Um Novo Encontro Nacional de Mulheres aconteceu em La Plata no final de semana passado. Multitudinário, alegre, com milhares de mulheres dedicadas durante dois dias e meio a debater, propor e discutir. Apesar da chuva torrencial que nos acompanhou na viagem e durante todo o sábado, apesar do frio que penetrava em nossos ossos no domingo, milhares de nós mulheres fomos dispostas a garantir e participar de cada oficina e atividade. Uma marcha enorme passou pelas ruas de La Plata no domingo, colorida, aguerrida, mas, sobretudo verde em defesa da legalização do Aborto seguro e gratuito.
Por: PSTU-Argentina
Como estava sendo planejado nas reuniões do pré-encontro, nos debates em cada local, foram muitas as discussões centrais que passaram pelas mesas de debate. Mas, fundamentalmente a reivindicação de que este Encontro se apoderasse da bandeira do Aborto Legal, Seguro e Gratuito e que os debates prévios a respeito do caráter do Encontro refletissem nas suas conclusões. As reivindicações de diversos setores que lutam pela sua visibilização e reconhecimento, tais como as mulheres de distintas nacionalidades indígenas oprimidas e setores diversos como trans, travestis e setores LGBTI estiveram muito presentes.
A direção histórica não passou na prova
Tal como previsto, a direção histórica do Encontro fez o impossível para que os debates sobre estas questões ficassem em segundo plano, inclusive chegando ao ponto de não garantir as mesas sobre estes temas. Mas a força que vinha das bases conseguiu autogestionar e realizar as discussões, sendo a oficina de trans e travestis uma das mais concorridas. Teve que ser realizada em um pátio e com megafone, enfocando os diversos problemas enfrentados por estes setores, e que ultrapassam amplamente o ponto de cota laboral trans.
Muitas destas reivindicações ficaram registradas no encerramento do Encontro, que mudou o nome para Encontro Plurianual de Mulheres e Dissidências. Fica a dúvida de como isso se refletirá na direção, dividida e golpeada pelos resultados das discussões. O PCR e setores ligados ao PJ e à Igreja estão na contramão destes debates e de maneira burocrática tentaram boicotar os debates mais profundos. Este pode ser um ponto de inflexão na história dos Encontros. Nós do Luta Mulher não acreditamos que este espaço seja o que necessitamos enquanto mulheres trabalhadoras para lutar pelos nossos direitos, ao mesmo tempo entendemos a importância da existência da mais ampla democracia neste espaço e a necessidade da sua realização.
As eleições e os debates de fundo sobre as mulheres
Evidentemente a realização do Encontro esteve cruzada pelo contexto eleitoral e pode ser visto em cada mesa de debate: pagar ou não a dívida externa, lutar ou esperar que os resultados eleitorais “beneficiem” o povo trabalhador, tão atacado pela crise econômica e pelas políticas de ajuste do governo Macri.
Nós da delegação do Luta Mulher e do PSTU propusemos fortemente que não existe saída sem deixar de pagar a dívida externa, e que necessitamos que os pagamentos milionários sejam destinados a emprego, saúde, educação e ao combate real contra a violência machista. Assim como também a exigência de que o novo governo de Alberto e Cristina Fernández legalize o aborto por decreto de maneira urgente. As mulheres pobres e trabalhadoras não podem esperar nenhum dia mais, não queremos nenhuma morte mais por abortos clandestinos!
Evidentemente também levamos para este espaço a campanha pela absolvição do nosso companheiro Daniel Ruiz, ao qual arrancamos da prisão há poucos dias, ainda que a luta continua. Além disso, realizamos um painel internacional com distintas trabalhadoras e lutadoras (fábrica Ran Bat, Professoras de Chubut e Mendoza, Ate Cultura, e Vane da Costa Rica, fazendo uma intervenção sobre a luta dos setores trans em toda América Latina).
Fortalecidas com nossa intervenção e com a convicção de seguir lutando contra todo tipo de opressão que divide a classe trabalhadora para lutar contra este sistema de fome e exploração, nós da delegação do Luta Mulher e do PSTU saímos deste Encontro reafirmando a necessidade de um governo da classe trabalhadora para acabar com as injustiças deste mundo, e que não existe saída dentro desse sistema. Nosso compromisso militante continua de pé para avançar nestas tarefas e seguiremos saindo às ruas para conquistar cada direito que necessitamos.
Tradução: Luana Bonfante