search
Brasil

O que esperar do novo governo Bolsonaro?

Brazil’s new President Jair Bolsonaro and the members of this cabinet pose for an official photograph at the Planalto Palace, in Brasilia, Brazil January 1, 2019. REUTERS/Ueslei Marcelino
janeiro 1, 2019

Os desafios da classe trabalhadora para o próximo período

Neste primeiro dia do ano, o novo presidente do país, Jair Bolsonaro (PSL), está sendo oficialmente empossado em Brasília. Resultado de uma profunda crise social, econômica e política, e uma consequente polarização social, o início de seu governo vem embalado numa onda de otimismo.

Por: PSTU Brasil

Pesquisas recentes mostram que a maior parte da população ainda nutre grandes expectativas para o futuro. Segundo o Datafolha, 65% esperam uma melhora na economia no próximo período. Já o levantamento da XP Investimentos mostra um otimismo em relação à economia de 55%. Igualmente, o índice de aprovação das medidas tomadas aqui pela equipe de transição de Bolsonaro supera o número de eleitores que o elegeram.

É normal que, mesmo com a série de desencontros, trapalhadas e denúncias de corrupção que marcaram os últimos dois meses, o otimismo prevaleça diante de uma mudança no Governo Federal. Principalmente após quase três anos de recessão que fizeram o PIB retroceder quase 8% e deixou um exército de desempregados, com a explosão da informalidade e uma precarização cada vez maior do trabalho. Resultado direto da política aplicada por todos os governos desde a ditadura militar, passando por Collor, FHC, os governos do PT e de Temer, que governaram para os banqueiros e grandes empresários e que, em momentos de crise do sistema, mais uma vez jogam seus efeitos nas nossas costas.

O que vai acontecer em 2019?

O que hoje aparece como otimismo, assim como ocorreu no governo Dilma, deve se transformar em decepção num prazo não tão longo. Isso porque, infelizmente, a situação dos trabalhadores e da grande maioria da população não deve melhorar no próximo período. Pelo contrário. O desemprego, como mostrou o último levantamento do IBGE do dia 28 de dezembro, permanece na casa dos 12% (desemprego oficial, o número real é bem maior que isso), com o aumento recorde da informalidade.

Enquanto se prevê que o PIB (a soma do conjunto de todas as riquezas produzidas pelo país) de 2018 feche em pouco mais de 1%, as previsões mais otimistas para o ano que se inicia ficam em torno de 2,5%. Mesmo que isso ocorra, o que seria bem difícil, significa mais uma estagnação do que um crescimento de fato. Para o desemprego, prevê-se que demore 10 anos para que se chegue aos níveis pré-crise econômica. Ou seja, para a classe trabalhadora e a grande maioria da população, o que se espera para o próximo período é a continuidade de uma verdadeira guerra social com o aumento da pobreza e da miséria que vimos em 2018.

Ataques aos direitos

Diante dessa situação, o governo Bolsonaro e a sua equipe econômica liderada pelo “superministro” Paulo Guedes preparam um conjunto de medidas que, se levadas a cabo, representarão um duro ataque aos direitos a fim de manter os lucros dos empresários, do agronegócio e, principalmente, dos banqueiros nacionais e internacionais.

A primeira medida, tratada como prioridade absoluta pelo governo e o mercado, é uma reforma da Previdência cujos termos serão oficialmente apresentados em fevereiro. Fala-se em aproveitar a reforma apresentada por Temer, que elevam a idade mínima para se aposentar, até a proposta original de Guedes de privatizar a médio prazo completamente a Previdência através de um sistema de capitalização, o que, no Chile onde foi implementado, causou uma verdadeira crise social com a maioria dos aposentados recebendo menos que um salário mínimo.

Junto a isso, discute-se uma flexibilização ainda maior dos direitos trabalhistas, com a adoção de uma carteira de trabalho “verde e amarela” que, concretamente, seria a oficialização do “bico”. Já para os empresários, mais desoneração e isenções.

Isso na prática significa o desmantelamento do frágil sistema de proteção social que o país ainda conta, resultado das lutas nos anos 80 parcialmente abarcados pela Constituição, e o consequente aumento da pobreza e da precarização. Ou seja, mais miséria e exploração em favor dos lucros dos patrões.

Entrega do país ao imperialismo

Outra faceta do novo governo que inicia é a sua inteira disposição em entregar o país ao capital internacional. A postura do governo Bolsonaro em favor da venda da Embraer à Boeing, acabando com uma das únicas empresas de tecnologia de ponta do país, é um exemplo do que virá. Paulo Guedes montou uma secretaria especial só para tratar das privatizações. Ele já defendeu a privatização de todas as estatais do país para angariar recursos da ordem de R$ 1 trilhão e pagar a dívida pública aos banqueiros. Como politicamente será difícil se desfazer de uma Petrobrás e um Banco do Brasil, a ideia é começar vendendo o que puder, que seriam mais de 100 estatais.

Ao contrário dos que defendem a privatização de forma falaciosa como forma de atrair investimentos e melhorar a eficiência, o que Guedes tem em mente é simplesmente entregar essas empresas aos banqueiros em troca do abatimento de parte dívida pública. O que, em menor proporção, FHC fez nos anos 1990. Em pouco tempo, os juros exorbitantes tratarão de fazer a dívida retornar ao que era antes das privatizações, e o Brasil continuará com a dívida, e sem as estatais.

A política econômica de Bolsonaro e Guedes é de aumento da submissão ao imperialismo e de aprofundamento da dependência do Brasil. Uma verdadeira recolonização fazendo o país descer um degrau na divisão internacional dos países, desindustrializando e reforçando ainda mais seu papel de mero fornecedor de commodities, como carne e soja.

Ataques aos indígenas e quilombolas

O que nos leva a um dos pontos mais falados por Bolsonaro no último período: seu comprometimento em acabar com as reservas indígenas e quilombolas. Não foi por menos que, na reforma ministerial desenhada durante a transição, a demarcação de reservas indígenas e quilombolas, antes sob responsabilidade da Funai e Incra, tenha ido parar no Ministério da Agricultura. O que cria a esdrúxula situação de que, quem vai determinar a demarcação de terras indígenas, quilombolas, além do licenciamento ambiental, será o presidente da UDR (União Democrática Ruralista), Nabhan Garcia, secretário de “assuntos fundiários” do ministério.

É o dirigente dos latifundiários dizendo que é ou não é terra indígena e quilombola. O que pode ou não ser licenciado de acordo com o meio ambiente. A intenção não poderia ser mais descarada: entregar as terras de povos indígenas e quilombolas à exploração das grandes mineradoras e ao agronegócio. Às custas do extermínio dos povos originários e quilombolas e do próprio meio ambiente.

E a corrupção?

Muito da expectativa que gira em torno do governo Bolsonaro se deve a um suposto compromisso no combate à corrupção, principalmente após a nomeação do juiz Sérgio Moro como o “superministro” da Justiça. Antes mesmo de assumir oficialmente, porém, Moro já mostrou que sua disposição em combater a corrupção, além de seletiva, já não é a mesma. O caixa 2 assumido por Onyx Lorenzoni (vindo da JBS), crime que Moro considerava “pior que corrupção”, foi amenizado diante do pedido de desculpas do político do DEM.

Já o recente escândalo envolvendo o motorista do filho de Bolsonaro, o senador eleito Flávio Bolsonaro, mostrou que, não só a família Bolsonaro nada difere dos políticos corruptos tradicionais que infestam o Congresso Nacional, como terão a salvaguarda do governo e das instituições em encobrir seus malfeitos. Haja visto a rapidez com que o Ministério Público do Rio aceitou a desculpa esfarrapada de que Queiroz estava “gravemente doente” e por isso escapou de dois depoimentos sobre a movimentação de R$ 1,2 milhão em sua conta. Condição que não o impediu de conceder uma entrevista constrangedora ao SBT.

Os desafios diante do governo Bolsonaro

Estamos diante de um governo de extrema-direita apoiado e composto por um setor significativo dos Forças Armadas. Além da política econômica pró-imperialista e declaradamente contra os direitos, temos a ameaça de retrocesso nas liberdades democráticas, de organização, expressão e luta da classe trabalhadora. O que antes parecia como bravata, vai ganhando contornos mais concretos como a disposição em recrudescer a lei antiterrorismo aprovada por Dilma, a fim de incluir os movimentos sociais e mobilizações de oposição.

O apoio recebido por Bolsonaro nas eleições e a expectativa diante do novo governo, porém, não são um cheque em branco. Refletem o repúdio aos desgovernos do PT e Temer, ao PSDB, MDB e toda essa institucionalidade corrupta vigente, o cansaço diante da recessão e da degradação das condições de vida e um desejo de mudança. Embora Bolsonaro, longe de ser antissistema, como a maioria acredita e espera, é o que de pior há no sistema podre que está aí.  O desafio colocado para a classe trabalhadora no momento é o de organizar, por baixo e por cima, a classe, preparando a luta contra a reforma da Previdência nos bairros, sindicatos, entidades e exigindo das direções das centrais a organização de uma luta unificada, preparando as condições de uma Greve Geral, a exemplo do que vem exigindo a CSP-Conlutas.

Grande parte da esquerda, lamentavelmente, faz duas coisas que são as piores coisas que se podem fazer no momento. Primeiro, colocam sua luta pela liberdade de Lula como prioridade a ser encampada por todos. Segundo, estigmatizam grande parte da população como “fascista” ou ignorante. O PT e demais setores tem, evidentemente, total direito de levar adiante sua luta em defesa de Lula ou quem quer que seja. Mas é um grave erro colar isso à luta contra os ataques à Previdência e aos direitos, que é o que pode, realmente, unificar a classe trabalhadora e o conjunto da população pobre.

É preciso unidade para enfrentar essa reforma da Previdência que, como já provou a própria CPI do Senado em 2017, não é responsável pelo “rombo” no Orçamento. O verdadeiro culpado pela crise fiscal da União e dos estados é a dívida pública, que desvia grande parte dos recursos para um punhado de banqueiros internacionais. Neste sentido, restringir ainda mais a Previdência através de uma “reforma” como já defenderam Haddad, Jacques Wagner e como vem implementando na prática os governos petistas nos estados, deve ser rejeitado e denunciado. A única solução para resolver a crise passa pelo fim do pagamento da dívida.

O momento é de diálogo com os operários, os trabalhadores e a população, nas fábricas, nos bairros, nas escolas. De explicar o que está em jogo e a ameaça que existe pela frente. De organizar a luta em conjunto em defesa dos direitos e do emprego, assim como das liberdades de organização e luta contra esse governo e os patrões para quem ele governa. De frente única em defesa dos direitos e contra os ataques.

A classe trabalhadora não está derrotada e é na sua força que devemos depositar nossas esperanças neste novo ano que se inicia.

Por uma alternativa revolucionária

É necessário também construir uma organização revolucionária realmente disposta a romper com o sistema, para fazer uma verdadeira transformação social. Para que o Brasil possa ter soberania, acabar com a miséria, a fome, o desemprego e para que a classe operária, os trabalhadores, os pobres e oprimidos, a juventude e mesmo os pequenos empresários e produtores possam ter uma vida digna. Um país que não tenha mais explorados e exploradores. Um país em que os debaixo, os trabalhadores e amplíssima maioria do povo possam governar através de conselhos populares em benefício da maioria.

Porque até hoje, todos os governos governaram para os capitalistas, os bancos e as 100 maiores empresas multinacionais e nacionais, que controlam mais de 70% da economia do país. Bolsonaro, da mesma maneira que a Ditadura, Collor, FHC, Lula, Dilma e Temer vai, num momento de crise capitalista mundial, submeter ainda mais o Brasil aos países ricos e suas empresas e bancos e continuar desatando uma guerra social contra nós trabalhadores, tirando da Previdência, da saúde, da educação e dos gastos sociais para pagar juros a banqueiros e empresários trilionários.

O primeiro desafio deles é enfiar goela abaixo da nossa classe a reforma da Previdência e o ataque às aposentadorias em benefício dos banqueiros. O nosso primeiro desafio é organizar a luta para impedir esse ataque.

 

Leia também