A Liga Árabe e os inimigos da causa palestina
A Liga Árabe realizou seu 33º encontro no dia 16 de maio de 2024 na cidade de Manama, capital do Bahrein. O genocídio israelense em Gaza dominou os debates.
Por: Fábio Bosco
O príncipe herdeiro da Arabia Saudita, Mohammad Bin Salman iniciou o encontro e fez um chamado à comunidade internacional pelo fim da agressão brutal aos irmãos palestinos através de um cessar-fogo e da formação de um estado palestino. Ele defendeu ainda o fim das ações que impedem a livre navegação no mar vermelho, em referência ao bloqueio em solidariedade ao povo palestino efetuado pelo iemenitas houthis do Ansar Allah.
O rei do Bahrein, Hamad bin Isa Al Khalifa, apoiou a formação de um estado palestino com o status de membro pleno da ONU. Ele também defendeu uma conferência de paz sob os auspícios da ONU para implementar a solução de dois estados.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, criticou a ação da resistência palestina liderada pelo Hamas em 7 de outubro ao afirmar que esta serviu de pretexto para o genocídio de palestinos imposto pelo Estado de Israel.
O presidente egípcio Abdel Fattah Al-Sisi acusou Israel de evadir de suas responsabilidades de cessar-fogo e de avançar militarmente sobre Rafah apesar da oposição internacional. Criticou Israel ainda por ocupar a faixa fronteiriça com o Egito, conhecida como “corredor filadélfia”, intensificando o cerco à Gaza, tornando-a inabitável. Al-Sisi aproveitou a presença do secretário geral da ONU Antonio Guterres para afirmar que o sistema de justiça internacional está sendo testado pelo genocídio em Gaza.
A perda de receitas milionárias fruto da redução drástica da navegação no canal de suez devido ao bloqueio dos iemenitas houthis no mar vermelho, e a perda de receitas na passagem de Rafah devido à ocupação israelense do corrredor filadélfia, coloca enorme pressão sobre o regime egípcio.
Antonio Guterres defendeu o fim das hostilidades, o ingresso irrestrito de ajuda humanitária e a libertação incondicional e imediata dos israelenses presos em Gaza.
Declaração de Manama (1)
Ao final, os 22 países membros da Liga Árabe anunciaram a Declaração de Manama que defende um cessar fogo imediato com o ingresso irrestrito de ajuda humanitária e o fim de qualquer forma de bloqueio à Gaza. A Liga Árabe propõe ainda o envio de uma força internacional de paz liderada pela ONU para os territórios palestinos ocupados (Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental) até a implementação da solução de dois estados, a ser discutida por uma conferência internacional convocada pela ONU.
Além disso, a declaração conclama todas as facções palestinas a se unir sob o guarda-chuva da Organização pela Libertação da Palestina (OLP) que é a única representante legítima do povo palestino.
A declaração ainda condena fortemente os ataques a navios comerciais no mar vermelho pois constituem ameaça à liberdade de navegação, do comércio internacional e os interesses dos países e povos de todo o mundo.
Posição do Hamas
O Hamas lamentou os comentários feitos pelo presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas que afirmam que os ataques de 7 de outubro ofereceram o pretexto para o genocídio sionista em Gaza.
O Hamas reivindicou que os ataques de 7 de outubro colocou a causa palestina a frente das prioridades internacionais o que representa ganhos estratégicos.
O Hamas também fez um chamado aos países árabes a compelir Israel a terminar sua ofensiva sobre Gaza.
Os inimigos da causa Palestina
Em meios a muitas palavras de “solidariedade” ao povo palestino, a posição da Liga Árabe se alinha a do imperialismo americano ao defender a ocupação de Gaza por tropas da ONU, e a realização de uma conferência internacional para implementar a fórmula de dois estados, impedindo o direito do povo palestino de decidir democraticamente sobre seu destino.
Além disso, a Liga Árabe se alinha aos interesses dos imperialismos americano, europeu, russo, chinês e japonês ao defender o fim das ações de solidariedade aos palestinos efetuadas pelos iemenitas Houthis no mar vermelho.
Para piorar, a condenação a ação da resistência palestina feita pelo colaboracionista presidente da ANP Mahmoud Abbas não foi contestada por nenhum país, nem mesmo pelo ditador sírio Bashar al-Assad, que integra o chamado “Eixo da Resistência”, e que estava presente na reunião, mas silenciou frente a estas aberrações.
As posições da Liga Árabe mais uma vez reafirmam o famoso parágrafo do livro “A revolta de 1936-1939 na Palestina” do revolucionário marxista palestino Ghassan Kanafani:
“Em 1936-1939, o movimento palestino sofreu severo revés nas mãos de três inimigos que se constituíram, juntos, na principal ameaça ao movimento nacionalista na Palestina, em todos os estágios subsequentes da sua luta: a liderança local reacionária; os regimes dos estados árabes vizinhos; e o inimigo imperialista-sionista.” (2)
NOTAS
(1) https://www.thenationalnews.com/news/mena/2024/05/16/full-text-arab-league-summit-bahrain-declaration/
(2) https://editorasundermann.com.br/produto/a-revolta-de-1936-1939-na-palestina/