COP30: o capitalismo verde não salvará o planeta — nem as mulheres
Por: Érika Andreassy
Nos próximos dias, entre 10 e 21 de novembro, a COP30 chegará ao coração da Amazônia cercada de discursos sobre “sustentabilidade”, “inclusão social” e “transição ecológica justa”. Belém será apresentada ao mundo como símbolo da salvação ambiental e da liderança do governo Lula em um suposto “novo modelo de desenvolvimento verde”. Mas, por trás das promessas de conciliar lucro e preservação, o que se prepara é mais uma farsa global para garantir os interesses das multinacionais, dos bancos e das potências imperialistas.
Sob o pretexto de combater as mudanças climáticas, a COP30 reunirá chefes de Estado, grandes empresários e ONGs financiadas pelo capital internacional para renovar o pacto que mantém o planeta e a humanidade reféns da lógica do lucro. E, como sempre, as mulheres trabalhadoras e pobres — especialmente as mulheres negras, indígenas e camponesas — continuarão pagando o preço mais alto da destruição ambiental capitalista.
O capitalismo é a raiz da catástrofe climática
A crise climática não é uma fatalidade. É a consequência direta de um sistema econômico que transforma tudo em mercadoria — inclusive a natureza e a vida humana. A lógica da acumulação capitalista baseia-se na exploração ilimitada do trabalho e dos recursos naturais, ignorando os limites físicos do planeta.
Tampouco a devastação da Amazônia, a contaminação dos rios, as enchentes e as secas são meros “erros de gestão ambiental”, mas expressões do avanço do agronegócio e da condição dependente e semicolonial do país, subordinado às potências imperialistas que ditam as regras da economia mundial.
As mulheres são as primeiras a sentir os efeitos dessa crise. Quando falta água ou comida, somos nós que recorremos a jornadas extenuantes para garantir a sobrevivência de nossos filhos e famílias. Quando a terra é envenenada pelos agrotóxicos ou devastada pela mineração, somos nós as primeiras a sofrermos com as doenças, o desemprego e a violência social que se intensifica com o colapso ambiental. O capitalismo combina, assim, a destruição da natureza com a superexploração do trabalho e a opressão das mulheres.
O feminismo liberal da COP: maquiagem verde para um sistema podre
Nos últimos anos, a ONU e os governos tentam dar um verniz progressista às conferências climáticas. Fala-se em “inclusão de gênero”, em “liderança feminina” e em “empoderamento econômico das mulheres na transição verde”. Mas essa política é apenas uma cortina de fumaça.
Nas mesas de negociação, as vozes que se dizem feministas são, na verdade, representantes do capital: executivas de grandes corporações, ministras de governos conciliadores e dirigentes de ONGs financiadas por empresas poluidoras. Falam em igualdade enquanto mantêm o mesmo modelo de produção que destrói o planeta e explora milhões de mulheres em trabalhos precários e mal pagos.
A “inclusão” da mulher dentro da estrutura do capitalismo não emancipa ninguém — apenas legitima a dominação existente. O verdadeiro feminismo é o das trabalhadoras e oprimidas que lutam contra o sistema que as oprime, e não o das que buscam administrar essa mesma opressão de maneira mais “diversa”.

A Amazônia no centro do saque imperialista
A realização da COP30 em Belém não é um gesto de reconhecimento do papel da Amazônia — é uma operação política e econômica. Os países imperialistas, em especial o imperialismo europeu, tentam se apresentar como defensores da floresta, mas, na prática, buscam controlar seus recursos e transformá-los em ativos financeiros.
O discurso de “preservação” serve para impor novas formas de dependência, através dos mercados de crédito de carbono e dos fundos “verdes” que amarram os países periféricos a mecanismos financeiros internacionais. O Brasil é pressionado a “proteger” a Amazônia, mas continua sendo um dos maiores exportadores de soja, carne e minérios — produtos que devastam o bioma e alimentam os lucros das transnacionais.
O governo Lula-Alckmin tenta se equilibrar entre esses interesses. Fala em “transição ecológica justa”, mas mantém alianças com o agronegócio, a Vale, a Petrobrás e as potências imperialistas. Inclusive com a liberação para que a Petrobrás explore a Margem Equatorial em busca de petróleo, abrindo caminho para outras petroleiras privadas multinacionais.
Na prática, prepara o país para ser vitrine verde do capital internacional, enquanto entrega nossas riquezas e sacrifica o povo trabalhador.
Mulheres na linha de frente da resistência
Apesar de toda essa ofensiva, as mulheres estão entre as principais protagonistas das lutas contra a destruição ambiental e social. São camponesas, indígenas, quilombolas e trabalhadoras urbanas que enfrentam as empresas, os governos e as forças repressivas dos Estados.
Na Amazônia, mulheres das águas, da floresta e do campo lideram resistências contra o agro, o garimpo, as hidrelétricas e a mineração predatória. Nas cidades, professoras, servidoras e operárias se levantam contra os cortes, as privatizações e a carestia. Nas ocupações urbanas e nas periferias enfrentam a repressão policial. Todas se unem na luta contra o machismo, a violência e a desigualdade de gênero. Essas lutas expressam um potencial revolucionário que vai muito além da defesa do meio ambiente: são batalhas pela vida, pela soberania e pela libertação da mulher e da classe trabalhadora.
Por uma saída socialista e internacionalista
Nenhum acordo entre governos e empresas salvará o planeta. O capitalismo verde é uma mentira que busca prolongar a agonia de um sistema moribundo. Não há transição ecológica sem revolução social.
A única saída real passa por romper com a lógica do lucro, expropriar as grandes empresas poluidoras, planificar democraticamente a economia e reorganizar a produção de acordo com as necessidades humanas e os limites naturais. Isso exige uma luta internacionalista, dirigida pela classe trabalhadora e pela revolução socialista.
As mulheres têm um papel decisivo nessa batalha. Não precisamos de cotas nos conselhos empresariais da transição verde. Precisamos derrubar o sistema que destrói nossas vidas e o planeta.
Conclusão
A COP30 será um grande espetáculo de marketing, mas a verdadeira luta pelo futuro da humanidade não se dará em Belém — estará nas ruas, nas greves e nas mobilizações das trabalhadoras e trabalhadores do mundo.
O capitalismo verde não salvará o planeta — nem as mulheres. Só a revolução socialista pode fazê-lo.




