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Argentina

Argentina: unir os conflitos operários com uma lista comum de reivindicações

junho 21, 2022

A carestia de vida afeta cada lar neste país, a inflação mensal não dá trégua. Enquanto as cúpulas das centrais operárias brilham por sua ausência nas reivindicações diárias para recuperar tudo o que foi perdido nestes anos. Apesar disso, importantes lutas operárias e populares vêm ocorrendo em diferentes pontos do país.

Por: Daniel Ruíz

A primeira pergunta que devemos nos fazer: As empresas levam tudo ou estamos em um país falido?

Tanto a coalizão do Governo como a oposição patronal não dizem claramente pela grande mídia que este país atravessa uma grande crise econômica. Mas deixam correr de fato ou reclamam que as medidas estruturais devem ser avançadas como reformas trabalhistas nos setores produtivos, inclusive no Estado, como recentemente as modificações na Cidade de Buenos Aires aos servidores estatais.

Mas, estamos em crise econômica? Queremos primeiro nos deter em responder esta pergunta, sabendo que nosso país ao ser uma semicolônia, que está submetido não apenas aos países imperialistas, mas também às multinacionais, cada efeito internacional pode nos arrastar para crises profundas. Sem dúvida, as consequências da guerra na Ucrânia e pela resistência heroica de seu povo até o momento, produziu uma elevação dos preços dos commodities como o petróleo, soja, ouro, entre outros, isso alterou os números das principais alavancas da economia.

A petroleira YPF no primeiro trimestre do ano obteve um lucro líquido de mais de $ 26 bilhões e sua produção cresceu 16% interanual, o que lhe permitiu alcançar um novo recorde no segmento de hidrocarbonetos não convencionais. O crescimento de sua produção de gás impulsionou os resultados de Pampa Energía.  No primeiro trimestre de 2022, os rendimentos do maior gerador de energia do país, que Marcelo Mindlin lidera, cresceram 54%, para $ 44 bilhões, e faturou $ 10,3 bilhões. Entre janeiro e março do ano passado, o lucro foi de $ 3,694 bilhões.

A agroindústria liquidou mais de USD 4,231 bilhões durante maio o que representou uma alta de 33% intermensal. Trata-se de um recorde para o quinto mês do ano desde que a Câmara da Indústria do Petróleo da República Argentina (CIARA) e o Centro de Exportações de Cereais (CEC) mantêm registro. Mas, ao mesmo tempo, se bateu o recorde de liquidações na comparação mensal desde que se têm registros, desde 2002.

O último informe do BCRA confirma que no ano passado os bancos privados acumularam lucros líquidos de mais de $ 133 bilhões.

Poderemos dar mais dados de lucros de setores como a pesca, alumínio, e outros setores da indústria.

Uma precarização crescente

Os dados do INDEC nos dizem que o desemprego caiu para 7% (1), entretanto todos sabemos que a precarização nas fábricas e campos petrolíferos é crescente, já que vemos situações como nos frigoríficos de La Matanza onde se contrata os peões por dia, salários cada vez mais baixos e mais fragmentação entre a classe operária, com múltiplos acidentes de trabalho e mortes evitáveis.

Temos um dos mais baixos salários da América Latina, ao tomar como parâmetro o dólar paralelo (ou blue), a cifra cai para US$155 (tomando um câmbio de 206 pesos por U$S 1).(2)

Reivindicações operárias e recuperação do salário

Nas últimas semanas, houve uma série de conflitos centrados na paridade já que amplos setores patronais ganharam fabulosos lucros e os setores que exportam em dólar aumentam mais essa brecha. Os conflitos majoritariamente se originam com o objetivo de recuperar salário nas mesas de negociação salarial, nas negociações truncadas se originam os conflitos que, em alguns casos, se desenvolvem com mobilizações e paralisações, mas quase todos fecham acordos entre 45% a 60 % a serem revisados em fins de novembro.

Não é casual que nenhum setor das direções sindicais que estão em conflito pelas negociações, tente coordenar as lutas para somar forças e torcer o braço do Governo e das patronais.

O sindicalismo ligado à CGT (Confederação Geral do Trabalho) e às CTA (Central de Trabalhadores da Argentina) tem a lógica de enquadrarem-se dentro do Governo e os chamados sindicalistas combativos também não coordenam suas próprias lutas, podendo incorporar os movimentos piqueteiros na luta pela distribuição de horas nas fábricas e desse modo obter salários de acordo e trabalho genuíno. Isto ocorre não apenas com o conflito da SUTNA (Pneus), ADEMYS (Docentes) e outros que são conduzidos por representantes da esquerda ou onde têm responsabilidades de direção.

É muito importante que levemos em conta estas situações para nos preparar para as próximas lutas, já que não há nenhum indício de que a inflação desapareça, que os aumentos de tarifas sejam detidos, nem que o Imposto de Renda do salário operário fique isento. A situação da classe operária empregada, desempregada e aposentada será cada vez pior, por isso a lista única de reivindicações é fundamental, onde seja incorporada a questão da moradia, os direitos da mulher, as opressões e a educação digna com escolas e salários.

A situação das mulheres trabalhadoras se aprofundou não apenas nas condições trabalhistas, do lar que aumentaram na pandemia, como pelas trabalhadoras docentes que com a virtualidade foram afetadas com as tarefas de casa e agora querem que trabalhem 5 horas por turno e falar das mulheres piqueteiras que sustentaram as panelas populares e são uma esmagadora maioria nas mobilizações de desempregados, podemos dizer que a Marcha Federal piqueteira onde mais de 70% das colunas foram de mulheres.

A greve geral deve ser nosso horizonte

Enquanto estas direções vão se acomodando na corrida eleitoral de 2023, os lucros das empresas continuam somando montanhas de milhões de dólares, nós trabalhadores e trabalhadoras estamos cada vez pior. E embora delegados e comissões diretivas sejam renovados, estamos sempre na mesma roda, reivindicações em ministérios, poucas assembleias para deliberar e os “dirigentes” assinam. Assim fomos perdendo tudo que ganhamos em décadas nessas mesas onde fazem acordos de salários mais baixos, presenteiam nosso Acordo Coletivo e os sindicatos recebem dinheiro por trabalhador afiliado ou não afiliado como nos petroleiros, para os cofres do sindicato, ou seja, para a burocracia. (3)

Para romper com o acordo com o Fundo Monetário Internacional dizemos que falta um argentinaço, mas a classe operária deve saber que se não conseguir uma greve geral para recuperar tudo que foi perdido, não haverá condições de passar à ofensiva. Por exemplo, os trabalhadores das fábricas de Óleos Vegetais têm uma postura para que sejam os trabalhadores que decidem quanto devem ganhar e também da necessidade da greve geral para obter um aumento geral de salários.

Concordamos nesse conceito em linhas gerais, mas também que devemos preparar as condições para a greve geral já que não é uma paralisação e mobilização, uma greve geral requer a preparação para atingir todas as alavancas da economia. Isso significa fazer assembleias, formar comitês para fazer piquetes, sabotagens, defender-nos da repressão, ou seja, uma greve geral deve colocar em pé uma consigna: Eles ou nós!

Não podemos apenas mobilizar, isso requer desde já preparação e coordenação, porque a greve geral deve unir toda a classe, o desempregado, precarizado, os servidores estatais, aposentados e nesse caminho desde já devemos ir discutindo a necessidade de uma greve geral. Para unir disposições e para saber quem é quem em nossos setores de trabalho, para não sofrer mais fome, há que acabar com a fragilidade, mas uma greve se prepara e deve ser nosso horizonte, e embora hoje não haja condições devemos seguir por esse caminho.

1 https://www.cronista.com/economia-politica/el-desempleo-cayo-al-7-en-el-cuatro-trimestre-del-ano-el-nivel-mas-bajo-en-5-anos/

https://www.revistamercado.do/publicaciones/mercado/salarios-minimos-latam-2022#:~:text=Con%20el%20salario%20m%C3%ADnimo%20general,consumo%20de%20algunos%20productos%20b%C3%A1sicos.

3 https://www.boletinoficial.gob.ar/detalleAviso/primera/263208/20220524

Tradução: Lilian enck

 

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