Três anos de governo de Gabriel Boric. Qual é o balanço?
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Por: MIT – Chile
No final de 2021, Gabriel Boric foi eleito. Para muitos, seu governo simbolizou a esperança de mudanças sociais. Grande parte de seu programa refletiu as demandas de milhões de pessoas que se mobilizaram nas últimas décadas, principalmente depois de 18 de outubro de 2019. Depois de quase três anos de governo, é hora de fazer um balanço. Em 26 de maio de 2022, pouco mais de dois meses após a troca de comando, nós escrevemos:
[…] o que podemos concluir é que o principal objetivo do pacto que hoje governa o país – a Nova Concertação – não é e nunca foi mudar fundamentalmente a realidade da maioria da população trabalhadora, acabando com as enormes desigualdades e com a domínio das 10 famílias mais ricas e transnacionais sobre o Chile. Seu objetivo é cada vez mais nítido: desviar as mobilizações para o beco sem saída das instituições burguesas, reconstruindo o “pacto social” que permite à grande burguesia continuar saqueando o país (1).
Neste artigo queremos demonstrar que todas as previsões que fizemos sobre o caráter do novo governo se concretizaram. Além disso, gostaríamos de acrescentar alguns aspectos que inicialmente subestimamos em nossas análises.
Um governo a serviço das empresas transnacionais e das 10 famílias mais ricas
Do Movimento Internacional dos Trabalhadores, caracterizamos o governo Boric como um governo neoconcertacionista, no marco do surgimento de governos burgueses de colaboração de classes na América Latina como resposta burguesa para desviar e deter os processos de luta na América Latina de 2019, Boric no Chile, Petro na Colômbia ou Lula no Brasil. Quando falamos de governos burgueses de colaboração de classes, falamos de governos a serviço do capital que ocupam as expectativas democráticas das massas para derrotar as mobilizações combinando a cooptação de setores em luta e a repressão de outros que não se submetem às suas vontades. Em época de eleições, esses governos são apresentados como o “mal menor” para coibir outros setores políticos da própria burguesia. Com base nisso, fazemos agora este balanço do terceiro ano do governo de Gabriel Boric.
Nos aspectos mais importantes da economia chilena, não há mudanças fundamentais. O governo Boric, com seu Ministro das Finanças “socialista” e pró-empresarial Mario Marcel, manteve intacta a estrutura econômica “extrativista” do Chile. O Chile continua sendo um país primário exportador, o que significa que produz e exporta matérias-primas e produtos de baixo valor agregado, como cobre (principalmente na forma de concentrado), lítio, celulose, peixes e frutas. Embora Boric nunca tenha prometido revolucionar a estrutura produtiva do país, suas promessas iam em duas direções: 1) aumentar a arrecadação pública por meio de impostos sobre as grandes empresas e os ricos para financiar os serviços públicos e 2) começar a transformar a matriz produtiva do país no sentido da industrialização, para que o Chile tivesse maior soberania e não dependesse tanto da exportação de matérias-primas.
Em relação ao primeiro objetivo, as “conquistas” do novo governo são, no mínimo, patéticas. Após a rejeição da reforma tributária pela direita, o governo se adaptou à pressão empresarial e reduziu todas as suas expectativas de arrecadação de receitas. Agora, em vez de falar em “aumentar os impostos” dos mais ricos, o Ministro das Finanças fala em reduzi-los.(2)
Um de seus projetos mais importantes para aumentar a arrecadação de impostos foi o royalty de mineração, que foi aprovado em um acordo entre partidos e a comunidade empresarial. Nas palavras de José Gabriel Palma, importante economista burguês progressista do Chile, professor da Usach e da Universidade de Cambridge, o royalt aprovado é um “curativo” que não resolverá nenhum problema real do país (3). Os valores que serão distribuídos entre os diferentes municípios são ridículos (US$ 93 milhões entre 307 municípios) e servirão apenas para permitir que políticos de diferentes partidos usem esse dinheiro às vésperas das eleições para obter mais votos. Após a aprovação do novo royalty, que havida sido muito temido pelas grandes mineradoras privadas, as principais mineradoras anunciaram os maiores investimentos no Chile nos últimos 10 anos, demonstrando que o empresariado estava muito feliz com o governo Boric (4). Esses investimentos, ao contrário do que muitos podem pensar, não significarão maior desenvolvimento para o país nem bem-estar para a população, já que os enormes lucros produzidos pela mineração (70% privada) vão parar nos bolsos de seus acionistas estrangeiros e nacionais. O que resta para o povo chileno são zonas de sacrifício e trabalhadores doentes.
No que se refere a outra iniciativa de aumento de impostos, o imposto sobre grandes fortunas, o projeto simplesmente desapareceu das prioridades do governo. Toda a conversa sobre um possível aumento de impostos sobre os super-ricos é acompanhada por um corte de impostos sobre as grandes empresas, o que significa que o efeito sobre os ricos será praticamente zero. (5)
Boric entra, portanto, em seu último ano de governo sem conseguir nenhuma mudança fundamental na arrecadação de impostos, como havia prometido no início de sua campanha (alcançar um aumento de 5% no PIB para investir em serviços públicos). E pior. Para se ter uma ideia, o aumento médio dos gastos públicos de Boric é menor até que o do governo de Sebastián Piñera (6). Seu projeto de investir no setor público com migalhas retiradas das grandes empresas está falhando miseravelmente.
Em relação ao segundo “objetivo” do governo de industrializar o país para reduzir a dependência da exportação de matérias-primas, este não só não foi alcançado como foi na direção oposta. Nos últimos três anos, duas empresas muito importantes fecharam: a fundição de cobre de Ventanas e a siderúrgica Huachipato.
Para fechar Ventanas, o governo usou a poluição causada pela fundição como desculpa, quando sua principal preocupação nunca foi a saúde da população de Quintero ou a poluição ambiental (prova disso é que todas as outras empresas poluidoras continuam operando). O fechamento de uma fundição histórica como a Ventanas — em vez de investir para melhorá-la — tem a ver com o projeto da burguesia mundial para a economia chilena: que o Chile exporte mais cobre bruto (concentrado) para que ele possa ser fundido e refinado na China.
Na mesma linha, a Siderúrgica Huachipato, pertencente ao grupo CAP, foi fechada. O governo de Boric, em vez de proteger a empresa siderúrgica nacionalizando-a e subsidiando-a para manter os milhares de empregos que ela gerava, permitiu que Huachipato fechasse devido à sua baixa lucratividade, aumentando a dependência da empresa das importações de aço chinês. Assim, há alguns meses, foi fechada uma emblemática indústria nacional que produzia aço de altíssima qualidade há mais de 70 anos.
Em relação a outro setor onde o governo prometeu industrializar o país, o lítio, suas promessas, como já havíamos escrito em outro texto (7), continuaram sendo apenas isso: promessas. O governo não só não fez nenhum progresso na criação da famosa Companhia Nacional de Lítio (8) como também fechou um acordo com o magnata chileno do lítio e ex-genro de Pinochet, Julio Ponce Lerou. Ponce Lerou é uma das figuras mais controversas da burguesia chilena, tendo sido protagonista de um dos maiores escândalos de corrupção das últimas décadas, o caso Soquimich. O governo de Boric, em vez de suspender os contratos com Ponce Lerou, decidiu estendê-los até 2060, doando grande parte do lítio que pertence a todo o povo a um dos homens mais ricos e corruptos do Chile.
Assim, embora os projetos “emblemáticos” prometidos por Boric não tenham se concretizado, o governo se gaba de ter gerado um clima de estabilidade social para que grandes empresas possam continuar ganhando rios de dinheiro (9). Os principais grupos econômicos do país tiveram lucros estratosféricos nos últimos 3 anos (10). Para se ter uma ideia, só em 2023, os lucros bancários foram 4 vezes maiores do que tudo o que se espera arrecadar com os royalties em 2025(11). No lítio, devido à alta demanda global por carros elétricos, os lucros se multiplicaram enormemente. Em 2022, a SQM teve lucros de quase 4 bilhões de dólares, dinheiro que poderia ter sido usado para resolver problemas sérios enfrentados pela população, como saúde, segurança, etc.
No setor florestal, por exemplo, o Security Bank projeta um aumento de lucro de mais de 100% até 2024(12). Lembremos que o setor florestal é dominado pelas famílias Matte e Angelini, duas das mais poderosas do Chile. Garantir os lucros dessas famílias é o que explica a contínua criminalização dos movimentos mapuches que recuperam terras no sul, com a permanência dos Estados de Exceção em Biobío e Araucanía. Nesse aspecto — como em muitos outros — o governo Boric provou ser uma continuação do governo Piñera.
Poderíamos continuar citando exemplos de enormes lucros de empresas de mineração, fundos de pensão, salmonicultura, etc., porém, nossa ideia não é sobrecarregar o leitor com números. Quem quiser mais informações pode pesquisar no Google os lucros das empresas do índice IPSA.
Fortalecimento do mercado financeiro de AFPs e Isapres
Outra proposta emblemática de Boric foi acabar com as AFPs e criar um sistema público de Previdência Social. Aqui, mais uma vez, o governo não só não cumprirá sua promessa, mas tudo indica um fortalecimento das AFPs. O atual projeto que está sendo acordado entre o governo e a direita aumentará muito o dinheiro transferido para as AFPs e não significará um aumento significativo nas miseráveis aposentadorias/pensões recebidas pelos trabalhadores. A ministra “comunista” Jeannette Jara, uma das maiores defensoras do projeto e das AFPs, disse em entrevista que é preciso “aumentar a profundidade do mercado de capitais para o crescimento do país”. Em bom chileno: é preciso dar mais dinheiro às AFPs (13). Esse argumento, além de reproduzir a ideologia burguesa de que os responsáveis pelo crescimento do país seriam os empresários e não os trabalhadores, é totalmente falso. Hoje, as AFPs têm mais de 40% dos nossos fundos investidos fora do Chile, num total de mais de 66 bilhões de dólares.
Que crescimento na economia chilena esses fundos estão impulsionando? Nenhum. O argumento de Jara é falso. Essa é a mesma mentira que as AFPs vêm reproduzindo há décadas. Os outros 60% dos recursos, que são investidos no Chile, também não melhoram as condições de vida da população, pois são investidos majoritariamente em empresas extrativas de grandes grupos econômicos, que geram empregos de baixa qualidade e destroem a natureza e as comunidades (14).
O projeto previdenciário do governo e da direita é tão escandaloso que até o economista Hugo Fazio, historicamente ligado ao PC (hoje próximo de sua ala esquerda “jadueísta”), disse que o projeto é um ataque aos trabalhadores. A Coordenadora do NO+AFP também teve que se movimentar, após anos de apatia, para convocar uma grande mobilização para o mês de março de 2025. Até na própria base do governo, o projeto gerou constrangimento, com militantes do Comitê Central do Partido da Frente Ampla questionando isso (15).
Em relação às Isapres, outro braço do mercado financeiro dos serviços públicos do país, a atuação do governo tem sido a mesma. Suas promessas de fortalecer o setor de saúde pública se transformaram no oposto: um enorme resgate para as Isapres, que deveriam ter falido por devolver todo o dinheiro que roubaram de seus “clientes” durante anos cobrando taxas indevidas. Mas as Isapres são muito poderosas, ligados ao grande capital estrangeiro e nacional, e é por isso que o governo (sempre junto com a direita) decidiu salvá-los.
Assim, o mercado financeiro, disfarçado de prestador de serviços públicos, continuará a lucrar muito com as aposentadorias/pensões e a saúde da classe trabalhadora, tudo patrocinado pela “esquerda progressista”.
Os grandes acordos nacionais
Como escrevemos em outros artigos (16), a lógica do governo Boric é a mesma dos governos anteriores da Concertação: chegar a grandes acordos nacionais com a direita. Para sua militância, os líderes dos partidos governistas criticam a direita, dizendo que eles são fascistas, que não querem transformar o país, etc. Esse discurso “antifascismo” ganhará força em 2025, por conta das eleições presidenciais. Os partidos governantes tentarão enganar os trabalhadores e os jovens dizendo que o maior perigo para o país seria uma vitória de Matthei ou de algum outro candidato de direita. Nada mais mentiroso. O governo de Boric tem sido um dos mais direitistas das últimas décadas, aprofundando a pilhagem do país em acordo com a direita.
Para fechar esses grandes acordos, eles contam com dois elementos. Primeiro, tentaram desmobilizar e cooptar o movimento de massas, desativando lutas que poderiam ter sido muito importantes, como a luta dos trabalhadores do porto de Coronel ou dos trabalhadores de Huachipato, que poderiam ter incendiado a região de Biobío. O governo conseguiu ser o braço direito do empresariado na mediação das negociações com os trabalhadores, formando grupos de trabalho e fazendo promessas aos sindicatos. Os sindicatos, por sua vez, dirigidos por burocratas sindicais com muito pouco comprometimento com os trabalhadores e com a independência de classe, acabam negociando migalhas à custa da desmobilização de suas bases.
Outro exemplo de política de conciliação de classes é a atuação da CUT. Devido ao grande descontentamento existente contra o governo dentro das próprias fileiras da CUT (dirigida pelos partidos governantes), a CUT foi forçada a convocar uma greve nacional para 11 de abril. Esta greve gerou mobilizações significativas (20.000 em Santiago), demonstrando que há combatividade nas bases da Central, especialmente entre os funcionários públicos. No entanto, depois de 11 de abril, a CUT não convocou mais mobilizações nacionais. O objetivo é aliviar a pressão de baixo para que o governo possa continuar a negociar suas reformas com as grandes empresas. A CUT atua da mesma forma que atuou nos governos anteriores da Concertação: como braço direito do governo na classe trabalhadora.
O segundo elemento da política do governo para desativar o movimento de massa é a criminalização. O governo Boric cumpriu um papel extremamente reacionário contra os movimentos sociais, aprovando leis que um governo de direita teria dificuldade em aprovar. As leis criminalizadoras aprovadas pelo Parlamento, com o apoio do governo, visam criar uma nova “legalidade” que permita aos futuros governos atuarem de forma muito mais dura contra mobilizações em massa e uma possível nova explosão social. Assim, o governo aprovou as leis Naín-Retamal, a Lei de Infraestrutura Crítica, a Lei Anti-Ocupação e, recentemente, a nova Lei Antiterrorista. Todas essas leis, estratégicas para as famílias que dominam o país, foram acordadas com a direita.
Este avanço legislativo vem acompanhado de duras medidas contra os setores de vanguarda da juventude, dos trabalhadores e dos mapuches. Em território mapuche, é mantido um Estado de Exceção permanente, com brutal perseguição aos líderes mapuches (hoje há mais de 100 presos políticos mapuches).
Em seu último livro, publicado há menos de um mês, Héctor Llaitul, porta-voz da CAM, denuncia que o governo de Boric tem sido um dos piores das últimas décadas, pois não respeita nem os direitos mínimos dos mapuches que estão presos ( Convenção 169 da OIT). A mesma situação se repete em relação aos estudantes secundaristas mobilizados, que estão sendo perseguidos e criminalizados pelo governo por meio da Lei Aula Segura, criada pela direita. Em todas essas questões, de interesse estratégico para a burguesia chilena e as transnacionais, o governo e a direita caminham de mãos dadas.
Para os trabalhadores: pobreza, instabilidade e stress laboral
Enquanto o governo e a direita legislam para as famílias mais ricas do Chile, a situação da classe trabalhadora só piora. Somente durante o governo de Boric, a inflação (IPC) aumentou 18,8%, enquanto os salários reais não acompanharam esse aumento(17). Mais de metade da classe trabalhadora ainda vive abaixo da linha da pobreza.(18)
As condições de vida da classe trabalhadora após a pandemia pioraram em todos os níveis: maior desemprego, aumento nos preços dos aluguéis e escassez de moradias, filas maiores nos hospitais, maior estresse no trabalho, etc. O suicídio entre trabalhadores devido ao aumento da pressão no trabalho se tornou uma ocorrência diária. A maioria da nossa classe vive em um estado de instabilidade perpétua, sem saber se terá dinheiro ou um emprego para sustentar suas famílias no mês seguinte.
Essa enorme instabilidade afeta até mesmo os setores públicos. A última medida draconiana tomada pelo Estado burguês, por meio da Controladoria, foi atacar os poucos direitos que os servidores públicos “a contrata” ainda tinham, fato que obrigou até mesmo os sindicatos públicos geridos pelo governo a se mobilizarem (19).
Assim, continuam vigentes todos os problemas que geraram a explosão social de 18 de outubro de 2019, que gerou lutas importantes em 2024 e tende a gerar novas mobilizações em 2025.
A podridão do regime continua
Outro aspecto que marcou os últimos 3 anos foi a corrupção. Novos casos de corrupção surgiram em quase todas as instituições estatais: polícia, exército, promotoria, governo, partidos políticos, etc. A corrupção é parte intrínseca do funcionamento do Estado burguês, já que as grandes empresas são quem realmente controlam as instituições estatais em seu próprio benefício. Casos como o de Luis Hermosilla, um advogado influente com laços estreitos com o empresariado, a direita e também a esquerda progressista, demonstram como funciona o poder burguês: os grandes empresários influenciam as decisões de políticos, juízes, procuradores, compram funcionários do governo, Receita Federal do Serviço Público, etc.
A corrupção está em todos os níveis e todos os partidos que se propõem a administrar o estado burguês inevitavelmente sucumbirão a ela. Exemplo disso é Daniel Jadue, hoje defendido por grande parte da esquerda, mas que entrou na mesma lógica da política burguesa, permitindo que militantes comunistas enriquecessem ilicitamente, beneficiando-se de suas posições na máquina pública. A Frente Ampla também já começou a ter seus primeiros casos de corrupção, como o caso Convenios. A tendência é que cada vez mais casos de corrupção surjam desses partidos, à medida que eles conquistam mais cargos públicos e privilégios.
Bóric e hipocrisia em relação ao genocídio palestino
No plano internacional, o governo de Boric tem sido caracterizado por total hipocrisia e dois pesos e duas medidas em relação ao problema mais importante da luta de classes mundial: o genocídio promovido por Israel na Palestina. Boric tirou fotos com autoridades palestinas, fez discursos e declarações e se uniu às demandas internacionais contra Israel. No entanto, até o momento, não tomou nenhuma medida concreta para romper laços com o estado genocida. O Chile mantém dezenas de acordos diplomáticos, comerciais e militares com Israel e continua a usar tecnologia israelense para reprimir o povo mapuche e a juventude chilena.
Os discursos de Boric sobre a questão palestina nada mais são do que apenas discursos. A verdadeira política deles é apoiar o Estado genocida de Israel, já que o Estado chileno precisa de armas e tecnologia israelenses para manter o domínio burguês no Chile.
No MIT, acreditamos que somente uma ruptura completa nas relações com Israel e ações de boicote pela classe trabalhadora podem exercer alguma pressão sobre este estado fortemente armado, apoiado por todos os países imperialistas, dos EUA à China.
Por uma lista nacional de reivindicações! Vamos lutar com total independência do governo!
De um ponto de vista imediato, as organizações da classe trabalhadora, da juventude e dos pobres devem lutar contra os ataques do governo Boric. Em primeiro lugar, é dever de todas as organizações da classe trabalhadora organizar os trabalhadores para rejeitar a reforma da previdência que será votada nos próximos meses. Há mais de uma década dizemos que não queremos mais AFPs e hoje o governo pretende fortalecê-las. A rejeição à Reforma pode ser um ponto de partida para a reorganização dos movimentos sociais e do movimento operário a partir de uma reivindicação transversal aos trabalhadores: o fim das AFPs.
Por outro lado, agentes públicos também têm estado na linha de frente contra as medidas do governo (falta de verbas para educação, saúde, etc.) e da Controladoria. A mais recente greve de servidores públicos contra a decisão da Controladoria Geral da União sobre a precarização do trabalho deve ser retomada no início de 2025, com um calendário de lutas e greves que permita derrubar essa medida e obter maiores conquistas para os servidores públicos.
Outro setor que está sendo duramente atacado é o dos estudantes secundaristas, vanguarda do processo revolucionário de 2019. O projeto da direita e também do partido no poder é acabar com as escolas emblemáticas, que têm sido vanguarda na luta estudantil nos últimos anos, após a cooptação do movimento universitário pela Frente Ampla e o PC. Hoje, os alunos do INBA correm o risco de anos de prisão devido ao trágico acidente ocorrido na escola há alguns meses. É dever de toda a classe trabalhadora e da juventude mostrar solidariedade aos estudantes perseguidos do INBA. Por isso, pedimos a formação de uma Coordenadora em defesa dos estudantes perseguidos e da educação pública gratuita. Devemos também reforçar nossa denúncia contra a perseguição aos mapuches autonomistas, exigindo a libertação de todos os presos políticos mapuches e do porta-voz do CAM, Héctor Llaitul.
Todas essas lutas parciais que vêm ocorrendo devem buscar sua unificação em torno de uma pauta de reivindicações da classe trabalhadora, do povo mapuche e da juventude. Devemos buscar unificar todas as lutas: a do povo pobre por moradia, dos estudantes, dos Mapuche pela devolução de suas terras, dos funcionários públicos e também dos trabalhadores do setor privado, como portuários, mineiros, etc. É preciso exigir que a CUT, as Federações e os sindicatos tomem a frente na elaboração desta pauta de reivindicações e de um calendário de lutas que possa rearticular o movimento operário e social e frear os retrocessos promovidos por Boric, apontando um caminho de luta contra o capitalismo neoliberal chileno. Em outros artigos desenvolvemos a base do que deveria ser essa lista de reivindicações (20).
Por último, mas não menos importante, 2025 será um ano eleitoral. Mais uma vez, todos os partidos do regime, da esquerda à direita, prometerão resolver todos os problemas por meio de reformas no sistema capitalista e no regime democrático burguês. No MIT, não acreditamos que essa seja a maneira de obter ganhos para a classe trabalhadora. Nós, revolucionários, não rejeitamos a participação nas eleições burguesas, no entanto, sabemos que somente por meio da luta e da organização a classe trabalhadora pode se libertar dos grilhões do capitalismo. Por isso, estamos comprometidos em construir um partido revolucionário da classe trabalhadora no Chile, que seja totalmente independente de grandes empresas, ONGs, fundações e que tenha um programa para superar o capitalismo no Chile e no mundo.
1. https://www.vozdelostrabajadores.cl/los-primeros-meses-de-gabriel-boric ↩︎
2. https://www.df.cl/economia-y-politica/df-tax/hacienda-ratifica-ante-empresarios-baja-de-tasa-corporativa-
apenas-25-e-apenas ↩︎
3. https://www.nuevamineria.com/revista/jose-gabriel-palma-cobrar-un-royalty-minero-no-es-mas-que-el-
exercício-de-um-direito-de-propriedade/ ↩︎
4. https://www.youtube.com/watch?v=VOYcw06bsqE&si=clSmyKuv48VFGjm4 ↩︎
5. https://www.df.cl/economia-y-politica/df-tax/reforma-a-la-renta-oficialismo-insistira-con-tasa-rob no capô-e-o ↩︎
6. https://www.ciperchile.cl/2024/10/08/analisis-del-presupuesto-2025-luces-criticas-y-principales-desafios/ ↩︎
7. https://www.vozdelostrabajadores.cl/estrategia-nacional-del-litio-que-vengan-las-transnacionales ↩︎
8. Em maio de 2023, escrevemos que a National Lithium Company provavelmente não deixaria o
artigo: Uma das propostas mais importantes da Estratégia Nacional do Lítio é a criação de uma nova empresa estatal, a Empresa Nacional do Líltio. Segundo o governo, esta empresa teria como objetivo entrar na exploração do lítio e em toda a cadeia de valor associada ao mineral, como a produção de cátodos, baterias, etc. O problema central que o governo enfrentará será a aprovação desta empresa no Parlamento, já que para isso (pela Constituição vigente) terá que obter a aprovação de mais de 4/7 dos deputados e senadores. É altamente improvável que o governo consiga atingir esse quórum, já que o partido no poder não tem tantos parlamentares e sofreu outra pesada derrota na eleição para o Conselho Constitucional. Isso levará o governo a negociar com a direita (os partidos mais duros do empresariado chileno), que exigirá ainda mais benefícios para eles em troca da permissão para a criação de uma nova empresa estatal. Há também uma enorme possibilidade de a Empresa não sair do papel e ser derrotada no Parlamento, como aconteceu com a Reforma Tributária do governo.” ↩︎
9. https://www.instagram.com/ministeriodehacienda/reel/C7Pd_ifx3OV/?hl=es ↩︎
10. https://www.latercera.com/pulso-pm/noticia/ganancias-de-las-empresas-de-los-grandes-grupos-se-
eles-atiram-em-2022/JF4UXPTGQRHJVBRHJUTZTBH3BE/ / https://www.latercera.com/pulso/noticia/mas-de-
dois-terços-das-empresas-ipsa-melhoram-seus-resultados-no-terceiro-trimestre-elas-aumentam-os-lucros-ao-longo-trimestre-
os-us3000-milhões/UIOMZ26TVFG6TPAES22YNAXCNM/ ↩︎
11. https://www.df.cl/mercados/banca-fintech/banca-finaliza-2023-con-utilidades-que-superan-los-us-5-000-
milhões ↩︎
12. https://www.df.cl/mercados/bolsa-monedas/se-viene-la-temporada-de-resultados-security-anticipa-
crescimento-de ↩︎
13. https://www.latercera.com/pulso/noticia/jeannette-jara-y-la-reforma-de-pensiones-estan-muy-acotadas-
hoje-as-diferenças/LKNJ3JSCZVG7NCDB6EZPW6LCMU/ ↩︎
14. https://federacionccu.cl/2020/04/28/fundacion-sol-donde-invierten-las-afp/ ↩︎
15. https://www.latercera.com/la-tercera-domingo/noticia/alerta-frenteamplista-la-frustracion-por-el-
resultado-de-suas-reformas-transformadoras/TLFQWNTTY5E5JNM3MYZMESI3HA/ ↩︎
16. https://www.vozdelostrabajadores.cl/el-estado-el-pc-de-chile-y-los-grandes-acuerdos ↩︎
17. https://calculadoraipc.ine.cl/ ↩︎
18. A chamada “linha de pobreza” está longe de ser uma medida de dignidade. Para se ter uma ideia, para ser considerado “acima” da linha da pobreza no Chile, basta ganhar mais de 229 mil pesos por mês, um valor absurdo considerando que o Chile é um dos países mais caros da América Latina. Atualmente, o preço do aluguel só na Região Metropolitana de Santiago custa mais de 229 pesos por mês. Veja https://observatorio.ministeriodesarrollosocial.gob.cl/storage/docs/cba/nueva_serie/2024/Valor_CBA_y_LPs_24.01.pdf ↩︎
19. https://www.vozdelostrabajadores.cl/paro-nacional-de-24-horas-del-sector-publico-a-enfrentar-el-ajuste-do governo de boric-marcel ↩︎
20. https://www.vozdelostrabajadores.cl/reflexiones-y-tareas-para-el-momento-actual ↩︎