Síria: acordo entre o governo HTS e os curdos

Por: Alejandro Iturbe |
Em março, Ahmad al-Sharaa, líder da HTS (Organização para a Libertação do Levante) e presidente da Síria após a derrubada da ditadura de al-Assad, reuniu-se com Mazlum Abdi, comandante das FDS (Forças Democráticas da Síria), a força armada dos curdos na Síria. Essa reunião lançou as bases para um acordo pelo qual as FDS se juntariam à formação de um exército sírio unificado como o principal passo na integração dos curdos da Síria nas instituições sírias. Mark Rubio, secretário de Estado dos EUA, expressou a “satisfação” de seu país com este acordo[1]. No contexto da atual situação síria, qual é o significado deste acordo?
Para responder a essa pergunta, é necessário olhar para a combinação de dois processos: a situação atual na Síria e o que aconteceu com os curdos no país desde 2011.
Em janeiro passado, uma coalizão de forças derrubou o regime ditatorial de Bashar al-Assad, após mais de uma década de um complexo e duro processo de guerra civil no qual tropas de vários países estrangeiros também intervieram. Caracterizamos isso como o triunfo de um processo de revolução democrática do povo sírio[2].
Nessa ofensiva militar, a principal força rebelde foi uma coluna de 20.000 combatentes liderada pelo HTS, uma organização com ideologia islâmica sunita, que surgiu no início de 2017 a partir da fusão de várias organizações semelhantes, com o objetivo de derrubar o regime de Al-Assad. O HTS estava ganhando cada vez mais peso na luta contra o regime, tanto por causa de sua capacidade militar quanto por causa do enfraquecimento das facções laicas, duramente perseguidas e reprimidas por Al-Assad[3].
Uma coluna menor deixou a cidade de Deraa, no sul do país (perto da fronteira com a Jordânia). O exército de al-Assad recuou em direção a Damasco sem lutar, enquanto nos bairros populares e da classe trabalhadora desta cidade se espalharam levantes em massa que tomaram as prisões, libertaram milhares de presos políticos, começaram a tomar represálias contra os militares do regime e marcharam em direção ao centro da cidade.
Naquele momento, Bashar Al-Assad renunciou e fugiu de avião para Moscou, onde Putin lhe deu asilo político. Os militares do regime tentaram fugir da melhor maneira possível. O mesmo aconteceu com outros agentes de al-Assad.
O governo do HTS
Nesse contexto, foi instalado um governo presidido por Ahmad al-Sharaa, composto apenas por ministros do HTS e baseado em suas milícias. É um governo que surge como resultado de um triunfo revolucionário das massas, que se sentem fortalecidas e têm vontade de alcançar suas aspirações democráticas, econômico-sociais e apoio ao povo palestino contra Israel. O novo governo ganhou prestígio por ter liderado a luta contra al-Assad e gera expectativas entre as massas, mas não tem um “cheque em branco”.
Em uma recente viagem à Síria, Fábio Bosco, militante da LIT-QI, nos dá uma visão direta do estado de ânimo do povo de Damasco[4]. Ele o descreve como uma “efervescência” em que “todos discutem cada passo do governo”.
Ele também destacou a pobreza e as dificuldades que a população está vivendo. Embora o abastecimento tenha melhorado e o preço dos alimentos tenha caído um pouco, o funcionamento da economia e da infraestrutura é muito precário: só há eletricidade algumas horas por dia e o preço da gasolina para veículos e uso familiar é duas vezes maior do que no Brasil ou na Argentina.
Diante dessa situação, o governo do HTS quer reconstruir uma economia capitalista na Síria, integrada aos mercados mundiais e, neles, ter um “lugar sob o sol”. Já anunciou que terá “relações tranquilas” com o imperialismo estadunidense, Turquia, Irã, Arábia Saudita, Qatar, Rússia e China, na busca de investimentos para “reconstruir” o país. Portanto, essa reconstrução não terá como objetivo satisfazer as necessidades urgentes das massas.
Ao mesmo tempo, já disse que (apesar do ataque israelense que destruiu completamente a capacidade aérea militar síria[5]) manterá o cessar-fogo nas Colinas de Golã, anexadas por Israel em 1973. Este território tem uma localização estratégica porque domina de cima a união entre a Síria, o Líbano e a Cisjordânia. Em outras palavras, como al-Assad, dará as costas à luta do povo palestino contra o Estado sionista, contra o sentimento amplamente majoritário do povo que quer se solidarizar e apoiar ativamente essa luta[6].
Por outro lado, o governo do HTS expressa apenas uma parte da complexa combinação de forças sociais, políticas e militares que participaram da luta contra al-Assad. Nesse sentido, ainda existem várias regiões do país que são controladas por outras organizações com suas próprias milícias.
O projeto do HTS é reconstruir o Estado burguês sírio com um regime bonapartista e ultracentralizado. Com esse objetivo, pretende redigir e aprovar uma nova Constituição sem participação popular, e só convocaria eleições em quatro anos. Um projeto que se choca frontalmente com as aspirações democráticas das massas.
Para fazer isso, o HTS precisa reconstruir um exército sírio forte e unificado no qual possa assentar esse regime (o exército Assadista foi destruído pela revolução). Este é o objetivo do acordo com as FDS curdas.
Um evento ocorrido em fevereiro passado tensionou ainda mais a situação: a justificada repressão ao levante de um grupo armado de ex-soldados Assadistas degenerou em uma sucessão de massacres sectários contra a população alauita[7].
O longo caminho dos curdos na Síria
Dedicamos vários artigos ao povo curdo[8]. Neles, analisamos que se trata de uma nacionalidade de 40 milhões de pessoas que sempre foi impedida de ter seu próprio Estado-nação a partir de seu território histórico (Curdistão). Desde 1923, o povo curdo e seu território histórico foram divididos em quatro países (Turquia, Irã, Iraque e Síria) nos quais sempre foram uma minoria oprimida e discriminada e lutaram contra essa discriminação e por seu próprio estado unificado. A posição da LIT-QI sempre foi a de reconhecer e defender seu direito de separar seus territórios históricos dos Estados em que foi dividido, a fim de constituir seu próprio Estado independente como única forma de exercer sua autodeterminação e reunificação.
Cerca de 2.000.000 de curdos vivem na Síria, a grande maioria em uma pequena região no norte do país (cerca de 15.000 km2) chamada Rojava. É composto por três distritos (Afrin, Jezira e Kobane) e faz fronteira com a Turquia ao norte e com o Iraque a leste.
As autoridades desses distritos eram nomeadas pelo governo central, que controlava a infraestrutura, os bancos e a maioria das atividades produtivas, condenando Rojava a um nível muito baixo de desenvolvimento econômico, o que obrigou um setor de seus habitantes a migrar para Damasco ou outras cidades da Síria. Ao mesmo tempo, seu idioma não era reconhecido nem podia ser ensinado nas escolas e até recentemente eles não tinham nem direito à cidadania síria. Com justiça, consideravam o regime de Assad como inimigo[9].
A organização política mais influente nesta região é o PYD (Partido da União Democrática), fundado no início do século XXI por instigação do PKK, com sede na Turquia e liderado por Abdullah Öcalan[10]. Existem outros partidos menores ligados a setores burgueses curdos na Turquia e no Iraque. Apesar de ser perseguido pelo regime, o PYD se fortaleceu na clandestinidade.
Em 2011, quando eclodiu o processo insurrecional contra a ditadura, fazia parte do Organismo Nacional de Coordenação para a Mudança Democrática. Em 2012, se retirou deste órgão com críticas às organizações sírias por não apoiarem a demanda de alcançar a autonomia para Rojava.
Em 2012, al-Assad iniciou uma contra-ofensiva duríssima e sangrenta (apoiada por tropas e armas da Rússia, Irã e do Hezbollah libanês). Assim, ele conseguiu recuperar o controle de ferro sobre Damasco e iniciou duríssimos ataques aéreos nas principais cidades controladas pelos rebeldes, como Aleppo e Idlib. Nesse contexto, o PYD recuou para Rojava.
A autonomia de Rojava
Concentrado em combates em outras regiões da Síria, o regime de al-Assad não tinha mais presença militar em Rojava. Nesse contexto, a partir de 2012, o PYD, que havia formado as milícias YPG (Unidades de Proteção do Povo), assumiu o poder e instalou um governo que administrava os distritos de Rojava. Assim, uma “região autônoma” foi constituída e uma espécie de estado curdo nela.
Lá, o PYD foi capaz de aplicar completamente a concepção de “confederalismo democrático” que Öcalan propôs no início do século 21 para substituir o programa fundador do PKK (um Curdistão Unido, Socialista e Independente). Em teoria, tratava-se de construir uma “democracia de base” que promovesse uma “economia popular” baseada na “solidariedade” e incorporasse o cuidado ecológico e a igualdade das mulheres como questões centrais[11].
O processo de Rojava levou setores anarquistas a considerar que ali, pela primeira vez na história, a experiência prática de sua premissa estava sendo desenvolvida: não era necessário um Estado para o funcionamento da economia e da vida social. Em debate com esses setores, dissemos que era falso afirmar que não havia Estado em Rojava, já que o território tinha um governo centralizado pelo PYD baseado em uma força armada (as YPG).
Ao mesmo tempo, setores marxistas consideravam que um pequeno Estado operário, o único no mundo, estava sendo construído em Rojava após a restauração capitalista na antiga União Soviética, China e outros países. Por isso, deveria ser tomado como referência internacional na luta pelo socialismo.
Diante dessa posição, analisamos que as condições objetivas iniciais de Rojava (um nível de desenvolvimento muito baixo e dirigido pelo Estado desde a época do domínio sírio) fizeram com que sua economia funcionasse de maneira muito especial. Acrescentamos que o governo do PYD deveria se adaptar a essas condições. Mas que sua política não era construir um Estado operário, mas uma economia capitalista. Definimos Rojava como um “estado burguês atípico”.[12]
Deve-se acrescentar que a liderança do PYD havia, de fato, estabelecido um pacto de não agressão com o regime de al-Assad: o regime não atacava Rojava e o PYD não se somava ao campo militar rebelde contra ele na guerra civil em curso.
O ataque do Estado Islâmico (ISIS)
Essa situação de tranquilidade foi interrompida pelo projeto do ISIS de construir um “califado” (um novo país) com parte do território iraquiano que já dominava e uma parte do território sírio (especialmente a região petrolífera síria – localizada fora de Rojava, mas perto dela[13]).
Com esse projeto, em 2014 suas forças avançaram “cortando” e dominando uma faixa no meio da Síria. Para consolidar esse domínio, o ISIS precisava tomar a cidade curda de Kobane. Lá, enfrentou uma duríssima resistência curda, com um papel heroico das mulheres jovens, e foi derrotado em 2015[14].
ISIS era um “ator que não havia sido convidado” para o “drama sírio”. O imperialismo estadunidense considerou-o o “principal inimigo da região” e decidiu liquidá-lo. Para esse fim, estabeleceu uma aliança com o PYD e forneceu armas e treinamento militar às YPG.
Com base nelas, foram construídas as FDS-Forças Democráticas Sírias, às quais alguns sírios não curdos se incorporaram, para derrotar e desalojar definitivamente o ISIS da Síria. Ao mesmo tempo, para que dominassem uma parte do território sírio muito maior do que Rojava, as FDS também dominaram a faixa que separa os cantões de Afrin e Jezira, a região petrolífera perto de Rojava, e continuaram seu avanço para o sul e oeste. Em seu avanço para o oeste, as FDS também atacaram cidades e milícias menores rebeldes.
O PYD tornou-se assim o principal aliado dos EUA no complexo cenário sírio. Uma política que se aprofundou durante a primeira presidência de Donald Trump. O projeto de Trump era avançar um acordo com Putin para dividir a Síria em dois territórios separados pelo rio Eufrates. A parte ocidental ficaria sob o domínio do regime de al-Assad, apoiado pela Rússia, Irã e Hezbollah. A parte oriental ficaria dominada pelos curdos, com o apoio dos EUA.
Diante dessa perspectiva, o regime turco de Recep Erdogan considerou um grande perigo o estabelecimento de um estado curdo fortemente armado em suas fronteiras, com profundas conexões com os milhões de curdos no sul da Turquia. O exército turco invadiu o norte da Síria em 2019 e se apoderou de territórios daquele país com o objetivo principal de estabelecer um “cinturão de segurança” separando os territórios curdos da Turquia e da Síria e, assim, deixando os cantões curdos da Síria isolados entre si[15].
A operação foi finalmente endossada por Donald Trump, o que mostrou a cegueira estratégica do PYD. Era taticamente necessário aceitar ajuda militar do imperialismo dos EUA para combater o ISIS. Mas a liderança curda transformou essa necessidade tática em uma aliança permanente e estratégica. Inevitavelmente, Trump os entregou à Turquia, seu principal aliado na região[16]. A Turquia completou sua ofensiva promovendo a formação de uma milícia síria a seu serviço (o chamado Exército Nacional Sírio), que controla esses territórios e nem mesmo deixou de atacar os curdos em meio à ofensiva de diversa forças contra Al-Assad.
Após a queda de al-Assad
Analisamos que o governo HTS expressa apenas uma parte das forças sociais e militares que derrubaram Assad e o apoio das massas da região de Damasco, e em outras cidades está condicionado. Referimo-nos ao seu projeto de reunificar um Estado burguês sírio com um forte regime bonapartista.
Mas, para conseguir isso, precisa ter um exército sólido e unificado que possa exercer controle sobre todo o país. A Síria permanece fragmentada hoje, com territórios dominados por forças que não respondem ao governo do HTS: forças pró-turcas no norte, drusos no sul e focos de rebelião que podem ser promovidos pelos Assadistas na minoria alauita.
Nesse sentido, a questão mais importante é o território dominado pelas FDS e pelos curdos (quase 20% da área síria) em que estão localizados os principais campos de petróleo do país.
Em seu projeto para estabilizar a Síria, o governo do HTS quer evitar um confronto com as FDS a todo custo. Além do custo de uma nova guerra interna, suas chances de triunfo militar seriam muito pequenas, já que as FDS são a força militar mais poderosa e mais bem armada do país (e o HTS sabe disso). Por isso, para estabilizar o país, propõe este acordo que estabelece “a integração de todas as instituições civis e militares da administração autônoma curda no governo sírio”.
Mas essa formulação geral deixa muitas questões em aberto. Primeiro, como as FDS serão incorporadas a um exército sírio unificado? Haverá um único comando e eles serão integrados a ele? Ou será uma força armada com “dois braços”, com seus próprios comandos que coordenarão ações comuns? A única coisa que é explicitamente dita é que exercerá “controle de passagens de fronteira, aeroportos e campos de petróleo e gás”. Nem uma palavra sobre como ele agiria em situações internas que podem exigir sua intervenção.
Em segundo lugar, o que significa a “integração das instituições civis da administração autônoma curda no governo sírio”? Essa autonomia será dissolvida e a região curda e o PYD entrarão nas “gerais da lei” de uma constituição síria? Nesse caso, para o PYD, o significado do acordo seria o mesmo que analisamos quando Öcalán anunciou a dissolução do PKK: um retrocesso qualitativo e o abandono definitivo do caminho da luta para alcançar sua autodeterminação. Significaria a plena integração no regime burguês para ver se “algo em troca” pode ser obtido. Seria ainda pior do que Öcalan, já que o PYD havia conquistado uma forte região autônoma para os curdos na Síria.
Se, por outro lado, o acordo significar o reconhecimento dessa autonomia na Constituição síria, no âmbito de um Estado binacional comum, o PYD poderia dizer que os curdos da Síria saem beneficiados.
Mas, mesmo neste caso, esse acordo consolidaria a política e o projeto burguês do PYD, que já não lutava por um Curdistão unificado e agora deixa os curdos de outros países à sua sorte, especialmente os da Turquia.
Queremos dedicar um parágrafo final ao apoio do imperialismo estadunidense a este projeto. Os EUA e outras potências mundiais e regionais estão profundamente preocupados com o barril de pólvora que é permanentemente a região do Oriente Médio, com focos de conflitos militares em vários países e lugares, com aliados históricos como Israel e Turquia, com sérios problemas e com repercussões nos EUA e na própria Europa, como as grandes mobilizações em apoio à Palestina. Eles precisam “estabilizar” a região e este acordo vai nessa direção. Daí a “satisfação” de Rubio.
[1] https://www.infobae.com/estados-unidos/2025/03/12/eeuu-celebro-el-acuerdo-en-siria-que-permite-la-integracion-de-las-fuerzas-kurdas-al-gobierno-de-ahmed-al-sharaa/ e https://www.reuters.com/world/middle-east/us-nudged-kurds-towards-damascus-deal-troop-presence-comes-into-focus-2025-03-12/
[2] https://litci.org/es/fue-una-derrota-o-un-triunfo-de-las-masas/?utm_source=copylink&utm_medium=browser
[3] https://www.longwarjournal.org/archives/2017/02/hayat-tahrir-al-sham-leader-calls-for-unity-in-syrian-insurgency.php
[4] https://litci.org/es/relato-de-viaje-sobre-la-siria-pos-assad/?utm_source=copylink&utm_medium=browser
[5] https://www.eldestapeweb.com/informacion-general/siria/israel-ataca-bases-militares-e-infraestructuras-en-siria-y-mata-a-milicianos-20254331516
[6] https://www.instagram.com/reel/DIKbrNigaSl/?igsh=MWx2ZmZrc3JwM3FoZw%3D%3D
[7] Os alauitas são um ramo do Islã presente em vários países do Oriente Médio. Na Síria, eles são minoria em comparação com os sunitas. Mas o fato de Bashar al-Assad pertencer a esse ramo fez com que outros alauitas desempenhassem um papel central em seu regime ditatorial e no apoio a esse regime. A maioria sunita do país, como cristãos e secularistas, foi oprimida e perseguida.
[8] http://litci.org/es/por-que-defendemos-el-derecho-de-los-kurdos-a-tener-su-propio-estado/?utm_source=copylink&utm_medium=browser
[9] https://litci.org/es/sobre-la-lucha-del-pueblo-kurdo/?utm_source=copylink&utm_medium=browser
[10] https://litci.org/es/ocalan-disuelve-el-pkk/?utm_source=copylink&utm_medium=browser
[11] Veja a referência acima.
[12] https://litci.org/es/rojava-kurdistan-sirio-un-estado-burgues-atipico-parte-1/?utm_source=copylink&utm_medium=browser
[13] https://litci.org/es/un-ano-de-califato-en-irak-y-siria/?utm_source=copylink&utm_medium=browser
[14] https://litci.org/es/la-victoria-del-pueblo-kurdo-en-kobane/?utm_source=copylink&utm_medium=browser
[15] https://litci.org/es/repudiamos-el-ataque-del-ejercito-turco-contra-rojava-kurdistan-sirio/?utm_source=copylink&utm_medium=browser
[16] https://litci.org/es/rojava-kurdistan-sirio-las-alianzas-peligrosas-del-pyd/?utm_source=copylink&utm_medium=browser
Tradução: Lílian Enck