qua out 09, 2024
quarta-feira, outubro 9, 2024

A crise boliviana continua: a marcha de Evo

Como temos dito em vários artigos, em meio a uma grande crise econômica (expressa na escassez de combustíveis e de dólares) que deixou para trás o chamado “milagre econômico boliviano”, a Bolívia atravessa uma enorme crise política gerada pelo enfrentamento entre o presidente do país, Luis Arce, e o ex-presidente Evo Morales.

Por: Alícia Sagra

Como dissemos anteriormente, o atual confronto entre estes ex-companheiros do MAS[1] não se baseia em questões políticas nem, muito menos, em preocupações sobre a situação de vida dos agricultores e trabalhadores bolivianos. A luta deles tem a ver com a disputa eleitoral, ambos querem ser candidatos presidenciais pelo MAS nas eleições de 2025.

Este enfrentamento já passou por bloqueios de estradas, manobras com setores das forças armadas, acusações de autogolpe, reclamações mútuas à justiça e agora se manifesta com a chamada “Marcha para salvar a Bolívia” promovida e dirigida por Evo Morales.

Esta marcha entre Caracollo e La Paz (189 km), que segundo a imprensa boliviana foi massiva, durou uma semana. Ela saiu de Caracollo no dia 17 de setembro e chegou na segunda-feira, dia 23, em La Paz, onde foi recebida por uma importante manifestação. Nessa manifestação Evo fez um discurso no qual se referiu ao governo, dizendo que este se tinha tornado uma ditadura e que as bases tinham que recuperar a democracia, afirmando que lhe dava 24 horas para resolver o problema do combustível e da disponibilidade de dólares, e que se não o fizesse as mobilizações continuariam.

Guerra de comunicações pelas alturas

Durante os sete dias de marcha houve uma guerra de declarações cruzadas. Do governo e dos setores arcistas acusaram Evo de “incentivar a guerra civil”, de “promover um golpe de estado”; enquanto Evo denunciou o governo por criar uma “cerca mediática” para distorcer a natureza de protesto da marcha.

Do lado dos setores Arcistas, incluindo a confederação camponesa CSUTCB, foi exigida a prisão de Evo Morales por desrespeito à Constituição e desestabilização do governo, enquanto dos setores Evista foi exigia a renúncia de Arce e do vice Choquehuanca, para que o presidente do Senado pudesse assumir, o evista Androgino Rodríguez.

A guerra de denúncias não foi apenas a nível nacional. Evo Morales enviou uma carta ao secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, solicitando a intervenção da organização, a fim de evitar que o Governo “desbaratasse” o seu protesto com “grupos de choque que são na realidade grupos paramilitares”.

Enquanto isso, um dia após a chegada da marcha a La Paz, o Ministério das Relações Exteriores denunciou à comunidade internacional que a marcha liderada por Morales ameaçava diretamente a “continuidade da ordem democrática” ao dar um ultimato à gestão de Luis Arce

Confrontos físicos e feridos da base

Esses enfrentamentos por cima levaram a confrontos físicos por baixo. No domingo, dia 22, seguidores de Luis Arce organizaram uma manifestação na cidade de El Alto para pedir à população que impedisse a passagem da marcha. A manifestação foi interrompida por apoiadores de Evo Morales, o que gerou um forte confronto com vários feridos. E na segunda-feira ocorreu outro confronto semelhante em La Paz, quando se esperava a chegada da marcha.

A situação de violência existente levou à suspensão das aulas na segunda-feira em várias escolas de El Alto e La Paz.

O MAS não é o instrumento político que os trabalhadores precisam

Os dois dirigentes acusam-se mutuamente de corrupção, ambos se apresentam como defensores da “democracia”, contra a “ditadura” de Arce ou contra o “golpe de Evo”. Mas a verdade é que a única coisa que os move é a candidatura presidencial e as negociações e regalias que acompanham esse cargo. E para isso recorrem a todos os meios, incluindo o incentivo do enfrentamento entre a base camponesa e a base popular.

A verdade é que o MAS, que tantas expectativas suscitou entre os camponeses, povos indígenas e operários bolivianos e que, infelizmente, contou com o apoio da maioria da esquerda latino-americana e internacional, nunca deixou de defender o sistema capitalista e, portanto, não foi , nem é o instrumento político de que os trabalhadores da cidade e do campo necessitam. Para acabar com o sofrimento dos operários, dos camponeses, dos pobres, é necessário acabar com o capitalismo. Para atingir este objetivo é necessário um instrumento político diferente, um partido operário, socialista, revolucionário, internacionalista, que trabalhe por uma revolução como a de 1952, mas desta vez dê poder aos trabalhadores e impulsione a revolução latino-americana para derrotar o imperialismo e avançar para a construção de uma sociedade socialista. Essa é a única maneira de alcançar verdadeiramente um Estado operário plurinacional e multiétnico, livre de exploração e opressão.

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[1] Luis Arce foi ministro da economia de Evo e tornou-se presidente com o apoio de Morales.

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