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Peru

O povo marcha contra o crime… o governo e o Congresso

outubro 13, 2024

O crime organizado se generalizar e desenvolve ataques violentos contra a população mais pobre e necessitada dos bairros populares, que agora protestam com uma greve que paralisa Lima e Callao.

Por: Simón Lázara

A greve dos transportes anunciada para os dias 10, 11 e 12 de outubro paralisou Lima no primeiro dia, fazendo com que a cidade vivesse um verdadeiro caos nos bairros mais populares: ausência quase total de mobilidade, fechamento de mercados e pequenos comércios, protestos e forte presença policial e militar.

Muitos não foram trabalhar e não houve aulas presenciais, e as áreas de densidade comercial, como o empório de Gamarra, no bairro La Victoria, ou a “Mesa Redonda”, no centro histórico da cidade, até a área residencial e comercial do bairro San Isidro, estavam vazias. Um acontecimento inusitado para uma cidade de 11,5 milhões de habitantes.

Isto geralmente acontece em verdadeiras greves nacionais (não como a simulação agora convocada pela Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru – CGTP). Só que agora quem faz a greve não são os sindicatos, mas a massa de trabalhadores precarizados e informais que habitam os bairros populares que circundam o centro da cidade.

Por isso, esta paralisação foi mais forte e combativa do que a organizada pelas grandes empresas de transporte no dia 3 de outubro. Empresas que desta vez recuaram, por acordo com o governo ou diante de ameaças de quadrilhas criminosas. Quem protesta agora diz: “Prefiro perder o meu dia de sustento, em defesa da minha vida”.

A greve anterior não obteve nenhum resultado. Pelo contrário, o crime retaliou contra atacando. O governo e o Congresso, egocêntricos e arrogantes, não revogaram a Lei 32.108 (“Lei do Crime Organizado”), filha dos piores corruptos do regime, que ao limitar a aplicação de sanções ao crime organizado, na verdade o incentiva.

Em vez disso, no clássico estilo gorila, declararam estado de emergência em 14 distritos de Lima e Callao, colocaram o exército nas ruas e apresentaram uma proposta de lei sobre “terrorismo urbano”, que buscava a impunidade policial e maior repressão… digamos, apenas restringiram direitos e liberdades que afetam a todos, deixando-nos vulneráveis ​​às mesmas forças chamadas a trazer segurança.

Diante dessa pantomima, o crime organizado contra-atacou para mostrar que quem manda é ele e não as autoridades. Ônibus queimados, novas mortes e mais ameaças.

É por isso que o novo protesto desta vez vem de baixo: dos motoristas de micro-ônibus e mototaxistas, dos vendedores ambulantes, de todos aqueles que saem diariamente em busca do seu sustento diário. E saíram com mais indignação pelas respostas do governo e do Congresso, a quem também veem com ódio. Foram esses setores que se mobilizaram em massa da periferia para o centro, onde está o Congresso, apenas para encontrar a polícia.

A repressão, que é inepta no combate ao crime, mostrou aqui a sua eficácia na repressão dos protestos. Em vez de enfrentarem os criminosos, reprimem aqueles que os combatem. E pior, face às exigências subjacentes, o governo e o Congresso mantêm o mesmo discurso arrogante; o que alimenta mais a raiva.

De qualquer lugar que se olhe, essa luta é justa. Tal como na rebelião de 2022-2023, aqueles que hoje se rebelam contra o regime são os mais pobres, desta vez de Lima. São pobres por causa do regime corrupto e da sua política econômica que só favorece os ricos e corruptos. E agora, como parte dessa mesma política ou da sua própria inépcia e desinteresse, não só permitem como incentivam o crescimento do crime, tanto comum como profissional, deixando a população mais necessitada entregue à sua sorte.

Se não houver uma solução imediata e eficaz, as pessoas não desistirão. O crime também não, causando mais derramamento de sangue. E novos protestos.

Diante disso, a tarefa é apoiar esta luta e fazer nossas as suas bandeiras, não só para a solução das demandas, mas para a saída do Governo e do Congresso, responsáveis ​​por esta situação e por tantos males que afetam todo o povo, como as demissões  massivas e fechamentos coletivos na indústria.

É uma luta justa que a classe trabalhadora deve apoiar e tornar sua. Não é por acaso que a CGTP e as organizações de “esquerda” eleitoreiras nada dizem sobre isso. Em vez de se juntarem ao protesto e construir um único com as reivindicações urgentes dos trabalhadores, fazem vista grossa, cuidando do seu plano de canalizar tudo para a saída das eleições de 2026.

A central convocou reunião para quinta-feira, 17, para aumento do salário mínimo e outras reivindicações. É uma oportunidade de estar presente com todas as bases, com as bandeiras mais combativas da classe trabalhadora e dos setores populares em luta.

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