ter abr 16, 2024
terça-feira, abril 16, 2024

Argentina| A esquerda frente às próximas eleições

O debate da formação de alianças e listas está no centro do cenário do conjunto dos partidos em geral e dos de esquerda em particular. E com o início das eleições em algumas províncias, como Jujuy, as polêmicas se reaquecem. Propostas de todo tipo e cor enchem os sites web e páginas das imprensas partidárias, sem ir aos debates centrais que, em nossa opinião, a situação atual excepcional do mundo exige. Neste artigo apresentaremos nossa postura sobre as polêmicas desencadeadas e também as questões centrais que lamentavelmente estão sendo omitidas.

Por: PSTU Argentina

A questão da unidade da esquerda sempre faz parte da prévia à apresentação de listas, e sempre se repete a briga por quem permanece como mais unitário e consegue agradar àqueles que simpatizam com a esquerda em geral. A formação de listas para as eleições que serão realizadas em Salta em 15 de agosto prenuncia um possível cenário nacional com dois espaços de esquerda que se reivindicam seguidores do trotskismo, a já instalada Frente de Esquerda dos Trabalhadores – Unidade (FIT-U) e a possível frente Tendência Partido Operário (TPO) / Novo MAS. Toda a discussão da unidade, neste caso, gira em torno destes espaços, que também não tem uma postura comum.

Dentro da FIT-U, o Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS) e o Movimento Socialista dos Trabalhadores (MST) assumem a ofensiva da bandeira da “unidade” propondo, com matizes nas formulações, uma grande eleição de Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias (PASO) de toda a esquerda. O Partido Operário (PO) rechaça as PASO, propõe um Congresso da FIT-U no qual seriam convidados todos os agrupamentos que defendem a independência de classe e se esquiva de dizer se admitiria um espaço comum com sua recente ruptura (a TPO). Esquerda Socialista (IS) se localiza na defesa da FIT como conquista e chama para ampliá-la, porém sem PASO.

Por sua parte, a TPO também propõe PASO, porém diz “operárias e socialistas”, onde cada partido dispute pelo seu programa, enquanto que o Novo MAS, que em 2019 reclamava com ânsias as internas abertas de toda a esquerda, agora diz que o necessário é a unidade nas lutas, enquanto realiza colagem de cartazes eleitorais e uma proposta de debate público dirigida só ao PTS.

A recente eleição de Jujuy, na qual a TPO chamou para votar em branco, tornou as polêmicas mais apimentadas, e os epítetos e adjetivos estão na ordem do dia. Entretanto, não deixam de ser discussões no marco do que ficaria melhor para cada uma das correntes para medir suas forças ou conseguir um “melhor lugar” e não de diferentes programas em conflito.

Eleições e programa

Nós do PSTU frequentemente debatemos com as diferentes correntes de esquerda pelo seu eleitoralismo e adaptação ao regime democrático burguês. Entretanto, isto não quer dizer que, para nós, como marxistas que somos, as eleições não sejam importantes: mesmo sendo o terreno do inimigo, com regras impostas por este, são uma oportunidade muito importante para difundir o programa revolucionário para amplas camadas da população, de propor outro modelo de país e como conseguir e, nesse marco, disputar o voto dos trabalhadores para que não apoiem variantes patronais.

Isto em uma situação mundial como a atual, onde os efeitos da fase imperialista do capitalismo mostram toda sua crueza em forma de genocídio contra o povo trabalhador. E em uma situação nacional onde o mecanismo eleitoral não é rechaçado por amplos setores do povo trabalhador, adquire uma maior transcendência porque apresenta o desafio e a oportunidade de apresentar a amplos setores um programa revolucionário, de saída operária e socialista, como única opção real para evitar a continuidade do genocídio capitalista.

O fracasso do capitalismo está na ordem do dia e a bandeira da rebeldia antissistema não pode ser dada aos setores da ultradireita ou liberais, fenômeno que se verifica em vários lugares do mundo, ao qual nosso país não é completamente alheio, ainda que seja muito minoritário.

Em nossa opinião, para isso é necessário dizer as coisas como são, sem eufemismos. Dizer que não é no parlamento que os problemas dos trabalhadores serão resolvidos. Ter deputados e apresentar projetos de lei é útil se forem em função de desmascarar o regime e os partidos patronais. Porém para conseguir o que precisamos, temos que fazer uma revolução, que nós trabalhadores e trabalhadoras tomemos os destinos do país em nossas mãos, passando por cima das atuais direções e impulsionando a ação direta, organizando a autodefesa, não com a perspectiva de obter só tal ou qual conquista, mas construir as ferramentas necessárias para a tomada do poder como objetivo.

Dizer também que, embora circunstancialmente mulheres de diferentes classes sociais possam estar em unidade de ação por alguma demanda concreta, nisso não há nenhuma “sororidade” nem irmandade com as mulheres da burguesia, porque elas são parte das que também nos exploram todos os dias e aumentam seus lucros com nossa opressão.

Certamente é necessário fazer todas as propostas da melhor forma realista e o mais compreensível possível, porém isso não pode ser confundido com “lavar” o programa, para ser mais aceitável e manter e/ou aumentar eleitores, como o conjunto das forças de esquerda que hoje debatem a unidade vem fazendo. Por isso, se o PSTU tivesse legalidade, seguindo os ensinamentos de Lenin, provavelmente nos apresentaríamos sozinhos com o perfil que desenvolvemos aqui.

Um polo de independência de classe

Não obstante, ainda que com limitações no perfil e na apresentação do programa que o conjunto dos partidos legais de esquerda tem hoje, é muito importante que diante das variantes patronais haja uma alternativa de independência de classe para os trabalhadores e trabalhadoras . E nesse sentido, seria muito melhor para disputar esse voto pela independência de classe que se concentre em uma só alternativa. Mais ainda, não havendo diferenças de fundo entre as forças que hoje tem legalidade no programa a ser levantado, como se vê no centro dos debates que estão sendo realizados, nos quais o conteúdo do programa não aparece como um debate central e tudo é reduzido às propostas que mais convém a cada força para manter ou aumentar seus lugares.

Para nós a disputa de aparato não justifica a divisão e por isso seria melhor que ao invés de gastar energia e páginas e mais páginas nestes debates e depois em “medir” as forças de esquerda, apresentar uma lista unificada que inclua o conjunto das forças, as legais e as que não têm legalidade ainda, a partir de pontos de acordo e com independência total de cada força para realizar sua campanha com seu próprio programa.

As PASO não são admissíveis

Para a formação de tal lista unitária nos parece inaceitável a utilização das PASO que hoje o PTS, o MTS e a TPO propõem, e essa discussão é uma prova a mais das limitações dos espaços que podem ser formados. De nossa perspectiva utilizar como ferramenta as PASO estabelecidas e feitas a serviço da recomposição do regime democrático burguês em nosso país, é uma mostra da adaptação a tal regime e seria um erro muito grande, como foi em 2015, utilizar tal mecanismo ao invés de utilizar os mecanismos da democracia operária para a montagem de listas.

O que propomos

Nós do PSTU sustentamos, como temos feito em eleições anteriores, que a lista de uma alternativa de independência de classe deveria ser formada com os métodos da mesma: assembleias por zona ou setor e um critério de representatividade. Não com os mecanismos da democracia burguesa ou do aparato.

O protagonismo deveria ser das lutas recentes ou em curso, como por exemplo, os “elefantes” da Saúde de Neuquén, da luta de Guernica, das fábricas que estão em conflito. O perfil dos candidatos e candidatas deveria ser bem operário, aproveitando as referências da classe que fazem parte dos partidos de esquerda, como às vezes se expressa em algumas listas provinciais, como a recente de Jujuy, mas não nas principais referências nacionais. As lutas das mulheres, da juventude e do conjunto dos setores oprimidos tem que se expressar com força, a partir de uma perspectiva de classe bem nítida.

Nesse sentido, também é necessário que os lutadores e lutadoras perseguidos pelo Estado burguês como forma de defesa, tenham um lugar de destaque, por isso propomos nossos companheiros Sebastián Romero e Daniel Ruiz para lugares importantes nas listas, como também deveriam ter Cesar Arakaki e Dimas Ponce, e outros lutadores perseguidos, para dar continuidade na campanha eleitoral às reivindicações unitárias por liberdade e absolvição em que são protagonistas e que a campanha eleitoral esteja a serviço das lutas em curso, e não o contrário.

Tradução: Lilian Enck

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