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Mulheres

A violência não cessa

Women take part in a demonstration for the International Day for the Elimination of Violence against Women in Caracas, Venezuela, on November 25, 2020, amid the Covid-19 pandemic. Cristian Hernandez
março 5, 2025

Por: Rosa Cecília – PST/Colômbia

No momento em que esta nota é escrita, Amelia Macías Patiño, uma mulher boyacense de 40 anos, está internada em um hospital de Sogamoso após sofrer graves lesões em uma tentativa de feminicídio por parte de seu companheiro. Lenis Martínez foi resgatada do sequestro cometido por seu ex-parceiro, que não apenas a maltratou, mas também tentou incendiar o apartamento onde deixou seus dois filhos pequenos amarrados. Felizmente, o agressor não conseguiu seu objetivo e está sendo procurado pelas autoridades.

Os dois filhos de Érika Paola Monterrosa não tiveram a mesma sorte. No dia 20 de janeiro, foram brutalmente espancados pelo padrasto, o que levou à morte do mais novo, enquanto o outro permanece hospitalizado, lutando por sua vida.

Poderíamos continuar enumerando nomes de vítimas de violência de gênero neste início de ano, e em cada caso encontraríamos um histórico de agressões em que o agressor é alguém próximo. Cada história parece saída de um filme de terror, mas o mais assustador é que essa realidade é inegável. Tamanha é a gravidade do problema que a Defensoria do Povo instou a Presidência, a Vice-Presidência e a Procuradoria a tomarem medidas urgentes. Até 27 de janeiro, foram registrados 18 assassinatos motivados por preconceitos contra mulheres e pessoas LGBTI: 4 mulheres transgênero, 1 mulher lésbica, 2 homens transgênero, 6 homens gays, 1 pessoa cuja identidade de gênero ainda está por ser estabelecida, além de várias mulheres cisgênero.

Não podemos perder de vista que, no ano passado, foi registrado o maior número de feminicídios e atos de violência de gênero dos últimos sete anos. Embora o feminicídio tenha sido reconhecido como “a máxima expressão da violência de gênero”, o mesmo não acontece com os assassinatos e agressões contra pessoas LGBTI, cuja incidência está aumentando. Esse fenômeno é reforçado por discursos de ódio como os de Trump, que incitam a violência contra as diversidades sexuais. Em 2023, a Procuradoria reportou que 40% das agressões registradas por lesões corporais foram contra mulheres lésbicas, bissexuais ou trans. No mesmo ano, a organização Caribe Afirmativo documentou mais de 1.700 situações de violência contra a população LGBTIQ+, incluindo 20 casos de ameaças e pelo menos 15 panfletos com discursos estigmatizantes contra mulheres lésbicas, trans e bissexuais.

Segundo um relatório da Rede Regional de Informação LGBTI, a Colômbia, junto com o Brasil, lidera as taxas de homicídios contra pessoas de orientação sexual diversa na América Latina e no Caribe. Nosso país detém o lamentável recorde de 43% dos assassinatos dessa população na região.

Por que tanta violência?

Em nossa visão, vivemos uma época de intensificação de todas as contradições sociais, resultado da crise do sistema capitalista. A luta de classes exacerba o uso da violência por parte dos poderosos e de seus Estados contra os explorados e oprimidos, que resistem e lutam em todos os continentes para transformar essa realidade cada vez mais difícil para os setores populares.

As guerras que testemunhamos hoje, como a de Israel contra o povo palestino—atualmente em trégua, mas longe de uma solução—, já custaram cerca de 50.000 vidas em Gaza. Ou a de Rússia contra a Ucrânia, onde, segundo a OTAN (com números ainda não confirmados), a Rússia perdeu 350.000 soldados e a Ucrânia 428.000. Essas guerras são a manifestação mais brutal da violência de uma classe— a burguesia imperialista— que busca subjugar povos inteiros e saquear seus recursos e territórios.

A violência tem sido e continuará sendo uma arma dos poderosos para subjugar a imensa maioria dos trabalhadores e pobres do mundo, explorando sua força de trabalho e defendendo seus privilégios a qualquer custo. Outra expressão dessa violência é a repressão contra os imigrantes. Não apenas Trump, mas todos os governos dos países imperialistas têm impulsionado políticas anti-imigração com o objetivo de impedir que os trabalhadores de países semicoloniais cruzem suas fronteiras. E, como sempre, quem paga com a vida são os setores mais vulneráveis.

Dentro dos setores oprimidos, também existem diferenças de classe: os mais afetados são os trabalhadores e os pobres. As mulheres trabalhadoras, além de exploradas, são duplamente oprimidas por meio de preconceitos cuidadosamente alimentados por instituições políticas, culturais e religiosas a serviço da burguesia. Essa ideologia não é casual: considerar a mulher inferior ao homem justifica a redução de seus salários e seu confinamento ao trabalho doméstico e de cuidados não remunerados.

O racismo, a homofobia, a transfobia e a xenofobia cumprem a mesma função: dividir a classe trabalhadora e colocá-la em confronto interno. Sob o argumento de que os imigrantes “roubam empregos” dos trabalhadores nacionais, conseguem fragmentar a luta operária e reduzir os salários de todos. Essas narrativas sustentam as políticas anti-imigração dos países imperialistas, os mesmos que construíram sua riqueza explorando a mão de obra migrante.

Hoje, esse sistema está sendo questionado. Como resposta à luta dos trabalhadores e dos setores mais oprimidos contra a desigualdade, a miséria e a discriminação, a burguesia promove a violência: uma, exercida diretamente por suas forças repressivas, e outra, fomentada por meio de discursos e ideologias que justificam a opressão. Dentro desta última categoria, insere-se a violência de gênero e contra pessoas LGBTI, que encontra respaldo em instituições religiosas e setores conservadores que apresentam o direito de decidir sobre nossos corpos como “pecados” que merecem castigo.

Por isso, condenamos energicamente a violência contra os explorados e oprimidos. Acreditamos que é urgente que as organizações sindicais, comunitárias, de bairro, políticas e culturais impulsionem a educação e o debate sobre o papel dessas ideologias na fragmentação da classe trabalhadora. Não podemos permitir que nos transformem em instrumentos de divisão, perpetuando uma violência que só beneficia nossos inimigos.

A classe trabalhadora deve levantar um programa de reivindicações para as mulheres e os setores oprimidos, exigindo de empresas e governos respostas concretas. Ao mesmo tempo, devemos seguir pressionando o governo Petro para que declare estado de emergência contra a violência de gênero, com medidas reais de proteção e educação, cujos recursos sejam administrados por organizações de mulheres e vítimas.

Essa luta contra a violência não pode ser separada de uma estratégia de independência de classe para a organização revolucionária. Somente por meio da transformação social e da construção de uma sociedade sem explorados nem oprimidos poderemos erradicar definitivamente essa violência sistêmica.

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