Situação das mulheres em Honduras
Historicamente, Honduras se caracterizou por ocupar os primeiros lugares na pobreza, sendo acompanhada nessas posições pela Guatemala e pelo Haiti, segundo estudos da CEPAL para a América Latina.
Segundo estes estudos, a situação é preocupante para este país, uma vez que os níveis de pobreza se aprofundaram no pós-pandemia e embora se verifique um crescimento do Produto Interno Bruto em 2022 de 0,9% superior ao de 2021, em relação às condições de vida continuam a deteriorar-se para a maioria dos habitantes deste país, o que reflete o aprofundamento da enorme desigualdade onde, enquanto uns poucos continuam a enriquecer-se à mão-cheia, a grande maioria continua a empobrecer rapidamente.
O que é gerado pela produção é em grande parte consumido pela corrupção generalizada e entronizada no país e pela dívida que triplicou durante a pandemia. E uma alta porcentagem do PIB é para pagar dívidas externas e internas, só em 2022 foram pagos 575 milhões de dólares por serviço da dívida, pelo qual já se tornou impagável e 40% da população hondurenha está abaixo da linha da pobreza. A situação é ainda mais grave após os furacões em Honduras e a pandemia, antes desses impactos, 25% viviam em extrema pobreza.
As mulheres em Honduras são as que mais encarnam e sofrem com a pobreza e representam 53% da população, dos quais 38,2% são chefes de família, mães solteiras que devem arriscar suas vidas para conseguir o sustento de seus filhos, dados os altos índices de irresponsabilidade dos pais em um país onde não há e nunca houve uma política de assistência à infância, além de enfrentarem uma alta taxa de desemprego e altos níveis de violência e criminalidade.
Com a Pandemia em Honduras e durante o confinamento, foi quando mais reclamações e pedidos de ajuda foram recebidos nas linhas telefônicas de mulheres diante dos altos números de violência doméstica, abuso sexual e de todos os tipos, sem ter tido respostas adequadas ante essa escalada da violência contra mulheres e meninas.
De 2020 a 2023, a situação ficou ainda mais difícil para as mulheres, pois são elas que mais perderam seus empregos na pandemia com o fechamento das fábricas. São mulheres a maioria que trabalham e considerando, além disso, a grande desigualdade salarial
A população feminina em Honduras em idade produtiva é de 3,5 milhões, desse 1 milhão 700 mil estão trabalhando enquanto os homens atingem mais de 2 milhões 300 mil que estão trabalhando, em percentuais 10,7% das mulheres estão desempregadas enquanto para os homens há 7,3% desempregados, e de cada 10 desalentadas por falta de emprego, 6 são mulheres.
Segundo fontes empresariais, são necessários 132 anos para alcançar a paridade salarial entre homens e mulheres e, segundo essas mesmas fontes, a participação das mulheres produz um crescimento econômico mais rápido no lar, por isso é necessário promover mais a participação das mulheres e melhorar a renda familiar.
A grande crise econômica e inflacionária que assola a economia mundial é mais sofrida pelos países pobres e nestes sofrem diretamente as mulheres. Em Honduras, onde a cesta básica se tornou inalcançável para a grande maioria, e onde a falta de emprego torna a situação mais precária, as mulheres são as primeiras a liderar as fileiras dos migrantes, especialmente para os Estados Unidos com seus filhos nas costas, correndo o risco de deixá-los à deriva à custa de uma violência insuportável.
Em Honduras, uma em cada três mulheres sofre algum tipo de violência e até agora, em 2023, foram cerca de 70 mulheres assassinadas diante de autoridades cegas, surdas e indiferentes à grave onda de violência em todo o país. Todos os dias se registram mortes violentas de mulheres, em sua maioria jovens, e até agora não se viu vontade de atacar o problema ou que a justiça seja feita na maioria dos casos, pois há medo de denunciar por falta de credibilidade nas autoridades ou nos operadores da justiça.
Em Honduras, foi declarado estado de emergência em diferentes bairros e colônias das principais cidades do país, 73 municípios e 162 bairros sob o pretexto de atacar a onda imparável de mortes e extorsões que mantém o país em um completo estado de inseguridade e mesmo com a militarização das cidades onde a polícia e agora os militares circulam pelas ruas, a situação continua muito perigosa a ponto de, mesmo com todas essas medidas, as mortes violentas de mulheres continuarem na ordem do dia.
Diante dessa grave situação em que as mulheres sofrem desigualdade, desemprego, morte, violências de todos os tipos e são mais vulneráveis, continuamos esperando e ouvindo as palavras da primeira mulher presidente do país, nas quais se comprometeu e disse: mulheres de Honduras, não vou falhar com vocês!
Da mesma maneira os direitos sexuais e reprodutivos de mulheres e meninas permanecem estagnados. Honduras foi o único país das Américas onde a Pílula Anticoncepcional de Emergência-PAE foi proibida em todas as suas dimensões. Foi até o passado 20 de janeiro que o PAE entrou em vigor apenas para as sobreviventes de violência sexual, para todas as demais o PAE continua sendo proibido. Enquanto a legalização do aborto continua sendo uma questão não submetida à discussão, desde 2021 o Congresso Nacional reformou o artigo 67 para blindar a questão do aborto sem qualquer possibilidade de sua legalização.
Depois de mais de um ano do governo de Xiomara Castro, há mais mulheres nos cargos públicos, mais mulheres no Congresso, mais mulheres na magistratura, mas este continua a ser um grupo privilegiado que responde aos interesses da classe dominante. As mulheres, em sua grande maioria ainda não vê uma queda no custo de vida, o fim da violência assassina contra a mulher, o respeito às leis trabalhistas e todos os benefícios tão esperados de ter uma mulher como presidente que colocou em seu governo toda a família e que, quando sai do país, deixa o marido no cargo para governar na sua ausência.