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Quênia

Quênia: Juventude volta as ruas e anima trabalhadores a seguir essa trilha

Reuters
julho 5, 2025

Por: Cesar Neto e J.G. Hata

Introdução:

O Quênia ressurgiu nas manchetes de jornais por conta da s lutas juvenis que se deram no dia 25 de junho. Foi um dia de luta, mas foi suficiente para incendiar o país. Dos 47 estados do país, 27 participaram das mobilizações e mais do que tudo, há uma mudança importante no programa de luta. Em 2024 a reivindicação era a nova lei fiscal. Neste novo ciclo se incorporaram temas como a dívida externa, desemprego na juventude, estado parasitário e acima de tudo fora Ruto.

As mobilizações nacionais que resultaram na morte de 16 ativistas, 400 feridos, sendo 83 em estado grave. O resultado das mobilizações de 2024 é que animou aos trabalhadores entrarem em luta. Assim que, médicos, enfermeiros e carteiros se mobilizam pelas suas demandas especificas. Até mesmo a chamada agricultura familiar boicotou durante mais de uma semana as grandes empresas compradoras de chá, o principal item de exportação do país.

Herança colonial

A dominação inglesa foi executada com violência praticada pelo exército de ocupação britânico, limpeza étnica, campos de concentração e extermínio de ativistas. A luta pro independência iniciada no anos 50 do século passado foi reprimida com os mesmo métodos e armas utilizadas na II Guerra Mundial pelo Exército britânico contra a população civil.

Independência e 62 anos de ditadura

Em 1963, após mais de uma década de lutas, o Quênia tornou-se um estado relativamente independente. Relativamente pois a independência foi restritas aos aspectos políticos, e do ponto de vista econômico seguiria atrelados ao britânicos através da Commonwealth of Nations. Desde a independência o país só conheceu presidentes longevos e bonapartista. Gomo Kenyatta (1963-1978), Daniel Arap Moi (1978-2002), Mwai Kibaki (2002-2013), Uhuru Kenyatta (2013-2022) e William Ruto (desde 2022)

Um país moldado por governos bonapartistas

Desde a independência em 1963, o Quênia vem sendo governado por distintos governos bonapartistas, que controlam o Estado através de uma das policias mais repressivas do continente e um judiciário atrelado ao governo de plantão. O modelo policial militar do Quênia se parece ao SARS da Nigéria ou a força policial militarizada da África do Sul.

A polícia do Quênia e da Nigéria são a continuidade da polícia colonial, assim como, a polícia da África do Sul é continuidade da polícia herdada dos tempos do apartheid.

Jomo kenyatta, pan-africanista, primeiro presidente e criador do bonapartismo

 Conferência de Manchester de 1945, também conhecida como o 5º Congresso Pan-Africano, contou com a presença de três jovens que mais tarde viriam a ser presidentes de seus paíse: Jomo Kenyatta, Hastings Kamuzu Banda e Kwame Nkrumah, Kenya, Malawi e Gana, respectivamente. Em 1966, Kenyatta mudou a Constituição dando-lhe mais poderes para governar. Seu governo é acusado pelo assassinato de oposicionistas, entre eles: Pio Gama Pinto, Tom Mboya e Josiah Mwangi Kariuki e de provocar acidente automobilístico no qual morreram e Chiedo Moa Gem Argwings-Kodhek e de Ronald Ngala.

As heroicas luta juvenis de 2024[1]

No dia 18 de junho foi dado início a uma onda mobilizações contra a elevação de impostos para gerar divisas e pagar a dívida pública.  Wiliam Ruto, presidente desde 2022 e ex-membro da milícia de direita Youth for Kanu (YK92) durante a ditadura de Moi, agiu rápido e começou a repressão.  Foram mais de 60 mortos, centenas de feridos. Foram três semanas de heroicas mobilizações, Ruto foi obrigado em primeiro lugar retirar o projeto de lei que aumentava os impostos, mas o movimento exigia muito mais. Exigia Fora Ruto e este para tentar se salvar demitiu seus ministros, assessores e o próprio Procurador Geral. Mesmo com esse recuo a crise não acabou.

Os estudantes voltam as ruas e com mais força

No dia 25 de junho milhares de jovens saíram às ruas para relembrar as manifestações do ano anterior. Desta vez a bandeira principal era contra a violência policial mas se combinava com outras reivindicações econômicas e sociais, que se articulava com o Fora Ruto! No ano anterior foram três semanas de mobilizações, neste ano, foi apenas um dia e mesmo assim William Ruto, estremeceu.  Apesar da violenta repressão 16 mortos e 400 feridos, a participação desta vez foi muito maior e se estendeu por mais da metade dos estados.

As manifestações de 2024 deram animo para os trabalhadores. Os trabalhadores deram ânimo aos estudantes

Depois das manifestações de junho de 2024 começou no país um período de importantes lutas.

O Sindicato de Oficiais Clínicos do Quênia organizou greve pela padronização salarial, cobertura médica abrangente e contratação de trabalhadores precarizados; A nível dos estados houveram outras greves medicas por demandas especificas.

O Sindicato dos Trabalhadores da Comunicação do Quênia (COWU) organizou greve contra Corporação Postal do Quênia por causa de quatro meses de atraso nos salários

O Sindicato dos Funcionários da Universidade do Quênia, subsede da Universidade Moi, estão em mobilização dado aquilo que eles chamam de um quadro sombrio de colapso institucional, com  cortes de empregos estáveis, salários atrasados e Acordos de Negociação Coletiva (ANC) não cumpridos.

As enfermeiras representadas pelo Sindicato Nacional de Enfermeiros e Parteiras do Quênia (KNUNM) estão se mobilizando para iniciar greve no dia 3 de agosto.

Os pequenos produtores de chá também estão mobilizados,  boicotaram a colheita e o fornecimento de folhas verdes para duas fábrica vinculadas a Kapkoros Tea Factory PLC.,

Mudanças importantes na conjuntura

William Ruto, após as manifestações de 2024, tratou de reorganizar seu governo incorporando o principal personagem da oposição,  Raila Odinga e construindo um governo de unidade nacional. Só faltou combinar com os jovens e os trabalhadores conforme se vê no relato acima.

As lutas de junho de 2024 abriram crise no governo, mas ao mesmo tempo incentivou outros setores a saírem em luta. A recente mobilização de 25 de junho sinaliza que a correlação de forças, apesar da violência policial e da criminalização das lutas, segue aumentando na medida que a crise econômica aumenta ainda mais o desemprego e se combina com a inflação dos alimentos. A repressão policial também é outro elemento explosivo da conjuntura queniana. A Federação Internacional de Jornalistas denuncia a prisão de arbitrária de quatro jornalistas tido como de oposição, além de que os canais de TV foram tirados do ar para não poder notícias as marchas juvenis.

As tarefas que estão colocadas para a vanguarda e para o movimento de massas.

Em primeiro lugar é preciso derrotar William Ruto e enterrar a tradição bonapartista que vive o país desde sua independência há sessenta e três anos

Além disso é preciso reorganizar o arcabouço jurídico do país com a Convocação de Assembleia Constituinte, com total liberdade de organização política, com eleições financiado pelo Estado e proibição de financiamento privado das eleições. A atual Constituição e o sistema de lei representam os anos de governos de forte repressão aos trabalhadores e a juventude. Um país sem William Ruto e seus capangas e com democratização do país que impunha investigação, julgamento e punição aos assassinos dos que lutam por direitos.

E a tarefas das tarefas é a construção de um partido revolucionário que aponte para a construção de um governo dos trabalhadores.


[1] Quênia A exemplar luta dos jovens pelo: Fora Ruto – https://litci.org/pt/2024/07/21/quenia-a-exemplar-luta-dos-jovens-pelo-fora-ruto/?utm_source=copylink&utm_medium=browser

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