Fascistas atacam imigrantes. Construir nossa resistência e autodefesa!
Por: Jim Stead – ISL Inglaterra
No dia 3 de agosto, cidades em todo o Reino Unido entraram em confronto com forças de combate de rua atacando mesquitas, centros urbanos, uma biblioteca, hotéis de asilo e nossas ruas. Atacaram mesquitas, centros urbanos, bibliotecas, hotéis de asilo e nossas ruas. Envoltos em bandeiras britânicas, gritaram que estavam “protegendo a soberania da Grã-Bretanha”, “protegendo nossos filhos”, exigindo “deter os barcos e a imigração”, a mesma mensagem dos conservadores e do Partido “Reform”, de extrema-direita, que obteve 13% dos votos e agora tem cinco deputados no Parlamento. No entanto, como Liz Fekete, do Instituto de Relações Raciais, diz com razão, “o problema que enfrentamos hoje é um fascismo que tem sua semente no racismo e na islamofobia, na fragmentação e no colapso da sociedade, na política divisionista e na generalização do ódio”.
Os grupos de extrema-direita e fascistas e o líder do Partido “Reform” de extrema-direita, Nigel Farage, exploram repugnantemente o trágico e horrível assassinato de Bebe King, de 6 anos, Elsie Dot Stancombe, de 7 anos, e Alice Dasilva Aguiar, de 9 anos, em um clube de férias temático de Taylor Swift ,para crianças do ensino fundamental em Southport, Merseyside, no qual outras 8 crianças e 2 adultos também ficaram gravemente feridos.
Espalharam desinformação e mentiras que levaram a um ataque violento a uma mesquita de Southport, resultando em 50 policiais feridos apenas 36 horas após a tragédia, forçando a mãe de Elsie Dot Stancombe a fazer um apelo para “parar a violência”.
Violência generalizada
Posteriormente, ao longo da última semana, povoados e cidades testemunharam tumultos violentos e islamofóbicos generalizados. A organização antirracista Hope Not Hate rastreou planos de 35 protestos, incluindo os de Londres, Hartlepool, Sheffield,Manchester, Bristol,Aldershot e Sunderland.
Negros estão sendo brutalmente atacados enquanto caminham pelas ruas, em Hull, os provocadores pararam um carro e arrastaram para fora duas pessoas gritando “mate-os”, gravado em vídeo. Os fascistas se reuniram para semear o caos, mas foram superados em número pelas pessoas que se uniram para defender suas comunidades.
Em Liverpool, 700 antifascistas se reuniram para apoiar o povo de Southport. Em seguida, 100 pessoas marcharam em defesa das comunidades imigrantes, muçulmanas e negras. No entanto, sem batedores para avisá-los do que os esperava, eles marcharam para um beco sem saída onde 750 fascistas se reuniram em uma extremidade. Os fascistas então enviaram seus capangas para a retaguarda, e esquadrões de assalto (cerca de cinco vestidos de preto) avançaram sobre a multidão antifascista. É evidente que os “esquadrões de assalto” receberam treinamento antes do evento e atacaram as pessoas por trás, chutando seus joelhos e derrubando-os ao chão. Também atacaram a polícia. Os fascistas tinham uma vara longa para atacar os antifascistas ou a polícia, uma tática semelhante foi usada em Sunderland.
Em Liverpool, 2 ou 3 homens mais elegantemente vestidos foram vistos usando telefones celulares e orientando os jovens para onde ir, não foi simplesmente uma revolta espontânea.
Houve um ressurgimento do movimento fascista após a votação no partido de extrema-direita “Reform” de Farage. Mas também há alguns contextos a serem considerados, como a normalização da islamofobia e da anti-imigração pelo governo conservador e seu fracasso em derrotar as ondas de greves dos trabalhadores e o contínuo movimento em apoio à Palestina que teve vitórias como deter a produção de armas e a continuação da campanha BDS.
No sábado, tumultos racistas em todo o país por parte da extrema direita e fascistas envolveram forças de combate de rua treinadas e organizadas que assumiram o controle do centro da cidade de Liverpool, expulsando pessoas e atacando lojas, derrubando uma barraca onde o Alcorão gratuito era distribuído e durante a noite, incendiaram uma biblioteca local na área de Walton. Outras cidades, incluindo Sunderland, enfrentaram a mesma violência racista.
A última semana mostrou o quanto a Grã-Bretanha decaiu, com hordas de provocadores incendiando cidades, atacando violentamente pessoas de cor, imigrantes, mesquitas e nossos serviços públicos, tudo ao mesmo tempo. Essa força fascista não se deterá e atacará a classe operária organizada, apesar de que no momento se concentra em muçulmanos, imigrantes e requerentes de asilo.
Capitalistas muito ricos, como Elon Musk, incentivam pessoas como Tommy Robinson a usar a plataforma de mídia social X, proporcionando uma maior capacidade de espalhar mentiras e desinformação de forma instantânea e ampla e incitar tumultos.
Autodefesa
Após os distúrbios, vimos as comunidades irem às ruas para defender as mesquitas e requerentes de asilo e limparem o caos da extrema direita, demonstrando tradições antirracistas e antifascistas enraizadas na defesa, solidariedade e cuidado da comunidade.
Os policiais não tinham permissão para usar spray de pimenta ou armas de choque (apenas como último recurso) e, em muitos lugares, eram superados em número pelos provocadores. Isso significa que temos que organizar e construir nossa própria autodefesa.
Temos que propor em todos os lugares a necessidade da autodefesa de nossas comunidades, que também deve ser organizada dentro do movimento sindical. Stand Up To Racism (SWP), que dirigiu a manifestação antirracista e liderou a marcha diretamente ao caminho dos fascistas, sem um plano para proteger aqueles que estavam na marcha, demonstrando que precisamos desenvolver nossa estratégia e táticas para defender e unir a classe, em nossas comunidades, com nossos sindicatos e com todos os grupos oprimidos, para derrotar os fascistas.
Inicialmente, a polícia informou que “ambos os lados” estavam invadindo os centros das cidades, mas imagens generalizadas de tumultos racistas e islamofóbicos os forçaram a retirar essa alegação. No entanto, a polícia não é confiável e pode usar situações para minar nossa força nas ruas, já que por muito tempo os protestos antirracistas e antifascistas foram equiparados com os fascistas.
A luta pela Palestina, pela defesa dos imigrantes e requerentes de asilo e as marchas antirracistas e antifascistas precisam ser capazes de se defenderem dos ataques. Os fascistas usarão seus esquadrões de assalto rápidos para atingir indivíduos ou tentar separar os ativistas em grupos menores.
Onde e quando nos manifestamos, precisa de uma preparação cuidadosa, que tipo de espaço queremos, nunca devemos deixar que os fascistas decidam onde um confronto ocorre. Precisamos de um amplo debate sobre como derrotar os fascistas. Uma parte fundamental disso é a formação em autodefesa.
Precisamos da mais completa aliança de grupos comunitários e sindicatos, e isso precisa acontecer o quanto antes. Houve palestrantes e representantes sindicais, incluindo RMT (transporte), FBU (bombeiros), PCS (funcionários públicos), UCU (universidades), Liverpool TUC e Students of Alareer Square. Mas tem que haver mais pessoas, as bases têm que se mobilizar.
Devemos discutir como proteger as manifestações, usando batedores e como proceder. Quando os “camisas negras” atacaram a manifestação em Liverpool, pegaram as pessoas de surpresa e não houve defesa. Eles estão comprometidos com a violência e o terror, com níveis crescentes de violência, por isso temos que debater cuidadosamente o assunto. Ontem atiraram garrafas e tijolos, incendiaram coisas, atacaram violentamente as pessoas. Portanto, não podemos parar nossas manifestações, mas devemos debater como construir nossas defesas e garantir a segurança de nossas comunidades.
A proteção também é uma questão política. Essas pessoas não são apenas bandidos e incentivadores de terror, sua definição não é que sejam pessoas desagradáveis e cruéis, mas que são uma força de classe fazendo um trabalho para o capitalismo em sua decadência. Os fascistas querem construir uma força atacando muçulmanos e imigrantes agora, para que possam enfrentar a classe operária e suas organizações no futuro, tal como fazem na França e na Alemanha.
O Partido Trabalhista não derrotará os fascistas
Em uma coletiva de imprensa em Downing Street em 1º de agosto, Keir Starmer, primeiro-ministro, reconheceu que o problema era a extrema direita, mas rapidamente mudou de assunto para a ameaça de “criminalidade” e “intimidação”. Starmer quer criar uma nova “capacidade” nacional em todas as forças policiais para combater a desordem violenta em todo o “espectro ideológico”. (i)
Os trabalhistas estão usando a violência fascista na tentativa de legitimar os atuais poderes repressivos contra os protestos. Starmer disse que era “uma resposta ao desafio imediato, que é nitidamente impulsionado pelo ódio da extrema-direita. Mas também a todas as desordens violentas que eclodem.”[ii] Esses poderes não serão usados apenas contra alguns racistas e fascistas. Mas contra aqueles que defendem suas comunidades.
Em 2 de agosto, David Hanson, secretário do Interior, declarou: “Na minha opinião, alguns indivíduos terão visões de extrema direita, alguns poderiam ser pegos na loucura do verão. Alguns podem ser pessoas que têm preocupações genuínas. Quaisquer que sejam essas preocupações, existem mecanismos para que eles possam apresentá-las a seus deputados, protestem pacificamente e avancem com essas questões”[iii].
Assim, enquanto a extrema direita e os fascistas aterrorizam as pessoas comuns nas ruas, um ministro trabalhista diz que os racistas e fascistas têm preocupações legítimas.
Para entender os ataques contra muçulmanos e imigrantes são cruciais as décadas em que os conservadores e trabalhistas eliminaram os direitos dos requerentes de asilo, e o novo governo trabalhista começou a prometer iniciar deportações em massa, com a mesma retórica e políticas anti-imigração do governo conservador.
Junto com isso, 14 anos de austeridade, com cortes contínuos e serviços privatizados. A pobreza infantil acelerou dramaticamente: a maioria das crianças que vivem na pobreza vive em uma casa com adultos que trabalham. Isso afeta uma classe trabalhadora diversa que enfrenta a crise do custo de vida.
Não há falta de riqueza na Grã-Bretanha. Durante o mandato dos conservadores, a riqueza das dez pessoas mais ricas do país passou de £ 47 bilhões para £ 182 bilhões, um aumento de 281%. Abolir o limite de dois filhos custaria £ 1,7 bilhão, mas o Partido Trabalhista está mantendo o limite conservador de dois filhos.
Rachel Reeves, ministra da Fazenda, disse que a principal razão para considerar qualquer aumento salarial era “o custo da greve”. Essa frase mostra que a ameaça de ação sindical, como na onda de greves de 2022/23, continua sendo uma arma poderosa. Mostra que a classe operária tem o poder de derrotar as grandes empresas, os governos, a extrema direita e as forças fascistas. O governo trabalhista deve revogar todas as leis antissindicais.
O Partido Trabalhista tem que ser substituído por um partido operário que esteja profundamente ligado à classe operária, a todos os oprimidos e à juventude. Tal partido deve aspirar à nacionalização dos serviços e colocar as grandes empresas sob o controle direto da classe operária. A luta para construir uma alternativa operária é imperativa, e a construção de uma alternativa revolucionária deve continuar.
Todos os imigrantes são bem-vindos aqui!
Construir nossa autodefesa
Construir um futuro para nossa juventude – acabar com o trabalho precarizado
Nacionalizar as grandes empresas sob controle operário
[i] https://www.theguardian.com/politics/live/2024/aug/02/riots-southport-attack-far-right-keir-starmer-uk-politics-live
[ii] https://www.theguardian.com/uk-news/article/2024/aug/01/far-right-riots-keir-starmer-announce-new-violent-disorder-unit
[iii] https://www.theguardian.com/politics/live/2024/aug/02/riots-southport-attack-far-right-keir-starmer-uk-politics-live
Tradução: Lílian Enck