qua jul 24, 2024
quarta-feira, julho 24, 2024

Gaza resiste, saúda levante estudantil e conclama por Intifada nas universidades

“Nós, os estudantes de Gaza, saudamos os estudantes da Universidade de Columbia, da Universidade de Yale, da Universidade de Nova Iorque, da Universidade Rutgers, da Universidade de Michigan e de dezenas de universidades nos Estados Unidos que se estão a levantar em solidariedade com Gaza e a colocar um fim no genocídio sionista-americano contra o nosso povo.”

Assim 13 organizações estudantis da estreita faixa de Gaza saudaram em um comunicado na semana passada o levante universitário que ganhou força e expressão nos Estados Unidos, resultando em acampamentos da juventude em cerca de 40 instituições, cuja repressão tem aprofundado a crise do imperialismo.

Por: Soraya Misleh

A mobilização que tem inspirado ações na mesma direção em países europeus como França e agora também Reino Unido, além de Austrália e Canadá, trouxe nova esperança ao povo palestino de Gaza, cuja metade de 2,4 milhões tem menos de 18 anos.

“Obrigado estudantes!”

“Enquanto permanecemos sob as bombas da ocupação, resistindo ao genocídio nazi, lamentando os nossos colegas e professores martirizados e testemunhando a destruição das nossas universidades, saudamos os exemplos de solidariedade oferecidos por estudantes que enfrentam prisão, violência policial, suspensão, despejo e expulsão”, enfatizaram os estudantes em sua declaração, acrescentando a importância desse processo, em especial no “coração do império”. Assim, reforçaram: “A partir daqui de Gaza nós vemos vocês e os saudamos.”

Ao sétimo mês do genocídio, com mais de 40 mil palestinos mortos pelas bombas e balas do Estado terrorista de Israel – cerca de 70% mulheres e crianças –, 103 escolas e universidades de Gaza foram destruídas, segundo informações oficiais da Palestina ocupada.

O levante estudantil que se espraia é visto como a carregar os ventos da mudança em meio a tanto morticínio, lembrado em protestos também nos países árabes que desafiam seus tiranos e a normalização com o Estado genocida de Israel.

Para além das 13 organizações que assinam o comunicado, ainda, palestinos de Gaza encontraram uma maneira de dar visibilidade a este sentimento em meio ao deslocamento e escombros.

Obrigados a viver em acampamentos, expulsos de seus bairros, campos de refugiados e locais, empurrados cada vez mais para Rafat, no sul de Gaza, na fronteira com o Egito, passaram a mandar a mensagem escrevendo em suas tendas: “Obrigado estudantes!”. “De Rafat, enviamos-lhes força!” “As crianças de Gaza estão orgulhosas de vocês!”

A Universidade de Columbia, onde foi dado o start para esse levante no coração do imperialismo estadunidense – algo que traz o peso da história dos movimentos antiguerra do Vietnã e contra o apartheid na África do Sul –, foi lembrada nas tintas sobre as tendas palestinas, assim como em cartazes e folhas apresentadas em vídeos nas redes sociais por crianças de Gaza – as maiores vítimas do genocídio, com aproximadamente 20 mil martirizados, milhares de órfãos e amputados (sem anestesia, já que todo o sistema de saúde está em nível catastrófico, diante da destruição sionista).

“Nunca voltem atrás!”

Deslocada mais de oito vezes desde o início do genocídio em Gaza, a jornalista Bisan Owda, de 25 anos de idade, gravou um vídeo denominado “A revolução dos estudantes”, expressando a firmeza e persistência de seu time de heróis palestinos: “Vivi toda a minha vida na Faixa de Gaza e nunca senti tanta esperança como agora. Pela primeira vez nas nossas vidas, como palestinos, ouvimos uma voz mais alta do que as suas vozes [da ocupação] e o som das suas bombas… São as crianças e os jovens que lideram o movimento agora por uma Palestina livre, colocando tudo o que têm em risco para exigir justiça, o fim do genocídio e uma nova era no mundo.”

No mesmo vídeo, ela diz que começa a sonhar com o encontro de seu povo, fragmentado há 76 anos, de Gaza a Haifa e Akka, duas das cidades palestinas ocupadas em 1948. Testemunha da nova fase da Nakba – a catástrofe palestina cuja pedra fundamental é a formação do Estado racista e colonial de Israel em 15 de maio daquele ano – a jovem Bisan continua: “Estudantes, o mundo inteiro está assistindo. E vocês inspiram a todos nós. Não parem! Nunca voltem atrás!”

Vindo de um povo cuja resistência heroica e histórica é inspiração para oprimidos e explorados em todo o mundo, não poderia haver maior incentivo ao que os palestinos conclamam: uma Intifada [levante popular] estudantil. Eles dão o exemplo: na Universidade de Birzeit, na Cisjordânia ocupada – em que a limpeza étnica sionista avançou ainda mais nestes sete meses, com centenas de mortos, milhares de feridos e presos políticos, pogroms nas aldeias [ataques violentos] por parte de colonos sionistas –, expulsaram o embaixador alemão Oliver Owcza do campus atirando sapatos contra ele.

Atirar sapatos, para os árabes, tem a simbologia merecida para o representante da cumplicidade alemã explícita com o genocídio em Gaza: é o repúdio absoluto, uma vez que a sola do sapato seria a representação da imundície. O gesto ganhou repercussão mundial em 2008, quando o jornalista iraquiano Muntadhar al-Zaidi atirou seu sapato em George W. Bush, então presidente dos EUA, durante uma coletiva de imprensa em 14 de dezembro de 2008.

Na “palestinização do mundo” – parafraseando o cineasta Elia Suleiman ao explicar o objeto de seu filme “O paraíso deve ser aqui”, em suas palavras, “a tensão aumentando em todos os lugares”, em meio a uma economia global mais extrema e brutal em sua opressão e exploração –, a dialética é a resistência. Que seus ventos alcancem com força a juventude e a classe trabalhadora, desde os EUA ao Brasil, pelo fim da cumplicidade com o genocídio. Rumo à Palestina livre do rio ao mar!

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