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terça-feira, março 19, 2024

2019: Crise climática e ambiental se aprofunda

O acordo de Paris, de 2015, prevê que o limite de segurança para o aquecimento global é de 1,5°C a 2°C em relação aos níveis pré-industriais. No ano de 2019, os dados[1] da Organização Meteorológica Mundial (OMM) apresentados na COP 25, em Madri, mostram que será o segundo ou terceiro ano mais quente, desde 1850. Atualmente a temperatura média no planeta está aproximadamente 1,1 grau Celsius acima do registrado no período pré-industrial e 0,2 graus centígrados acima de 2011-2015. Além disso, as concentrações de dióxido de carbono na atmosfera que alcançaram um nível recorde de 407,8 partes por milhão em 2018 continuaram subindo em 2019 e devem chegar a 410 partes por milhão.

Por: Lena Souza

Essas informações preliminares do ano de 2019 foram apresentadas no segundo dia da COP25, que está sendo realizada em Madri-Espanha, com a presença de representantes de cerca de 200 países. Mais uma vez os dados das organizações científicas mostram que a terra caminha para o caos climático, sem que as os governos e autoridades, que deveriam estar preocupadas com a situação tenham tomado providências para preservar o planeta e a vida nele.

Não é a primeira vez que organizações científicas apresentam os dados catastróficos em relação ao aquecimento global. No último período, todos os anos esses números são informados e as previsões são mais catastróficas. Caso as emissões não sejam reduzidas em 7% ao ano, o mundo caminha para um aumento de temperatura de 3,2ºC em relação aos níveis pré-industriais, até o ano de 2100.

As consequências se apresentaram também em 2019

O ritmo de aumento do nível dos mares subiu na última década a quatro milímetros por ano. Isso ameaça as zonas costeiras, onde vão estar vivendo mais de um bilhão de pessoas até 2050. Além disso, o dióxido de carbono que vai para as águas oceânicas provocou aumento de 26% da acidez da água desde o início da era industrial e continua aumentando, provocando a degradação dos ecossistemas marinhos.

Houve acréscimo de precipitações em algumas áreas e aprofundamento das secas em outras áreas. Além é claro das ondas de calor que afetaram vários países, principalmente da Europa, os quatro últimos anos foram os mais quentes já registrados no planeta. Julho de 2019, quando várias ondas de calor afetaram a Europa, foi o mês mais quente da história. As temperaturas chegaram a  46°C na França, 42,6ºC na Alemanha, 38,7ºC no Reino Unido, 41,8ºC na Bélgica, entre outros países que experimentaram temperaturas nunca vistas

Fenômenos extremos estão cada vez mais presentes disse o secretário-geral da OMM Petteri Taalas na apresentação do relatório na COP25: “No dia-a-dia, os impactos das mudanças climáticas ocorrem por meio de condições meteorológicas extremas e “anormais ”. E, mais uma vez em 2019, os riscos relacionados ao tempo e ao clima são altos. Ondas de calor e inundações que costumavam ser eventos que ocorriam “uma vez em um século” estão se tornando mais regulares. Países, das Bahamas ao Japão e Moçambique, sofreram o efeito de ciclones tropicais devastadores. Incêndios florestais varreram o Ártico e a Austrália””[2],.

Tudo isso se concretiza com consequências na saúde e na segurança alimentar e nas migrações de populações. O relatório da OMM também diz que depois de dez anos em que vinha diminuindo a fome no mundo, começou a aumentar novamente.

“A variabilidade climática e eventos climáticos extremos são alguns dos principais fatores que explicam o recente aumento da fome no mundo. Em 2018, chegou a mais de 820 milhões de pessoas. Em 26 dos 33 países afetados por crises alimentares em 2018, a variabilidade climática e eventos climáticos extremos agravaram a situação.”[3]

Só entre janeiro e junho de 2019 houve mais de 10 milhões de deslocamentos internos de população, sendo que de acordo com o mesmo relatório, 7 milhões foram provocados por eventos de risco como ciclones e furacões. Como foi o caso do o ciclone Idai no sudeste da África, o ciclone Fani no sul da Ásia, o furacão Dorian no Caribe e as inundações no Irã, nas Filipinas e na Etiópia.

Tempo de agir?

A COP25 adotou o lema “Tempo de agir”. E o secretário da ONU, António Guterres afirmou no discurso de abertura que é preciso interromper “nossa guerra contra a natureza”. Duas frases que novamente não passam da intenção de provocar efeito.

Há mais de 40 anos, já se advertia sobre a utilização dos recursos naturais de forma desenfreada pelo capitalismo. E já são 25 anos de realização de Cúpulas Ambientais em que dizem que estão discutindo estratégias de desenvolvimento econômico considerando a preservação do meio ambiente e o uso consciente de recursos naturais. Já se passaram 4 anos do acordo de Paris, onde se discutiu um compromisso internacional com o objetivo de minimizar as consequências do aquecimento global.

Nada foi feito pelos governos, autoridades e grandes empresas que se dizem os grandes representantes da humanidade e responsáveis pelo seu desenvolvimento. Nada mudou na ganância por mais e mais lucros. Ou melhor, mudou para pior. As irresponsabilidades ficam cada vez mais visíveis e o sofrimento da população pobre do planeta com as consequências da crise ambiental se aprofunda.

Então alguém ainda acredita que vai haver alguma atitude por parte dos donos do grande capital e dos governos que os servem? Dá pra acreditar nesse lema “Tempo de agir” adotado pela COP25?

Além disso, o secretário da ONU disse que é preciso interromper “nossa guerra contra a natureza”. A quem ele se refere? Aos trabalhadores e trabalhadoras, povo pobre, população indígena e à juventude que tem estado nas ruas lutando para defender o planeta e uma vida digna?

O que sabemos é que de toda a riqueza gerada no mundo, 82% fica nas mãos do 1% mais rico do planeta. Segundo a Oxfam “A fortuna dos bilionários do mundo aumentou 12% em 2018, ou US$ 2,5 bilhões por dia, enquanto que a metade mais pobre do planeta viu sua riqueza reduzida em 11%”.

Esses dados por si só mostram quem são os responsáveis pela crise climática e, ao mesmo tempo também nos dizem que não existe nenhuma possibilidade de que esse 1% mais rico do planeta, que tem acumulado tanta renda vai tomar medidas para mudar o curso da crise ambiental. Ou ainda que os governos que são representantes diretos ou indiretos desse 1% vão tomar medidas que se enfrentem com seus amos.

Qualquer medida, que nãos seja apenas enrolação, significa se confrontar com o sistema capitalista, baseado na exploração e no lucro.

A saída é continuar nas ruas, aprofundar as lutas e derrotar o sistema capitalista

Ainda que não tenha tido espaço nos meios de comunicação como na greve global pelo clima que se realizou em setembro, no último dia 29 de novembro várias mobilizações também se espalharam pelo mundo na que foi denominada quarta greve pelo clima.

Com a juventude à frente, a cobrança por medidas que garantam as condições de vida para as próximas gerações tomou as ruas nos últimos dois anos. O mundo acordou diante da emergência climática foi o lema do protesto realizado neste dia 06 de dezembro em Madrid.

O único caminho é a luta, sua ampliação. É preciso unificar a pauta ambiental com as  insurreições contra os governos e regimes que estão acontecendo em vários países do mundo, com a juventude que luta nas barricadas, com os trabalhadores/as, as populações indígenas e o povo pobre que tomam as ruas e enfrentam a polícia contra a exploração e a opressão.

As condições necessárias para uma vida com qualidade, só pode ser garantido por aqueles, que dentro dos países e em nível mundial, sofrem com a perda de vidas, fome, falta de água e de moradia provocados pelas catástrofes ambientais e pelas medidas econômicas de ajuste.

É preciso derrotar esse sistema de opressão e exploração, o sistema capitalista e construir outro sistema social e econômico, onde os rumos da sociedade sejam definidos democraticamente pelos de baixo. Essa sociedade só pode ser a sociedade socialista.

Fontes:

https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/12/02/comeca-a-cop-25-conferencia-do-clima-da-onu-em-madri.ghtml

[1] A declaração final sobre o Estado do Clima, com dados completos de 2019, será publicada em março de 2020.

[2] http://climainfo.org.br/2019/12/03/2019-conclui-uma-decada-de-aquecimento-global-excepcional-e-clima-de-alto-impacto/

[3] https://www.agenciasinc.es/Noticias/El-ano-2019-cierra-una-decada-de-calentamiento-global-sin-precedentes

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