Nossas vidas importam!
Por: Laura Requena e Erika Andreassy |
Em 2023, cerca de 51.100 mulheres e meninas em todo o mundo morreram pelas mãos dos seus parceiros ou de outros membros de sua família. Ou seja, uma mulher foi assassinada a cada 10 minutos. Mais de metade de todos os homicídios de mulheres foram cometidos por parceiros íntimos ou familiares, embora as mulheres também não se sintam seguras fora de casa. Segundo a ONU, em 2023 houve um aumento da violência machista de 50%, em comparação com 2022.
São feminicídios que causam horror e medo, em que a única resposta é a apatia e a inação por parte do sistema judicial e político, seja porque os governos continuam a não fornecer os recursos necessários a quem sofre esta violência ou porque a punição dos agressores é muitas vezes burlado por aqueles que podem pagar para sair da prisão.
Como no Estado espanhol, onde o jogador de futebol Daniel Alves pagou um milhão de euros para ser libertado em liberdade condicional e foi reduzida sua pena de prisão por violar uma jovem após aplicação de uma circunstância atenuante por reparação financeira dos danos. Um país imperialista com um governo supostamente feminista, onde os trabalhadores da rede de violência de gênero, que atendem as vítimas, sofrem elas próprias com a insegurança laboral e a privatização do serviço que os impede de cuidar corretamente das mulheres. Muitas delas, empregadas na Câmara Municipal e na Comunidade de Madrid, entraram em greve neste 25N para denunciar que a rede está em colapso e exigir medidas urgentes para acabar com este contínuo derramamento de sangue.
Este 25N foi um dia de luta contra as diversas formas de violência impostas pelo machismo, no sistema capitalista.
A impunidade social que continua existindo face à violência sexual ficou demonstrada com o caso Pélicot, na França, onde uma mulher foi vítima de estupros coletivos, durante 10 anos, organizados pelo seu próprio marido. O risco é ainda maior entre as mulheres jovens: 1 em cada 4 adolescentes sofreu abusos por parte do parceiro.
Violência sexual que cresce e se diversifica com o uso de tecnologias, incluindo a inteligência artificial. (Entre 16% e 58% das mulheres em todo o mundo sofrem violência de gênero facilitada pela tecnologia) e que é promovida por um sistema capitalista que objetifica e mercantiliza os nossos corpos. Este flagelo mina a vida das mulheres em todo o mundo com a cumplicidade do conjunto judicial, institucional e político que protege os agressores e revitimiza a quem ousam denunciar.
Para além das palavras hipócritas e das belas promessas, nenhum governo burguês está disposto a ir até ao fim para acabar com as redes de tráfico e a escravidão sexual sofridas por milhões de mulheres porque são um negócio à margem do capitalismo que dá lucros imensos.
É também necessário salientar que 70% das mulheres em conflitos, guerras e crises humanitárias sofrem violência de gênero. A prevalência de todos os tipos de violência contra as mulheres em conflitos armados é particularmente dramática em continentes inteiros como a África.
Como explicamos num vídeo da LIT nesta data que chamamos a ver e divulgar, as mulheres são as mais afetadas não só pelas guerras, mas também pela crise econômica ou pela catástrofe ambiental em curso, que são todas expressões do esgotamento deste sistema capitalista que nos leva à barbárie.
25N| Contra la violencia machista y la barbarie capitalista
Neste dia 25, a luta das mulheres da resistência na Ucrânia e das mulheres palestinas que sofrem a violência do genocídio, da limpeza étnica, da colonização e do apartheid, também esteve muito presente. São o melhor símbolo da luta de todos os povos oprimidos pela sua libertação.
A falta de direitos também é violência
Além de denunciar a violência machista e a cumplicidade dos governos burgueses, este 25N foi um dia para lembrar que o aborto livre, público, gratuito e universal ainda não está garantido em nenhum lugar do mundo e milhões de mulheres, em sua maioria pobres, indígenas, negras, migrantes e as mais jovens sofrem com leis restritivas que as criminalizam, levando-as a morrer ou a serem mutiladas por abortos inseguros.
Da mesma forma, com o agravamento da crise econômica mundial, mais de metade da população feminina ficou desempregada. Além disso, as mulheres migrantes são frequentemente excluídas do sistema de saúde. À violência machista somam-se a desigualdade no emprego e no acesso aos serviços públicos, as taxas mais elevadas de pobreza, precariedade e sobreexploração que sofrem as mulheres, que também suportam o fardo do trabalho doméstico e de cuidados, bem como a falta de acesso a métodos seguros que permitam controle sobre nossa capacidade reprodutiva.
Diante da extrema direita, nem um passo atrás!
O 25N foi um momento importante para confrontar os governos de extrema-direita cuja ascensão não é temporária, e sim responde a uma necessidade histórica do capitalismo atual de lançar as consequências da crise e da decadência deste sistema nas costas da nossa classe. E para que a resistência a isto não possa ser organizada, nada melhor do que manter as e os trabalhadores divididos. Não por acaso, exibem discursos de ódio que incitam violências pontuais e atacam com ajustes as conquistas que as mulheres e os setores oprimidos da sociedade conseguiram arduamente alcançar nas ruas nestes anos.
Tal como o governo de extrema-direita de Milei, na Argentina, que aplica políticas implacáveis contra as mulheres, a diversidade, os imigrantes e todo o povo trabalhador, juntamente com uma repressão brutal dos protestos sociais. Uma extrema direita que agora com Trump na presidência do principal país imperialista, tenderá a fortalecer-se ainda mais.
Nesta luta contra a extrema direita, precisamos de organizar a nossa autodefesa com independência de classe. Mulheres como Kamala Harris, dos EUA, Cristina Kirchner, na Argentina ou Dilma Rousseff no Brasil, não têm nada a oferecer às trabalhadoras, mas sim novas decepções e enganos. Não é de estranhar que muitas mulheres trabalhadoras não tenham votado em Kamala, depois de, durante a sua campanha eleitoral, ela ter prometido continuar, no essencial, com as mesmas políticas capitalistas e imperialistas de Biden. Não importa quantas mulheres existam nos governos e nas instituições dos governos capitalistas, a política burguesa não oferece soluções reais, mas faz parte do mesmo problema.
Organizar para enfrentar a retirada de direitos e a crescente violência sexista!
Onde quer que exista a LIT, fizemos parte das mobilizações neste 25N para denunciar mais uma vez o genocídio cometido por Israel em Gaza e os massacres de mulheres e crianças nos seus ataques ao Líbano, bem como para exigir armas para a resistência operária ucraniana.
Nos manifestamos para arrancar mais recursos dos governos contra todas as formas de violência machista com um eixo comum: denunciar o papel da violência contra as mulheres e todas as opressões para dividir e enfraquecer a nossa classe.
Ressaltamos que a luta contra a violência machista não pode ser deixada apenas nas mãos do feminismo combativo, mas deve ser assumida por toda a classe operária, com independência de classe.
E explicamos que a única forma de acabar definitivamente com o machismo e a violência é derrubar este sistema mundial. O capitalismo, com o seu desejo de perpetuar a exploração, reproduz formas de barbárie que também se manifestam como violência contra as mulheres.
Nesta tarefa, torna-se cada vez mais urgente construir um partido mundial. Um partido que luta pela libertação das mulheres, numa perspectiva classista, socialista e revolucionária, com a convicção de que a luta das mulheres não é algo diferente, mas sim parte da luta de classes que deve continuar, até acabar com o atual sistema mundial, cada vez mais predatório da natureza, que gera, sustenta e reproduz todas as opressões.