizar as discussões, sendo a oficina de trans e travestis uma das mais concorridas. Teve que ser realizada em um pátio e com megafone, enfocando os diversos problemas enfrentados por estes setores, e que ultrapassam amplamente o ponto de cota laboral trans.

Muitas destas reivindicações ficaram registradas no encerramento do Encontro, que mudou o nome para Encontro Plurianual de Mulheres e Dissidências. Fica a dúvida de como isso se refletirá na direção, dividida e golpeada pelos resultados das discussões. O PCR e setores ligados ao PJ e à Igreja estão na contramão destes debates e de maneira burocrática tentaram boicotar os debates mais profundos. Este pode ser um ponto de inflexão na história dos Encontros. Nós do Luta Mulher não acreditamos que este espaço seja o que necessitamos enquanto mulheres trabalhadoras para lutar pelos nossos direitos, ao mesmo tempo entendemos a importância da existência da mais ampla democracia neste espaço e a necessidade da sua realização.

As eleições e os debates de fundo sobre as mulheres

Evidentemente a realização do Encontro esteve cruzada pelo contexto eleitoral e pode ser visto em cada mesa de debate: pagar ou não a dívida externa, lutar ou esperar que os resultados eleitorais “beneficiem” o povo trabalhador, tão atacado pela crise econômica e pelas políticas de ajuste do governo Macri.

Nós da delegação do Luta Mulher e do PSTU propusemos fortemente que não existe saída sem deixar de pagar a dívida externa, e que necessitamos que os pagamentos milionários sejam destinados a emprego, saúde, educação e ao combate real contra a violência machista. Assim como também a exigência de que o novo governo de Alberto e Cristina Fernández legalize o aborto por decreto de maneira urgente. As mulheres pobres e trabalhadoras não podem esperar nenhum dia mais, não queremos nenhuma morte mais por abortos clandestinos!

Evidentemente também levamos para este espaço a campanha pela absolvição do nosso companheiro Daniel Ruiz, ao qual arrancamos da prisão há poucos dias, ainda que a luta continua. Além disso, realizamos um painel internacional com distintas trabalhadoras e lutadoras (fábrica Ran Bat, Professoras de Chubut e Mendoza, Ate Cultura, e Vane da Costa Rica, fazendo uma intervenção sobre a luta dos setores trans em toda América Latina).

Fortalecidas com nossa intervenção e com a convicção de seguir lutando contra todo tipo de opressão que divide a classe trabalhadora para lutar contra este sistema de fome e exploração, nós da delegação do Luta Mulher e do PSTU saímos deste Encontro reafirmando a necessidade de um governo da classe trabalhadora para acabar com as injustiças deste mundo, e que não existe saída dentro desse sistema. Nosso compromisso militante continua de pé para avançar nestas tarefas e seguiremos saindo às ruas para conquistar cada direito que necessitamos.

Tradução: Luana Bonfante

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