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Grã-Bretanha

Coordenar as greves! Truss tem que cair!

outubro 19, 2022


Como pode a nova Primeira-Ministra Conservadora, Liz Truss, tornar-se tão impopular em questão de semanas, não só perante os trabalhadores e setores da classe média, mas também perante muitos parlamentares Tory (que temem por seus cargos) e aqueles que governam este planeta?

Por: International Socialist League (ISL) – Grã-Betanha

Truss modelou-se em Margaret Thatcher [1], ela ama o “livre mercado” e tem laços estreitos com o neoliberal Instituto de Assuntos Econômicos e o Instituto Adam Smith. O FMI e o Banco Mundial apoiam isso, mas Truss expressou a ganância nua e crua do capital financeiro britânico – enriquecer rapidamente e empobrecer os trabalhadores.

Seu plano fiscal levou os mercados mundiais ao caos, piorou a situação dos detentores de hipotecas e o valor da libra contra o dólar caiu para um mínimo histórico. Os fundos de pensão britânicos tinham um enorme investimento em títulos do governo que rapidamente se tornaram inúteis e o Banco da Inglaterra teve que comprar bilhões de títulos, para evitar o colapso destes fundos.

As cadeias de abastecimento, a inflação, a invasão russa da Ucrânia e a fraqueza da economia britânica estão minando a capacidade de Truss de enriquecer os ricos e atacar os pobres ao ritmo que ela queria.

O FMI temia que a agitação se espalhasse para outros países, uma classe trabalhadora em ascensão e uma onda de greves. Após mais de 40 anos de aplicação de leis antissindicais com a omissão das burocracias sindicais que se recusaram a lutar, a classe dominante britânica pensou que tinha os trabalhadores sob controle. Mas, a cólera por causa da crise do custo de vida e dos baixos salários empurrou os sindicatos para uma forte onda de greves.

Kwasi Kwarteng, ministros das Finanças por apenas um mês, foi demitido enquanto estava nos EUA. Ele foi imediatamente substituído por Jeremy Hunt, candidato derrotado à liderança Tory (o Partido Conservador) por duas vezes, conhecido por seu longo mandato como Secretário da Saúde em gabinetes anteriores.

Mudando o ataque


Hunt está planejando cortes drásticos nos gastos públicos e combaterá os aumentos salariais vinculados à inflação. A onda de greves tem que continuar crescendo até a organização de uma greve geral, que é a única maneira de parar seus planos.

O Banco da Inglaterra planeja aumentar ainda mais as taxas de juros para “controlar” a inflação. Assim, o custo dos empréstimos e dos juros da dívida vai disparar.

O aprofundamento da guerra de classes é precisamente o motivo pelo qual centenas de milhares de trabalhadores participam dos piquetes de greves e manifestações de ruas. O objetivo de Hunt é implantar uma nova política de austeridade, ameaçando todos os serviços públicos. A luta dos trabalhadores ajudou a derrubar Boris Johnson, e pode derrubar o governo Tory.

TUC em retirada

Enquanto as greves são fortes em todo o país e determinadas a vencer, o TUC (a central sindical britânica) tenta esquivar-se de um movimento de greve coordenado e unificado. Entretanto, há três moções que pedem uma ação de greve coordenada no congresso do TUC que se inicia em 15 de outubro.

A base sindical deve exigir que sua liderança não apenas construa uma ação coordenada em todos os sindicatos, mas discuta em suas regionais a necessidade de uma greve geral. As bases precisam construir comitês intersindicais ou usar os Comitês Sindicais do TUC existentes para reavivar ou criar novos vínculos entre locais de trabalho e setores.

As burocracias sindicais criaram três campanhas para dividir a luta grevista e controlá-la: Enough is Enough (EiE), liderada pelos deputados da esquerda trabalhista e a liderança do sindicato dos trabalhadores dos correios (CWU), We Demand Better, liderada pelo TUC, e Unite for a Workers Economy, do sindicato Unite.

As exigências da EiE são por um aumento real do salário, redução das contas de energia, acabar com a pobreza alimentar, casas decentes para todos e tributação dos ricos. Mas, a classe trabalhadora tem que ir além disso e construir greves coordenadas para transformá-las em uma greve geral. Cada exigência questiona quem controla as empresas de gás, petróleo, alimentos e construção. Mas é necessário explicar como estas demandas podem ser conquistadas. Tributar os ricos ao máximo significa desafiar a classe dominante e sobrepor-se àqueles que dominam o Parlamento, tanto no Partido Tory quanto no Partido Trabalhista.

Nenhum dos líderes sindicais ou deputados trabalhistas de esquerda exigem uma greve geral e a ideia de construir um movimento de greve internacional nunca é sequer pensada.

É necessário que haja uma luta pela democracia sindical plena que vise impedir o controle a partir do topo e que haja organizações intersindicais para uma greve geral, para que a classe possa agir como uma só classe e mobilizar as comunidades e setores oprimidos. Conseguir uma moradia de baixo custo para todos significa um programa de moradia em massa. Isto tem que ser uma luta da classe trabalhadora em seus bairros e sindicatos, especialmente do setor de construção.

Um sistema mundial disfuncional


A inflação é um fenômeno internacional originado pelos desequilíbrios próprios do capitalismo mundial.

Como lemos no Financial Times,

Os indicadores de confiança caíram acentuadamente e estão em mínimos históricos desde que o índice começou, há mais de uma década, em países como os EUA, Reino Unido e China. Nas economias emergentes, que estão mais expostas ao aumento dos preços dos alimentos e da energia, a confiança caiu ainda mais bruscamente. A Índia é a única grande economia do mundo descrita como uma ‘estrela solitária’, com indicadores que apontam para um crescimento robusto neste ano e no próximo. O resto das grandes economias do mundo estão lutando contra problemas econômicos crescentes…” [2]

O aumento da inflação não foi causado pelos salários; os trabalhadores britânicos tiveram aumentos abaixo da inflação ou mesmo congelamentos salariais desde 2010. Entretanto, “os principais bancos centrais estão aplicando sua própria ‘terapia de choque’ na economia mundial, com a intenção de aumentar as taxas de juros para controlar a inflação, apesar da crescente evidência de que isto levará a uma recessão global no próximo ano”. [3]

A principal política dos líderes imperialistas é evitar o aumento dos salários e deixar o desemprego aumentar. Milhões de libras de lucro são pagas aos acionistas enquanto o valor real dos salários dos trabalhadores vem caindo há mais de uma década.

Os trabalhadores e a resposta socialista


O Governo Tory na Grã-Bretanha liderou a ofensiva mundial contra a classe trabalhadora e suas organizações nos anos 80. Ideologicamente, foi a propagação do liberalismo econômico contra o keynesianismo, todas as formas de socialismo, e as lutas dos trabalhadores.

Em uma guerra crescente pelos mercados mundiais, com uma superacumulação de capital e mercadorias, os governantes capitalistas realizam um programa frenético de redução dos custos do trabalho e aumento do ritmo. Eles utilizam trabalhadores de um país contra os de outro, trabalhadores de um setor contra os de outro, trabalhadores de uma fábrica contra os de outras, e até mesmo trabalhadores de uma mesma fábrica que fazem o mesmo trabalho, mas com salários e condições diferentes.

A quantia paga aos acionistas desde as privatizações daquela década chega a muitos bilhões de libras; eles ganharam seu dinheiro às custas da saúde e segurança e dos salários e direitos dos trabalhadores por muitos anos.

Durante muitos anos, os burocratas trabalhistas e sindicais entraram em uma aliança de classe conjunta com proprietários capitalistas, deixando ativistas de base realizarem apenas ações defensivas sem uma estratégia nacional ou internacional para problemas que só podem ser resolvidos combinando-as em uma luta unificada nacional e internacional.

Um programa socialista deve começar com a independência de classe que significa liberdade de greve e o fim das leis antissindicais, nacionalização sem compensação e sob o controle dos trabalhadores através de suas próprias organizações.

A International Socialist League (ISL)tem o objetivo de construir-se como um partido socialista revolucionário, parte de uma Internacional revolucionária. No início do século XX, o Partido Trabalhista surgiu da necessidade de uma expressão política independente da classe trabalhadora. Hoje ele foi transformado em seu oposto. Mas, a necessidade dos trabalhadores por um partido político com independência de classe ressurge nas greves e na luta antiausteridade.

Ao mesmo tempo, os trabalhadores e ativistas estão sendo expulsos ou deixando o Partido Trabalhista. Um novo partido de trabalhadores é necessário para reunir todos os trabalhadores em luta, sejam ativistas sindicais ou lutadores nos bairros operários e que não confiam nas lideranças sindicais e políticas existentes e querem ser independentes do TUC e do Partido Trabalhista.

Tal partido não pode ser um partido reformista cujo objetivo principal seja obter concessões através do parlamento ou que busque desenvolver sua liderança através de eleições. Ele tem que dar uma resposta às questões candentes enfrentadas por todos os oprimidos e explorados pelo capitalismo.

A ISL entraria nesse partido com a perspectiva de uma democracia plena dos trabalhadores e lutando por um programa socialista. Lutaríamos por um programa de controle operário da produção, saúde e educação através de comitês operários.

Portanto, precisamos construir tanto a International Socialist League quanto lutar por um novo partido de trabalhadores baseado em todas as lutas que estão ocorrendo hoje.

O internacionalismo é a pedra angular do programa socialista

As greves mostraram que o internacionalismo está vivo na classe trabalhadora. Os trabalhadores grevistas estão recebendo saudações de solidariedade de muitos continentes e isso reflete o desejo dos trabalhadores de lutar internacionalmente. Isto deve ser desenvolvido para que as lutas dos trabalhadores, por exemplo, na França, Bélgica e Itália, que organizaram amplas greves nacionais ou gerais, possam encontrar um vínculo comum e uma luta internacional.

Trabalhadores como os do porto de Liverpool começaram sua nova luta com o entendimento de que eles estão sobre os ombros da espantosa luta dos portuários de Liverpool de 1995 a 1998, que construiu fortes laços internacionais. Sua luta só pode ser vencida através de vínculos com outros trabalhadores, e combinando em greves conjuntas enquanto lutam internacionalmente contra os patrões.

Construir greves coordenadas!
Exigir que o TUC organize uma greve geral!
Não à redução real dos salários, benefícios e pensões!

Notas:

[1] – Margaret Thatcher: Primeira-ministra do Reino Unido de maio de 1979 a novembro de 1990. Chamada de a Dama de Ferro por sua determinação, principalmente nos ataques à classe operária britânica. Ficou famosa mundialmente ao vencer a Guerra das Malvinas contra a Argentina. Caiu devido a uma escalada de protestos contra a instituição do chamado Poll Tax, um imposto regressivo que penalizava pesadamente as famílias trabalhadoras.

[2] – https://www.ft.com/ ‘Confidence slumps around the globe as cost of living crisis bites’.

[3] – https://thenextrecession.wordpress.com/2022/10/10/shock-therapy-on-the-world-economy/

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