Ocupação de terrenos e direito à legítima defesa
Através dos meios de comunicação, de propriedade de grandes conglomerados com seus canais de TV, rádios, jornais e redes sociais, vemos que a “propriedade privada” é intocável e quem ousar tomá-la sofrerá as penalidades do inferno. Os poderosos proprietários de um percentual gigantesco de terras contam com o apoio “incondicional” do Legislativo, Judiciário, Executivo e Polícias que estão sempre a seu serviço e dispostos a proteger e defender qualquer pedaço de terra ocupado por quem precisa por necessidade. Não importa se são terras improdutivas, terrenos baldios transformados em lixões ou colinas que eram apenas um elemento da paisagem.
Por: María Rivera
O crescimento da população chilena e das centenas de famílias deslocadas de diferentes países, fugindo da miséria, da violência e da marginalização na esperança de alcançar uma melhor qualidade de vida, mostrou que o acesso à moradia no país é simplesmente impossível, se não se submete ao crédito. Todos eles viveram a superlotação nas casas de parentes ou em sombrios quartos alugados e só lhes restou o caminho de ocupar um pedaço de terra, como milhares de famílias resolveram na história, temos o exemplo da corajosa Poblacion La Victoria com origem na ocupação de áreas “La Feria”.
A imprensa que defende os poderosos se encarrega de desacreditar o movimento dos sem casa, demonizando em cada acampamento que existe, falando sobre crime e violência por horas. A partir dessas páginas, os desmentimos e entregamos toda a nossa solidariedade a essas milhares de famílias.
Há algum tempo estamos colaborando com os moradores em ocupação e nessa função os visitamos periodicamente. Em todos eles encontramos crianças que expressam inocência natural em seus rostos, mas quando falam, sabem que estão sendo vigiadas para marginalizá-las ainda mais, tornam-se adultos e expressam sua raiva; os adultos se contêm tanto quanto sua condição lhes permite e ficam angustiados quando falam sobre o que está por vir, A ORDEM DE DESPEJO, com os Carabineros porque é assim que um juiz ordenou. São milhares de famílias em diversas ocupações: 17 de Mayo, Mauricio Fredes, Luna Bella, La Cruz e Cerro Centinela em San Antonio são algumas delas.
Muitas dessas famílias se manifestaram, levantaram palavras de ordem, lutaram lado a lado conosco que fomos às ruas em 2019, milhares delas tinham confiança e acreditavam que a Nova Constituição traria o direito à moradia, e votaram na Frente Ampla, “pela democracia” contra a direita conservadora, e apoiaram deputados e senadores, prefeitos e vereadores, mas nada disso veio, nenhuma Nova Constituição, nenhum governo progressista, nenhum direito à moradia.
Pelo contrário, Gabriel Boric, comprometido com empresários poderosos, promulga leis cada vez mais repressivas. Lei Naín Retamal, Anti-Ocupação, entre outras, e defenderá a propriedade privada à custa de mandar milhares de famílias para a rua. Essa é a sua tarefa, mesmo que apareça na TV com discursos doces e solidários.
O trabalho sujo é feito pelo ministro pseudo-socialista Carlos Montes, em conjunto com as delegações presidenciais e funcionários do “alto escalão” enrolam convocando semana após semana “mesas de negociação” que só atrasam, desviam a mobilização e dividem o movimento.
O direito à autodefesa
Já falamos sobre o apoio que os “proprietários” têm para defender sua propriedade privada. E os moradores que tomaram ocuparam as terras, quem os apoia e defende?
Aqui somos nítidos: o apoio às ocupações de terra não virá das instituições ou dos partidos tradicionais. Terá que vir das organizações da classe trabalhadora, sindicatos, centros estudantis, moradores em geral. As organizações políticas independentes dos patrões e da burguesia devemos colocar-nos a serviço e junto com o povo ver a forma de se defender, porque a “autodefesa” é um direito e deve ser organizada em cada lugar. Não podem esperar a repressão do Estado, que está preparado. É preciso discutir e organizar a autodefesa em cada campo. Não podemos permitir que a repressão venha quebrando tudo o que lhes custou tanto, espancando mulheres, crianças e idosos, como fazem na Araucanía.
A repressão expressa o ódio que os poderosos têm pela classe trabalhadora, nós organizados devemos expressar o ódio que temos pelos séculos de exploração e opressão
Viva a luta do povo organizado!
Tradução: Lílian Enck