Risco de colapso de mina da Braskem ameaça Lagoa do Mundaú em Maceió
A pesca, principal fonte de sobrevivência para as populações da região, foi suspensa por tempo indeterminado
Por: PSTU Brasil
A exploração predatória da Braskem em Maceió, que já devastou cinco bairros (Pinheiro, Farol, Bebedouro, Bom Parto e Mutange) e retirou mais de 60 mil pessoas de suas casas, também é uma ameaça grave ao meio ambiente.
Desde a última quinta-feira (30/11), o bairro do Mutange se tornou o ponto crítico, com risco de desabamento da mina número 18 (há 35 instaladas na cidade) e pode afetar outras duas minas, abrindo cratera do tamanho do Maracanã, de acordo com informações da Defesa Civil. O órgão também informou que o colapso da mina está em evolução e pode acontecer a qualquer momento, por isso, dezenas de famílias tiveram que deixar às pressas suas residências na área que pode afundar. A evacuação foi ordenada pela justiça.
Mas esse colapso na mina 18, além de afetar diretamente a população que vivia na proximidade, é uma ameaça catastrófica ao meio ambiente. Quando ocorrer o desabamento da mina, a água da lagoa do Mundaú, terra e detritos serão escoados para dentro da cratera. O contato com o sal-gema tornaria a água da lagoa salgada e toda a área de mangue na região pode ser impactada.
Como 60% dessa mina de sal-gema fica na Lagoa Mundaú, pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) coletaram, ontem (2/12), amostras de água para avaliar se o afundamento já afetou a lagoa. As lagoas Mundaú e Manguaba formam o Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba (CELMM), um dos ambientes mais representativos do litoral alagoano.
Pesca suspensa
A pesca, principal fonte de sobrevivência para as populações da região, foi suspensa por tempo indeterminado. A Marinha ampliou o perímetro com boias como sinalizar a área.
As amostras coletadas pelos pesquisadores serão analisadas no Laboratório da Ufal. O objetivo é identificar se há houve alguma alteração na água. O laudo com o resultado do levantamento deve ser concluído em até duas semanas.
Em entrevista ao portal UOL, a engenheira geóloga Regla Toujaguez, professora da Universidade Federal de Alagoas, alerta para o desequilíbrio no ecossistema da região. “Quando rompemos esse equilíbrio ecológico, quebramos a cadeia alimentar”, explica.
A professora cita ainda que é impossível prever o tempo para recuperação da lagoa e para o meio ambiente no entorno: “A natureza trabalha no seu tempo.”
A população que mora às margens da lagoa já está sofrendo com isso, pois a atividade da pesca está suspensa. Como irão viver sem a pesca, principal fonte de renda e sobrevivência? Importante pontuar que a extração do sal-gema pela Braskem já submergiu cerca de 17 hectares de manguezais. O risco do colapso da mina 18 só mostra o grau de destruição do meio ambiente pela Braskem.
Esse comportamento irresponsável como o meio ambiente fez como que, em 2011, ocorresse um vazamento de cloro, que causou a intoxicação de um funcionário e 129 moradores de comunidades vizinhas, além de uma explosão que feriu cinco funcionários.
Mas, os crimes da Braskem não se restringem a Maceió. Em junho passado, uma explosão na unidade da Braskem no ABC Paulista causou a morte de outros dois trabalhadores. Durante anos os trabalhadores lutaram pelo banimento da utilização do amianto (uma substância comprovadamente cancerígena) nas fábricas da Braskem. Contudo, o banimento definitivo só ocorreu quando, depois de muita luta, o Supremo Tribunal Federal proibiu o uso da substância no país. Já na Bahia foi preciso que a Justiça vetasse seus planos da Braskem de construir um porto em uma área de forte impacto ambiental.
Mesmo com todo esse currículo de destruição do meio ambiente e com a situação atual catastrófica em Maceió, a Braskem está participando da COP 28 e realizando palestra sobre meio ambiente. Isso é um absurdo! Ao mesmo tempo demonstra que esses espaços criados pelo imperialismo e suas instituições nunca irão apontar as medidas necessárias para solucionar a crise ambiental, pois eles são os responsáveis por essa crise e por sua continuidade.
Punição
Braskem precisa ser punida exemplarmente e as vítimas receberem indenização justa
A Braskem deves ser punida de forma exemplar e garantir a indenização justa para todas as famílias. O governo federal deve intervir nessa situação que ocorre em Maceió, pois até o momento nada foi feito.
Os pescadores e mariqueiras que moram às margens da Lagoa do Mundaú precisam ser incluídos em um programa social para garantir uma remuneração até que a pesca volte a ser autorizada pelos órgãos ambientais.
Defendemos que a Braskem seja expropriada, estatizada e que seja gerida por uma comissão formada pelos trabalhadores, trabalhadoras e pela comunidade atingida.
Os lucros bilionários devem ser revertidos para pagar indenizações justas, tomar medidas concretas para estabilizar o solo de Maceió, mitigar os efeitos sobre a região lagunar e de manguezais e recompor a infraestrutura da cidade, destruída pelo afundamento.
No capitalismo toda atividade econômica é colocada a serviço do lucro. A vida dos seres humanos e o meio ambiente são fatores secundários. Não existe saída para reverter a subordinação econômica do Brasil e combater acontecimentos como os de Maceió sem superar esse sistema em que poucos se beneficiam com o sofrimento de bilhões.