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terça-feira, março 19, 2024

Guatemala: às portas de uma nova primavera

Falamos de “primavera do povo” para nos referirmos às revoluções democráticas de 1848, das quais participaram Marx e Engels, e também para nos referirmos às revoluções árabes iniciadas em 2011. A “primavera” também é chamada de Revolução Guatemalteca de 1944-1954, uma revolução democrática que abalou toda a América Central e terminou com um violento golpe de estado patrocinado pela CIA e pelo Departamento de Estado dos EUA.

Por: Roberto Herrera – PT Costa Rica

O golpe de estado institucional.

Os resultados eleitorais de 25 de junho e 20 de agosto foram inesperados para a oligarquia guatemalteca, desde então realizou uma tentativa de golpe de estado institucional através de três figuras: Consuelo Porras, procuradora-geral, Rafael Curruchiche, chefe da Procuradoria Especial contra a Impunidade (FECI) e o juiz Fredy Orellana, utilizando o “Estado Profundo”, um setor da oligarquia guatemalteca quer ignorar os resultados eleitorais.

Neste episódio guatemalteco assistimos à crise cada vez mais aguda das democracias coloniais centro-americanas e das políticas de reação democrática do imperialismo. Embora a política privilegiada do imperialismo continue a ser os mecanismos de reação democrática (eleições, pactos, etc.), há um sector de oligarquias locais que aposta cada vez mais em soluções ditatoriais e bonapartistas.

A resposta popular.

Tanto a eleição inesperada do partido Semilla no primeiro como no segundo turno implicou um desconforto crescente entre o povo guatemalteco com o que é conhecido como “o pacto corrupto”, uma rede política, empresarial e militar que quer manter o poder do Estado a qualquer custo. A eleição de Semilla foi uma tentativa de transição acordada entre as elites, mas a oligarquia guatemalteca não queria nem mesmo essa democratização limitada.

Quem impediu que o golpe de Estado institucional se consagrasse foram as extensas mobilizações populares e indígenas, desde 2 de outubro, após o sequestro do material eleitoral por Porras, Currichiche e Orellana, desencadeou-se uma mobilização popular muito extensa cujo coração é a mobilização indígena dos 48 cantões de Totonicapán, toda a criatividade e energia popular renasceu e não é exagero dizer que se vive uma nova primavera.

Além das mobilizações originárias, juntaram-se estudantes de universidades públicas e privadas, médicos, feirantes, mas são sobretudo os jovens guatemaltecos que mais se destacam.

O governo Giammattei e o Tribunal Constitucional desenharam um plano repressivo e provocativo para desmantelar o movimento que inclui o uso de gangues de bandidos que enfrentam a mobilização (como os grupos estudantis ligados ao reitor sancarlista ilegal Walter Mazariegos) e a ordem constitucional (impulsionado pelo poderoso sindicato empresarial CACIF) que ordena o levantamento dos bloqueios de estradas. Os bloqueios de estradas têm sido um método privilegiado de mobilização e surgiram às dezenas e, na melhor das hipóteses, mais de uma centena. A ideia de Giammattei, do Tribunal Constitucional e do Cacif é conseguir um clima que justifique a repressão reforçada dos bloqueios e do movimento popular

O papel de Semilla e um novo rumo.

É público e sabido que o movimento tem duas almas, por um lado Semilla que procura consolidar a transição eleitoral e um grande grupo de dirigentes populares que asseguram que “não defendem Semilla, mas sim a democracia” ou seja, que aspiram não apenas a uma mudança de governo, mas a uma democratização radical da terra, do trabalho, da cultura e do reconhecimento.

O papel de Semilla e sobretudo do imperialismo norte-americano representado pela embaixada dos EUA e por Luis Almagro da OEA, é que os resultados eleitorais sejam respeitados e que a mobilização popular pare aí. Eles confiam que Arévalo pode conter e canalizar o ascenso e que eles possa dialogar e chegar a acordos com ele. Para o imperialismo, o compromisso da oligarquia crioula com um golpe de estado na Guatemala poderia ser um desestabilizador para toda a região.

A principal tarefa dos partidos LIT-QI na região é ajudar a construir uma liderança política alternativa a Semilla, que permitirá canalizar a segunda primavera guatemalteca para uma nova revolução democrática, socialista e centro-americana.

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