Este 8M: contra os acordos de Boric e da direita, unidade e luta da classe trabalhadora!

Por: MIT – Chile |
O dia 8 de março marca um dia histórico conquistado pelas mulheres trabalhadoras. No entanto, apesar das grandes mobilizações lideradas por mulheres em nível internacional e dos chamados a greves feministas, a violência imperialista contra os povos, a pilhagem da natureza e dos territórios, e muito menos a desigualdade social, não foram detidas. A violência que as mulheres ucranianas ou palestinas vivenciam diariamente não é muito diferente daquela enfrentada por nossas mulheres mapuches em Wallmapu, com a militarização do Estado chileno como política sistemática do governo Boric ou com o desaparecimento suspeito de ativistas que defendem a terra e a floresta nativa, como Julia Chuñil, desaparecida desde 8 de novembro de 2024.
Apesar das promessas e da confiança que grupos feministas depositaram neste governo, as expectativas de acabar com a desigualdade e a violência contra as mulheres foram frustradas. Após três anos no poder, os eixos de seu programa, como feminismo, transição ecológica justa, descentralização e garantia de trabalho decente, parecem letra morta. Pior ainda, a violência sexual veio de dentro do governo e de seu ministro Monsalve.
O empobrecimento gradual da vida empurrou as mulheres para o mundo do trabalho, piorando suas condições de vida. O número de mulheres chefes de família aumentou para 46% após a pandemia — ou seja, quase metade dos lares no Chile são chefiados por mulheres — e, embora a participação feminina no mercado de trabalho tenha aumentado, os empregos tendem a ser mais precários e as disparidades salariais não diminuem; pelo contrário, são abismais se considerarmos a relação de classe; porque 1% dos que ganham mais capturam quase 30% da renda, enquanto metade da classe trabalhadora deve sobreviver com menos de 583 mil pesos (Fundação FTe. SOL). Outra consequência da forma como as mulheres tiveram que se inserir no mercado de trabalho, somada à precariedade da educação pública, é o abandono de crianças em territórios onde imperam a violência, o tráfico de drogas, a dependência química e a degradação social. As taxas de desemprego também não diminuíram significativamente e, somadas ao aumento do custo de vida, ao aumento de serviços básicos como água, luz e moradia, nossa classe vive em piores condições materiais.
A violência machista é uma das expressões mais brutais das diferentes formas de violência do capitalismo, porque esta sociedade é construída sobre a mãe de todas as violências: a desigualdade gerada pela opressão de classe exercida por uma minoria sobre a maioria dos trabalhadores e suas famílias.
A verdadeira ofensiva vem de um governo que favorece grandes grupos econômicos
A desigualdade social está se aprofundando, e o Estado continua subsidiando empresas privadas com recursos públicos, deixando a maioria da população em situação de pobreza. O governo Boric, junto com o Partido Comunista, a antiga Concertação e a Frente Ampla, chegou a acordos importantes com a direita para governar, aprovando leis que vão contra a classe trabalhadora, muitas vezes prejudicando principalmente as mulheres trabalhadoras: a nova reforma previdenciária, a Lei Antiocupação, o resgate dos Isapres, através da Lei Short, a Lei de Infraestrutura Crítica, a Lei Nain-Retamal que criminaliza a luta do povo Mapuche, entre outras…
Todos esses acordos representam verdadeiros ataques à classe trabalhadora, com o objetivo de preservar o padrão de acumulação capitalista no país. No centro dessas mudanças estruturais está a lei das 40 horas e a reforma da previdência (que deve ser promulgada em março) liderada pelo Ministro Jara.
Por um lado, a lei das 40 horas traz consigo o aumento da intensidade do trabalho (produzindo mais em menos tempo), a negociação individual da jornada de trabalho ou por meio de sindicatos (fazendo com que as horas trabalhadas semanais cheguem a 52), muitas delas elevadas pelos próprios empregadores, enfraquecendo o poder de barganha dos trabalhadores.
Por outro lado, a Reforma da Previdência, ao mesmo tempo em que fortalece o padrão de acumulação das AFPs, realiza um aumento mínimo para as mulheres, já que aquelas que contribuem há menos de 20 anos receberão um aumento real de dez mil pesos. Esta reforma irá, na prática, obrigar-nos a prolongar a nossa vida ativa para mais de 25 anos, para conseguirmos um aumento significativo das aposentadorias; enquanto grupos seguradores nacionais e transnacionais (3 deles americanos) continuarão a lucrar com nossos fundos. Por fim, porque fortalece um sistema que deixa as aposentadorias das gerações futuras incertas devido às flutuações do mercado.
Nós, ao contrário das correntes feministas, não temos uma “visão crítica” do governo. Somos contra o governo e seus pactos com a direita porque sabemos que os problemas sociais levantados em 18 de outubro de 2019 sobre moradia, previdência, saúde, educação e meio ambiente, não só persistem como se agravaram. Nossas diferenças são, portanto, baseadas em classe e estamos preparadas para lutar por todos os direitos das mulheres, ao lado de nossos companheiros, porque nossa luta é inseparável da luta geral da classe trabalhadora e nossas demandas não podem ser resolvidas dentro da estrutura de uma sociedade capitalista que dá origem a tanta opressão e exploração.
Sabemos também que em período eleitoral o discurso chantagista será instalado pela Frente Ampla, o Partido Comunista, a antiga Nova Maioria, cujo eixo central é um chamado para frear o avanço da direita. Essa política é um beco sem saída, pois, dos setores mais conservadores aos mais liberais, todos governaram e pactuaram com a direita para preservar os interesses das dez famílias donas do Chile e das transnacionais. Este é um governo de grandes acordos, com a implementação de reformas que asseguram os lucros de grupos nacionais ou estrangeiros, promovendo leis que garantem sua propriedade privada.
É hora de organizações de trabalhadores como a CUT, o Sindicato dos Professores, as Federações e as Associações de Servidores Públicos romperem com todas as esperanças neste governo e nesses partidos, para organizar uma pauta de reivindicações que unifique a classe trabalhadora e resgate o significado histórico que o 8 de março deu às mulheres como uma conquista.
Devemos exigir um programa que comece pelas nossas necessidades imediatas, levando adiante uma única lista de reivindicações que comece por acabar com o alto custo de vida e os salários miseráveis, e que o salário mínimo seja elevado para 700.000 pesos com reajuste automático de acordo com a inflação para todos os trabalhadores do país. Congelamento imediato dos preços dos bens e serviços mais básicos, como alimentação, aluguel, UF (Unidade de Fomento, ndt.), transporte e contas de luz, gás e água. Aprovação do 7º saque popular emergencial e fim imediato das AFPs, com direito a saque de 100%. Parar a reforma da previdência acordada pelo governo e pela direita. Exigir um plano de emergência para a construção de moradias de qualidade para acabar com a escassez de moradias agora. O Estado deve criar uma construtora pública, sob controle dos trabalhadores, para gerar milhares de empregos e acabar com o déficit habitacional. Garantir trabalho igualitário, remuneração igualitária e a construção de abrigos para mulheres vítimas de violência de gênero. Para financiar todas essas medidas, nacionalizar o cobre e o lítio com o controle dos trabalhadores e suas comunidades.
Convidamos todas as mulheres, homens, dissidências, jovens, negros, mapuches, imigrantes a construir uma alternativa revolucionária para a classe trabalhadora; porque sem ela todos os avanços e conquistas serão parciais e regredirão dependendo do governo que estiver no poder se não mudarmos estruturalmente esta sociedade. Precisamos de um partido revolucionário, venha construir o Movimento Internacional dos Trabalhadores.