Subdesenvolvimento fóssil : Lula encontra presidente da Shell para discutir petróleo na Amazônia
Enquanto estava em Nova York para discursar na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o presidente Lula se reuniu com o presidente global da companhia petrolífera multinacional britânica Shell, Wael Sawan, e o presidente da Shell Brasil, Cristiano Pinto.
Por: Jeferson Choma
No discurso da ONU, Lula falou sobre as guerras e também sobre as mudanças climáticas e cobrou os países centrais do capitalismo pelo cumprimento das metas de redução da emissão de carbono.
Questionado se não via contradição entre seu discurso e uma reunião fora da agenda com uma das maiores petroleiras do mundo, Lula respondeu: “Eu não estou vendo nenhuma contradição. Eu recebi um empresário [de uma companhia] que está, simplesmente, há cem anos no Brasil (…). É uma empresa que tem contribuído dentro da lógica das exigências da política energética do Brasil”, disse.
Exploração de petróleo na foz do rio Amazonas em pauta
A pauta foi a exploração de petróleo na Amazônia, na Margem Equatorial. Segundo a imprensa, o CEO da Shell entregou ao presidente um estudo que defende a necessidade do Brasil avançar na exploração de petróleo. Não é segredo que Lula, a presidente da Petrobras, líderes da situação e da oposição de direita, defendem a arriscada exploração de petróleo na região. Até agora, nenhuma petroleira comprovou junto ao IBAMA que a exploração pode ser segura e sem riscos ambientais. Mas há muito dinheiro e poder em jogo e as pressões sobre o órgão ambiental pela liberação da exploração de petróleo são enormes.
A Petrobras pressiona pela autorização do IBAMA para perfurar o Bloco 59, que fica 160 km da costa do Amapá. Caso seja concedida, essa autorização seria a primeira de uma enxurrada de autorizações em efeito cascata para a abertura dessa nova fronteira petrolífera.
O Brasil tem 45 blocos de exploração de petróleo na Margem Equatorial. Eles foram leiloados em 2013, sendo que a Petrobras detém hoje 17 blocos e a Shell 11 blocos. Mas 60% da exploração da Petrobras vai ser realizada em conjunto com a petroleira estrangeira.
A farsa do desenvolvimento nacional
A Margem Equatorial já é chamada como “o novo pré-sal brasileiro”, com possibilidade de produzir de 5 bilhões a 7,5 bilhões de barris de petróleo. O governo justifica a exploração (e a maioria da oposição bolsonarista, inclusive) dizendo que ela vai servir ao desenvolvimento nacional. Velha conversa pra boi dormir que já foi usada para justificar a exploração do pré-sal e a construção da hidroelétrica de Belo Monte. O país não se desenvolveu, se tornou mais desigual e mais dependente, inclusive, no refino de petróleo e vulnerável às crises de energia. Não há razão alguma pra achar que o petróleo da Amazônia vai melhorar a vida do povo. Vai sim, arrumar a vida de alguns poucos políticos e, principalmente, botar muito dinheiro no bolso dos grandes acionistas da Petrobras e Shell.
O petróleo não é nosso
Isso por que a expansão dessa nova fronteira petrolífera se dará no marco da profunda desnacionalização da exploração e produção do petróleo no Brasil. O fim do monopólio estatal do petróleo (em1997), a vendas das ações da Petrobras para investidores estrangeiros que a tonaram uma empresa de capital misto, os inúmeros leilões dos campos de petróleo (tal como o leilão de Libra, vendido para multinacionais por um valor que correspondeu a 1% do seu valor real), os planos de desinvestimentos e vendas de ativos da petroleira (venda da BR distribuidora e refinarias), a política do Preço de Paridade de Importação e a exportação de petróleo cru para comprar refinado são exemplos do fundo do poço neocolonial em que o país foi jogado pelos governos FHC, Lula, Dilma, PT, Temer e Bolsonaro. Por isso a exploração do petróleo da Margem Equatorial, direta ou indiretamente, representará mais um saque dos recursos energéticos do Brasil pelo imperialismo mundial.
Margem Equatorial
Ameaça contra o clima e a Amazônia Azul
Mas a exploração de petróleo também vai contribuir com o aquecimento global, causada pelas emissões de carbono provocadas pela queima de petróleo. As consequências do aquecimento estão mais do que visíveis em ondas de calor, secas, chuvas intensas e furacões devastadores, e se hão houver uma redução drástica das emissões, a humanidade caminhará para o colapso climático neste século.
Além disso, a exploração ameaça a foz do rio Amazonas e a chamada “Amazônia Azul”, caracterizada por extensos manguezais que se estendem desde o Amapá até o Maranhão – é a maior faixa contínua de manguezais do planeta que representam um enorme “viveiro” para inúmeras espécies marinhas. Os manguezais também desempenham um papel fundamental na captura dos gases de efeito estufa (GEE) e tem a incrível capacidade de capturar o dobro de carbono do que a própria floresta tropical.
O Brasil não precisa dessa exploração que vai enriquecer ainda mais alguns capitalistas. Precisa sim do desenvolvimento de novas fontes de energia renovável. Isso poderia ser realizado com a nacionalização de todos os recursos energéticos do país – inclusive do Petróleo e da produção de energia elétrica – e usar sua renda para garantir investimentos e pesquisas científicas para garantir a transição energética. Uma Petrobras 100% estatal e controlada pelos trabalhadores é necessária para que a petroleira se converta em uma empresa de energia renovável. Para isso, é preciso enfrentar os maiores inimigos da transição energética que são os capitalistas e acionistas privados que mandam na Petrobras.