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Revista Marxismo Vivo

Marxismo Vivo se renova: A teoria como instrumento para a luta revolucionária

outubro 29, 2024

A nossos leitores

Por: Francesco Ricci

Introduzir o socialismo nas lutas e construir o partido operário de vanguarda capaz de conquistar as massas para o projeto comunista. Esta foi a principal atividade de toda a vida de Karl Marx que, como recordou Engels no seu funeral, foi “antes de mais um revolucionário. Contribuir para o derrocamento da sociedade capitalista e do Estado que ela criou, contribuir para a emancipação do proletariado moderno (…) era esta a sua verdadeira vocação”.

Esta insistência de Engels sobre o verdadeiro Marx, o militante, o dirigente partidário, em que “o cientista não era metade de Marx”1 é mais atual do que nunca nos nossos anos, em que muitos, da burguesia ao reformismo, tentaram transformar o “Mouro” (como lhe chamavam os amigos) num “filósofo” para tornar inócua a teoria que elaborou com Engels e outros militantes de cujos nomes não nos lembramos.

Uma elaboração que não teve lugar numa “torre de marfim”, mas participando ativamente nas lutas do proletariado com o objetivo de estabelecer o poder dos trabalhadores (a ditadura do proletariado) como um passo incontornável para eliminar a exploração, as guerras, a miséria e a opressão numa sociedade dividida em classes.

A teoria marxista, desenvolvida nas décadas seguintes pelo bolchevismo (que fez dela o instrumento da sua própria vitória em outubro de 1917) e depois pelo trotskismo – o marxismo da nossa época – continua a ser a arma mais mortífera contra um mundo capitalista que avança rapidamente para a barbárie. Mas se a revolução é “o freio de emergência” que é preciso puxar para não ir parar no precipício, segundo a imagem de Walter Benjamin2, nenhuma revolução pode ser verdadeiramente vitoriosa sem a teoria marxista.

Essa revista, dedicada à teoria marxista, difere das outras porque é escrita por militantes e não por acadêmicos: e porque é dirigida, antes de tudo, a militantes e ativistas, homens e mulheres trabalhadores, jovens comprometidos não apenas com o saber, mas com o saber para fazer, na luta, para tentar construir um mundo melhor do que este.

Leon Trotsky, outro grande militante revolucionário, que também dedicou toda a sua vida à luta e, portanto, não tinha muito tempo livre, escreveu em sua autobiografia: “o desejo de estudar nunca me abandonou”3. Isso se deve ao fato de que, para os revolucionários, o estudo da teoria marxista não é um passatempo, mas uma necessidade. Estudar a história do movimento dos trabalhadores, marcada por vitórias e derrotas (ambas repletas de lições para os dias de hoje), analisar aspectos teóricos aparentemente abstratos, filosóficos, significa equipar-se com a lente para analisar a realidade atual e ser capaz de transformá-la.

Se, com esta revista, conseguirmos fazer com que antigos e novos leitores se apaixonem pela teoria viva (precisamente o “marxismo vivo” de nossa revista) e que compreendam a utilidade prática da teoria, teremos alcançado nosso objetivo.

Como qualquer pessoa que esteja lendo estas linhas deve ter notado, a Marxismo Vivo, que existe há décadas, está mudando. Ela não muda de nome, mas muda em vários aspectos. Muda o formato: menos livro e mais revista. Muda a diagramação, com o uso de fotografias. Muda (pelo menos em parte) a equipe editorial (agradecimentos calorosos aos nossos companheiros e companheiras que nos precederam nesse trabalho). Acima de tudo, muda, em parte, o perfil da revista.

O projeto, ambicioso, é ampliar o círculo de nossos leitores, indo além dos atuais leitores regulares, além do perímetro dos militantes e simpatizantes da LIT (para os quais esta revista continuará sendo o órgão teórico). Tentaremos abordar, de forma rigorosa, mas também nítida e acessível, temas que sejam úteis não só para a formação e o debate dos militantes da LIT, mas que também possam ser úteis para outros ativistas.

Esta edição, que continua com a numeração antiga, é de fato quase uma edição zero. A partir da próxima edição, apresentaremos mais inovações que estamos avaliando. Entre as inovações em estudo: seções fixas, mais resenhas de livros publicados no último período, mas também artigos dedicados à redescoberta dos “clássicos” do marxismo, guias bibliográficos dos temas, glossários dos conceitos-chave do marxismo, mais espaço para debates e polêmicas teóricas com outras correntes… E muito mais. Também com base nas críticas e sugestões que os leitores desta edição queiram nos enviar, escrevendo para nossa equipe editorial em marxismovivo.2@gmail.com.

E agora vamos a uma breve apresentação do conteúdo desta edição. Enquanto aguardamos, como dissemos, a expansão das seções e a introdução de outras, esta edição é composta por quatro seções.

A primeira seção contém artigos sobre questões centrais dos assuntos políticos atuais, abordados não de um ponto de vista informativo, mas sim na tentativa de oferecer ferramentas para uma análise aprofundada. Aqui encontramos um extenso dossiê sobre o tema mais quente da luta de classes global: a Palestina e a luta heroica de décadas contra o sionismo. Florence Oppen (EUA) abre o dossiê com um resumo das posições de nossa Internacional sobre essa questão. Em seguida, há um artigo da ativista palestina Soraya Misleh sobre a história do sionismo. Fabio Bosco (militante, assim como Soraya, do PSTU brasileiro, ativo há muitos anos na luta pela Palestina) se aprofunda na história e nas posições das principais correntes do movimento de resistência palestino. Alejandro Iturbe (Argentina) desenvolve uma polêmica com as principais posições expressas pela esquerda sobre o tema. O extenso dossiê é completado com uma cronologia (novamente de Florence Oppen) e um pequeno guia bibliográfico de Ángel Luis Parras (Espanha). Nessa rica primeira seção, também encontramos um ensaio de Parras sobre outro tópico central de reflexão para os marxistas: a trama entre crise-guerra-revoluções.

A segunda seção contém artigos sobre a história do movimento operário e a teoria marxista. Nesta edição, dois ensaios são dedicados ao 100º aniversário da morte de Lenin: um, do autor destas linhas, é dedicado ao tema da consciência revolucionária em Lenin; enquanto Gustavo Machado (Brasil) trata da concepção Leninista do imperialismo. A seção é completada por um ensaio de Fabiana Stefanoni (Itália) sobre a concepção materialista da história, sobre as falsificações que foram feitas dela e sobre como essa concepção é vital para entender, entre outras coisas, a questão nacional.

A terceira seção da revista, nesta e nas próximas edições, será dedicada a debates e polêmicas com outras posições políticas e teóricas. Neste caso, trazemos um artigo de Joana Salay (militante do PSTU brasileiro) sobre as teses de Domenico Losurdo, referencial teórico de várias correntes neoestalinistas.

A revista termina com resenhas de dois livros publicados recentemente. Flor Neves (Portugal) resenha o livro publicado pela seção portuguesa da LIT por ocasião do 50º aniversário da Revolução dos Cravos; enquanto Javier Fernández Barrero (Brasil) apresenta o livro recém-publicado de Roberto Herrera, El Hombre del Clima y la Mujer de Lot [O Homem do Tempo e a Mulher de Lot] sobre a esquerda na Costa Rica e na América Central.

Só nos resta desejar-lhes uma boa leitura e convidá-los a divulgar esta revista em seu local de trabalho ou estudo.

1 ENGELS, F. “Discurso diante do túmulo de Marx” (1883) https://www.marxists.org/espanol/m-e/1880s/83-tumba.htm

2 BENJAMIN, W. Sobre o conceito de história (1940).

3 TROTSKY, L. Minha vida (1929).

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