Bilionários e grandes monopólios aprofundam a pobreza e a desigualdade
A imprensa, a burguesia e os governos repetem que, para solucionar os problemas econômicos do Brasil, é preciso mais capitalismo. Ou seja, defendem que atrair grandes empresas multinacionais, investimentos estrangeiros e garantir os interesses dos bilionários, criaria empregos e abriria possibilidades melhores para os trabalhadores e trabalhadoras.
Por: Diego Cruz e Júlio Anselmo
A lógica de todo esse raciocínio está invertida. A realidade é que, longe de “democratizar” a riqueza, promover melhorias sociais ou garantir vida digna para os trabalhadores, o capitalismo está levando o mundo e o Brasil a cada vez mais concentração e centralização de riqueza, maiores níveis de desigualdade social, crises e, inclusive, guerras.
5 bilhões na pobreza
Os defensores do capitalismo dizem que o problema é a crise causada pela pandemia, que afetou todo mundo. Será mesmo? Na metade de 2022, quando a renda das famílias atingia, aqui no Brasil, seu menor índice em 10 anos, as fortunas dos bilionários só aumentavam. Essa tendência foi mundial, segundo dados do recém divulgado relatório “Desigualdade S.A.”, produzido pela ONG Oxfam, organização dedicada ao levantamento e estudo das desigualdades no mundo.
Segundo o estudo, de 2020 até hoje, os cinco homens mais ricos do mundo duplicaram suas fortunas, enquanto 5 bilhões de pessoas ao redor do planeta, ou 60% da população mundial, naufragaram ainda mais na pobreza, principalmente aqueles e aquelas pertencentes aos setores mais oprimidos da classe, como os negros, mulheres, LGBTI+, povos originários e imigrantes.
Não dá nem pra imaginar
Já imaginou como seria um alívio dobrar a renda nesse período? Daria para sair um pouco do sufoco, quitar dívidas e até comer um pouco melhor. Agora, quem duplicou suas fortunas acumulou uma riqueza que é até difícil mensurar. Para se ter uma ideia, se cada um deles gastasse o equivalente a 5 milhões de reais por dia, uma quantia que nenhum trabalhador vai ver na vida, seriam necessários 476 anos para gastarem tudo o que têm. É desse nível de desigualdade que estamos falando.
Se a crise capitalista e o processo de monopolização e concentração do capital já aprofundavam as desigualdades, à custa do aumento da exploração, da pobreza e da rapina dos países subordinados como o Brasil, após a pandemia isso deu um salto. A tal ponto que 0,1% dos mais ricos detém 43% de todas as riquezas.
Monopólio
Menos empresas, mais controle e mais lucros
Por trás da explosão das fortunas desse 0,1% de bilionários, está o salto de 89% (entre 2021 e 2022) no lucro das maiores empresas do mundo, quando comparados com os dois anos anteriores. Entre essas empresas estão grandes companhias de petróleo e gás, marcas de produtos de luxo, bancos internacionais e, evidentemente, grandes empresas farmacêuticas, que lucraram horrores nesse período à custa de pesquisas e dinheiro público.
O salto nesses lucros foi impulsionado pelo acelerado processo de concentração: 0,001% das maiores empresas do mundo abocanharam um terço de todos os lucros. Ou seja, houve um aprofundamento dos monopólios: cada vez mais, toda a economia é controlada por um pequeno punhado de megaempresas, que acumulam um capital astronômico.
Para se ter uma ideia, se a Apple (que produz o iPhone) fosse um país e seu valor de mercado um “PIB” (Produto Interno Bruto, ou seja, a soma de todas riquezas produzidas em um país), seria a sétima maior economia do mundo, ao lado França.
Tá tudo dominado
As “Big Tudo”
Veja como, no capitalismo, a monopolização concentra capital num número cada vez mais reduzido de megaempresas. São poucas empresas, com orçamentos de verdadeiros Estados, que, junto aos imperialismos, beneficiam-se do papel subordinado dos países periféricos, mantendo-os como meros exportadores de matérias-primas
— 10 maiores farmacêuticas surgiram da fusão de 60 empresas.
— Duas grandes empresas controlam mais de 40% do mercado de sementes.
— Quatro empresas detêm 62% do mercado de pesticidas no mundo.
— Três quartos dos gastos com publicidade no mundo online se concentram na Meta (Facebook, Instagram, WhatsApp), Alphabet (Google) e Amazon.
Retrocesso
Desigualdade, recolonização e rapina
A crescente dominação dos grandes monopólios avança sobre os países subordinados, como o Brasil, controlando a maior parte da economia.
Um cereal que você compra na prateleira de um supermercado é de uma grande multinacional; a matéria-prima utilizada, como soja e milho, também é produzida por grandes empresas transnacionais no campo; e a própria rede de supermercado, muitas vezes, também é internacional. E, em todas essas fases, por cima de tudo, estão grandes gestoras de fundos financeiros, como a norte-americana BlackRock, que ainda lucra horrores com o esquema da dívida pública.
O mesmo ocorre com as privatizações, com os grandes monopólios avançando sobre serviços básicos, como está acontecendo, agora, com a Sabesp, a empresa de saneamento e água em São Paulo. Educação, saúde, saneamento básico, tudo vale para arrancar o máximo de lucro para os monopólios.
É uma grande teia que se espraia por praticamente todos os setores da economia, tanto públicos quanto privados, interligada pelo grande capital financeiro, drenando as riquezas produzidas pela classe trabalhadora para um punhado de megaempresas e bancos. E, destes, para os 0,001% de bilionários que veem suas fortunas crescerem, enquanto para 5 bilhões de seres humanos mundo afora a única coisa que cresce é a pobreza.
Desigualdade explode no Brasil
Levantamento realizado pelo Observatório de Política Fiscal da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a partir de dados da Receita Federal e da declaração dos impostos das pessoas físicas, atesta que, nos últimos anos, a renda dos mais ricos cresceu num ritmo duas ou três vezes maior que a média de 95% dos brasileiros.
Quanto mais rico o estrato de renda, mais cresceram. A própria estrutura, mostrando que 95% da população adulta recebe uma média de R$ 2,3 mil, já é uma mostra da brutal desigualdade que marca o país.
Roubo
Aumento da exploração: menos salários, mais lucros
Levantamento realizado pelo jornal “O Globo” mostra que a parte dos salários perdeu espaço no conjunto total da economia, atingindo o menor nível em 19 anos. Enquanto que, em 2017, a renda dos assalariados compunha 44,7% do PIB; em 2021, essa fatia era de apenas 39,2%. Já os lucros fizeram o caminho inverso: de 32,1%, em 2015; passaram a 37,5% do PIB, em 2021.
O que isso significa? Cada vez mais, a riqueza produzida pela classe trabalhadora é apropriada na forma de lucro pelas grandes empresas, e menos retorna na forma de salários. É o resultado direto da Reforma Trabalhista, da precarização do trabalho, marcada pela “pejotização”, e a consequente queda dos salários. O que, em proporção direta, vai turbinar os lucros das empresas.
É desta forma que a corrosão dos salários, a precarização generalizada pela “uberização” e demais plataformas, fazem com que, principalmente, as grandes empresas, as “big tech” e os grandes monopólios internacionais enriqueçam cada vez mais. E que seus bilionários façam suas fortunas crescerem à custa da pobreza da classe trabalhadora e da grande maioria da população.
CHEGA!
Tirar dos bilionários capitalistas para que o povo trabalhador tenha vida digna
O povo está cada vez mais pobre porque 0,01% dos bilionários multiplicam suas fortunas diariamente. Fazem isso através dos governos, lucrando com a dívida pública, com as privatizações e a exploração de serviços públicos essenciais, ou com o controle direto da economia, através dos monopólios, rebaixando salários por um lado e aumentando os preços, por outro.
Até a destruição do meio ambiente e o genocídio dos povos indígenas, articulados por grandes mineradoras, têm como objetivo o enriquecimento de um punhado de ricaços estrangeiros.
No capitalismo, os bilionários ganham por todos os caminhos. Controlam o poder econômico e o poder político, além do sistema judiciário. Por isso, ganham na crise e, também, ganham na bonança. Para mudar de vez a vida da classe trabalhadora, é preciso tirar dos bilionários, expropriar as 250 maiores empresas, começando pela reestatização das empresas privatizadas, e parar de pagar a falsa dívida aos banqueiros.
É necessário sobretaxar os lucros e dividendos dos bilionários, acabando com a obscena isenção dos super-ricos. Mas é preciso ir além. Não é possível garantir emprego, salário e direitos se os bilionários lucram justamente com a precarização, o subemprego e a crescente superexploração. Não tem como garantir saúde, educação e serviços públicos, se os monopólios lucram com a privatização, a piora e o encarecimento dos serviços. É preciso enfrentar os bilionários para termos emprego, salário, direitos, saúde, educação pública, gratuita e de qualidade.
Para ter dinheiro para garantir tudo isso e, ainda, construir um plano de obras públicas que garanta moradia, saneamento, transporte público e estatal, é preciso tirar dos bilionários, que enriqueceram justamente se apropriando dos recursos e das riquezas produzidas por nós. Precisamos tomar de volta o dinheiro dos bilionários.
Enfrentar os bilionários e o capitalismo
O imperialismo e a própria burguesia não são homogêneos. Alguns setores defendem mais subsídios à indústria, por exemplo, como estamos vendo, agora, com Biden. Outros setores são mais ligados aos bancos e defendem mais austeridade. Mas, todos estão juntos para manter esse sistema que, cada vez mais, só acumula nas mãos de poucos.
O governo Lula anunciou um pacote bilionário de ajuda à indústria, com o discurso de que, fazendo crescer a economia, todos ganhariam. Mas, crescer sob as bases do capitalismo só beneficia os bilionários (sejam da indústria, do agro, do setor financeiro etc.) e não traz nenhuma mudança estrutural. Vimos isso nos 13 anos de governo petista. É preciso enfrentar o sistema, bater de frente com os bilionários, expropriar as grandes empresas e mudar de verdade a realidade desse país.