A solução de dois Estados consiste na formação de um mini-Estado palestino ao lado do já existente Estado racista de Israel. O objetivo desta “solução” é legitimar o Estado racista de Israel e sua política de apartheid e limpeza étnica contra povo palestino, desenvolvida ao longo dos últimos 75 anos.
Por: Fábio Bosco
Esta “solução” não restitui os direitos do povo palestino às suas terras. Apenas legaliza o roubo destas terras pelo Estado de Israel. Além disso, até mesmo aqueles que dizem defender essa “solução”, tampouco, até o momento, garantiram a formação de um Estado Palestino.
Promessas não cumpridas de uma solução que não resolve
A formação de um Estado palestino foi prometida pelo imperialismo em dois momentos. A primeira vez, em 1947, por ocasião da votação da partilha da Palestina, pela Organização das Nações Unidas (ONU), com o apoio das duas superpotências da época, os Estados Unidos e a União Soviética.
A segunda, em 1993, quando foram assinados os Acordos de Oslo, nos quais a Organização pela Libertação da Palestina (OLP) reconheceu o Estado de Israel, estabelecido sobre 78% das terras palestinas, e, em troca, recebeu um plano para a formação de um mini-Estado palestino. Em ambas ocasiões a promessa de um Estado palestino não foi cumprida.
Caso o avanço da luta palestina obrigue o imperialismo a aceitar um mini-Estado palestino, ele também não seria uma solução, pois não garante o direito de retorno dos seis milhões de palestinos refugiados às suas terras, nem qualquer alteração do caráter racista do Estado de Israel, que continuaria a oprimir os palestinos.
Qual Estado?
Democratizar Israel é possível?
Entre os apoiadores da causa palestina, há um movimento que defende a formação de “Um Estado Democrático” (ODS, sigla de “One Democratic State”, em inglês).
A maioria dos defensores desta proposta entende que o avanço da colonização israelense inviabilizou a “solução de dois Estados”.
Parte deles também entende que é impossível derrotar o Estado de Israel, dada à militarização de sua sociedade, ao seu poderio bélico e ao amplo financiamento imperialista. Por fim, defendem que é uma solução igualitária, para todos os atuais habitantes da Palestina.
Por isso, defendem um Estado único, com direitos iguais para israelenses e palestinos e com o direito de retorno para os refugiados palestinos. Também privilegiam os meios pacifistas para conquistar a igualdade para os palestinos, reformando o Estado de Israel.
É impossível reformar um Estado alicerçado no apartheid
No entanto, é impossível mudar a natureza racista das instituições do Estado de Israel através de sua democratização porque Israel não é um Estado burguês normal; mas, sim, um Estado de apartheid, um Estado que se baseia na limpeza étnica permanente dos palestinos e um enclave imperialista no Oriente Médio.
As instituições do Estado israelense têm que ser desmanteladas e um outro Estado, com instituições verdadeiramente democráticas, precisa ser formado, para garantir os direitos do povo palestino à autodeterminação.
Para este fim, o povo palestino tem o direito de utilizar os meios necessários, sejam eles pacíficos ou não, para derrotar Israel, seu chefe imperialista e seus aliados, sejam entre os regimes árabes e sejam entre a burguesia palestina.
Quanto à atual população israelense, é necessário lembrar que em uma situação de opressão, nossa atenção deve se dirigir, em primeiro lugar, aos oprimidos; neste caso, o povo palestino. Este deve ter todos os seus direitos assegurados.
Quanto aos israelenses, o povo palestino sempre foi um povo generoso e, por isso, aceitará a parte da população israelense que aceitar viver em paz com os palestinos. Já os israelenses que cometeram crimes contra a humanidade, em particular os líderes sionistas, devem ser julgados e condenados a pagar por seus atos.
Palestina laica e democrática
A proposta original da Organização pela Libertação da Palestina (OLP) é a de uma Palestina livre, laica (sem qualquer tipo de determinação religiosa) e democrática em todo o seu território histórico. Ou seja, do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo.
Esta é a única solução que garante justiça ao povo palestino; isto é, a igualdade de direitos, o retorno dos refugiados e a autodeterminação. Ela será conquistada por uma luta da classe trabalhadora e dos setores oprimidos palestinos, em conjunto com a classe trabalhadora árabe e internacional, enfrentando os três inimigos da causa palestina: Israel/imperialismo, regimes árabes e burguesia palestina.
Uma vez no poder, a classe trabalhadora palestina, naturalmente, implementará medidas de ruptura com o imperialismo e o capitalismo para garantir justiça social para trabalhadores, trabalhadoras e a juventude. Nesse combate, uma outra onda de revoluções árabes acontecerá e criará as condições para a formação de uma Federação de Repúblicas Socialistas do Oriente Médio.