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Estado Espanhol

Estado espanhol: como combater a extrema direita?

Presidente do Vox, Santiago Abascal, EFE/Jesús Monroy
maio 30, 2023

Desde que o VOX pisou na arena eleitoral, o centro das campanhas da esquerda institucional estatal (PSOE, UP, Más País) tem sido apelar ao voto para que seus partidos estabeleçam um “cordão sanitário contra o fascismo”, enquanto um setor do PP deu uma guinada ultradireitista para aproveitar esse novo espaço eleitoral, tendo Ayuso como seu maior expoente. Se a esquerda parlamentar instrumentaliza o perigo da ultradireita, para o VOX e seus afins é vantajoso serem identificados como contrários a um governo sob o qual o risco de pobreza aumentou um ponto em 2022 e chegou a 27,8% da população. Parece que ambos os lados ganham com a existência do outro.

Por:  Ame Luna

Por que a extrema direita está crescendo?

Em apenas 3 anos, os votos obtidos pelo VOX nas eleições gerais cresceram de forma impressionante: de 47.182 nas Eleições de 2016 para 2.664.325 e 3.640.063 respectivamente no primeiro e segundo turnos das eleições gerais de 2019. O VOX solidificou sua popularidade em oposição à esquerda parlamentar que havia apoiado a moção de censura contra Rajoy para dar lugar ao PSOE, com Pedro Sánchez à frente. Por sua vez, Ayuso obteve quase um milhão de votos a mais nas eleições de 2021 do que nas eleições de 2019, também em oposição ao governo central PSOE-UP.

Se focarmos nas Eleições Gerais de 2019, não só é relevante a vertiginosa ascensão do VOX, mas também o fato de a participação no segundo turno ter caído 6 pontos (atingindo o mínimo histórico desde o fim do franquismo), o que mostra que a polarização política não se traduz apenas no crescimento da ultradireita, mas também no aumento da desconfiança na democracia parlamentar.

A polarização social, da qual o crescimento da ultradireita é só um sintoma (os crescentes conflitos trabalhistas também são), é consequência da falsa recuperação econômica que desde a crise de 2007-2008 foi afogando a classe trabalhadora e a pequena empresa. Desde então passamos por 3 Reformas Trabalhistas (PSOE, PP, PSOE-UP respectivamente) que padronizaram salários de pobreza por meio de contratos de meio período e temporários (nos quais incluímos aos fixos-descontínuos). Sofremos ainda o aumento da idade de reforma de 62 para 67 anos e o desinvestimento/privatização dos Serviços Públicos, que desde a alteração do artigo 135 da Constituição pelo PSOE de Zapatero, têm sofrido um agravamento alarmante. Até hoje e sob o “governo mais progressista da história”, a inflação galopante devora nossos salários enquanto empresas de eletricidade, bancos e supermercados alcançam lucros recordes.

Se entendermos o crescimento do VOX em oposição a uma “esquerda” que mantém a maioria na precariedade, podemos explicar sua presença no governo da Andaluzia após quase 40 anos de governos do PSOE.

Embora, sim, o que estamos enfrentando seja o fascismo, como afirma a esquerda parlamentar, parece que votar nessa esquerda, mesmo com o nariz entupido, é um “mal menor” que temos que assumir, para evitar o grande “mal maior”

Fascismo é o mesmo que extrema-direita?

O fascismo é um fenômeno de massa através do qual a burguesia arma camadas empobrecidas da população para atacar o movimento operário quando o mesmo representa uma ameaça à propriedade privada capitalista no desenvolvimento da luta de classes. Por isso, hoje não podemos afirmar que o VOX ou o mais rançoso PP suponham fascismo, a caracterização errônea que a esquerda parlamentar faz serve apenas a seus próprios propósitos eleitorais, que retroalimentam os da extrema direita.

Não queremos subestimar a essência reacionária de projetos de extrema-direita como o do VOX ou figuras como Isabel Díaz Ayuso, especialmente no contexto do Estado espanhol, em que o direito institucional representa a continuidade política do poder econômico forjado pela repressão e exploração durante o franquismo, com a aprovação de uma esquerda parlamentar que, desde a Transição, e de mãos dadas com a burocracia sindical, tem servido de barragem de contenção do movimento operário e popular, em troca de sua cota nas instituições.

Dizemos que a extrema direita é reacionária na medida em que desempenha um papel divisão na classe trabalhadora. Seu programa coloca os grupos oprimidos (migrantes, mulheres, LGTBI) como bode expiatório diante da miséria geral a que o capitalismo nos condena, da qual, como vimos, a esquerda institucional também é guardiã.

Além disso, a extrema direita ataca descaradamente as liberdades democráticas que a luta de classes vem arrancando do Estado capitalista, liberdades que, embora parciais pelos próprios limites materiais impostos pelo sistema, facilitam uma organização independente da classe trabalhadora. Um exemplo disso seria o direito ao aborto. A tentativa do governo de coalizão PP-VOX de Castilla y la Mancha de impor às mulheres que quisessem abortar ouvir o batimento cardíaco do feto tem a ver com o atentado a um direito que, embora o Estado contemple parcialmente, não garante integralmente, já que é um serviço altamente privatizado para o qual governos de todos os matizes não estão dispostos a investir. A tentativa do PP-VOX de atacar esse direito, já parcial, é atacar a autonomia da mulher trabalhadora e, portanto, também sua autonomia política.

É suficiente votar no “mal menor”?

Como vimos explicando, a extrema direita se consolida em oposição a uma suposta esquerda que não acaba com os problemas sociais da maioria. Derrotar a extrema-direita nas urnas não é suficiente. Sem acabar com as condições sociais que permitem o fortalecimento da direita e da extrema direita, ela continuará presente. Uma suposta esquerda que garante a manutenção das classes sociais e que não propõe a transformação socialista da economia, sempre dará oxigênio político à extrema direita.

Para a Corriente Roja, a arma mais poderosa de que dispõe a classe trabalhadora é sua organização independente, não só contra a ultradireita e o fascismo, mas também contra os governos que, em nome do progressismo, aplicam políticas de fome que atiçam a chama reacionária entre as massas que sem uma verdadeira alternativa socialista, aceitam a falsa saída do racismo, da LGBTIfobia e do machismo.

É somente a luta organizada da classe trabalhadora, garantindo sua autodefesa como na Grécia e sua luta incansável contra o ajuste patronal, que aniquilou a Aurora Dourada pelo caminho, que pode enfrentar a ultradireita e o fascismo, acabando pela raiz com o retrocesso, a decadência e a barbárie a que nos condenam este regime e este sistema económico, que são o viveiro de ideologias reacionárias. Uma luta organizada e politicamente independente da burguesia, que coloque todos os seus governos e formas de dominação na corda bamba.

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