Libertação de prisioneiros pela resistência síria expõe fraquezas da ditadura Assad
Por: Rafik Abdallah |
Operação “Repelir a Agressão” liberta 300 prisioneiros em ofensiva em Aleppo, destacando um marco na luta contra o regime; entre os libertados estão mulheres e famílias inteiras.
De acordo com reportagens dos jornais Arabi21 e Al-Araby, na última sexta-feira, 29 de novembro, grupos de resistência síria sob a coordenação da operação “Repelir a Agressão” libertaram cerca de 300 prisioneiros de diversas prisões e instalações de segurança controladas pelo regime de Bashar al-Assad em Aleppo, ao norte da Síria. Entre os locais atingidos pela ofensiva estão a prisão central de Aleppo, a prisão de Tarek Bin Ziad e dois centros de inteligência militar próximos aos bairros de Al-Ashrafieh e Al-Aziziya.
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Vídeo mostra cidadãos sírios, presos pela ditadura Assad, sendo libertados do cárcere.
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Do lado de dentro de uma cadeia do regime sírio, vídeo mostra momento da libertação dos presos
Entre os prisioneiros libertados, destaca-se a presença de indivíduos detidos há anos sem julgamento, além de mulheres e membros de famílias que foram separadas pelas ações repressivas do regime. A operação, considerada uma das mais significativas em anos, também resultou na captura de equipamentos militares e veículos blindados do regime. Segundo as reportagens, a maioria dos prisioneiros libertados é originária das áreas rurais de Aleppo, mas também há registros de detidos vindos de Hama, Homs e Idlib, que haviam sido transferidos para essas instalações em anos anteriores.
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Vídeo mostra comerciante que relata que foi preso 5 anos atrás por um juiz sem ter feito nada, o que resultou no roubo de sua loja.
A ofensiva, liderada pela operação “Repelir a Agressão”, marcou avanços importantes para a resistência em Aleppo. As forças opositoras não apenas alcançaram os complexos prisionais, como também tomaram posições estratégicas dentro da cidade, incluindo a praça Saadallah Jabri e bairros centrais como Salah al-Din, Al-Zabadiyah e Al-Ansari. Ao mesmo tempo, as forças do regime e seus aliados, incluindo milícias apoiadas pelo Irã, enfrentaram derrotas significativas, com muitos combatentes mortos e feridos. Apesar de ataques aéreos do regime sírio e da Rússia, a resistência avançou rapidamente, consolidando o controle sobre importantes partes de Aleppo.
Da revolução de 2011 à ofensiva de 2024
Conversamos com Victorios Shams, refugiado sírio no Brasil, que comparou os atuais avanços da resistência síria com o início da revolução em 2011. Ele destaca mudanças significativas na correlação de forças entre a ditadura e a oposição
Ele destaca que a principal diferença entre o início da revolução em 2011 e o presente em 2024 é que, naquela época, o regime sírio ainda era forte. Ele recorreu ao apoio do Irã e suas milícias sectárias vindas do Iraque, Afeganistão, Paquistão, Yemen e outros países. Quando, em 2015, os rebeldes quase derrotaram essas forças, o Irã chamou a Rússia, que destruiu cidades e vilarejos com bombardeios aéreos, causando o deslocamento de metade do povo sírio de suas cidades.
Aqueles que eram crianças em 2011 agora são jovens adultos que tiveram uma vida muito dura, em condições extremas nos campos de refugiados no norte do país, sem acesso a educação nem a emprego. Eles decidiram retomar suas casas e terras ocupadas por colonos iranianos. O regime enfraqueceu, perdeu apoio popular por ter empobrecido até mesmo seus apoiadores internos. Sua dependência da Rússia e do Hezbollah foi severamente afetada pelos conflitos na Ucrânia e no Líbano. Esse contexto abriu uma oportunidade para os jovens retomarem a luta.
Ele também ressalta a reorganização das forças rebeldes, que hoje demonstram maior disciplina e capacidade, contrastando com o estado precário do exército sírio. Além disso, a resistência alcançou avanços importantes em Aleppo e Idlib, tomando diversos pontos estratégicos, como a praça Saadallah Jabri, a fortaleza de Aleppo e bairros como Salah al-Din, Al-Zabadiyah e outros. Isso impulsionou muito o acesso a armas, de fuzis e munições a tanques e drones.
Quem é o HTS?
O Hayat Tahrir al-Sham (HTS) é um grupo militante islâmico que emergiu na Guerra Civil Síria, inicialmente como a Frente al-Nusra, afiliada à Al-Qaeda. Em 2016, sob a liderança de Abu Mohammad al-Jolani, anunciou uma ruptura formal com a Al-Qaeda, buscando melhorar sua imagem e atrair apoio externo. No entanto, o grupo permanece acusado de impor uma interpretação rigorosa da lei islâmica nas áreas sob seu controle e de perseguir dissidentes, incluindo o notório assassinato de Raed Fares, ativista sírio crítico ao regime de Assad e ao extremismo.
Apesar de tentar se reposicionar como força moderada, com a criação do “Governo de Salvação” em Idlib, o HTS continua sendo alvo de desconfiança. Relatos de abusos e repressão, aliados à cobrança de impostos sobre a população local, alimentam suspeitas sobre suas intenções reais. Embora o grupo tenha um papel relevante na resistência contra Assad, sua história de práticas autoritárias coloca em dúvida sua capacidade de representar os interesses democráticos e populares da revolução.
Uma esperança para o povo sírio
A libertação de prisioneiros políticos é um marco que desmente a ideia de que regime e oposição são igualmente ruins. Enquanto o regime de Assad mantém prisões lotadas de opositores políticos e cidadãos comuns, a resistência oferece esperança a famílias separadas há anos. Apoiar ações como essas é reconhecer a legitimidade de uma luta contra um regime responsável por massacres e deslocamentos forçados. Se esse movimento conseguir se alastrar por todo o país e derrubar o regime, milhões de sírios que hoje estão espalhados pelo mundo e em refúgio interno poderão retornar às suas cidades.