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sexta-feira, março 29, 2024

Colômbia| A luta pela vida

Uma das principais propostas de Petro e do Pacto Histórico na atual campanha eleitoral, é a que se refere à luta pela vida. Isto os levou a ter como slogan de sua campanha “a mudança pela vida”. Em um país onde nas últimas décadas foram assassinados milhares de lutadores sociais e onde uma das principais preocupações das mães é saber se seu filho ou sua filha, quando saem de casa, voltarão vivos. A morte é uma notícia tão cotidiana, que o regime político colombiano espera que nos acostumemos a isso. 

Por: PST Colômbia

Somente em 2020, foram assassinados, segundo Indepaz, 310 lutadores sociais (demandantes de terras, signatários do acordo de paz entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), sindicalistas, defensores de direitos humanos, etc) e 64 familiares próximos a estas pessoas. Em 2021, os assassinados foram “reduzidos” a 145 (nestes números não estão as pessoas desaparecidas e assassinadas durante o protesto da paralisação Nacional, iniciada em 28 de abril). Mas até agora em 2022, segundo Indepaz, o número de lutadores sociais crescia para 48 e os massacres chega a 30.

Por que estes crimes ocorrem?

Neste país, exigir os direitos converteu-se em um delito, por isso muitas mães e pais se enchem de terror quando sabem que seus filhos e filhas estão participando de marchas ou protestos, quando sabem que até seus sonhos estão sendo roubados. Apesar de que na Constituição Nacional a pena de morte não esteja aprovada, diariamente são assassinadas pessoas, e muitos desses crimes são realizados por agentes estatais ou paraestatais.

Por que estes crimes ficam na mais absurda impunidade?

Sempre que estes fatos ocorrem, o governo nacional e os organismos de segurança do Estado fazem declarações condenando os crimes, oferecendo recompensas milionárias às pessoas  para darem informação sobre os supostos assassinos, prometendo investigações “exaustivas” e “solidarizando-se” com as vítimas. Mas só se os amigos e familiares das vítimas denunciarem e se mobilizarem exigindo castigo para os culpados, estas podem chegar até às etapas preliminares, onde sempre acusam as famosas Bacrim (Bandas Criminales – Gangues criminosas), as dissidências das FARC ou os grupos armados em geral.

Mas a realidade que nos cerca é outra. A região de Catatumbo nos mostra como esta situação funciona em todo o país. Há poucos dias, foi assassinado o lutador social, Salvador Durán e os camponeses da região se mobilizaram de imediato e conseguiram capturar os sicários e entregá-los à Defensoria do Povo. Eram membros do Exército Nacional. Há alguns anos aconteceu o mesmo e se conseguiu esclarecer que comandantes do alto escalão do Exército na região estavam implicados nos crimes.

Não é segredo para ninguém que são os membros dos organismos de segurança do Estado que vêm coordenando este processo de extermínio e por isso, apesar de chamarem-se as Águias Negras, a maioria da população os denomina as Águias Verdes. Por isso a impunidade é a grande notícia. Os assassinos são os que investigam os criminosos.

O que fazer?

Nós socialistas insistimos sempre que cabe às próprias organizações onde os lutadores sociais atuam, discutir como defendemos nossas vidas. Não podemos confiar nas instituições da burguesia, porque elas estão untadas de paramilitarismo até a medula. Basta ver as famosas investigações contra Álvaro Uribe Vélez, que acumula mais de 200 denúncias por paramilitarismo, narcotráfico, conluio para delinquir, etc e as testemunhas chave estão nos cemitérios, ou os poucos que sobreviveram tiveram que pedir proteção de organizações de fora do país ou se exilarem. Somente organizando a defesa de nossos lutadores sociais é que podemos proteger suas vidas. Os chamados para acreditar nessas instituições estatais só serviram aos assassinos para continuarem na mais absurda impunidade, por isso não concordamos com os chamados para “manter a calma” que Petro e os chamados parlamentares “alternativos” fazem diariamente.

Muitas das pessoas que hoje veem esta situação como uma das mais graves no país, pensam que somente com o voto em Petro para a presidência “cessará a  terrível noite ”. Mas esta situação não vai melhorar se não houver uma profunda reestruturação dos organismos de segurança do Estado (Polícia, Marinha, Exército, Aviação, Ministério Público, etc) e isso passa pela democratização destes órgãos, onde seus superiores sejam eleitos pelas bases, onde seja reconhecida sua participação na política e o direito de sindicalização, além de qualquer membro das forças de segurança do estado poder aludir à objeção de consciência ante qualquer ordem de seu superior que considerar não poder ser acatada.

É necessário que os trabalhadores e suas organizações discutamos esta situação, exijamos verdadeiras medidas democráticas para evitar que a impunidade e os assassinatos de lutadores sociais no país continuem.

Tradução: Lilian Enck

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