Peru: 1º de maio unitário, classista e combativo

Contra o governo da burguesia corrupta, opressora e exploradora
Por um governo da classe operária e do povo
Por: PST-Peru
Os trabalhadores do país têm muitos motivos para lutar.
Barata[1] finalmente falou, confirmando a existência de uma enorme corrupção ligada à Odebrecht, pela qual, com o pagamento de propinas, houve o maior roubo do país, depois do Fujimorismo.
Essa rede englobava importantes grupos empresariais peruanos e todos os governos deste período: Toledo, Garcia e Humala e seus ministros e agências de investimento público, e até mesmo os candidatos presidenciais com mais opções.
Pedro Pablo Kuczynski, que agora está em prisão domiciliar, está incluído como um homem-chave durante todo esse período, e apesar de que Barata só falou sobre contribuições de campanha, é conhecido seu duplo papel como ministro facilitador e consultor financeiro da Odebrecht.
A rede também abarcou os governadores regionais de Cusco, Jorge Acurio, e Ancash, Cesar Alvarez, bem como a ex prefeita de Lima, Susana Villarán, responsáveis pelos aditivos que elevaram os custos de obras rodoviárias que serviram como instrumento de roubos milionários. Revelações e confirmações semelhantes são esperadas para o caso do ex-prefeito Castañeda, quando fizerem declarações os funcionários de outras empresas brasileiras.
O suicídio de Garcia: um bandeira para a corrupção
Também ficou evidente que Alan García cometeu suicídio porque seu destino já havia sido traçado e a morte era para ele o caminho para escapar da justiça e da prisão. Os 4 milhões recebidos pelo ex-secretário do Palácio, Luis Nava, provam isso.
No entanto, esse fato está sendo usado pelo aprismo, (Aliança Popular Revolucionária Americana – APRA) para mostrar Garcia como um mártir redentor, e para desencadear uma contraofensiva contra os promotores e juízes que veem o caso lava jato, com o objetivo de abrir uma via para a impunidade. O APRA e o Fujimorismo, cuja líder, Keyko Fujimori e sua cúpula, estão em prisão preventiva por um caso evidente de lavagem de dinheiro; aos que se juntaram a Ação Popular, o PPC (implicado não apenas pelas contribuições de campanha, mas também para trair os interesses do país em arbitragens seguidos pela Odebrecht), e até mesmo partidários do PPK, pretendem derrotar a estratégia da prisão preventiva que os Procuradores usam para garantir investigações.
Vizcarra já acusou o golpe, e em uma evidente intromissão, tanto ele como seu primeiro-ministro Del Solar questionaram a forma como a acusação está usando o recurso da prisão preventiva.
A corrupção está viva e se movimentando
É evidente que a vasta rede de corrupção está viva e atuando, tem nada menos do que o controle do Congresso, e com nexos no poder executivo que pode chegar a até o próprio presidente Martin Vizcarra que, lembremos, chegou ao poder pela primeira vez como Vice-Presidente do PPK e seu grupo lobista, e depois à Presidência da República como uma carta de substituição da oposição fuji-aprismo ante a renúncia da PPK.
Vizcarra se relocalizou na conjuntura da revelação dos “colarinhos brancos do porto”, impulsionando as reformas judicial e política que eram mais uma pantomima do que uma verdadeira luta contra a corrupção. Com a detenção de Kuczynski, Vizcarra fez a ele uma visita foi uma clara interferência no processo de investigação, e um uso cínico de sua influência em favor do acusado, que finalmente passou da penitenciária para prisão domiciliar. No país, há mais de 35.000 presos sem acusação que não recebem esse benefício, muitos deles em piores condições de saúde e encarceramento.
A manutenção da rede de corrupção também está evidente na impunidade dos empresários do Clube da Construção, apesar da ampla evidência e agora as declarações de Barata que não deixam dúvida. Não apenas impunidade, mas até mesmo continua fazendo negócios. Alguns dias atrás, o atual prefeito de Lima assinou um contrato com a via expressa do sul com Graña e Montero, reativando um contrato prejudicial que já estava finalizado e retrocedeu preventivamente só pelo escândalo que já estava desatando.
As grandes empresas corruptas exigem cortar os direitos dos trabalhadores e dos povos
O governo não é uma garantia contra os corruptos. Isso está evidente. E não pode ser porque defende os interesses dos poderosos, que em si é um ato de corrupção, porque, pelo menos em teoria, um governo deve defender os interesses da população nacional.
O governo atropelou os direitos legítimos do povo de Fuerabamba autorizando, por cima da lei, uma estrada para a Mineração Las Bambas, e restringindo o direito legítimo do povo protestar através de sucessivos estados de emergência, ou seja, enfrentando-os com tropas militares, criminalizando seus protestos, aprisionando seus líderes e assessores. O governo recuou apenas porque a luta corajosa da comunidade permitiu que o país descobrisse o que estava acontecendo; mas insiste em impor saídas que favoreçam a mineradora.
Hoje a luta dos membros da comunidade Fuerabamba enfrenta a lei de criminalização do protesto estabelecida pelo corrupto Toledo após o “Arequipazo” e reforçado pelo também corrupto governo de Garcia em sua segunda gestão, servindo às transnacionais de mineração dentro de sua concepção do “cachorro jardineiro”.
Hoje a comunidade exige uma anistia geral para todos os processados. Essa mesma lei de criminalização do protesto é aquela usada contra todos os setores sociais que lutam por seus justos direitos. Portanto, não podemos deixar de apoiar e participar da luta da comunidade de Fuerabamba em sua reivindicação.
Por outro lado, na véspera da chegada a Lima de Mike Pompey, Secretário de Estado dos Estados Unidos, o governo em um desejo servil ao mestre americano lançou uma criminal intervenção policial contra o povo de San Gaban em Puno, o que resultou em dois plantadores de coca mortos e vários feridos. E em Loreto o governo ficou do lado da Pluspetrol transnacional, contra as populações afetadas pela constante poluição dos rios que são seu sustento.
O governo também é cúmplice dos empresários na proliferação das demissões que coloca centenas de trabalhadores na rua, e sua finalidade é manter e ampliar os vários regimes de trabalho precários, como anunciou que vai fazer com o sistema especial de agricultura, por mais 20 anos. Para isso, não há mais motivação ou apoio técnico do que a pressão constante dos empresários para uma reforma trabalhista. E é justamente isso que o governo propôs fazer, através da imposição, com o Decreto Supremo nº 345-2018-EF.
O governo, em suma, é a continuidade do neoliberalismo desastroso que paralisa o Estado contra as necessidades essenciais do povo, com saúde e educação que se degrada à medida que crescem as empresas privadas que lucram com a saúde e a educação. Um governo inoperante diante da reconstrução, diante da insegurança cidadã; um governo cúmplice no roubo sistemático das AFPs, e que protege as grandes empresas no roubo de impostos ao Estado.
Os trabalhadores não podem confiar ou defender a democracia corrupta dos patrões: É preciso enterrá-la!
Não estamos diante de uma crise mais, ou ante um lado podre da maçã, o sistema de corrupção exposto e o envolvimento de quase todos os partidos no sistema político torna evidente que a maçã do capitalismo e da democracia burguesa está em total decomposição.
Nós, trabalhadores não temos nada a ver com toda essa podridão. Partidos e frentes de esquerda de diferentes níveis de governo fizeram parte da corrupção, que servem seus bolsos, como parte de projetos de colaboração de classe e com políticas ao serviço de empresários e do plano neoliberal, casos do nacionalismo de Ollanta Humala e a esquerda liberal de Susana Villarán e todos os seus aliados que hoje não podem se fazer de desentendidos.
Hoje, os partidos de esquerda no Congresso, e as direções burocráticas da central sindical, insistem em mostrar a realidade como dois lados, onde o pior é o fuji-aprismo e, o governo, o mal menor. Para além do discurso às vezes radical, na verdade eles se colocam do lado do governo. Essa esquerda conciliatória utiliza e negocia a atitude combativa do movimento dos trabalhadores, implorando quotas precárias de poder, como um ministério ou uma cadeira no Conselho Nacional do Trabalho. Portanto, apesar da profunda crise política só se observa no horizonte, como se não houvesse alternativa, o fuji-aprismo e seus aliados na corrupção, e que o governo atualmente detém o poder a serviço de sua própria impunidade.
Precisamos de soluções de fundo: precisamos de uma revolução
Precisamos construir o poder dos trabalhadores para fazer uma revolução. E isso não pode ser forjado se não for impulsionando uma luta consistente e inflexível que coloque como centro a derrota do governo pelas principais reivindicações operárias e populares, tais como uma luta até o fim, sem retrocessos, contra a corrupção até colocar todos os corruptos na prisão e exigir as reparações correspondentes; a anistia geral aos réus de Fuerabamba e a todos os processados por exercerem seu legítimo direito de protestar e que hoje enfrentam injustamente acusações criminais; solução para as demandas dos povos afetados pelas transnacionais da mineração e do petróleo.
Além disso, solução imediata para todos demitidos em demissões coletivas, a eliminação de regimes de trabalho precárias, que são instrumentos de opressão e superexploração dos trabalhadores e revogação do Decreto Supremo Nº 345 que procura impor uma reforma trabalhista desfavorável aos trabalhadores; assim como o aumento geral de salários e aposentadorias, e a eliminação da privatização da saúde e da educação, e uma autêntica e efetiva reconstrução.
Viva o 1º de maio classista, de luta contra o governo e o plano neoliberal
Vamos construir o poder da classe operária por uma revolução socialista
[1] Jorge Barata – ex funcionário da Odebrecht no Peru
Tradução: Lena Souza