Pouco antes do Ano Novo, a Rússia realizou bombardeios maciços contra cidades ucranianas, causando inúmeras vítimas e destruição. Kiev, Kherson, Dnieper, Odessa, Zaporozhye, Krivoy Rog, Kharkov… Parecia que a Rússia estava repetindo sua estratégia do ano passado: destruir a infraestrutura da Ucrânia para forçá-la a capitular. Quantas vitórias e decisões brilhantes a propaganda estatal prometeu aos russos!
Por: Masha Cháikina
No entanto, como sempre, a realidade pulverizou todos os projetos “grandiosos” de Putin. E resultou que, em um ano, o povo da Ucrânia aprendeu a lutar, a enfrentar os ataques, a acabar de maneira organizada com as consequências da destruição e a continuar vivendo em condições de guerra e fazer planos para a vitória, o que, claro, não será fácil…
Ah!… E quanto à Rússia?
“De repente” e “sem aviso”, a infraestrutura começou a entrar em colapso em todo o país, e bem no centro, na região de Moscou. Podolsk, Voskresensk, Solnechnogorsk, Jimki, Naro-Fominsk, Dmitrov… Os sistemas de aquecimento avariam, os cabos elétricos queimam, centenas de prédios de apartamentos ficam sem aquecimento ou eletricidade, milhares de residentes congelam em seus apartamentos, hospitais com pacientes internados ficam sem eletricidade nem aquecimento. A lista de cidades cresce literalmente a cada dia e a situação se converte em um verdadeiro desastre. Estes incidentes estão desenvolvendo e alimentando uma reação em cadeia.
Primeiro, o fornecimento de calefação aos edifícios residenciais é interrompido. Como resultado, a carga na rede elétrica aumenta à medida que muitos moradores ligam os aquecedores elétricos. A infraestrutura, já sobrecarregada, é submetida a uma pressão adicional significativa e, em muitos casos, entra em colapso.
Como resultado, os edifícios de vários andares ficam não apenas sem aquecimento, mas também sem eletricidade. Ao mesmo tempo, inicia-se o processo de congelamento dos corredores e entradas das fábricas. Ninguém os aquece e a água não é drenada dos radiadores. A água nessas baterias congela e estoura. Portanto, para reiniciar o sistema de aquecimento, é necessário primeiro repará-las…
Entretanto, para os russos comuns, “nada de anormal” acontece. Todas as causas são geralmente óbvias. Em primeiro lugar, há um desgaste significativo e generalizado das obsoletas redes de aquecimento, redes elétricas e de abastecimento de água.
A infraestrutura habitacional e comunitária da Rússia foi criada principalmente durante a URSS. Após seu colapso, não foi devidamente mantida e renovada por muitos anos. A infraestrutura perdeu gradualmente sua capacidade. No início, não ocorriam muitas falhas no sistema, mas com o tempo elas se tornaram muito mais numerosas e frequentes. E mesmo as poucas tentativas de corrigir a situação na última década produziram poucos resultados devido à magnitude do problema. Devido à escassez de recursos alocados e às dificuldades organizacionais e burocráticas.
E a chamada “otimização” da indústria levou à falta de equipamentos, suprimentos e pessoal suficientes para responder às condições climáticas normais durante, por exemplo, todo o inverno. Em segundo lugar, muitos dos novos complexos habitacionais estão conectados à antiga infraestrutura existente, que, por sua vez, foi projetada para um número menor de consumidores.
Os capitalistas do setor de construção não gostam de assumir custos “extras” na construção de prédios de apartamentos. Tudo é usado, desde subornos a autoridades locais até reescrever a documentação regulatória, incluindo normas de construção.
A construção desenfreada em prol de lucros rápidos sob as condições de um aparato estatal corrupto só pode levar a acidentes e desastres.
E depois existe a guerra, que o poder proibiu de chamar de Guerra…
A guerra exacerba todas as contradições e problemas. Principalmente uma guerra que não tem perspectiva de vitória. A começar por um fato: não pode ser chamada de “guerra” uma “operação especial” que exige um terço do orçamento do Estado para despesas militares. Isto leva ao abandono e destruição em massa de cidades e vilarejos, que, por sua vez, terão de ser restaurados à custa de outros.
A guerra faz com que um grande número de jovens, homens e mulheres, na sua maioria especializada, fujam do país. Isto está levando ao recrutamento forçado de centenas de milhares de trabalhadores comuns, “bucha de canhão”, condenados a se tornarem assassinos e destruidores e, provavelmente, regressarem em sacos plásticos ou inválidos mutilados.
Tudo isto conduziu a um êxodo em massa de trabalhadores imigrantes que anteriormente limpavam as nossas ruas e cuidavam de nossa infraestrutura em todas as grandes cidades.
O resultado é óbvio. E enquanto esta guerra continuar, a vida ficará cada vez pior. Os problemas só aumentarão. Toda a nossa vida depende de quando a guerra terminará. A cada mês, a guerra cairá mais e mais como uma carga sobre os ombros do povo. Portanto, acima de tudo, devemos pôr fim a este massacre ao serviço do regime oligárquico da FSB (agência de segurança secreta da Rússia). Os povos da Ucrânia e da Rússia não precisam estar divididos. Esta guerra não é do interesse dos trabalhadores russos; só traz dor, morte, destruição e pobreza para todos os lares. As pessoas comuns não ganharão nada com esta aventura da ditadura de Putin.
O interesse de nosso país e de nosso povo é acabar imediatamente a guerra e retirar-se das terras estrangeiras ocupadas.
Exijamos tribunais, julgamento e punição para todos aqueles que iniciaram esse genocídio. Só então nosso país poderá começar a resolver todos os problemas que se arrastam há anos sob o governo de Putin. A moradia, agricultura, alimentação, saúde, educação e segurança só poderão ser melhoradas após a derrota do Putinismo.
Como resolver os problemas de infraestrutura e habitação?
É claro que é necessário investir dinheiro. Mas não no exército e em sua guerra!
É impossível realizar uma urbanização intensiva de prédios de apartamentos numa infraestrutura obsoleta e desgastada. O “desenvolvimento” foi realizado exclusivamente em prol dos lucros de um punhado de capitalistas de empresas de construção e bancos com suas ferozes hipotecas.
É necessária uma política de planejamento urbano diferente, que leve em conta as capacidades da infraestrutura geral e dos recursos energéticos existentes. Políticas que considerem a ecologia e as condições climáticas. As políticas e, em especial, as de habitação, saúde e educação devem centra-se nas necessidades dos habitantes comuns e não nas necessidades do capital.
A aglomeração de novos edifícios enormes em torno de várias cidades grandes em nosso país é o resultado do “boom” capitalista da Rússia como fornecedora de matérias-primas e energia para o mercado mundial. Com essa política, o padrão de vida é muito desigual. Melhor nas grandes cidades e pior nas províncias, nas pequenas cidades e vilarejos. Lá, as empresas foram fechadas e destruídas durante décadas, as estradas estão desgastadas, as escolas e os hospitais fecharam (o Putinismo chama isso de “otimização”). Os russos comuns precisam deixar suas casas em massa e se mudar para as grandes cidades. Daí o enorme crescimento caótico com fins lucrativos e a catástrofes atuais.
Precisamos de uma estratégia completamente diferente para o desenvolvimento da Rússia: uma nova industrialização e um desenvolvimento real de todo nosso imenso país. No interesse da maioria do povo trabalhador. E não essa guerra sangrenta de pilhagem, que se arrasta há anos por capricho dos capitalistas e de um grupo de burocratas assassinos do Kremlin.
Os trabalhadores e trabalhadoras russos não precisam da conquista e da pilhagem da Ucrânia. Precisamos viver e desenvolver nosso país.
O poder de Putin, da FSB e dos oligarcas levou o país a um beco sem saída. É hora dos operários e os trabalhadores comuns e correntes estabelecerem seu poder no país.
Para fazer isso, os trabalhadores da Rússia precisam de sua própria força política.
Só assim poderemos pôr fim ao Putinismo, às suas guerras e invasões e à pilhagem dos recursos do país e do povo.
Precisamos de nosso próprio partido dos trabalhadores e trabalhadoras, que possa se tornar parte do partido mundial da classe trabalhadora, capaz de trazer paz e desenvolvimento ao mundo.
Não à guerra! Retirada das tropas de ocupação da Ucrânia!
Basta de degradação putinista do país!
A Rússia precisa de um governo da classe trabalhadora!
Os operários e os trabalhadores comuns e correntes, de todas as nacionalidades da Federação Russa necessitam de seu próprio partido!
Os trabalhadores de todo o mundo precisam da sua própria Internacional!
Tradução: Rosangela botelho