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Colômbia

Áudios de Leyva: o resultado natural da confiança na burguesia

Álvaro Leyva
julho 24, 2025

Por: PST – Colômbia

Os escândalos no governo Petro se originaram principalmente com os ministros e funcionários que representam a burguesia. É o custo dos governos de frente popular, exercidos pelas direções do movimento de massas em associação com a burguesia, ou seja, um governo para conciliar com seus próprios inimigos.

A concepção de sociedade de Petro

A concepção do presidente Petro sobre a sociedade e, em particular, sobre a sociedade colombiana é que, com vontade e razão, os ricos podem ser convencidos a abrir mão voluntariamente de parte de seus privilégios, contribuindo com impostos, empregos, algumas terras aqui e ali, e assim os pobres podem melhorar seu padrão de vida. Que o capitalismo na Colômbia não está desenvolvido e que desenvolvê-lo “democraticamente” resolverá os problemas sociais; que é possível que, com um acordo nacional, que os ricos e ao mesmo tempo os pobres possam ganhar.

Essa concepção utópica não leva em conta que o capitalismo é um sistema mundial e a Colômbia, como qualquer outro país, faz parte desse sistema que é dominado pelos países capitalistas desenvolvidos, os países imperialistas; que a sociedade em escala mundial e em cada país está fundamentalmente dividida em duas classes sociais, capitalistas e trabalhadores, e cada uma tem seus interesses antagônicos entre si. Que os capitalistas não estão interessados em resolver a crise social dos pobres, mas em usar os pobres para explorar o trabalho assalariado e acumular riqueza, e em tempos de eleições para votar neles; que esse objetivo de acumular riqueza por alguns poucos é o fim garantido pelo Estado capitalista.

Com essa concepção desastrosa de confiança na boa vontade dos ricos, Petro lubrificou a mesma máquina que os governos anteriores usaram para montar seu governo, incluindo uma boa porcentagem de ministros burgueses que, junto com o Congresso, frearam qualquer tentativa de reforma progressiva que ele pretenda fazer, e usaram suas posições para fazer o mesmo que com os governos anteriores:  clientelismo, pilhagem de recursos públicos, negócios pessoais e tudo o que compõe a corrupção capitalista.

Neste contexto eclodiram escândalos como os que houve com Armando Benedetti, Laura Sarabia e Álvaro Leyva. No entanto, Petro insiste em governar com os inimigos dos trabalhadores, porque sua política de acordo e conciliação é para ele um princípio inevitável.

Leyva, o golpista

Leyva, como ministro das Relações Exteriores, pretendia fazer o que os ministros e funcionários de governos anteriores fizeram: negócios manipulados, nepotismo e clientelismo. Queria comissão com a impressão e emissão de passaportes e nomear parentes em cargos importantes no governo.

A Procuradoria-Geral da República acusou-o de incorrer em “falta gravíssima a título de dolo ao ignorar, com suas ações, os princípios de transparência, economia e responsabilidade que regulam a contratação estatal” (Boletim do Procurador-Geral 1299 de 2024), além de sancioná-lo afastando-o do cargo. Leyva resistiu a deixar o Ministério das Relações Exteriores, mas como Petro não o apoiou, a partir de então declarou guerra a ele, acusando-o de drogadito e pedindo-lhe que deixasse a presidência.

Agora, alguns áudios foram publicados em que Leyva comenta com uma pessoa indeterminada, em um restaurante, sobre um plano para derrubar Petro. Segundo Leyva, ele contaria com a direitista Vicky Dávila, funcionários do governo Trump e parlamentares do Partido Republicano dos Estados Unidos.

Está comprovado que um golpe estava sendo gestado?

Vicky Dávila e a direita se apressaram em se distanciar, em dizer que essa era uma ideia de Leyva e que eles não têm nada a ver com qualquer plano de golpe de Estado contra o governo Petro.

Não seria conveniente para o governo Trump e a burguesia colombiana derrubar Petro por meio de um golpe de Estado, devido à instabilidade política que seria gerada não só na Colômbia, mas também na região, com altíssima probabilidade de desencadear uma nova explosão social. Apesar das disputas diplomáticas e de algumas contradições que às vezes se tornam mais agudas, o governo dos EUA não tem contradições estruturais ou intransponíveis com Petro que, pelo contrário, pediu conselhos à Embaixada dos EUA sobre sua segurança.

A primeira coisa que foi comprovada com esta “revelação” é que, além do fato de que um setor minoritário da burguesia de direita considerou fazer um ataque a Petro, ou derrubá-lo do governo por meio de um golpe, esta não é a política majoritária da oposição burguesa e muito menos do imperialismo.

O que a oposição burguesa de direita tem feito é tentar desgastá-lo aproveitando os escândalos de seus ministros e funcionários burgueses, e até mesmo de seu próprio filho; culpá-lo pela insegurança que essa mesma direita narcotraficante, latifundiária e pecuarista gera com seus negócios ilícitos de narcotráfico, desmatamento e apropriação da terra do campesinato pobre.

Os vaivéns de Francia

Neste escândalo, Leyva pretende envolver a vice-presidente Francia Márquez, aproveitando o fato dela ter tido diferenças e distanciamento com Petro, o estranho é que, ao menos aparentemente, as críticas desta tenham sido pela esquerda. Embora não haja evidências de que ela esteja ou não envolvida, parece mais provável que haja uma intenção de desgastar e desacreditar sua figura para evitar que o descontentamento de alguns setores com Petro seja capitalizado por um setor mais radical do Pacto.

Partindo da boa-fé de sua inocência, o que é absolutamente lamentável é sua resposta a estes questionamentos. Ela não o faz a partir da indignação popular que anteriormente a caracterizava e ao contrário de afirmar que nunca trairia o povo que a elegeu, os trabalhadores e os pobres conchavando com a direita, responde apegando-se à institucionalidade burguesa e à defesa do regime.

Fora os ministros burgueses

A segunda coisa que ficou demonstrada é que a burguesia “aliada” ou “progressista” não é confiável; os ministros e funcionários que os representam sempre se sentarão à mesa fingindo querer conciliar pelo “bem comum”, enquanto por baixo não apenas tentarão tirar vantagem, mas conspirarão para o retorno da burguesia para governar diretamente.

O que convém a Petro para deixar esse desgaste que é gerado do interior de seu governo com os ministros e funcionários burgueses, é que saia deles. Que não desgaste a mobilização popular para se defender dos escândalos desses ministros e funcionários inimigos, que promova verdadeiramente a convocação de uma Assembleia Constituinte livre, democrática e soberana, não pactuada com a burguesia. Certamente não o fará,  por isso insistimos que as direções do movimento sindical e popular devem agir independentemente do governo para promover a luta nas ruas e, assim, conquistar reformas sociais. O movimento social e popular não está derrotado como demonstraram as mobilizações do primeiro semestre do ano, mas está confuso e adormecido, por causa das ilusões criadas com um governo que parece ser seu, mas na realidade não é. É urgente retomar o caminho de luta.

Tradução: Lílian Enck

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