Haiti: armas para garantir lucros
O regime capitalista imperialista, que tenta passar a imagem de que a crise acabou e entramos na época dos sonhos, agoniza, e fica cada vez mais perverso. Por isso aproveita a devastação causada pelo terremoto no Haiti para buscar aumentar seus lucros.
Aumentou a ocupação militar com a desculpa de ajudar os sobreviventes do terremoto e auxiliar no esforço de reconstrução do país. Na realidade, além da ajuda enviada ser totalmente insuficiente, ela ainda é controlada pelos governos imperialistas e suas instituições, como a ONU.
Os mais otimistas falam em um total de US$ 1,5 bilhão em ajuda financeira ao Haiti. O governo haitiano calcula que eles necessitam de US$ 3 bilhões para reconstruir o país. Mas Barack Obama enviou 100 milhões de dólares ao Haiti, uma quantia bastante modesta quando comparada aos US$ 500 bilhões doados às montadoras, ou aos US$ 700 bilhões destinados aos bancos. O volume de dinheiro destinado a salvar os capitalistas chegou à astronômica cifra de US$ 2,2 trilhões.
A mentira da ajuda humanitária
Será que alguém mesmo acredita que a dupla Bill Clinton e George Bush That military would later play a key role in upholding the Duvalier dictatorships, so even when US forces weren't physically in Haiti, American influence was still felt. Since the 1900s, the US viewed Haiti as a key part of maintaining its dominance in Latin America and the Caribbean. estão preocupados com as milhares de vitimas da tragédia haitiana? Tudo não passa de farsa. Tanto é assim que, para a sua suposta “ajuda humanitária”, levaram ao Haiti 12 mil soldados norte-americanos (incluindo dois mil marines), que se juntaram às tropas da Minustah (lideradas vergonhosamente pelo Brasil), calculadas em oito mil militares; Em breve devem chegar 3,5 mil soldados da 82ª Divisão Aerotransportada de Infantaria do Exército.
Para reforçar, mandaram o porta-aviões Carl Vissom, carregado com 19 helicópteros, os Black Hawk que ocuparam o Palácio Presidencial, além do destróier Higgins. Nas próximas duas semanas devem chegar o cruzador Normandy e a fragata Underwood, ambos equipados com mísseis dirigidos. Também irá o navio de assalto anfíbio Bataan, acompanhado de duas outras naves do grupo de assalto anfíbio: o Fort MacHenry e o Carter Hall.
O Haiti precisa de 12 mil médicos, mas Obama enviou 12 mil soldados. Dessa forma, os “verdadeiros chefes da ocupação”, chegam ao país.
A tragédia garante lucros
Como explicar então que dois ex-presidentes da maior potência do mundo foram designados para cuidar do Haiti? Um país onde apenas um quarto das rodovias é pavimentada. Um país onde falta energia todos os dias, os portos são antigos, um mercado interno onde 75% da população vive com menos de US$ 2 por dia. Enfim, a nação mais pobre do ocidente.
A verdade é que a ocupação garante a exploração da mão-de-obra mais barata da América Latina, particularmente nas Zonas Francas. Os EUA aproveitam-se do terremoto para colocar suas tropas e canalizar para suas empresas a reconstrução do país. Isso explica os tímidos protestos do governo brasileiro. Afinal estão arrancando das mãos das empreiteiras brasileiras, como a Camargo Correia e a Odebrecht, polpudos negócios. A OAS, já abocanhou uma licitação de uma rodovia haitiana no valor de US$ 145 milhões.
O Haiti terá bons negócios com a reconstrução dos aeroportos, portos, hospitais, escolas, moradias, infraestrutura urbana, rede de saneamento, energia elétrica etc. Uma tentação para quem enfrenta uma crise econômica e precisa de novos investimentos.
Além disso, há a presença de multinacionais que exploram esse povo, lembrando os tempos da escravidão. São empresas como Nike, Adidas, Gap, Reebok, Levi's, Tommy Hilfiger, American Eagle, Calvin Klein, Kmart e muitas outras que produzem seus artigos pagando um salário de fome aos trabalhadores, que trabalham em verdadeiros campos de concentração, sem direito à organização sindical. O desemprego de 80% pressiona os trabalhadores a aceitarem essa miséria.
A Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas), do vice-presidente José de Alencar, está prestes a se instalar no Haiti. A empresa pretende utilizar o país como plataforma de exportação para os Estados Unidos, aproveitando-se do Tratado de Livre Comércio (TLC) existentes entre as duas nações. Assim, a empresa conseguirá fugir dos altos impostos de 25% e 27% cobrados no Brasil. De acordo com o presidente da Coteminas, José Gómez, filho de José de Alencar, em uma entrevista ao Valor Econômico cujo título era “Missão de paz abre oportunidades para empresas brasileiras no Haiti”, depois de todo esforço militar brasileiro “o país tem o direito de pleitear um tratamento preferencial”. Assim, se revela com toda crueza a verdadeira razão da ocupação militar no Haiti. Atualmente, a Coteminas fornece os tecidos das fardas das Forças Armadas.
Os benefícios são óbvios; além da proximidade e acesso diferenciado aos EUA, a mão-de-obra haitiana é muito barata. Uma costureira em Porto Príncipe recebe US$ 0,50 por hora, uma remuneração inferior aos US$ 3,27 pagos no Brasil, e muito abaixo dos US$ 16,92 pagos nos EUA. Os salários haitianos são inferiores até aos US$ 0,85 pagos no litoral da China. Perde apenas para os US$ 0,46 pagos no Vietnã, ou os US$ 0,28 de Bangladesh.
Por fim, ganham também as classes dominantes do Haiti, branca e rica, de latifundiários e burgueses industriais, que representam 3% da população. Seus maiores representantes são Reginald Boulos, presidente da Câmara de Comércio e Indústria que pressiona a Minustah a “usar a força” em Cité Soleil; o ex-candidato à presidente Charles Henry Baker, cuja opinião é de que as tropas da Minustah “são tolerantes com as gangues”; e Andre Apaid, de nacionalidade norte-americana, líder do Grupo dos 184, extremamente vinculado ao imperialismo. Todos eles são donos das sweatshops (fábricas do suor) que se caracterizam por um salário abaixo do mínimo necessário à sobrevivência, ausência de qualquer forma de proteção trabalhista, exploração de crianças e mulheres, forçadas a tomar contraceptivo, trabalhadores expostos a substâncias tóxicas, em turnos de trabalho de até 19 horas, doenças sexuais e abusos físicos e psicológicos.
Haiti pode dar muito mais lucro
Mas há outros ramos em que as empresas imperialistas também estão de olho. O preço internacional do barril de petróleo mantém-se a mais de US$ 70, ou seja, 1.300% acima do custo médio mundial de extração. O que aproxima o Iraque e o Afeganistão do Haiti são seus povos e trabalhadores extremamente empobrecidos que devem ser ainda mais oprimidos e explorados. Mas por incrível que pareça, não é somente isso.
Entre 2010 e 2030, os Estados Unidos e o Canadá necessitarão de um aumento de 17% na produção de energia. Os países imperialistas da Europa precisarão crescer a oferta em 12%; Japão e Coréia em 13%; e a China e Índia terão um aumento do consumo de energia de 73%.
É por esse motivo que as tropas imperialistas são mantidas há seis anos no Iraque e Afeganistão. O ainda crescente mercado de petróleo na região do Golfo Pérsico motiva a invasão e ocupação de tropas militares. No entanto, torna-se uma possibilidade concreta a descoberta de reservas de petróleo no Mar do Caribe, o que também explica e motiva o imperialismo a promover uma ocupação militar no Haiti.
O interesse das Big Oil [grandes empresas de petróleo] está voltado para o que ainda resta de petróleo. Estima-se que poderiam ser encontrados nas províncias petrolíferas caribenhas cerca de 19 bilhões de barris, 73 trilhões de pés cúbicos de gás e até 4,9 bilhões de barris de GNL (Gás Natural Liquefeito). O Mar do Caribe é cercado pelos países continentais do México, Belize, Guatemala, Honduras, Panamá, Colômbia, Venezuela e pelas ilhas de Cuba e Haiti.
Circunda a oeste do Mar do Caribe o cinturão sedimentar, cuja estrutura geológica colossal se estende desde Honduras/Guatemala/Belize e leste do México, atravessando Cuba e do Haiti. No lado oeste, a porção do cinturão sedimentar que contém a bacia Norte de Cuba tem como limite as bacias de Sierra Madre de Chiapas e da Plataforma de Yucatan. No lado oposto, a leste, faz limite com a bacia do Cinturão Deformado Lesser das Antilhas, o qual se estende até os limites das bacias do arco de Tobago e do leste da Venezuela.
Na Venezuela é onde se encontra a segunda maior concentração de campos gigantes do mundo. Ainda podem ser encontrados até 26,7 bilhões de barris de petróleo, 200 trilhões de pés cúbicos de gás e até 10 bilhões de barris de GNL na região leste da Venezuela. A província de Maracaíbo pode ainda ter até 14 bilhões de barris de petróleo, 33 trilhões de pés cúbicos de gás e até 1,9 bilhões de barris de GNL.
Regiões situadas abaixo de águas ultraprofundas, ainda inexploradas no Mar do Caribe, são os blocos da bacia de Yucatan (leste da plataforma de Yucatan e sul da bacia Norte de Cuba) e da vala de Caymam (noroeste da Jamaica). O golfo de Honduras desemboca no trend de Caymam, de direção nordeste.
Já foram descobertas reservas potencialmente consideráveis na província sedimentar da bacia Norte de Cuba. Os campos de águas profundas na bacia de Cuba e Haiti despertaram o interesse das Big Oil e do imperialismo.
Na bacia de Cuba foram definidos 120 mil Km² que foram divididos em 59 blocos exploratórios a serem ofertados às Big Oil sob o modelo de regime de partilha da extração, já estabelecido pelo governo cubano.
No nordeste de Havana, capital de Cuba, nas profundezas do estreito da Flórida, a petrolífera espanhola Repsol-YPF, em parceria com a estatal cubana CUPET, identificou cinco campos com óleo de alta qualidade em 2004. Empresas petrolíferas da China e do Canadá também prospectaram petróleo e gás na costa de Cuba.
Logo em seguida a United State Geological Survey (instituto geológico) fez a reavaliação do volume de óleo e gás ainda a ser achado no sistema petrolífero da bacia Norte de Cuba. O relatório afirma: a bacia do Norte de Cuba contém quantidade substancial de petróleo – de 4,8 a 9,3 bilhões de barris de petróleo, 9,8 trilhões a 21,8 trilhões de pés cúbicos de gás e 774 milhões a 2,1 bilhões de barris de GNL.
Há ainda para descobrir na província de Sierra Madre de Chiapas 866 milhões a 1,5 bilhões de barris de petróleo, 1,7 trilhões a 3,5 trilhões de pés cúbicos de gás e 99 milhões a 222 milhões de barris de GNL. E na plataforma de Yucatan, 279 milhões a 2,2 bilhões de barris de petróleo, 529 bilhões a 4,7 trilhões de pés cúbicos de gás e 30 milhões a 287 milhões de barris de GNL. No Cinturão Deformado Lesser das Antilhas, são estimados 157 milhões a 6,1 bilhões de barris de petróleo, 1,2 trilhões a 46,8 trilhões de pés cúbicos de gás e 57 milhões a 2,3 bilhões de barris de GNL.
Solidariedade e petróleo
A presença militar da Minustah e das tropas norte-americanas no Haiti tem muito pouco de solidariedade humanitária internacional. Seu principal objetivo é a defesa dos interesses imperialistas na região, que vão desde a presença da grande indústria têxtil, a garantia de mão de obra barata e também das possíveis reservas de petróleo no Haiti e na região do Caribe.
O presidente Lula tem demonstrado ser um fiel aliado dos interesses estratégicos e econômicos do imperialismo, mantendo e enviando ainda mais soldados para reprimir o povo e os trabalhadores do Haiti. Mas o povo haitiano não precisa de soldados e nem de policiais, precisa de solidariedade operária, de delegações médicas e de construção civil.
* Instituto Latino Americano de Estudos Sócios Econômicos (ILAESE).